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10 2.1.1 A Política Portuguesa

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 40-42)

Para estudar as políticas adotadas por Portugal para implementação da CDB é necessário um breve olhar sobre o processo de elaboração e implementação de políticas públicas.

Neste sentido é necessário estudar a relação entre o Estado e a sociedade civil, pois, como será visto adiante, numa democracia deliberativa a elaboração de políticas públicas é feita através de uma dinâmica, muitas vezes conflituosa, dos diferentes interesses das classes sociais.

O direito português e, mais especificamente, o direito constitucional português, estabelece, no seu artigo 1.º, Portugal como sendo uma república soberana, onde vigora o regime parlamentarista, estando grande parte do poder concentrado no Primeiro-ministro e ainda como “um Estado de direito democrático” (Canotilho, 2003).

Em Portugal há quatro órgãos de soberania: o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

Relativamente ao Direito ao Ambiente, este é um direito fundamental, consagrado, na Constituição da República Portuguesa, na parte relativa aos Deveres Económicos Sociais e Culturais, cujo regime é equiparado ao dos Direitos, Liberdades e Garantias. Tal implica que o Direito ao Ambiente goze de uma proteção especial semelhante à de outros direitos fundamentais, como sejam o direito à liberdade e à segurança ou à integridade pessoal.

A Constituição não consagra, expressamente, o direito à informação e à participação em matéria de ambiente. Contudo, esse direito resulta claramente da conjugação do artigo 66.º, com as normas constitucionais referentes ao acesso à informação, ao direito à informação, e ao direito de participação. À liberdade de expressão e informação, garantidas pela Constituição, corresponde o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. Isto é reforçado pela Convenção de Aahus, a qual Portugal aderiu e dessa forma se compromete, conforme o seu artigo 1.º, a assegurar o direito de acesso à informação, participação do público no processo de tomada de decisão e acesso à justiça em matéria de ambiente (DR, 2003)1.

A participação na vida pública, constitucionalmente consagrada, atribui a todos o direito de participar na vida política, na direção da vida política e na direção dos assuntos públicos do país, diretamente ou através de representantes eleitos. Para além disso, o cidadão tem o direito de ser esclarecido sobre atos do Estado e demais entidades públicas e de ser informado pelo Governo e outras autoridades públicas, sobre a gestão dos assuntos públicos.

A Constituição confere ainda ao cidadão o direito de ser informado pela administração, sempre que o requeira, sobre o andamento e a resolução definitiva dos processos em que seja diretamente interessado.

1 A Convenção de Aarhus foi assinada em 25 de junho de 1998 e Portugal aprovou, para ratificação,

através da resolução da Assembleia da República nº 11/2003. Os países que adotaram a Convenção de Aahus procuram sensibilizar e envolver os cidadãos nas questões ambientais, bem como melhorar a aplicação da legislação em matéria de ambiente.

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É também garantido o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos, sem prejuízo do disposto na lei, em matérias relativas à segurança interna e externa, à investigação criminal e à intimidade das pessoas.

A Lei de Bases do Ambiente (LBA) foi aprovada em 1987, (Lei N.º 11/ 87 de 7 de abril) com o objetivo de definir a política ambiental do país2.

A LBA estabelece as linhas gerais de orientação de uma política nacional de ambiente e congrega conceitos e princípios gerais, identificados como essenciais para a construção de uma política eficaz de defesa do ambiente, designadamente o direito ao ambiente, o desenvolvimento sustentável, a prevenção, responsabilização e reposição da situação anterior.

No seu capítulo IV são estabelecidos os vários instrumentos que podem ser utilizados na prossecução da política de ambiente, designadamente, normas de qualidade, avaliação de impacte ambiental, licenciamento prévio de atividades poluidoras e redução ou suspensão de atividades poluidoras, assim como os instrumentos de ordenamento do território, designadamente planos urbanísticos, reserva ecológica nacional e reserva agrícola nacional.

Os meios ao dispor do cidadão na defesa do seu direito ao ambiente encontram-se discriminados no capítulo VII, enquanto as penalizações pela violação do disposto na referida lei encontram-se previstas no capítulo VIII.

A LBA define ainda o princípio da participação (artigo 3º, c)) estabelecendo que os diferentes grupos sociais devem intervir na formulação e execução da política de ambiente e ordenamento do território, através dos órgãos competentes de administração central, regional e local e de outras pessoas coletivas de direito público ou de pessoas e entidades privadas.

Consequentemente, pressupõe a adoção de medidas que visem a promoção da participação das populações na formulação e execução da política de ambiente e qualidade de vida, bem como o estabelecimento de fluxos contínuos de informação entre os órgãos da Administração por ela responsáveis e os cidadãos a quem se dirige.

Resulta da Lei o dever dos cidadãos colaborarem na criação de um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado e na melhoria da qualidade de vida; bem como a obrigação para o Estado e demais pessoas coletivas de direito público, de fomentar essa participação.

Com a finalidade de assegurar a promoção de ações no domínio da qualidade do ambiente, em especial a formação e informação dos cidadãos e apoio às associações de defesa do ambiente, integrando a representação da opinião pública nos seus órgãos de decisão, foi criado, pela LBA o Instituto Nacional do Ambiente atual Agência Portuguesa do Ambiente - APA (artigo 39º).

Assim, pode-se afirmar que decisões quanto à formulação de políticas públicas em Portugal não se restringem somente às condicionantes do contexto nacional. Há, na verdade, um contexto constituído da esfera internacional, comunitária e também a local.

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É importante dar nota de que em junho de 2012 foi aprovada a nova Lei de Bases do Ambiente, contudo uma vez que a mesma ainda não foi publicada, não foi possível utilizá-la na tese.

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No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 40-42)