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Análise Política das Questões Ambientais

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 60-62)

12 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS

2.2.3 Análise Política das Questões Ambientais

As discussões sobre política em matéria de ambiente surgem no fim do século XIX, devido as preocupações crescentes com a qualidade do ambiente e a sua conservação, formada, ao longo dos anos, por um conjunto de metas e instrumentos, tanto estruturais como conjunturais, que atravessam transversalmente todas as matérias que fazem parte do sistema político e económico, considerados como problemas emergentes e portanto que requerem medidas inovadoras (Soromenho-Marques, 1993; Soromenho-Marques, 1998; Dias, 2002). O aumento da sensibilização e consciencialização ambiental da sociedade civil, ampliou rapidamente os conflitos entre os interesses económicos e ecológicos e portanto a política pública ambiental vem responder de forma positiva a questão de como ter um desenvolvimento económico sustentável sem deixar de conservar o ambiente (Frey, 2000; Dias, 2002).

As políticas ambientais estabelecem objetivos para redução dos impactes negativos da ação do Homem no ambiente, promove mecanismos de resolução dos problemas ambientais, prevendo sanções para quem não cumpre as normas pré-estabelecidas.

Os cientistas políticos dividem a política ambiental em três fases. A primeira fase teve início no fim do século XIX e termina com o início da segunda guerra mundial, a intervenção deste período é estatal, durante o qual as vítimas contrapõem-se em tribunal aos agentes poluidores.

A segunda fase tem início na década de 50 do século passado, sendo conhecida como política de comando e controlo, por funcionar por imposição, pela autoridade ambiental, de padrões de emissão incidentes sobre a produção final do agente poluidor; a escolha da melhor tecnologia disponível no mercado e o cumprimento do padrão de emissão.

A terceira fase é a que se vive atualmente, em que o ambiente está “na ordem do dia”, sendo um misto das duas fases anteriores, os padrões de emissão deixam de ser meio e o fim da intervenção estatal, como na etapa anterior, e passam a ser instrumentos, entre outros, de

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uma política que usa diversas alternativas e possibilidades para a prossecução de metas socialmente acordadas, muitas vezes através da participação pública.

Nas últimas décadas, com o aumento da preocupação com o ambiente global, os países, principalmente os desenvolvidos, começaram a questionar-se sobre qual deveria ser o papel do Estado e da sociedade na conservação e uso sustentável da biodiversidade, levando a conflitos socioeconómicos, em todos os níveis, local, nacional e global, fazendo com que o Estado tenha um papel fulcral como mediador e negociador das questões ambientais e passando o ambiente a ser um tema essencial nos discursos políticos e a deixando assim de ser um simples interesse social para se tornar um autêntico bem jurídico14 (Dias, 2000).

Baseando-se neste novo cenário, em que a sociedade civil tem a uma maior consciência global do efeito ação e reação no ambiente, Frey (2000), distinguiu mais três novas categorias de Policy analysis: 1) Policy networks (interação das redes de relações sociais regulares e informais)15; 2) Policy arena (espaço de negociação e configuração do conflito e consenso dentro das diversas áreas políticas); 3) Policy cycle (estuda o ciclo da política, as suas fases ao longo do processo, ou seja; as policy networks e policy arenas podem sofrer modificações ao longo do processo de elaboração e implementação, uma vez que possui um grande caráter dinâmico).

Neste novo cenário as instituições que eram altamente centralizadas, burocráticas e conservadoras no seu modo de trabalhar e elaborar as políticas públicas, passam a ter um modelo mais descentralizado, transparente e tendo uma maior participação pública.

A sociedade civil passa a ter direito à informação e participação na elaboração das políticas públicas, condicionante que vem trazer grandes alterações na tomada de decisão sobre qual a política pública a adotar (Frey, 2000).

Nas políticas públicas ambientais, mais especificamente, nos últimos 40 anos, averigua-se a ampliação e o fortalecimento dos regimes deliberativos de formulação de políticas públicas. Contudo, para que esta colaboração entre os tomadores de decisão e a sociedade civil seja o mais eficiente e eficaz é necessário a criação de mecanismos que

ajudem a preparar a sociedade para um modelo de governância16.

14

Dias (2000) define o bem jurídico como sendo os valores ou interesses que estão em estreita ligação com os interesses gerais da sociedade.

15

Windhoff-Héritier (1987 in Frey, 2000, p. 222) informa que quando os atores formam uma rede de atores para discutir uma questão estritamente específica e delimitada e não para discutir uma política sectorial, essas redes são chamadas de issues networks.

16 Aragão (2005) define governância como sendo uma nova forma de responder aos problemas de

sociedade deliberativa, utilizando uma didática mais participativa, colaborativa, informal e menos hierarquizada, esperando assim alcançar uma solução mais eficiente e eficaz e dando a todos um espírito de responsabilidade para implementar a solução encontrada por todos. Seguindo ainda nesta mesma linha, a abordagem aqui utilizada é a defendida por Healey (1998) como sendo uma abordagem de governância participativa, uma vez que visa a participação dos membros das comunidades políticas e demais stakeholders, completando assim todo o leque de conhecimento sobre um determinado assunto que se quer formular uma política pública. Conforme afirma Frey (2000), os pesquisadores de políticas públicas precisam estar atentos às novas redes de governância, pois por serem cada vez mais dinâmicas, verifica-se um papel cada vez mais decisivo, nas sociedades deliberativas, das comunidades, associações da sociedade e das empresas privadas, que tendo em mente os seus interesses e da equidade, desafiam não apenas os governos, mas também a maneira de governar.

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A participação da sociedade na gestão dos problemas ambientais é condição fulcral

para a elaboração de uma política pública funcional, pois os “ganhos e conquistas relativas no

domínio institucional da política de ambiente, ou por ele possibilitadas, podem ser postos profundamente em causa se as condições estruturais da economia e da sociedade civil forem adversas” (Soromenho-Marques, 1993, p.32).

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 60-62)