• Nenhum resultado encontrado

A NTECEDENTES : O V ALOR E CONÔMICO S UBJETIVO DO C ONHECIMENTO

1.5. T EORIAS E CONÔMICAS PARA J USTIFICAR A P ROPRIEDADE I NTELECTUAL NO S ÉCULO

1.5.1. A NTECEDENTES : O V ALOR E CONÔMICO S UBJETIVO DO C ONHECIMENTO

Nos itens anteriores, nos valemos, em grande parte, do relato de MACHLUP e

PENROSE sobre o conflito de ideias sobre a Propriedade Intelectual no século XVIII e a

reconstrução das principais teorias econômicas e jurídicas.

Anteriormente, já referimos ao prestígio de MACHLUP, economista austríaco, nos

Estados Unidos. A influência de autores austríacos à ciência econômica no país é conhecida, podendo-se referir a nomes como LUDWIG VON MISES, FRIEDRICH HAYEK –

que foram professores de MACHLUP em Viena – e JOSEPH SCHUMPETER84.

HAYEK, em particular, era um crítico da premissa neoclássica de informação perfeita.

Para HAYEK, “if we possess all the relevant information, if we can start out from a given

system of preferences and if we command complete knowledge of available means, the problem which remains is purely one of logic”85.

Consequentemente, HAYEK via o conhecimento não como um dado conferido

igualmente a todos na sociedade (premissa neoclássica), mas sim, como um dos recursos escassos que compunham o problema básico alocativo da ciência econômica86:

“Knowledge is never for the whole society given. Social knowledge is “dispersed bits of incomplete and frequently contradictory knowledge which all the separate individuals possess. The economic problem of society is thus not merely a problem of how to allocate given resources (...). It is rather a problem of how to secure the best use of resources known to any of the members of society (...). To put it briefly, it is a problem of the utilization of knowledge not

84

Este último autor, frequentemente citado em discussões envolvendo a relação entre a Propriedade Intelectual e a concorrência, não pode ser enquadrado na chamada “Escola Austríaca de Economia”. SCHUMPETER, ao menos no início de sua carreira, com o pensamento neoclássico. Seu primeiro livro foi um tratado teórico, que teve a finalidade de defender o valor da teoria na Alemanha (lembrar, aqui, da “Disputa sobre o método” travada entre a escola histórica e os neoclássicos, como CARL MENGER – que fora mestre de SCHUMPETER). Porém, ao longo de sua obra, distanciou-se, metodologicamente, dos neoclássicos, ao defender a importância do elemento histórico, sem, contudo, abandonar o valor da teoria).

85 H

AYEK, Friedrich, “The Use of Knowledge in Society”, American Economic Review, 1945, XXXV, No. 4., pg 519-530, disponível em http://www.econlib.org/library/Essays/hykKnw1.html

86 É de se ressaltar que H

AYEK não concordava com a premissa neo-clássica de “equilíbrio”: “equilibrium is

not an (optimal) outcome (or state), but a process (activity) - the coordination of individuals' plans and actions. In this process, individuals learn from the experience and acquire knowledge about things, events and others that help them to act. In this sense, the system of prices plays the role of a signal; prices direct attention: “the whole reason for employing the price mechanism is to tell individuals that they are doing, or can do, has for some reason for which they are not responsible become less or more demanded” (...) The prices system is a mechanism for communicating information”.

42

given to anyone in its totality”. “Any approach, such as that of mathematical economics with its simultaneous equations, which in effect starts from the assumption that people's knowledge corresponds with the objective facts of the situation, systematically leaves out what is our main task to explain87”.

Portanto, a ideia de conhecimento subjetivo88, como um dos recursos da sociedade, foi uma contribuição da escola austríaca. O problema de cálculo desse conhecimento começou, então, a despertar novos estudos econômicos.

KENNETH J.ARROW produziu um texto seminal, no qual enfrentou o problema de

alocação dos recursos destinados a promover as invenções, termo tomado pelo autor de forma ampla (i.e., como produção de conhecimento)89.

ARROW analisou a hipótese de que a competição perfeita conduziria à alocação ótima de recursos, inclusive, no que se refere aos recursos destinados a promover a produção de conhecimento (invenção). ARROW apontou três causas pelas quais a concorrência perfeita não poderia atingir uma alocação de recursos ótima no que se refere às invenções: indivisibilidades, não-apropriabilidade e incerteza90. Analisaremos as ideias de ARROW

em maiores detalhes em Capítulo oportuno, em que se fará uma contraposição entre SCHUMPETER e ARROW, e as consequências deste contraponto para as análises antitruste envolvendo a Propriedade Intelectual.

