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1 Patrimônio Cultural: caminhos e descaminhos até a consolidação de um conceito ampliado

2 A experiência brasileira no campo do patrimônio cultural imaterial Optamos por destacar a experiência brasileira não apenas porque um dos

2.2 A política de salvaguarda do patrimônio imaterial brasileiro

Para o caso do patrimônio material, que tem em produtos da ação humana o principal alvo de sua política de preservação, a proteção legal por meio do tombamento pode ser considerada eficaz, já que a permanência destes bens demanda basicamente a manutenção da sua estrutura física através de procedimentos de conservação e restauração, transcendendo o seu processo de produção pelo homem. Por outro lado, o patrimônio imaterial, por seu caráter

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Este trabalho não objetiva passar a limpo a cronologia do IPHAN, tampouco todas as suas mudanças de nomenclatura e os interesses políticos em torno disso. No entanto, em linhas gerais é importante saber que em 1979 o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) incorporou o CNRC e o Programa das Cidades Históricas (PCH). A partir dessas fusões, transformou-se em Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Ainda no ano de 1979, foi criada a Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM) para funcionar como braço executivo da nova Secretaria e viabilizar soluções para o problema da obtenção de recursos. Em 1990 foi extinta a FNPM e a SPHAN foi transformada no Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC). Em 1992, uma nova mudança de nomenclatura – de IBPC para Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), nome mantido pela instituição até os dias atuais. Informações obtidas no site oficial do IPHAN. Disponível em http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/53/fundacao-nacional-

pro-memoria-1979-1990 e em

http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/PatImaDiv_OsSambasAsRodasOsBumbas_2E dicao_m.pdf. Acesso 23 abr. de 2018.

29 Disponível em

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Fortaleza%201997.pdf. Acesso 23 abr. 2018.

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processual e dinâmico, é inseparável da ação humana que lhe forma30. (IPHAN, 2010) Foi esse entendimento que norteou o Grupo de Trabalho do Patrimônio Imaterial na direção de uma política que contemplasse as especificidades do campo.

Oriundos de processos culturais de construção de sociabilidades, de formas de sobrevivência, de apropriação de recursos naturais e de relacionamento com o meio ambiente, essas manifestações possuem

uma dinâmica específica de transmissão, atualização e

transformação que não pode ser submetida às formas usuais de proteção do patrimônio cultural. O patrimônio imaterial não requer „proteção‟ e „conservação‟ - no mesmo sentido das noções fundadoras da prática de preservação de bens culturais móveis e imóveis – mas identificação, reconhecimento, registro etnográfico, acompanhamento periódico, divulgação e apoio. Enfim, mais documentação e acompanhamento e menos intervenção. (IPHAN, 2006, p. 19)

Como resultado de todo o esforço em torno deste tema ao longo das últimas décadas, a assinatura do Decreto número 3.551, em 4 de agosto de 2000, instituiu o Registro de Bens de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI). Complementado pela Resolução número 1, de 3 de agosto de 2006, estes documentos constituem o marco legal do patrimônio cultural imaterial brasileiro em vigência até os dias atuais. Somado a isso, em 2006 o Brasil também ratificou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO31.

Assim, o entendimento amplo que o Estado brasileiro deu ao patrimônio cultural imaterial em sua estrutura jurídica possibilitou que, a partir desse momento, as políticas de preservação passassem a englobar uma diversidade considerável de expressões culturais, como é o caso dos conhecimentos e dos modos de fazer, dos rituais e das festas, das formas de expressão, dos lugares onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas. Refere-se, assim, àquelas “criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social.” (BRASIL, 2006, p.1)

30 Obviamente não estamos observando, aqui, a fragilidade que marca a dicotomia material

versus imaterial. Sobre isso ver FONSECA (1997; 2009).

31 A referida Convenção foi aprovada por meio do Decreto Legislativo n. 22, de 1º de

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Essa mudança de paradigma é um passo decisivo para a aproximação do Estado brasileiro com a diversidade cultural que o forma, incorporando-a no âmbito de suas políticas públicas. A partir de agora, é possível vislumbrar com mais esperança a possibilidade de uma inclusão cultural inédita para aqueles que tiveram suas identidades sociais e culturais negadas e invisibilizadas até aqui.

