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1 Patrimônio Cultural: caminhos e descaminhos até a consolidação de um conceito ampliado

2 A experiência brasileira no campo do patrimônio cultural imaterial Optamos por destacar a experiência brasileira não apenas porque um dos

2.4 O contexto patrimonial na Bahia e em Salvador

A criação de uma legislação federal sobre o patrimônio cultural imaterial, através do Decreto 3.551/2000, tem inspirado estados e municípios no avanço de mecanismos de preservação dos seus próprios bens imateriais. Isso fica evidente ao observarmos o panorama baiano e soteropolitano das políticas públicas em torno da salvaguarda patrimonial imaterial.

No âmbito federal, há na Bahia, com sede em Salvador, uma Superintendência do IPHAN para colaborar em ações de preservação específicas para este território. Desde 1937, a atuação do IPHAN no estado da Bahia resultou na proteção legal de 174 bens de natureza material tombados individualmente, mais de nove mil imóveis tombados em conjunto e dez conjuntos urbanos tombados (Cachoeira, Itaparica, Lençóis, Monte Santo, Mucugê, Porto Seguro, Rio de Contas, Salvador, São Félix, Vila de Igatu). Como Patrimônio Mundial reconhecido pela UNESCO figuram o Centro Histórico de Salvador e a Costa do Descobrimento, além da inscrição do Samba de Roda do Recôncavo na Lista das Obras Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Do total de bens registrados como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, seis deles são oriundos do estado baiano: a Festa do Senhor do Bonfim, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, o Ofício das Baianas de Acarajé, a Roda de Capoeira, o Ofício dos Mestres de Capoeira e o Bembé do Mercado. Além disso, a Literatura de Cordel, de abrangência nacional, contempla também a Bahia como um de seus pólos criadores.38

Ainda, a trajetória do IPHAN na Bahia é marcada, como já vimos, pelo emblemático caso do tombamento do Terreiro da Casa Branca no ano de 1984.

38 Informações obtidas na página intitulada “O IPHAN na Bahia”, no site oficial do IPHAN.

Disponível em http://portal.iphan.gov.br/ba/pagina/detalhes/1068. Acesso em 16 set. 2018. Atualizado em 20 nov. de 2019.

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Depois disso outros sete terreiros foram tombados39 pelo Instituto no estado, sendo cinco deles em Salvador – Ilê Iyá Omim Axé Iyamassé (Gantois), Ilê Maroiá Láji (Alaketo), Bate-Folha, Ilê Axé Oxumaré e Axé Opô Afonjá; um em Itaparica, o Omo Ilê Agboulá; e um em Cachoeira, o Zogbodo Male Bogun Seja Unde (Roça do Ventura)40.

No âmbito estadual, a Bahia inicia sua trajetória no campo das políticas públicas para a preservação patrimonial com a criação, em 1967, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), autarquia atualmente vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT-BA). Sua fundação é um dos desdobramentos da missão de Michel Parent, consultor da UNESCO, no Brasil. Dentre os encaminhamentos propostos no relatório final das suas atividades no país figurou a necessidade de se criar uma entidade estadual responsável pela proteção do patrimônio cultural baiano – medida prontamente atendida pelo então governador do Estado, Luís Viana Filho.

Contudo, é fundamental atentar para o fato de que os objetivos iniciais que foram atribuídos ao IPAC iam além da preocupação do Estado com a preservação de seus patrimônios. O Decreto 20.530 de 03 de janeiro de 1968, que regulamenta a sua criação, já expressava que a finalidade do Instituto corroboraria as estratégias desenvolvimentistas em torno do binômio turismo e cultura, que conduziam o trabalho do governo naquele momento.

Serão turísticos e culturais os fins da Fundação que se prendem dentro do binômio cultural e turismo, à estabilização, restauração, conservação e aproveitamento condigno dos bens, imóveis e móveis de interesses artísticos e históricos para fins de seu conhecimento, promoção e adequada utilização como centro turístico e de difusão cultural.” (BAHIA, 1968 apud SANTOS, 2017, p.48)

É fundamental compreendermos a conjuntura que deu origem à tônica desse texto de criação do primeiro órgão patrimonial da Bahia. Alinhando-se ao que vinha acontecendo em nível nacional e internacional, a segunda metade do século XX foi marcada pela aproximação radical entre turismo e cultura nas estratégias do

39 Não entraremos, aqui, no desafiante debate em torno dos instrumentos de proteção

patrimonial direcionados aos templos afro-religiosos brasileiros. Sobre o tema, recomendamos a leitura de BARBOSA (2016); SANT‟ANNA (2012); ZAMBUZZI (2010).

