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2.1 CONCEITO E RESGATE HISTÓRICO DA CIDADE

2.1.7 A metrópole

Em razão das crescentes taxas de urbanização, surgiram as aglomerações urbanas, conurbações ou metrópoles, ou seja, cidades interligadas pela expansão periférica da malha urbana ou pela integração socioeconômica, com fluxo intenso de pessoas, capitais, informações, mercadorias e serviços61.

Com esse nível de interseção das suas áreas construídas, justifica-se a elaboração de um conceito para o elemento territorialmente amplo e socialmente complexo denominado de metrópole.

Saliente-se que esse quadro urbano não significa apenas aumento populacional, expansão territorial ou incremento econômico. Em geral, ele se notabiliza igualmente por carregar um grupo de desarranjos de caráter urbanístico-ambiental, como a exclusão territorial e social, a ocupação desordenada do espaço, a degradação do meio ambiente, a dificuldade de mobilidade urbana e as precárias condições de moradia para uma parte da população.

Essa realidade tumultuada impulsionou a sociedade a debater o assunto, culminando por exigir das autoridades públicas uma maior atenção, particularmente na forma de normas e ações administrativas (políticas públicas) específicas sobre a matéria.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) normatiza a matéria no art. 125,§3º, atribuindo a competência aos Estados-Membros para, mediante lei complementar, instituírem regiões metropolitanas, que se constituem por agrupamentos de municípios limítrofes e têm por fim integrarem a organização, o planejamento e a execução de funções

61 Para um conceito de cidades conurbadas, cf. SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e

públicas de interesse comum, como a mobilidade urbana e a gestão dos resíduos sólidos. Em consonância com essa vontade constitucional, o Estatuto da Cidade coloca o planejamento das regiões metropolitanas com um dos instrumentos gerais da Política Urbana (art. 4º, II).

Face à relevância do tema, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 3.460/2004, batizado de Estatuto da Metrópole62, cuja justificativa firma-se, basicamente, na compreensão de que existe um vácuo normativo no que se refere ao planejamento regional urbano e de que a normatização da matéria permitiria uniformizar, articular e organizar a ação dos entes federativos naqueles territórios em que funções de interesse comum tenham de ser necessariamente compartilhadas.

Assim, essa proposição legislativa institui diretrizes para a Política Nacional de Planejamento Regional Urbano, entendida como um conjunto de metas e diretrizes com o fim de estabelecer os critérios para a organização regionalizada do território nacional, de modo a assegurar o equilíbrio do desenvolvimento dessas unidades e do bem-estar da população (art. 2º).

A partir de uma conotação de federalismo cooperativo, aduz o projeto que a Política Nacional de Planejamento Regional Urbano, para cumprir seu desiderato, deverá ser desenvolvida pela União, em articulação com os Estados, Distrito Federal e Municípios integrantes de unidades regionais urbanas (art. 2º).

Sobre a necessidade e a importância dessa atuação articulada dos entes políticos, bem como de se definirem critérios legais mínimos sobre o que seja uma metrópole, Rosa Moura e Ilce Carvalho63 comentam que:

Ao delegar aos Estados federados a responsabilidade para instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, o governo federal não estabeleceu parâmetros mínimos que pudessem ser orientadores do processo em nível nacional. Ao agir dessa forma, os Estados ganharam autonomia para estabelecer seus próprios critérios. Disso resultaram grandes disparidades em sua definição, pois os estados priorizam suas realidades e suas demandas, prevalecendo, na institucionalização de novas unidades, uma corrida na busca por recursos federais. Acresce ainda o fato de que as aglomerações urbanas, categoria também prevista na Constituição Federal, tiveram repercussão quase nula na política urbana nacional e dos estados, não despertando, pois, interesse por parte dos municípios. Consequentemente, a grande maioria das unidades criadas são regiões

62 BRASIL. Projeto de Lei nº 3.460, de 05 de maio de 2004. Institui diretrizes para a Política Nacional de

Planejamento Regional Urbano, cria o Sistema Nacional de Planejamento e Informações Regionais Urbanas e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=251503> Acesso: 03 jan. 2013.

