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ARTIGO OU SEÇÃO RELEVANTE Outros Decisão 391: Regime Comum de Acesso aos Recursos

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 145-150)

115 Tabela 5.1 – Contiunação

ARTIGO OU SEÇÃO RELEVANTE Outros Decisão 391: Regime Comum de Acesso aos Recursos

Genéticos

- Tratamento Nacional e Reciprocidade; - Cooperação sub-regional;

- Treinamento, investigação, desenvolvimento e transferência de tecnologia.

Artigo 11º e 12º Artigo 10º Artigo 8º e 9º

Fonte: Adaptado de “Database on ABS Measures” (CBD, 2011c).

ii) Costa Rica

a) Enquadramento

A Biodiversidade é uma peça fundamental no desenvolvimento económico da Costa Rica, principalmente a partir da última metade do século 20.

A Costa Rica possui uma grande diversidade de ecossistemas agrupados nas seguintes categorias: florestas, zonas húmidas, áreas marinhas e áreas agrícolas, em seus ecossistemas foram identificados mais de 87.000 espécies, que representam 6,2% das espécies conhecidas no mundo (CBD, 2010b).

Devido às suas características próprias e a um trabalho de valoração económica que vem desenvolvendo desde o início da década de 90 até aos dias de hoje, a Costa Rica já realizou dezenas de contratos de ABS, com diferentes empresas, sendo este país muitas vezes mencionado como pioneiro na elaboração deste tipo de contrato, e que tem conseguido como resultado a viabilização de fundos para a conservação da biodiversidade provenientes da investigação comercial (Tamayo et al., 2004; Dias & Costa, 2007; Bishop et al., 2008; Saccaro Jr, 2011).

No meio académico e científico a Costa Rica é conhecida como o país que possui o acordo de bioprospecção mais antigo, e talvez o mais controverso, entre o Instituto Nacional de

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Biodiversidade (INBio)65 e a multinacional norte-americana Merck Farmacêutica (Azevedo,

2003).

Este caso de bioprospecção teve início em 1991, ano em que ainda não havia decorrido a Cimeira da Terra, na qual foi adotada a CDB. O acordo estabelece que a Merck em troca de um pagamento de 1 milhão de dólares (e 180 mil dólares em equipamentos para os laboratórios químicos da Universidade da Costa Rica), bem como desenvolvimento de capacitação e transferência de tecnologia; poderia identificar, reunir e extrair um número limitado de plantas, insetos, e também coletar material biológico, utilizado pela Merck, para cultivar microrganismos, por dois anos, tendo sido renovado o seu contrato, em julho de 1994,

por mais dois anos (Azevedo, 2003)66. Neste período a Merck tinha que informar a INBio sobre

toda atividade que estava a executar, contudo as patentes das invenções oriundas de sua própria investigação seriam propriedade da Merck, em contrapartida, a INBio poderia obter direitos sobre qualquer produto farmacêutico ou sobre qualquer composto químico originado a partir de amostras provenientes da Costa Rica (Priestley & Pearson, 1993).

O caso acima descrito foi visto por muitos como uma excelente oportunidade de um país em desenvolvimento, megadiverso, pequeno em extensão, chamar a atenção mundial para a questão do acesso aos RG, aumentar o conhecimento sobre a sua biodiversidade, criar

know-how e capacidade técnica e tecnológica, entretanto os mais céticos acreditam que tal

atitude foi um claro caso de venda do seu património biológico (Azevedo, 2003). b) Regulamentação sobre ABS

Os principais regulamentos da Costa Rica sobre ABS são: • Estratégia nacional de biodiversidade;

• Lei de biodiversidade nº 7788, de 30 de abril de 1998;

• Regulamento nº 34958, relativo ao artigo 80 da Lei de Biodiversidade – consulta prévia obrigatória no registo de propriedade intelectual e de propriedade industrial;

• Regulamento para o acesso aos elementos e recursos genéticos e bioquímicos

da biodiversidade em condições ex situ, Decreto Executivo nº 33697 – MINAE

(Ministério do Ambiente e Energia), que complementa a lei de biodiversidade;

• Regulamento sobre normas gerais para o acesso aos elementos e recursos

genéticos e bioquímicos da biodiversidade, Decreto Executivo nº 31154 – MINAE67.

