• Nenhum resultado encontrado

69 3 METODOLOGIA DE PESQUISA

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 99-102)

Com o objetivo de avançar no conhecimento sobre acesso aos recursos genéticos e partilha dos benefícios que advêm de sua utilização para elaborar uma proposta de política pública participada sobre ABS para Portugal, foram avaliados o quadro ABS existente em alguns países e blocos regionais e económicos.

Portanto, no início da pesquisa foram levantadas as seguintes questões:

 Quais os contextos sociais, institucionais e políticos que viabilizarão o processo de formulação da política nacional de implementação de um regime de ABS?  Como a política nacional de implementação de um regime de ABS entrou na

agenda pública? A partir de que interesses?

 Quais as alternativas de solução propostas pelos diversos atores governamentais e não-governamentais para enfrentar o problema?

Para isto, foi necessário fazer um levantamento teórico-concetual das principais questões que fazem parte de uma política pública em ambiente com foco na biodiversidade, são elas: i) Política; ii) Participação Pública e Democracia Deliberativa; iii) Convenção sobre Diversidade Biológica; iv) Linhas Orientadoras de Bona; v) Protocolo de Nagoia sobre ABS.

Os teóricos de políticas públicas defendem que a elaboração de políticas públicas seja realizada em cinco etapas, que ao ser adaptada para o contexto de ABS, pode-se dizer que são: i) levantamento e divulgação de informações básicas relacionadas com ABS; ii) consolidação de informação, e identificação de ações prioritárias que devem ser tomadas para conservar a diversidade biológica do país; iii) realização de uma consulta nacional sobre as preferências e prioridades para o ABS, expressos sob a forma de diretrizes, objetivos e metas, a serem aplicadas nacionalmente; iv) elaboração da proposta de política pública sobre ABS; e v) encaminhamento da proposta para apreciação e endosso político (Frey, 2000; Le Prestre, 2000; Gelinski & Seibel, 2008; Heidemman, 2009; Dagnino & Gomes, s.d.).

A pesquisa empírica47 foi desenvolvida com base nesses elementos de análise a partir

do referencial conceitual de autores sobre políticas públicas e participação pública, tendo

47

Pesquisa empírica é a busca de dados relevantes e convenientes obtidos por intermédio da experiência, da vivência do pesquisador com o intuito de chegar a novas conclusões a partir da maturidade experimental dos outros.

70

sempre como preocupação as necessidades para se implementar um quadro de procedimentos em ABS. Esses elementos de análise foram utilizados para fundamentar as entrevistas e questionários estruturados.

Com este referencial metodológico, procurou-se compreender melhor as condições necessárias para que seja tomada a decisão de se optar pela elaboração de políticas públicas em ABS.

Para responder às questões de fundo e aos objetivos da pesquisa foi utilizado fontes de dados secundários e primários. Foram levantados dados secundários sobre os problemas relacionados aos “três” eixos e unidades de análise, tais como: Leis que criaram e regulamentaram as ações e programas que são objeto de análise; Decretos presidenciais; portarias; planos, boletins, relatórios expedidos pelos órgãos governamentais competentes; Publicações de organismos internacionais; Artigos de jornais de circulação nacional e internacional; Discursos, relatórios, pareceres; Atas de reuniões interministeriais e intraministeriais, grupos de trabalho; Memórias de eventos realizados. No que tange aos dados primários, foram realizadas 8 entrevistas semiestruturadas com os atores-chave, a partir de guia de entrevista, utilizando-se os seguintes critérios de seleção: participantes do Grupo de Trabalho Aberto Ad Hoc sobre Acesso aos Recursos Genéticos e Partilha dos benefícios que advém da sua utilização (WGABS), no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica; gestores públicos que participaram do processo de formulação da política nacional de implementação do Protocolo de Nagoia sobre ABS, especialistas em ABS; Ponto Focal Nacional ABS dos países que são Parte da CDB; Representantes das comunidades indígenas e locais, organizações não-governamentais, organizações governamentais.