Vale destacar que o conceito de patrimônio cultural imaterial que o Brasil utilizou na formulação de suas novas políticas foi fundamentalmente inspirado pela noção de referência cultural, fio condutor de todo o trabalho do CNRC. Como já esclarecemos anteriormente, trabalhar com a noção de referência cultural implica o envolvimento ativo dos sujeitos produtores dos bens culturais, acionando aquilo que Canclini (1994) chamou de “concepção participacionista”. O emprego deste entendimento questionou toda a estrutura sólida e conservadora em que estava erigido o patrimônio brasileiro, forçando a partir daí um diálogo aberto sobre temas como a legitimidade para a atribuição de valor patrimonial, participação da sociedade, direitos culturais, inclusão sócio-cultural, propriedade intelectual etc.

Esse estímulo normativo à escuta da sociedade contrasta décadas de um papel centralista, quando não esclarecedor, do IPHAN e de seus agentes, que tradicionalmente se postavam no dever de apontar a importância dos legados patrimoniais aos cidadãos ignorantes ou agressores de seus legados culturais. (MARINS, 2016, p.17)

O protagonismo social impulsionado pelo redirecionamento da relação do Estado com a sociedade passa a ser considerado “a grande inovação metodológica na trajetória da preservação federal”. (MARINS, 2016, p.16) A valorização do cidadão nas políticas públicas de patrimônio foi uma estratégia para engajar, efetivamente, as camadas sociais nos processos de produção e preservação dos seus bens culturais. Essa cooperação é intensificada durante a gestão Lula, através da atuação do então Ministro da Cultura Gilberto Gil, momento em que o engajamento do cidadão foi priorizado de forma acentuada e inédita, implicando-o como responsável pelo acionamento das políticas, estimulando-o, por exemplo, para a formação de redes colaborativas e para a inserção digital de seus processos criativos32.

32 O exemplo mais marcante do período foi o Programa Cultura Viva, com os Pontos de

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A nova política brasileira de salvaguarda é executada através do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI/IPHAN) por meio dos seus três instrumentos principais: o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o Registro e os Planos de Salvaguarda.

O INRC é um procedimento de investigação e deve ser utilizado como metodologia para a coleta e sistematização de dados dos bens culturais imateriais identificados como referências culturais para seus grupos relacionados. O conhecimento que os inventários fornecem sobre o universo desses bens é o que vai conduzir as medidas de salvaguarda, podendo, inclusive, justificar um pedido de registro. Para isso, os inventários devem propiciar “uma adequada compreensão dos processos de formação histórica, produção, reprodução e transmissão que caracterizam esse bem, assim como das condições, dos problemas e dos desafios para sua continuidade.” (IPHAN, 2010, p.20)

O título de “Patrimônio Cultural do Brasil”, para o caso dos bens culturais de natureza imaterial, é consequência do processo de Registro, instituído pelo Decreto 3.551/2000. Trata-se de um instrumento legal que “viabiliza a constituição, juntamente e em complementação ao tombamento, do repertório de bens culturais que integram o universo do patrimônio cultural brasileiro a ser reconhecido, preservado e valorizado pelo poder público.” (IPHAN, 2010, p.22) Assim, a partir do Registro, o Estado assume compromissos no que diz respeito à continuidade do bem reconhecido, através de ações de produção de conhecimento, documentação, apoio e fomento. Todo esse processo deve ser participativo, contando com o envolvimento ativo dos produtores do bem em todas as etapas, da proposta do registro à aprovação dos planos de salvaguarda. A presença dos detentores é garantida, inclusive, na reavaliação da inscrição do bem – obrigatoriedade que acontece a cada dez anos e que visa monitorar as transformações decorridas nesse tempo, bem como os impactos que o título oficial pode ter gerado ao bem em questão.

Compreendendo que o universo do patrimônio imaterial é composto por uma diversidade de manifestações e que elas possuem peculiaridades próprias, o decreto 3.551/2000 inaugura quatro Livros específicos para o registro dos bens, a saber:

89 I. Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;

II. Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;

III. Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;

IV. Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. (BRASIL, 2000, p.1)

Todo o conhecimento produzido ao longo da construção do inventário e do possível registro de determinado bem será utilizado para fundamentar o seu Plano de Salvaguarda. Este documento tem uma importância ímpar em todo esse processo, já que é ele que define e sistematiza as ações que deverão “contribuir para a melhoria das condições socioambientais de produção, reprodução e transmissão dos bens culturais imateriais registrados.” (IPHAN, 2010, p.24) Ou seja, os compromissos assumidos por todas as partes implicadas na continuidade e na sustentabilidade do bem estarão elencados nesse Plano, que pode contemplar uma diversidade de ações de curto, médio e longo prazo, tais como:

a) apoio à transmissão dos saberes e habilidades relacionados ao bem cultural;

b) promoção e divulgação do bem cultural; c) valorização de mestres e executantes;

d) melhoria das condições de produção, reprodução e circulação; e) organização dos detentores e de atividades comunitárias. (IPHAN, 2010, p.24)