40 Informação disponível em http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1312/. Acesso em 16

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governo baiano. A partir de 1968, com a criação da Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia (Bahiatursa), órgão estadual responsável pela pasta do turismo, ações nessa seara passaram a ser melhor planejadas e executadas. Para tornar possível esse empreendimento, esforços foram levados a cabo no sentido de construir um “Produto Bahia” competitivo para integrar o mercado turístico nacional e estrangeiro. Tal qual a montagem de um grande mosaico, a narrativa que deu vida à “comunidade imaginada Bahia” foi construída através da soma de diferentes peças que a conformaram como um lugar exótico no mundo.

A chegada (tardia) das linguagens modernistas na capital da Bahia configurou um fluxo intenso de informações, remodelando as práticas culturais tradicionais que caracterizavam a capital até esse momento. Do final dos anos 1940 até a década de 1960, a “boa terra” pacata e tranquila da primeira metade do século foi dando lugar a uma cidade moderna, com novas formas e novos ritmos para as suas sociabilidades; foi abrindo espaço para um cenário de ebulição cultural profundamente transformador. São exemplos importantes deste período as iniciativas vanguardistas de Edgard Santos como primeiro reitor da Universidade Federal da Bahia (1946- 1952)41; a presença marcante de Anísio Teixeira na Secretaria Municipal de Educação; o Clube de Cinema da Bahia; a circulação de revistas temáticas e o trabalho primoroso dos suplementos culturais dos jornais impressos que promoviam o debate cultural local e internacional; a multiplicidade de influências propiciada pela presença de intelectuais e artistas de diferentes correntes e lugares. Ainda, foi dessa dinâmica que surgiram importantes movimentos culturais, como a Tropicália e o Cinema Novo. (RUBIM, 1999; MIGUEZ, 2002; GUERREIRO, 2005)

Como resultado dessa nova conjuntura, a imagem de uma Bahia bucólica e malemolente, praieira e miscigenada – fomentada desde as primeiras décadas do século XX, especialmente pelas obras musicais de Assis Valente e Dorival Caymmi (com importante participação de Ari Barroso) e pela obra literária de Jorge Amado –

41 Iniciativas importantes no campo das artes e das humanidades: criação da Escola de

Dança (a primeira do país); criação da Escola de Teatro; Seminários Livres de Música; produção do Atlas dos Falares Baianos pelo Laboratório de Linguística (primeiro experimento dessa natureza no país); estudos inovadores sobre a cidade protagonizados pelo Laboratório de Geomorfologia e Urbanismo, sob a coordenação do professor Milton Santos; criação do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), dedicado ao estudo e valorização da cultura afro-baiana.

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precisou ser atualizada. Tomando toda a ambiência cultural que narramos acima como inspiração, a nova estrutura estatal de turismo remodelou o “Produto Bahia” – delimitado, até então, quase que exclusivamente pelo patrimônio arquitetônico e pelas belezas naturais da cidade. Assim, durante a década de 1970 e, sobretudo, a partir da década de 1980, os aspectos da cultura popular mais relacionados à cultura afro-baiana (capoeira, candomblé, gastronomia etc) e às manifestações lúdico- festivas, com destaque para o carnaval e festas populares, foram integrados a uma narrativa de forte apelo turístico, com a projeção da imagem de uma Bahia, particularmente de Salvador, como um lugar pitoresco, composto por uma diversidade étnico-cultural pujante.

Daí em diante, a cultura local e o imaginário que se construiu em torno da Bahia – que ficou conhecido pelo termo “baianidade” – passaram a ser utilizados como ativos fundamentais do desenvolvimento da economia baiana através do fortalecimento do turismo.

É importante destacar que o significado que é atribuído por estas instituições à baianidade trata-se de uma construção genérica do senso comum, que está relacionada a uma série de fatores religiosos, culturais e étnicos forjados através de sua presença nos discursos literários, musicais, cinematográficos, televisivos, folclóricos, entre outros e que são cotidianos à vida da população local. [...] No entanto, sua importância discursiva reside no fato de ser um termo que, independente das diferenças entre as diversas regiões do Estado e mesmo dentro de cada cidade baiana, está presente no imaginário coletivo da população como sendo representativo do modo de ser do baiano – esse “baiano genérico” que aparece na mídia, e, por sua força, vem sendo utilizado como uma importante estratégia de marketing turístico. (COIMBRA DE SÁ, 2007, p.117-118)

É fundamental ressaltarmos que, apesar do nome genérico, o termo se nutre de aspectos sócio-culturais mais diretamente relacionados à capital do estado, Salvador, e ao Recôncavo Baiano. Ou seja, a diversidade cultural acentuadamente ampla e complexa do estado é reduzida a ponto de ser representada, nesse novo “Produto Bahia”, pela identidade de apenas um de seus tantos territórios.

