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As Dimensões do Processo de Participação

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 79-81)

12 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS

2.3 Participação Pública e Democracia Deliberativa

2.3.1 As Dimensões do Processo de Participação

Embora a democracia vise a participação e, nomeadamente a democracia deliberativa, tenha na participação ativa dos cidadãos um dos seus principais fundamentos para a tomada de decisão política, muito ainda se discute sobre a metodologia adequada para o envolvimento ativo dos cidadãos, principalmente dos excluídos, nos processos decisórios.

É perante uma crise do Estado, com recursos cada vez mais escassos para atender as demandas, é que se aumenta a cobrança por eficiência e eficácia das ações governamentais (FKA, 2004).

Uma questão essencial que se coloca é quem e como tomar decisões no Estado, portanto quem será o sujeito e qual é o modelo decisório?

O sujeito será definido ao decidir quem são os stakeholders34 (técnicos preparados,

cidadãos, de forma direta, ou através de mecanismos que permitam sua expressão e deliberação). O stakeholder é um valioso recurso que com suas preocupações provocará e desenvolverá critérios/modelos de avaliação, basta que os seus interesses estejam em jogo; já os especialistas serão necessários para fornecer a base de dados e as relações funcionais entre as opções e seus impactos; os cidadãos são os melhores juízes para avaliar as diferentes opções disponíveis e os seus impactes (Renn et al., 1993; Teixeira, 1997).

Todos os atores mencionados no parágrafo anterior precisam estar informados, ter informação sobre os seus direitos e deveres em cada um dos processos de decisão que os envolvem; portanto a informação é um elemento fulcral para o conhecimento, uma vez que ela não se reduz ao volume, mas exige compreensão dos problemas, reflexão, inter-relações com outros problemas (Sartori, 1994, p. 5 in Teixeira, 1997). Todavia, não há, em Portugal, um grande número de reuniões públicas para tirar dúvidas e auxiliar na reflexão de todos os benefícios e malefícios que poderá ter ao se tomar uma decisão, o que ainda se verifica são

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Coenen et al (1998 in Vasconcelos, 2001, p. 2) defende que um envolvimento mais alargado de

stakeholders é uma parte essencial para assegurar a implementação porque: (1) favorece o articular os

interesses dos diversos stakeholders; (2) dá ao governo a informação necessária para o processo de decisão; (3) tem um valor intrínseco em si mesma porque contribuirá para a emancipação social de certos grupos.

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formatos passivos de participação como a consulta e audiência pública, que apesar de terem o seu valor, não dão a oportunidade dos atores exporem e desenvolverem as suas dúvidas.

Quanto ao modelo, não há uma solução ideal para a resolução de conflitos, este deverá combinar conhecimento técnico e racional na tomada de decisão, incluindo valores públicos e preferenciais; a seleção do modelo implicará na escolha dos decisores, delegando a estes total liberdade de agir, envolvendo a integração de diversos critérios, técnicas e elementos de decisão, muitos já testados, com os respetivo controlo e possibilidade de revisão, por parte dos cidadãos (Stern, 1991; Renn et al., 1993; Teixeira, 1997).

Face ao exposto no parágrafo anterior, e uma vez que esta tese não tem como objetivo analisar de forma aprofundada todos os modelos/ processos participados para a tomada de decisão, será apresentado aqui somente aqueles que reforçarão a hipótese aqui apresentada.

Um dos modelos escolhidos foi o construído por Peter Dienel, Planungszelle (Células de Planeamento), que é utilizado desde o planeamento urbano até a elaboração de regulamentos para as tecnologias de informação e que possui como principal preocupação integrar os conhecimentos, valores e preocupações de grupos de stakeholders, e as preferências dos cidadãos num quadro processual que permite a geração de sugestões de políticas consensuais (Dienel, 1978; Renn et al., 1985 in Renn et al., 1993).

O modelo de Dienel escolhe cidadãos aleatoriamente e os reúne durante 4 dias consecutivos para tentarem encontrar soluções para determinados problemas de planeamento, sendo acompanhados por orientadores. A limitação do tempo, em quatro dias, servirá para evitar possíveis conflitos e o desenvolvimento de processos com vista à satisfação de interesses pessoais. Os resultados oriundos da discussão, reflexão e ponderação são agrupados e escritos na forma de um parecer civil (Riessen, 1999).

Um outro método de participação pública muito eficaz e que ajuda a obter uma perceção qualitativa da posição da sociedade civil é o “Focus Group” (FG). Está técnica que foi

inicialmente delineada na década de 1920 para obter opinião pública sobre diversos temas do quotidiano social (psicologia e serviço social), foi incrementado no pós-guerra (II Guerra Mundial), na década de 1970, pela área de publicidade (tecnologias e paradigmas de business,

marketing e comunicação social) para a criação e lançamento de novos produtos a partir dos

desejos dos consumidores; uma década depois, 1980, o FG começou a ser amplamente utilizados por investigadores de diversas áreas para a elaboração de investigação e avaliação de decisões tomadas pelos decisores do Estado (Morgan, 1998; Neto et al,. 2002; Borges & Santos, 2005).

O FG tem como objetivo conhecer a posição dos principais stakeholders envolvidos numa matéria com o intuito de conhecer os pontos convergentes e divergentes e conhecer a posição de cada um dos envolvidos, a sua perceção quanto aos aspetos do programa/política pública a ser criado e que precisam ou podem ser alterados, permitindo ao investigador observar o processo de interação entre os participantes. A técnica também pode ser aplicada ao final para avaliar se os resultados obtidos contemplam ou não as posições apresentadas pelos stakeholders.

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Outra aplicação muito utilizada pela comunidade científica ao FG é para a criação de mapas cognitivos acerca de um assunto em específico.

O FG deve ser evitado nos casos em que algum participante se sinta menos a vontade em relação a presença de outros integrantes no grupo, ou quando há discordâncias extremadas de opinião (Madriz, 2000). Com a técnica do FG o investigador conseguirá coletar informações qualitativas, sendo que poderá ser realizado vários FG até que se esgote por completo todos os temas ligados ao assunto em estudo e portanto o resultado desta técnica não dará uma relação de amostragem, mas sim de perceção sobre o pensamento acerca do tema de cada um dos envolvidos no processo, portanto não se poderá dizer que as informações obtidas com esta técnica sejam válidas para todo o universo da investigação (Neto

et al., 2002). Uma sessão de FG deve ser composta de no mínimo quatro stakeholders e no

máximo doze (Krueger, 1996).

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 79-81)