65 A INBio é uma organização para estatal (de interesse público, autônoma, privada, sem fins lucrativos)

criada, em 1989, com objetivo de inventariar, investigar e gerir a biodiversidade, bem como promover o seu uso sustentável. A sua premissa é de que a melhor forma de conservar a biodiversidade é estudá-la, valorá-la e aproveitar a oportunidades que esta oferece para melhorar a qualidade de vida do ser humano.

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Azevedo (2003) informa ainda que até janeiro de 1996 a Merck não havia elaborado nenhum novo medicamento a partir dos RG oriundos da Costa Rica.

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O Decreto Executivo 31.154 é que desenvolveu as disposições sobre o acesso aos recursos genéticos, distribuição de benefícios e proteção dos conhecimentos tradicionais associados ao RG da lei de biodiversidade n.º 7788.

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A lei de biodiversidade n.º 7788, de 30 de abril de 1998, foi elaborada de forma intensa e célere (Grades, 2007); trata-se de uma norma de carater nacional, tem como objetivo as premissas da CDB, ou seja, conservar a biodiversidade e utilizá-la de forma sustentável, bem como partilhar de forma justa os benefícios e custos que advêm desta utilização (artigo 1º da lei de Biodiversidade). Verifica-se assim que desde a década de 90, a Costa Rica tem se preocupado em regular e colmatar as lacunas existentes na sua política pública de ABS68.

A lei nº 7788, entre outras coisas, delimita o seu âmbito de aplicação no espaço, ao estabelecer que o Estado é soberano sobre os elementos da biodiversidade que se encontram em território nacional (artigo 3º); regula o acesso ao ABS69, servindo de base jurídica para a

interpretação de todas as outras normas que surgirem para regular o ABS. Delimita ainda que o regime de acesso ao RG na Costa Rica tem caráter nacional, não existindo assim regime de acesso de caráter sub-nacional, no qual é válido somente num determinado território do País, como é o caso do Brasil.

No que se refere à aplicação temporal a Costa Rica, na sua lei de biodiversidade, regulamenta que todas as permissões, contratos ou convénios de bioprospecção ou de acesso à biodiversidade anteriores à entrada em vigor desta Lei, devem ser homologados, tendo um prazo de seis meses após a sua entrada em vigor e tendo como prazo final 1 de janeiro de 2003, caso não sejam homologados será caducado todo o direito até ali permitido.

Cabe mencionar que a Costa Rica, na lei de biodiversidade, em seu artigo 4º, relativo às exclusões, comunica que a lei não será aplicada no acesso ao material bioquímico e genético humano; também não será aplicado no intercâmbio de recursos bioquímicos e recursos genéticos, nem mesmo associados a TK.

Em seu artigo 6º, relativo ao domínio público, a lei de biodiversidade define que as propriedades bioquímicas e os recursos genéticos dos componentes da biodiversidade silvestre ou doméstica são domínio público, portanto é o Estado que autoriza a exploração, investigação, bioprospecção e o uso dos componentes da biodiversidade, que constituem parte do domínio público, através de normas previstas no capítulo V da lei de biodiversidade (Garforth et al., 2005).

Um aspeto importante que a lei de biodiversidade costarriquenha possui é a preocupação que tem em promover a participação ativa de todos os setores sociais na conservação e uso sustentável da biodiversidade, tendo como meta alcançar uma sustentabilidade social, económica e cultural (n.º2, artigo 10º); assim como regular o ABS, consciente da necessidade de uma partilha justa e equitativa dos benefícios sociais, ambientais e económico para todos os setores da sociedade, com atenção especial para as comunidades locais e indígenas (n.º4, artigo 10º).

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O capítulo V da lei de biodiversidade é sobre “acesso aos elementos genéticos e bioquímicos e proteção do conhecimento associado aos RG. Este capítulo está dividido em três seções (i. Normas gerais de ABS; ii. Permissão de acesso aos elementos da biodiversidade; iii. Proteção dos direitos de propriedade intelectual e industrial).