A aposta feita pela união da cultura com o turismo, apesar de ter valorizado e fomentado bens da cultura popular, mostrou-se de alcance bastante limitado, tendo em vista que foi orientada por uma lógica mercantil, totalmente descolada das camadas sociais que assistem as suas manifestações culturais serem utilizadas como mero meio para cooptar turistas. Como veremos nas seções seguintes deste

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trabalho, as implicações desses usos equivocados podem representar perdas irreversíveis para o campo da cultura popular, como foi o caso da apropriação e mercantilização extremas do campo das festas populares baianas pela indústria turística.

Retomando o contexto mais específico da estrutura estatal de patrimônio do Estado da Bahia, o primeiro grande esforço do recém criado IPAC pode ser considerado uma ressonância de toda essa mentalidade levada a cabo pelo governo através dos seus agentes de turismo – trata-se da recuperação, através de obras monumentais de restauração, do Centro Histórico de Salvador (CHS). O resultado é bastante questionável até os dias de hoje por ter promovido uma completa descaracterização do espaço, sendo a retirada dos antigos moradores uma ação recorrentemente lembrada como a mais violenta deste processo. Ao desarticular uma organização social viva e dinâmica, a revitalização transformou o Pelourinho em um gueto caracterizado por uma identidade local artificialmente construída, destinado a atender exclusivamente a população de turistas que visita a cidade, que, seguindo essa lógica, é mantida afastada da verdadeira dinâmica urbana local. (SANT‟ANNA, 2015)

O resultado de um projeto como esse, planejado e executado tendo como foco exclusivo o turismo, não poderia ser outro: um gradativo estado de abandono e deterioração. Por não se mostrar sustentável tanto do ponto de vista do patrimônio material como do imaterial, Sant‟Anna (2015) considera este modelo de revitalização um grande fracasso socioeconômico.

Apesar de acompanhar as estratégias de turismo do Estado e centralizar suas atividades no patrimônio material do estado, o IPAC começou a promover, ainda na década de 1980, algumas ações voltadas para os bens de natureza imaterial. A pesquisa de mestrado de Matheus Torres Barbosa (2016) identificou dois casos que confirmam esse esforço do órgão estadual – o projeto “Bahia: Raízes Indígenas”, de 1984, que teve como objetivo a realização de um inventário dos seis grupos indígenas até então reconhecidos na Bahia; e o projeto “Histórias de Vaqueiros: Vivências e Mitologia”, que foi iniciado em 1985 e produziu uma espécie de inventário dos saberes e fazeres relacionados aos vaqueiros de mais de cinquenta municípios do estado. Apesar da importância dessas ações, elas foram pontuais e

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os bens imateriais só vieram a encontrar respaldo de proteção legal algumas décadas depois.

De forma alinhada ao contexto federal, a primeira década dos anos 2000 foi marcada por avanços do IPAC na criação de legislação própria para o patrimônio cultural imaterial. Em 2003 o seu Regimento foi atualizado e a sua finalidade passa a concentrar-se mais essencialmente no campo da cultura – este documento define que a sua missão é formular, promover e garantir a implementação de políticas públicas para o setor patrimonial baiano, estimulando e promovendo atividades relacionadas aos museus e à educação patrimonial. No final deste mesmo ano foi aprovada a Lei 8.895 que instituiu normas específicas de proteção e estímulo à preservação do patrimônio cultural imaterial do estado. Apesar de ter sido validada apenas em 2006, com a publicação do Decreto 10.039, a legislação representou um avanço para a Bahia que, a partir desse momento, passou a contar com instrumentos legais para a salvaguarda dos seus bens de natureza imaterial.

