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78 3.10 O Diamante de Porter e Sua Importância na Elaboração de Políticas

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 108-111)

Públicas Participadas de ABS

A terceira fase do policy cycle consiste em transformar as soluções ao problema em uma política pública, isto é, instrumentalizar a alternativa escolhida de modo que esta possa resolver as dificuldades anteriormente identificadas (Frey, 2000) a partir de estudos comparados sobre a implementação de políticas públicas em outros países sobre a mesma matéria, neste caso ABS.

A partir da identificação do problema, da lacuna que existe, acontece o segundo momento do programa (construção da agenda), onde uma alternativa é acionada para solucionar o problema frente a várias possíveis soluções para aquele determinado problema (Capella, 2006). Entretanto, a escolha de qual estratégia será utilizada depende de uma série de fatores, merecendo destacar: i) a possibilidade de traduzir a alternativa ao problema na linguagem da ação pública; ii) o relacionamento de autoridades com alguma das soluções proposta e; iii) a mobilização de atores chaves em favor da atividade a ser utilizada para conter o problema (Flexor & Leite, 2007).

Esta etapa de identificação do problema constitui-se na primeira fase do policy cycle (Jones, 1970), sendo de fundamental importância para estimular um debate público e para chamar atenção das autoridades políticas legítimas para a necessidade de criar mecanismos de intervenção para colmatar tal dificuldade encontrada (Frey, 2000).

Neste sentido, com o intuito de sensibilizar as autoridades políticas e a sociedade civil para que o ABS entre na agenda nacional do país foi utilizado nesta tese a teoria de Porter (1989), para fundamentar a importância económica em se construir/implementar políticas

públicas de ABS nacionalmente49, pois Porter (1989) em sua teoria preconiza que o

desenvolvimento de processos e produtos tecnológicos mais avançados, eventualmente inovadores, é um dos principais pilares para uma empresa obter vantagens competitivas no atual cenário económico, respondendo às contínuas mudanças exigidas pelo mercado.

Ao fazer uma analogia entre o setor económico e a elaboração de políticas públicas de ABS, que tem a sua vertente económica, de conservação da diversidade biológica e sua utilização sustentável, pode-se aplicar a teoria sobre o Diamante de Porter, para fundamentar a importância e o potencial económico que um país pode ter ao optar por elaborar políticas públicas de ABS.

Neste sentido, deve-se considerar um país como uma empresa, e sendo assim deve primar pelo desenvolvimento de processos, ou seja, geração de políticas desburocratizadas e que atraia novos consumidores e ao mesmo tempo que garanta a fidelização destes com o mercado nacional através de contratualização de acordos como PIC e MAT, bem como a transferência de capacitação e de tecnologia mais avançados.

49 Ainda hoje é necessário demonstrar economicamente argumentos sobre a relevância que a

biodiversidade possui para a manutenção da vida e que fundamentalmente a sua conservação e utilização sustentável só vem a nos beneficiar, para que ela esteja na pauta política internacional e nacional.

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A teoria do “Diamante de Porter” foca essencialmente os clusters

(

aglomerados industrias altamente dinâmicos), suas estratégias e competitividade. O Diamante de Porter é formado por 4 lados, conforme se vê na Figura 3.1, que adaptados a realidade de elaboração de políticas públicas participadas de ABS são:

1 – Condições dos fatores – O potencial do país, mão de obra capacitada em procedimentos

ABS, infraestrutura de ABS, atrativos que o país possui para o investimento em biotecnologia ou para aceder aos RG do país;

2 – Condições de demanda por RG – A natureza da demanda no mercado interno ou externo,

neste caso, a necessidade de RG para os produtos ou serviços do setor de biotecnologia nacional e internacional;

3 – Recursos genéticos endémicos – A maior ou menor presença de RG ou TK associado aos

RG, que seja visado internacionalmente;

4 – Estratégia, estrutura e rivalidade dos países – As condições predominantes no país, que

determinam como será feito o acesso aos RG e aos TK associados aos RG, bem como a partilha de benefícios que advêm da sua utilização.

Figura 3.1 – Diamante de Porter (1989) adaptado para a elaboração de políticas públicas de ABS. Fonte: a partir de Porter (1989).