Além disso, uma das diretrizes básicas e principais frentes de atuação do DPI é a sensibilização da sociedade para o reconhecimento da importância e valorização desse conjunto de bens culturais. Tendo em vista que durante muitas décadas o único patrimônio nacional conhecido e disseminado foi o material, é fundamental que se invista em ações de difusão de conhecimento a fim de informar a sociedade sobre a relevância do patrimônio imaterial na composição da identidade brasileira. Essa medida, além de promover os bens culturais em questão, garante ainda mais condições para a continuidade dos mesmos.

É através do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), também instituído pelo Decreto 3.551/2000, que o DPI implementa a política de inventário, registro e salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial. Por meio de editais públicos anuais, o Programa seleciona propostas orientadas por linhas de ação que tenham como foco a sustentabilidade, a organização comunitária dos produtores ou

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detentores de bens culturais, a promoção, democratização e difusão destes bens e a capacitação das pessoas e instituições que compõe esse universo. De 2005 a 2015, o PNPI beneficiou setenta e cinco projetos comprometidos com a preservação do patrimônio imaterial brasileiro, sendo que algumas de suas edições contemplaram temáticas bastante específicas, como foi o caso do edital de 2008 que promoveu a elaboração de um Inventário Nacional da Diversidade Linguística, o de 2013 que fomentou ações dos grupos de imigração e o de 2014 que apoiou as comunidades de terreiro, através da primeira edição do Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana33.

Com relação aos bens com processo de registro finalizado, de 2002 a 2019, segundo informações oficiais do IPHAN, quarenta e oito bens imateriais receberam o título de Patrimônio Cultural do Brasil. Desses bens, dezoito foram registrados no Livro de Formas de Expressão, treze no Livro de Saberes, treze no Livro de Celebrações e quatro no Livro dos Lugares34. Além disso, no âmbito da UNESCO, o Brasil possui cinco bens na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, um bem na Lista de Bens em Necessidade de Salvaguarda Urgente e duas ações na Lista de Boas Práticas de Salvaguarda. (IPHAN, 2017)

Na tentativa de buscar relações dos bens já registrados pelo IPHAN com o objeto de estudo desta tese, verificamos que no Livro das Celebrações não há nenhuma festividade de tipo carnavalesca até o momento e que, dos treze bens imateriais reconhecidos, apenas dois estão na Bahia – a Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, que acontece anualmente em Salvador; e o Bembé do Mercado, de Santo Amaro (região do Recôncavo Baiano). No entanto, festividades como o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (PA), o Complexo Cultural do Bumba-Meu-Boi do Maranhão (MA) e do Médio Amazonas e Parintins (AM) e a própria Festa do Bonfim (BA) – todos registrados e com planos de salvaguarda ativos – possuem características que, em certa medida, podem ser consideradas similares ao carnaval de Salvador, tendo em vista que são festas públicas urbanas de grandes

33 O IPHAN publicou dois compêndios com os resultados dos editais lançados entre 2005 e

2015. As edições são bastante completas, apresentando o resumo de todos os projetos ganhadores. Disponível em http://portal.iphan.gov.br//pagina/detalhes/761. Acesso em 23 abr. 2018.

34 Informação disponível em http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1617/. Acesso em 15

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proporções, acentuadamente midiatizadas e com alto grau de complexidade no que diz respeito às demandas de gestão.

Quadro 1 – Livro Celebrações IPHAN – bens culturais registrados Livro das Celebrações

Ano do

Registro Celebração Região/ UF

2004 Círio de Nossa Senhora de Nazaré Norte/ PA

2010 Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis Centro-Oeste/ GO

2010 Ritual Yaokwa do povo indígena Enawenê Nawê Centro-Oeste/ MT

2010 Festa de Sant'Ana de Caicó Nordeste/ RN

2011 Complexo Cultural do Bumba-Meu-Boi do

Maranhão Nordeste/ MA

2013 Festa do Divino Espírito Santo da Cidade de

Paraty Sudeste/ RJ

2013 Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim Nordeste/ BA

2013 Festividades do Glorioso São Sebastião na

região do Marajó Norte/ PA

2015 Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de

Barbalha Nordeste/ CE

2016 Romaria de Carros de Boi da Festa do Divino Pai

Eterno de Trindade Centro-Oeste/ GO

2018 Procissão do Senhor dos Passos em

Florianópolis Sul/SC

2018 Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio

Amazonas e Parintins Norte/ AM

2019 Bembé do Mercado Nordeste/BA

Fonte: Elaboração da autora adaptada do site oficial do IPHAN.

