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3.3 NORMATIVA INFRACONSTITUCIONAL

3.3.4 Lei do Saneamento Básico

Apesar da legislação se referir a saneamento básico, em verdade se pode trabalhar também com a noção mais ampla de saneamento ambiental, no próprio instante em que se estabelecem regras, atividades e procedimentos com vistas à melhoria das condições de vida na cidade, mediante a prestação de serviços essenciais à população. Nesse sentido, a temática ganha relevância na reflexão em torno da definição de um padrão para as políticas habitacionais de garantia à moradia adequada.

Diante disso, deve-se entender a expressão saneamento ambiental como sendo o conjunto de serviços e equipamentos públicos destinados ao abastecimento de água potável, ao esgotamento sanitário, à limpeza pública e manjo dos resíduos sólidos, bem como à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.

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BRASIL. Projeto de Lei nº 20, de 02 de fevereiro de 2007. Dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos e sobre a regularização fundiária sustentável de áreas urbanas, e dá outras providências. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=339981. Acesso: 13 jan. 2013.

Atente-se para o fato de que na normativa internacional se encontra preocupação com essa questão. Na Declaração sobre Cidades e Outros Assentamentos Humanos no Novo Milênio, por exemplo, há o compromisso dos signatários em promoverem o acesso à água potável segura para todos e facilitar a provisão de infraestrutura e serviços urbanos essenciais, inclusive saneamento adequado (Item 59).

Em consonância com a orientação internacional em defesa das cidades limpas, a CRFB estabelece uma obrigatoriedade a todos os entes da federação no sentido de preservar o meio ambiente e combater todas as formas de poluição, prescrevendo, expressamente, que essa é uma competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 23, VI).

No plano infraconstitucional, a Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, configurando uma política baseada em princípios, metas, órgãos e instrumentos156. De partida, essa lei elenca os princípios fundamentais que norteiam as ações no campo do saneamento básico, com destaque para a universalização do acesso, na ousada pretensão de que todos os domicílios ocupados possuam o saneamento básico, visando à saúde pública e à proteção do meio ambiente.

A propósito, estatísticas oficiais apontam que, em 2011, quase um terço (30,6%) dos domicílios no País ainda não tinham acesso ao saneamento adequado, o que representava 16 milhões de domicílios157. Como estratégia para superar essa deficiência e atingir a universalização pretendida, uma hipótese possível é a formação dos consórcios públicos, pactuados entre diferentes entes políticos, especialmente municípios limítrofes, para a prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico.

Destaque-se ainda o princípio da integração entre as diversas atividades vinculadas ao tema (abastecimento, esgotamento, limpeza, drenagem), segundo a compreensão de que somente assim é possível propiciar à população um ambiente sadio a partir da maximização da eficácia das ações e resultados (art. 2º, II).

Em seguida, o art. 3º da citada lei traz um conceito amplo de saneamento básico, entendido como um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais. O

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BRASIL. Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico;

altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de

1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm> Acesso: 09 jan. 2013.

157 BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de indicadores sociais: uma análise das

abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição, constitui-se num dos elementos que integra esse conceito.

Integra ainda o conceito de saneamento básico, o esgotamento sanitário, que abrange coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente.

Da mesma forma, consideram-se saneamento básico a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos, que envolve desde a coleta até a destinação final do lixo doméstico e aquele decorrente da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.

Por fim, completam o conteúdo legal de saneamento básico a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, mediante o transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, o tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

Por se tratar de um interesse coletivo e indisponível, a lei exige que toda edificação permanente urbana seja conectada às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário (art. 45), quando disponíveis, afinal se cuida de uma questão de saúde da população, de qualidade de vida e conforto ambiental.

Em termos de órgãos e instrumentos de ação, a Lei do Saneamento institui o Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB), com metas de curto, médio e longo prazo dirigidos à melhoria da salubridade ambiental, incluindo o provimento de banheiros e unidades hidrossanitárias para populações de baixa renda (art. 52, §1º, I).

A lei cria também o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), voltado para coletar e sistematizar dados relativos às condições da prestação do serviço, disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a caracterização da demanda e da oferta de saneamento básico, além de permitir o monitoramento e a avaliação da eficiência e da eficácia das ações.

Como desdobramento dessas normas, existe o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, vinculado à Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, órgão do Ministério das Cidades. A atuação do SNIS diz respeito à consolidação de informações nesse segmento, como o abastecimento de água, por exemplo.

Assim, o SNIS publicou um estudo em 2012 afirmando que a média nacional de atendimento por redes de água nas áreas urbanas das cidades brasileiras corresponde de

92,5% (noventa e dois inteiros e cinco décimos por cento). São dados coletados em 4.952 municípios no ano de 2010158.

Nesse momento, é importante lembrar a advertência de Braga Junior159 no sentido de que se há uma deficiência na proteção ao meio ambiente no Brasil certamente ela não decorre da escassez de normas, haja vista a profusão legislativa existente (leis, decretos, portarias, resoluções). Essa lacuna resultaria, em verdade, da falta de políticas públicas voltadas para higidez ambiental.

Na acertada opinião de Gilka da Mata160, “o saneamento básico integra o conjunto de ações destinadas a promover a saúde preventiva da população”. Com efeito, a ausência desse serviço público, além de comprometer a paisagem e a higiene urbana, acarreta várias doenças e, consequentemente, perda da qualidade de vida, principalmente para a população carente.

De tudo o exposto, conclui-se que o saneamento ambiental é também um dos elementos a integrarem a definição do padrão de política habitacional que garanta o acesso à moradia adequada.