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A lei de biodiversidade da Costa Rica se aplica não somente aos RG, mas também aos seus derivados, enquanto a própria CDB só se refere aos RG.

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Face ao expresso no parágrafo anterior, fica clara a preocupação do Governo da Costa Rica em ter em conta a posição da sociedade civil na elaboração de suas política pública de ambiente, fator muito importante para uma eficiente e eficaz implementação nacional de medidas que afetam a todos os cidadãos. Para além disso possui uma preocupação com a sua sociedade e cultura, ao reconhecer e compensar pela utilização dos conhecimentos, práticas e inovações das comunidades locais e indígenas tendo como objetivo final a conservação e uso sustentável da biodiversidade (n.º 6, artigo 10º).

Outro fator preponderante para a regulação do ABS de forma célere, foi o facto da Costa Rica ser um país com um alto índice de atividades relacionadas com bioprospecção, tanto quantitativas quanto qualitativas (Díaz & Gari, 2004).

Conforme pode ser visto nos artigos 62º a 69º, todos os programas de investigação ou de bioprospecção de material genético ou bioquímico da biodiversidade que estão a ser realizadas em território costarriquenho requerem uma autorização de acesso, a menos que se enquadrem numa das exceções previstas no artigo 4º da lei de biodiversidade, as exceções são relativas ao acesso aos recursos genéticos humanos, à troca sem fins lucrativos de RG e bioquímicos e ao conhecimento tradicional associado resultante da prática tradicional das comunidades locais e indígenas; e investigação de universidades que tiveram um ano para estabelecer o seu próprio controlo de regulamento para a investigação, o que implica ser sem fins lucrativos (Garforth et al., 2005).

Na Costa Rica a tutela da biodiversidade é da responsabilidade do Ministério do Ambiente e Energia, tendo como missão coordenar a organização administrativa encarregada da gestão e conservação da Biodiversidade. Esta organização administrativa é formada pela Comissão Nacional para a Gestão da Biodiversidade (CONAGEBIO) e pelo Sistema Nacional de Áreas de Conservação.

A CONAGEBIO, foi criada pela lei nº 7788, é um órgão descentralizado do Ministério e tem personalidade jurídica, tendo entre as suas atribuições, elaborar e coordenar as políticas de acesso aos elementos da biodiversidade e TK associado ao RG; assegurar a adequada transferência técnico-científico e a distribuição justa dos benefícios decorrentes da utilização desses elementos. Esta Comissão Nacional atua como órgão de consulta obrigatória nos procedimentos de pedido de proteção dos direitos intelectuais sobre a biodiversidade (artigo 62º da lei de biodiversidade)

A CONAGEBIO é formada por:

a) “Ministério do Ambiente e Energia – Presidente da Comissão e

responsável pelo seu bom funcionamento;

b) Ministério da Agricultura;

c) Ministério da Saúde;

d) Diretor Executivo do Sistema Nacional de Áreas de Conservação;

e) Instituto da Pesca e Aquacultura;

f) Ministério do Comércio Exterior;

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h) Associação Nacional Indígena;

i) Conselho Nacional de Reitores;

j) Federação Costarriquenha para a Conservação do Ambiente;

k) União Costarriquenha de Câmaras da Empresa Privada” (Artigo 15º da

lei de biodiversidade).

A CONAGEBIO conta ainda com o apoio de um Escritório Técnico que tem a função de:

a) “Tramitar, aprovar, recusar e fiscalizar os pedidos de acesso aos

recursos da biodiversidade;

b) Coordenar, com as áreas de conservação, o setor privado, os povos

indígenas e as comunidades campesinas, o acesso;

c) Organizar e manter atualizada uma plataforma de pedidos de acesso

aos elementos da biodiversidade, coleções ex situ e das pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a manipulação genética;

d) Compilação e atualização da normativa referente ao cumprimento dos

acordos e as diretrizes em matéria de biodiversidade” (artigo 17º da lei de biodiversidade).

Na elaboração da política pública de biodiversidade, nomeadamente de ABS, a CONAGEBIO realizou em diversos momentos consultas e workshops para obter recomendações dos diversos stakeholders, especialistas, setores e instituições nacionais, procurando assim cumprir o dever de ter um processo transparente, eficaz e participativo.