É necessário que o valor da biodiversidade entre como um item prioritário na agenda nacional e tal só irá decorrer quando os governos compreenderem a importância económica que a biodiversidade possui e o lucrativo mercado que existe agregado a este setor, como por exemplo o da biotecnologia e farmacêutica, e que poderá ter como retorno para o país aumento da promoção da conservação e utilização sustentável da biodiversidade devido ao retorno económico que está proporcionará ao ser bem utilizada.

Condições dos Fatores Estratégia, Estrutura e Rivalidade entre Países Condições da Demanda por RG Recursos Genéticos Endémicos Políticas Públicas de ABS

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Nos dias de hoje, há inúmeras correntes económicas que tentam dar resposta a uma série de questões relativas ao “valor da natureza”, elaborando metodologias para estimá-lo, entretanto vão de encontro com o facto de a grande maioria dos bens e serviços fornecidos pela natureza não ser transacionada pelo mercado.

É ainda de enfatizar que a diversidade biológica é o recurso mais valioso que a humanidade possui, contudo é notório que é um dos menos valorizados, mas esta realidade aos poucos vem se modificando e a biodiversidade vem efetivamente despertando o interesse da sociedade como um todo, especialmente dos governos, dos utilizadores e dos economistas, esses últimos interessados em definir o melhor método em lhe dar um valor (Wilson, 1994; Assad, 2000).

3.11 Fases da Pesquisa

O facto da presente investigação envolver países ricos em biodiversidade, mas com características distintas requereu uma compreensão da realidade de cada um deles, para poder perceber as experiências existentes nos países na área da investigação, bem como as principais lacunas que necessitam ser colmatadas para que se consiga elaborar políticas públicas efetivas na área de acesso e partilha de benefícios dos recursos genéticos, com uma participação real dos principais atores. Desta forma, foi necessário também à realização de outras tarefas essenciais ao enquadramento e a uma melhor compreensão do contexto territorial, metodológico e de investigação:

 Ao nível do contexto territorial foi necessário aprofundar os conhecimentos sobre a situação de referência e principais ameaças e desafios para o ABS no Brasil e Portugal e que são Estados Parte da Convenção sobre Diversidade Biológica, sendo onde se enquadra todo o trabalho, com a participação de peritos de todo o mundo, para a criação de um justo regime internacional de acesso e partilha de benefício;

 Ao nível metodológico foi feito uma exploração dos métodos de investigação em matéria de participação pública e políticas públicas, com o intuito de verificar qual melhor metodologia se enquadra nas próximas etapas da presente investigação. Para tal o doutorando realizou a revisão da literatura neste domínio, com o cruzamento do subtema conhecimentos tradicionais;

 Ao nível do contexto de investigação procedeu-se à análise documental de

estudos de caso e metodologias aplicadas a um acesso justo e uma partilha equitativa dos recursos genéticos, com especial atenção para os processos de participação pública na elaboração de políticas públicas e ainda à revisão da literatura no domínio das Políticas.

Assim, durante o período de janeiro de 2008 a julho de 2012, o autor procedeu com todo o trabalho de elaboração e finalização do estudo, conforme se pode verificar de forma resumida, os principais trabalhos desenvolvidos, na tabela 3.1. Tendo sido dedicado os meses de agosto e setembro de 2012 para correção e revisão dos dados.

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Tabela 3.1: Calendarização das atividades desenvolvidas durante os 4 anos de estudo (2008 – 2012). Atividade /Semestre SEM 08 SEM 08 1º SEM 09 2 SEM 09 1 SEM 10 2º SEM 10 1º SEM 11 2º SEM 11 1º SEM 12 Revisão bibliográfica: Participação pública; Políticas públicas; Acesso e Partilha de Benefícios (ABS); Áreas transversais X X X X X X X X X Levantamento e tratamento das informações sobre a estrutura política de ABS em Portugal X X X Tratamento de dados Portugal X X X X Levantamento e tratamento das informações sobre a estrutura política de ABS no Brasil

X X X

Tratamento de dados Brasil X X Pesquisa bibliográfica em metodologias aplicadas a participação pública e políticas públicas X X X X X Escolha da metodologia de participação pública e políticas públicas a adotar em Portugal

X X X X X

Elaboração de artigos X X X X Pesquisa sobre estudos de

casos X X X X Elaboração de entrevista semiestruturada X Elaboração de entrevista X X

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 108-111)