Por ora, basta-nos constatar que, entre as décadas de 1950 e 1960, vários estudos econômicos importantes estavam sendo desenvolvidos sobre o tema do conhecimento, sendo que, a par das diferenças de abordagem teórica, todos eles tinham como ponto em comum o desafio da premissa neoclássica de conhecimento objetivo91.

87

GODIN, Benôit, “The Knowledge Economy: Fritz Machlup's Construction of a Synthetic Concept”, Project on the History and Sociology of STI Statistics, Working Paper nº 37, 2008, disponível em www.csiic.ca

88 “In real life, no one has perfect information, but they have the capacity and skill to find information. This

knowledge has nothing to do with a pure logic of choice, but is knowledge relevant to actions and plans. This kind of knowledge, unfortunately for mathematical economists, “cannot enter into statiscs”: it is mostly subjective. To what extent, thus asked Hayek, “does formal economic analysis convey any knowledge about what happens in the real world”. (GODIN, Benôit, “The Knowledge Economy: Fritz Machlup's Construction of a Synthetic Concept”, Project on the History and Sociology of STI Statistics, Working Paper nº 37, 2008, disponível em www.csiic.ca)

89

ARROW, Kenneth “Economic Welfare and the Allocation of Resources”, in “The Rate and Direction of Inventive Activity: Economic and Social Factors”, Princeton University Press, 1962, pg. 609, disponível em: http://www.nber.org/chapters/c2144.pdf

90 A

RROW, Kenneth, “Economic Welfare and the Allocation of Resources for Invention”, in “The Rate and Direction of Inventive Activity: Economic and Social Factors, Universities-National Bureau, UMI, ISBN: 0- 87014-304-2, 1962, pg. 609-626.

91 G

ODIN, Benôit, “The Knowledge Economy: Fritz Machlup's Construction of a Synthetic Concept”, Project on the History and Sociology of STI Statistics, Working Paper nº 37, 2008, disponível em www.csiic.ca

43

MACHLUP avançou nesta ideia, ao desenvolver uma teoria que visava analisar a produção e a distribuição do conhecimento92.

A partir de sua teoria, MACHLUP desenvolveu uma metodologia para medir o conhecimento, a qual se baseou na ciência das finanças públicas. Ele concentrou-se em estimar os custos e vendas de produtos e serviços relacionados ao conhecimento, tendo coletado dados estatísticos de diversas fontes públicas e privadas.

MACHLUP, então, chegou à estimativa de que a economia do conhecimento valeria

U$ 136,4 milhões, ou 29% do PIB americano em 1958, bem como que tal economia havia crescido a uma taxa de 8,8% ao ano no período entre 1947 e 1958, e gerava empregos que representavam 26,9% da renda nacional. Foi em seu livro Production and Distribution of Knowledge (1962), que o autor cunhou primeiro a expressão Economia do Conhecimento.

O método de MACHLUP, embora tenha tido importância política, não foi bem aceito

pelos economistas, principalmente, por ter se baseado em um método empírico, e não em uma função matemática, como defendia a visão mais ortodoxa (que partia de uma função que decompunha o PIB em capital e trabalho, ficando o residual atribuído à ciência e tecnologia). Tal, naturalmente, havia sido uma opção consciente do autor, que rejeitou o método matemático como uma construção abstrata, que apenas media a relação entre insumos e produção, não estabelecendo nenhuma relação de causalidade.

Porém, é de se registrar a importância de sua obra para uma análise econômica do conhecimento.

92 Primeiramente, o autor se valeu de um amplo conceito de conhecimento, científico e leigo. A segunda ideia

avançada foi analisar a produção e distribuição do conhecimento. Para MACHLUP, a informação seria conhecimento apenas se comunicada e utilizada (teoria da comunicação). Assim, MACHLUP operacionalizou seu conceito de conhecimento como sendo composto de quatro elementos: educação, P&D, comunicação e informação. Para analisar a produção do conhecimento (R&D), MACHLUP utilizou-se de uma definição mais ampla de educação (que, para ele, não se limitava apenas à educação formal, mas toda espécie de treinamento: igreja, forças armadas, televisão, etc.). MACHLUP redefiniu o conceito corrente de P&D, tal como utilizado à época pela US National Science Foundation (que a definia como “a quantia básica de pesquisa, pesquisa aplicada e desenvolvimento). Em lugar desse conceito, ele definiu o conceito como um processo de quatro estágios que culminaria em inovação (termo evitado pelo autor). Ao assim definir o conceito, MACHLUP se distanciou de um conceito histórico de inovação e se apegou a um conceito

econômico, que estava atrelado à comercialização da invenção pelas empresas. O terceiro componente da

operacionalização seria a mídia, a qual ele considerava um grande leque de veículos (livros, periódicos, jornais, fotografia, fonografia, televisão, etc.) O último elemento seria a informação em si, composta de serviços de informação e máquinas de informação (tecnologias).

44