Para realizar uma bioprospecção, conforme Figura 5.3, em terras públicas ou privadas, na Costa Rica, o seu procedimento está dividido em quatro etapas [a) registo dos candidatos; b) processo de candidatura; c) processo de aprovação d) monitorização] sendo necessário: i)

requerer PIC70, ii) uma licença de acesso aprovada pelo Escritório Técnico da CONAGEBIO, iii)

MAT; iv) definição de como tal atividade contribuirá para a conservação das espécies e ecossistemas e; v) designação de um representante legal residente no país, quando se trata de pessoa física ou jurídica residente no estrangeiro (artigo 63º da lei de biodiversidade) (Medaglia, 2004; Grades, 2007; O’neill & Wandel, 2010).

70 O PIC deve ser outorgado pelo proprietário da área onde será desenvolvida a atividade de

bioprospecção, tem um prazo máximo de três anos, podendo ser prorrogado se tiver o aval do Escritório Técnico da Comissão e o recurso genético só poderá ser utilizado na área ou território expresso no pedido de acesso.

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Figura 5.3 – Procedimento ABS na Costa Rica. Fonte: Adaptado de Medaglia (2004).

Portanto, antes mesmo de se solicitar uma permissão de acesso ao RG, os interessados, sejam pessoas físicas ou jurídicas, ou ainda seus representantes legais, deverão registar-se na Oficina Técnica, através de um formulário, e identificar o tipo de permissão que preveem solicitar, num primeiro momento. Após o registo os interessados deverão obter um PIC dos representantes do lugar em que se pretende ter acesso aos RG e bioquímicos da biodiversidade, que poderá ser solicitado utilizando o modelo de contrato elaborado pela oficina técnica, com cerca de 20 questões, também utilizado para MAT (artigo 9º), dentre as informações que deverão ser fornecidas, será necessário informar: a) os fins da investigação; b) o lugar onde será realizada a exploração; c) o número de investigadores; d) o tipo de material que se está interessado e a quantidade de material que se quer; e) possíveis riscos de impacte ambiental; f) cronograma de trabalho; e g) os aspetos económicos e logísticos de acesso71.

Tendo já se registado na oficina técnica e obtido o PIC, de acordo com o artigo 72º da lei de biodiversidade, deverá ser solicitado um pedido de acesso, a ser feito ao escritório técnico, que precisará ter como anexo o PIC, que deverá conter as seguintes informações72:

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Para obter informações mais pormenorizada, analisar os artigos 63º e 65º da lei de biodiversidade e artigo 9.3 do Decreto nº 31514.

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O Decreto nº 31514 – MINAE, que complementa a lei de biodiversidade da Costa Rica, estabelece três tipos de permissão: i) Investigação básica (pesquisa inicialmente sem interesse comercial, tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre um determinado RG); ii) bioprospecção (investigação com fim comercial sobre RG com potencial valor económico); e iii) Aproveitamento económico e comercial (autorização pessoal e intransferível, não exclusiva nem excludente para que uma parte interessada faça

1.Permissão de Acesso (Arts. 6,7.1,7.27 e 62)

-Investigação Básica (Art. 69) -Bioprospecção (Art. 69)

2. Estrutura dos Acordos

(Art.74) 3.Contratos com partes terceiras -Autorização Prévia requerida para o Escritório Técnico (Arts. 69,70,71,72 e 74) Requerente -Individual/Entidade Legal (Art. 7.27) -Centros de Investigação (Art. 70) Estado CONAGEBIO (Arts. 14.1 e 14.6) Escritório Técnico (Art, 17.1 e 17.3) (Art. 63.2) Consentimento PRIMEIRA ETAPA Registo do Requerente SEGUNDA ETAPA

Requerimento (Art. 64) e Guia Técnico:

PIC (Art. 7 e 9) E MAT (Arts. 63 e 65)

Conselho Regional de Áreas de Conservação

Autoridades

Indígenas Comunitária Autoridade Local

Proprietário

da Terra Coleções Ex Situ (Arts. 69 e 74)

QUARTA ETAPA: MONITORIZAÇÃO

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 145-150)