3.1 Paradigma Metodológico

Os métodos e materiais foram definidos em função dos objetivos deste estudo, que visa apresentar uma proposta de modelo de elaboração de políticas públicas em ABS para Portugal. Para tal, optou-se por aplicar uma metodologia qualitativa, processo que melhor se enquadra para análise do processo de elaboração de políticas públicas, focando-se, desta maneira, no procedimento histórico, procedimento comparativo, no método do tipo “estudo de caso” e aplicação de entrevistas, permitindo assim uma abordagem mais aprofundada.

A metodologia do tipo “estudo de caso” foi utilizada para assegurar um breve olhar sobre o quadro ABS da Austrália, Brasil, Comunidade Andina, Costa Rica, Portugal, Uganda e União Europeia48, recorrendo a entrevistas pessoais, análise de documentos e observações para elaborar uma proposta de modelo de políticas pública em ABS para Portugal. Assim, neste contexto, optou-se por utilizar o método de Sondagem Mista, desenvolvida por Etizioni (2009), na qual o decisor avalia qual o método que será mais eficaz a implementar em Portugal através da comparação dos métodos utilizados noutros países, em especial Brasil e Costa Rica.

48

71

Neste método, as ações governamentais são entendidas como um processo (policy

process) composto por diferentes fases (policy cycle). Essa ferramenta permitirá compreender

as relações de complementaridade e interferência entre essas distintas etapas de implementação da política pública de ABS, demonstrando a importância de entender a sequência de acontecimentos e os seus potenciais resultados socioeconómicos.

O método comparativo consiste em enfatizar as diferenças e similaridades, tendo sido utilizado para comparar a Convenção sobre Diversidade Biológico, as Linhas orientadoras de Bona, o Protocolo de Nagoia. Usou-se ainda este método para comparar o trabalho já efetuado pelos países suprarreferidos, que foram utilizados como estudo de caso, para elaborarem o seu quadro de ABS nacional.

O método histórico procura verificar e provar a influência de acontecimentos, processos e atuações de Governos e privados na sociedade de hoje (Lakatos & Marconi, 1991). Este método foi utilizado com o intuito de verificar toda a evolução do conceito ABS, desde 1992, com a adoção da Convenção sobre Diversidade Biológica até 2010 com a adoção do Protocolo de Nagoia sobre ABS.

A recolha de dados para a consecução da dissertação foi realizada principalmente no Brasil e em Portugal, tendo-se apoiado nas bibliotecas da Universidade de Brasília, da Universidade Católica de Brasília, Universidade de Campinas, Universidade Federal do Rio de janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina e do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Em Portugal, nas bibliotecas da Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Aveiro, Universidade de Évora, o então Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território e o então Instituto da Conservação da Natureza. Bem como, recolha de bibliografia e artigos académicos nas principais reuniões internacionais sobre Acesso aos Recursos Genéticos e Partilha de Benefícios, como por exemplo pode-se citar: o Grupo de Trabalho Aberto Ad Hoc sobre Acesso e Partilha de Benefícios, no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica, e a 10ª Reunião da Conferência da Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica.

O estudo iniciou com o levantamento e análise dos documentos oficiais disponibilizados pelos Governos dos países estudados, além de outras fontes secundárias que retratam e discutem a elaboração de política pública de ABS. Posteriormente, em formato complementar, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os gestores/técnicos (policy-

makers) envolvidos no desenvolvimento de tais políticas nos seus respetivos países, bem

como a representantes das Organizações Não-Governamentais (ONG), Comunidades indígenas e locais (CIL) e a representantes do setor privado.

Portanto, foram examinadas as fontes primárias, sendo aquelas produzidas por contemporâneos de um acontecimento, jornais como o Correio Braziliense, Gazeta Mercantil, Público, Valor Económico, Folha de São Paulo, The New York Times, El Clarin, entre outros e as principais revistas de circulação do Brasil, de Portugal e internacionais como Associação Brasileira de Propriedade Intelectual, Revista Brasileira de Política Internacional, Veja, Visão, Globo Rural, Época, Exame, ComCiência, revistas científicas de renome, tais como:

72

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 99-102)