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As vivências dos jovens e o ambiente comunicacional contemporâneo: traçando uma

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 108-110)

3 UM CAMINHO DE PESQUISA: A INVESTIGAÇÃO COM ADOLESCENTES NAS

3.5 As vivências dos jovens e o ambiente comunicacional contemporâneo: traçando uma

Na proposta de desenvolvimento de um trabalho de campo em que se procura conhecer de perto os sujeitos a serem investigados, cabe estabelecer os fundamentos para a pesquisa a ser empreendida. Numa abordagem que valoriza a aproximação com adolescentes que se apropriam das ferramentas digitais na sua comunicação inseridos no seu contexto, o propósito que se estabelece como premissa fundamental é a condução da pesquisa a partir da compreensão dos comportamentos na perspectiva desses sujeitos. Assim, ao me propor apreender as relações estabelecidas investigando os sujeitos no seu contexto de acordo com objetivos iniciais traçados, uma proposta de pesquisa qualitativa vem sendo estruturada.

Freitas (2010), ao discorrer sobre a pesquisa como intervenção na abordagem histórico-cultural, ressalta a filiação de Vigotski ao materialismo histórico dialético, propondo a construção de uma psicologia de base social. Essa perspectiva supera as limitações das abordagens voltadas somente para o desenvolvimento biológico humano. A autora também destaca que o método em Vigotski, no qual deve-se considerar o fenômeno como um processo vivo, tendo em conta sua historicidade. Nessa proposição teórico-metodológica, estudar alguma coisa historicamente é estudá-la no processo de mudança, sendo necessário ir à gênese da questão, com o intento de reconstruir o processo histórico na sua origem e em seu desenvolvimento. A autora ressalta, dessa perspectiva metodológica, os conceitos de explicação e descrição, já que o primeiro deve ser somado ao segundo na análise de um fenômeno. Vigotski postula que a descrição considera apenas o aspecto exterior do que é estudado, mas que, completada pela explicação, a compreensão se dirige para o interior, as relações dinâmico-causais. Completando esse quadro, Freitas (2010) traz a ideia de intervenção sugerida por esse posicionamento metodológico, já que a ação humana interfere no objeto de estudo.

A investigação qualitativa61 abrange a seleção de questões específicas que emergem de seu contexto à medida que os dados são recolhidos. É no aprofundamento do contato com os indivíduos, no registro sistemático, ouvindo e observando, conquistando sua confiança, que o pesquisador se introduz no mundo daqueles que pretende estudar.

Ao abordarem a investigação qualitativa em educação, Bodgan e Biklen (1994) estabelecem alguns entendimentos desse processo, enfatizando suas características. Entre estes, ressaltam a importância do ambiente natural e do investigador como instrumento principal da pesquisa, na frequência ao local, tendo em conta onde ocorrem as ações. Destacam também o caráter descritivo por meio do qual os dados são analisados com toda sua riqueza, respeitando a forma com que foram registrados ou transcritos. Outro aspecto relevante é o maior interesse do investigador pelo processo do que pelos resultados ou produtos. Para os autores, essa característica é particularmente útil em pesquisa educacional, em que as estratégias qualitativas estão patentes no modo como as expectativas se traduziram em atividades, procedimentos e interações diárias, opondo-se aos pré e pós-testes das técnicas quantitativas. Acrescentam o aspecto indutivo para análise dos dados, em que o que se abstrai é construído “à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando” (BODGAN E BIKLEN, 1994, p. 50). Dessa forma, o investigador qualitativo presume que não sabe o suficiente antes da investigação e que é na análise dos dados que irá estabelecer as questões mais importantes no processo. Por fim, os autores incluem como importante característica da abordagem qualitativa o sentido que os investigados apreendem em suas experiências. Destacam que os investigadores qualitativos em educação estão continuamente questionando os sujeitos na perspectiva destes, tendo em conta aquilo que experimentam, no modo como interpretam e estruturam o mundo social no qual vivem.

Ao propor um trabalho de pesquisa qualitativa com sujeitos que interagem em sua realidade, o processo embasado numa perspectiva dialógica62 se torna uma alternativa para o

61 Na sua abordagem, Bogdan e Biklen (1994) traçam um histórico da tradição da pesquisa qualitativa em educação destacando sua origem e evolução através de estudos de grupos sociais menos favorecidos. Os autores ressaltam as contribuições da Antropologia no desenvolvimento das técnicas de trabalho de campo e os estudos sociológicos da Escola de Chicago, envolvendo a dimensão humana contextualizada em questões políticas importantes. Bogdan e Biklen (1994) também salientam que as mudanças sociais ocorridas na segunda metade do século XX impulsionaram as pesquisas qualitativas dos investigadores educacionais e passaram a ganhar maior subsídio das agências estatais.

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Freitas (1994, p. 27) aborda a concepção dialógica de Bakhtin, ressaltando que “é com as palavras e com as idéias dos outros que o nosso próprio pensamento é tecido. O conhecimento é construído na interlocução, no diálogo, o qual evolui por meio do confronto, da contraditoriedade”.

planejamento das intervenções em campo. Essa abordagem teórico-metodológica se contrapõe aos procedimentos monológicos de conhecimento das ciências naturais que se colocam diante de um objeto de estudo para falar dele. Dessa forma, deve-se partir do entendimento de que o objeto das Ciências Humanas é um sujeito; que o pesquisador não contempla apenas, mas fala com ele. Ocorre, assim, um encontro de sujeitos em uma forma dialógica de conhecimento, já que, de acordo com Bakhtin (apud Freitas, 2003, p. 29):

O objeto de estudo das ciências humanas é o homem ser expressivo e falante. Não se pode considerá-lo enquanto fenômeno natural ou coisa, mas sua ação deve ser compreendida como um ato sígnico. Isto é, o homem sempre se expressa através do texto virtual ou real que requer uma resposta, uma compreensão. Se não há texto não há objeto para investigação e para pensamento.

O amadurecimento da metodologia de pesquisa qualitativa tendo em conta a abordagem dialógica na construção desse processo será meu ponto de partida para o planejamento das aproximações do campo. Parto da compreensão de que o contato com sujeitos, e uma aproximação com sua realidade, desencadeará o processo investigativo na proposição qualitativa da pesquisa. Com o intuito de desenvolvimento da investigação junto aos jovens pesquisados, numa perspectiva dialógica, a proposta é a de suscitar falas impregnadas de sentido.

Para o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa voltada ao estudo pretendido é preciso estabelecer quais os procedimentos metodológicos para o trabalho de campo. Nessa perspectiva, ao se buscar pesquisar os jovens enquanto sujeitos que se apropriam das tecnologias digitais, é preciso considerar o seu contexto. Assim, o procedimento a ser adotado deverá ser um instrumento metodológico que, durante a incursão em campo, possibilite apreender junto aos pesquisados um ambiente dialógico, valorizando sua compreensão das experiências, assim como a interpretação dos dados de campo em diálogo com o referencial teórico.

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 108-110)

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