A Lei trata tanto do patrimônio material como do imaterial e decide que a proteção se dará através do instituto do (i) tombamento, (ii) inventário para a preservação, (iii) espaço preservado e (iv) registro especial do patrimônio imaterial. O Artigo 39 esclarece que o Registro Especial será aplicado aos bens culturais de natureza imaterial, comumente designados como manifestações, passíveis de verificação no plano material. O texto da Lei não apresenta uma definição específica para os bens imateriais, apenas um esclarecimento de que, para fins de preservação, o patrimônio cultural deve ser constituído por bens cuja proteção seja de interesse público, pelo seu reconhecimento social no conjunto das tradições passadas e contemporâneas do Estado. (BAHIA, 2003a)

A Lei institui, também, nove livros para a inscrição do patrimônio cultural, dos quais quatro são destinados exclusivamente aos bens imateriais (VI ao IX). É possível verificar que a Lei estadual segue os mesmos parâmetros conceituais e as mesmas categorias presentes no Decreto Federal 3551/2000.

I - Livro do Tombamento dos Bens Imóveis; II - Livro do Tombamento dos Bens Móveis;

III - Livro do Inventário para a Preservação dos Bens Imóveis e Conjuntos;

IV - Livro do Inventário para a Preservação dos Bens Móveis e Coleções;

103 VI - Livro do Registro Especial dos Saberes e Modos de Fazer; VII - Livro do Registro Especial dos Eventos e Celebrações;

VIII - Livro do Registro Especial das Expressões Lúdicas e Artísticas;

IX - Livro do Registro Especial dos Espaços destinados a Práticas Culturais Coletivas. (BAHIA, 2003a, grifo nosso)

A Lei define que os bens culturais protegidos pelo Registro Especial serão documentados e registrados a cada cinco anos (e não dez, como é na legislação federal) e destaca, ainda, o compromisso do Estado na ampla divulgação e promoção dos patrimônios registrados – “sob a forma de publicações, exposições, vídeos, filmes, meios multimídia e outras formas de linguagem promocional pertinentes, das informações registradas, franqueando-as à pesquisa qualificada.” (BAHIA, 2003a)

Também foi instituído, no âmbito do patrimônio cultural imaterial, o “Registro de Mestres dos Saberes e Fazeres da Cultura Tradicional Popular do Estado da Bahia”, utilizando-se também da expressão “Tesouro Vivo”, através da Lei 8.899, de 2003, e regulamentado pelo decreto 9.101, de 2004. Para a referida lei, Mestre é a pessoa que detém os conhecimentos ou as técnicas necessárias para a produção e preservação da cultura tradicional popular de determinada comunidade estabelecida no Estado da Bahia. Cumpridos os pré-requisitos e sendo aprovado, o Mestre receberá o diploma que concede o Título e também terá direito a receber mensalmente o valor correspondente a um salário mínimo. Como dever decorrente do título, deverá transmitir seus conhecimentos e técnicas aos alunos e aprendizes, através de programas de ensino e aprendizagem organizados pelo IPAC.42 (BAHIA, 2003b; BAHIA, 2004)

Os primeiros anos da nova legislação patrimonial baiana foram marcados por uma serie de dificuldades na sua implantação. Segundo Barbosa (2016), o obstáculo inicial esteve concentrado nos próprios técnicos do IPAC que desconheciam o processo para preservação de um bem de natureza imaterial. Alguns exemplos demonstram a confusão que marcou este período – a Capoeira e o Cortejo Dois de Julho, quando reconhecidos pelo Governo do Estado da Bahia como patrimônio,

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Até a finalização deste texto, a Lei 8.899/2003 não havia sido implementada. De acordo com Nívea Santos, responsável pela Gerência do Patrimônio Imaterial (GEIMA) do IPAC, “existem alguns pontos que a tornam inexequível, principalmente no que diz respeito à dotação orçamentária e como se daria a premiação, se através de editais, qual a regulamentação para contemplação dos Mestres. Está em andamento esta discussão sobre a Lei dos Mestres, inclusive uma minuta para análise.” (Nívea Santos, informação verbal, 2019)

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foram tombados e não registrados (equívoco retificado no ano de 2009). O processo que pedia a patrimonialização do Cortejo Dois de Julho, inclusive, não apresentou um dossiê de estudos para verificá-lo como passível de receber o título. Situação parecida ocorreu com a Festa de Santa Bárbara, em Salvador, só que nesse caso a ausência ficou por conta das recomendações para a salvaguarda da celebração. (BARBOSA, 2016, p.35)

Mesmo não contando com experiências anteriores para nortear esta nova frente de trabalho, o IPAC foi protagonizando experiências com o Registro de bens imateriais e, entre erros e acertos, se familiarizando, de forma lenta e gradual, com as novas possibilidades de preservação. Barbosa (2016) esclarece que estudos mais sistemáticos voltados ao universo do patrimônio imaterial só ganharam espaço no IPAC no final do ano de 2007.