Quase uma dezena de outras festas populares também foi contemplada pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), a maioria de cunho religioso e nenhuma de grande porte. Ou seja, o carnaval de Salvador não consta nos registros dos Livros, tampouco como bem inventariado da política patrimonial do IPHAN35.

Já no Livro de Expressões verificamos que muitos dos bens registrados possuem uma relação intrínseca com grandes manifestações festivas, como é o caso das matrizes do samba no Rio de Janeiro com o carnaval carioca; e do caboclinho, do frevo, do maracatu nação e do maracatu do baque solto com o carnaval pernambucano. É interessante analisar que, mesmo não constando um registro específico para os carnavais de Recife e de Olinda – os mais emblemáticos do estado pernambucano – eles se fazem presentes através dos seus principais ritmos musicais registrados como patrimônio nacional; o mesmo ocorre com o

35 A relação dos bens inventariados está disponível em

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/421/. Acesso em 19 set. de 2018. Atualizado em 20 nov. de 2019.

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carnaval do Rio de Janeiro. Por outro lado, não foi localizado nenhum indício de que os ritmos predominantes do carnaval de Salvador, o ijexá e o samba-reggae, estejam em processo de registro ou inventário – analisaremos melhor a questão no decorrer deste trabalho.

Quadro 2 – Livro Expressões IPHAN – bens culturais registrados Livro de Expressões

Ano do

Registro Forma de Expressão Região/ UF

2002 Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica

Wajãpi Norte/ AP

2004 Samba de Roda do Recôncavo Baiano Nordeste/ BA

2005 Jongo no Sudeste Sudeste/ SP, RJ, ES, MG

2007 Frevo Nordeste/ PE

2007 Tambor de Crioula do Maranhão Nordeste/ MA

2007 Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido

Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo Sudeste/ RJ

2008 Roda de Capoeira Nacional

2009 Toque dos Sinos em Minas Gerais Sudeste/ MG

2012 Ritxòkò: Expressão Artística e

Cosmológica do Povo Karajá Norte/ TO

2012 Fandango Caiçara Sudeste/ SP e PR

2014 Carimbó Norte/ PA

2014 Maracatu Nação Nordeste/ PE

2014 Maracatu Baque Solto Nordeste/ PE

2014 Cavalo-Marinho Nordeste/ PE

2015 Teatro de Bonecos Popular do

Nordeste

Nordeste e DF/ RN, PE, PB, CE, DF

2017 Caboclinho pernambucano Nordeste/ PE

2018 Literatura de Cordel Nacional

2018 Marabaixo Norte/ AP

Fonte: Elaboração da autora adaptada do site oficial do IPHAN.

Em sintonia com a “patrimonialização galopante” (HARTOG, 2015) que marca o mundo especialmente a partir da década de 1990, o campo do patrimônio cultural brasileiro também assiste a um “surpreendente gigantismo”, conforme as palavras de Márcia Chuva (2012, p.151).

A expansão desse campo tem abarcado um universo muito amplo de agentes sociais, de bens e práticas culturais passíveis de se tornarem patrimônio, bem como promovido uma série de conseqüências sociais, políticas e administrativas relativas à sua gestão, tanto relacionada aos bens de natureza material, com sua proteção, quanto aos bens de natureza imaterial, com as políticas de salvaguarda.

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Apesar da discrepância que ainda marca a atuação política no campo do patrimônio imaterial em comparação ao material36, acreditamos que os mais de 1.200 bens tombados no Brasil e os 48 bens registrados até o ano de 2019 “apenas começaram a cumprir a missão de representar a complexidade do país.” (MARINS, 2016, p.26) Contemplar o máximo de vozes possível dos mais diferentes grupos formadores da sociedade brasileira continua sendo um desafio e acreditamos que a atualização da política patrimonial brasileira apresentada até aqui aponta para essa perspectiva.

2.3 Os desafios para uma implementação efetiva da política patrimonial