63 MOURA, Rosa; CARVALHO, Ilce. Estatuto da Metrópole: onde está a região metropolitana? Observatório

das Metrópoles. Disponível em:

<http://web.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=455:estatuto-da- metrópole-onde-está-a-região-metropolitana?&Itemid=165&lang=pt> Acesso: 03 jan. 2013.

metropolitanas, mesmo em áreas onde as dinâmicas da metropolização são apenas incipientes.

Esse projeto de lei prevê as Unidades Regionais Urbanas, que se constituem nas regiões metropolitanas, nas aglomerações urbanas, nas microrregiões e regiões integradas de desenvolvimento (art. 5º). Estabelece ainda que a criação de região metropolitana compete aos estados-membros, nos termos do art. 25, § 3º da Constituição da República Federativa do Brasil64.

Além disso, o citado projeto caracteriza a metrópole como sendo:

o agrupamento de Municípios limítrofes, que apresente, cumulativamente, as seguintes características: a) um núcleo central com, no mínimo, 5% (cinco por cento) da população do País ou dois núcleos centrais que apresentem, conjuntamente, no mínimo, 4% (quatro por cento) da população nacional; b) taxa de urbanização acima de 60% (sessenta por cento), para cada um dos Municípios integrantes da região; c) população economicamente ativa residente nos setores secundário e terciário de, no mínimo, 65% (sessenta e cinco por cento), considerado cada um dos Municípios integrantes da região; d) urbanização contínua em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) dos Municípios componentes da região (art. 6º, I).

Não obstante a importância da temática e a necessidade de regulamentação, existe uma crítica a esse projeto, no sentido de que se trata de um equívoco conceituar regiões metropolitanas e aglomerações urbanas a partir de critérios demográficas ou que se dê uma ênfase ao quantitativo populacional em detrimento de outros fatores igualmente presentes e influenciadores do padrão de vida das pessoas nesses espaços.

Essa é a visão de Rosa Moura e Ilce Carvalho65, pois, segunda elas, mesmo quando define critérios relacionados ao porte populacional, o projeto estaria errado porque contemplaria apenas duas realidades:

o parâmetro do tamanho populacional proposto para o núcleo de uma região metropolitana, que seria, no mínimo, de 5% da população do país (9.537.789

habitantes em 2010) – critério no qual se enquadra, atualmente, apenas São Paulo,

com 11,3 milhões de habitantes –; e para os núcleos de aglomerações urbanas, no

mínimo, 2,5% da população (4.768.895 habitantes em 2010) – critério que

enquadraria apenas o Rio de Janeiro, que conta com 6,3 milhões de habitantes.

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CRFB, art. 225, §3º. Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

65 MOURA, Rosa; CARVALHO, Ilce. Estatuto da Metrópole: onde está a região metropolitana? Observatório

das Metrópoles. Disponível em:

<http://web.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=455:estatuto-da- metrópole-onde-está-a-região-metropolitana?&Itemid=165&lang=pt> Acesso: 03 jan. 2013.

Como se trata de projeto ainda em discussão, é importante e necessária a ampliação dos debates, envolvendo a sociedade como um todo e os segmentos especializados na questão urbana. De fato, o conceito de metrópole apresentado não se limita ao fator populacional, e não poderia fazê-lo realmente. Em verdade, precisa ele abranger elementos como planejamento e organização do espaço, mobilidade, adensamento demográfico, conforto ambiental, segurança e acesso à moradia adequada.

Foram esses os principais elementos que impulsionaram o surgimento do viés artificial do meio ambiente, ampliando-lhe o conceito a fim de contemplar novos bens ambientalmente relevantes e dignos de proteção normativa. A relação entre urbanização e meio ambiente artificial será analisada a seguir.