Uma equipe multidisciplinar composta por museólogos, arquitetos e cientistas sociais tateava, então, ainda no escuro, ante a necessidade de estabelecer critérios para o reconhecimento dos bens imateriais a serem reconhecidos, definir um modelo para o seu Dossiê de Estudos e idealizar planos de salvaguarda que garantissem, de fato, a continuidade dos objetos em questão. (BARBOSA, 2016, p.36)

O quadro de bens imateriais registrados pelo IPAC desde a aprovação do Decreto 10.039/2006 acumula o registro de dez bens culturais, sendo dois no Livro das Expressões Lúdicas e Artísticas, seis no Livro de Eventos e Celebrações e dois no Livro dos Saberes e Modos de Fazer; além de dez terreiros de candomblé registrados no Livro de Espaços Destinados a Práticas Culturais e Coletivas.

Quadro 3 – Bens culturais imateriais registrados pelo IPAC-BA. Ano do

Registro Forma de Expressão Livro do Registro Cidade/Região

2006 Capoeira Expressões Lúdicas e

Artísticas Salvador

2006 Cortejo do Dois de Julho Eventos e Celebrações Salvador

2008 Carnaval de Maragojipe Eventos e Celebrações Maragojipe

2008 Festa de Santa Bárbara Eventos e Celebrações Salvador

2010 Desfile de Afoxés Eventos e Celebrações Salvador

2010 Festa da Boa Morte Eventos e Celebrações Cachoeira

2011 Ofício de Vaqueiros Saberes e Modos de

Fazer Sertão Baiano

2012 Ofício das Baianas de Acarajé Saberes e Modos de

Fazer Salvador

2012 Bembé do Mercado Eventos e Celebrações Santo Amaro

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Aganjú Didê, Viva Deus,

Lobanekum, Lobanekum Filha, Ogodó Dey, Ilê Axé Itayle, Humpame Ayono Huntóloji e Dendezeiro Incossi Mukumbi (Cachoeira); e Raiz de Ayrá e Ile Axé Ogunjá, (São Félix).43

Práticas Culturais e Coletivas

São Félix

2018 Zambiapunga Expressões Lúdicas e

Artísticas

Baixo Sul baiano Fonte: Elaboração da autora adaptada do site oficial do IPAC-BA.

Se observarmos apenas sob a perspectiva quantitativa, o número de bens registrados pode parecer desproporcional aos mais de dez anos de legislação. No entanto, devemos levar em conta a conjuntura do período de instauração do registro de bens imaterias – além de um corpo técnico sem experiência diante da novidade que representou este tipo de instrumento legal, a sociedade também carecia de informações sobre as possibilidades de uso da nova legislação.

O Quadro 3 nos apresenta uma tendência de registro de bens culturais no Livro de Eventos e Celebrações. Esse dado tanto pode representar a confirmação de uma tradição festiva da Bahia, vide a força de suas festas populares e do seu carnaval; como pode sinalizar para a continuidade da estratégia estatal de visibilizar esses ativos da cultura popular em prol do turismo da região. Essas hipóteses podem, inclusive, ser utilizadas ao mesmo tempo na explicação de tal fenômeno. Ainda sobre o Livro de Eventos e Celebrações, a ausência do carnaval de Salvador – sendo este a maior festa popular do estado – desperta curiosidade. No entanto, o registro de uma de suas manifestações mais importantes, o desfile dos afoxés, não deixa de representá-lo – ao menos parcialmente. Abordaremos essas questões mais específicas sobre o nosso objeto de estudo no capítulo quatro deste trabalho.

Como desdobramento do compromisso previsto na legislação quanto à promoção dos patrimônios registrados, desde 2010 é publicada a coleção “Cadernos do IPAC”, dossiês sobre os bens imateriais da Bahia – iniciativa fundamental para a divulgação do patrimônio estadual e para a sensibilização da sociedade quanto à

43A atuação recente do IPAC demonstra que não há um consenso quanto ao instrumento de

proteção a ser direcionado aos templos afro-religiosos. Exemplo disso, em 2014 dez terreiros foram registrados como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado (medida que o próprio IPHAN, como vimos, não segue); já em 2018, o Tumba Junsara, terreiro de nação Angola localizado em Salvador, foi tombado.

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importância e representatividade desse universo simbólico44. Outra ação que merece destaque no âmbito da comunicação é o Sistema de Informações do Patrimônio Cultural da Bahia (SIPAC), portal eletrônico que promove e difunde o patrimônio