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74 3.3 Seleção dos Entrevistados e Condução das Entrevistas

No documento Mestre em Gestão e Políticas Ambientais (páginas 104-108)

A realização de entrevistas com atores governamentais e não-governamentais, envolvidos nas etapas de formação da agenda pública e formulação das ações/programas, permitiu a reconstituição do processo e a movimentação dos atores, bem como suas motivações e interesses nesta área.

Patton (1990) aborda que existem três tipos de entrevistas que podem ser realizadas: i) de forma informal, ii) de conversação (semiestruturada); e ii) as estruturadas (fechadas). É de referir que as semiestruturadas, em geral, são as mais utilizadas por dar a oportunidade ao entrevistador de conseguir dados comparados entre os vários entrevistados.

Desta forma foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com o objetivo de encontrar a agenda submersa existente nesse complexo tema, que é o ABS, com membros e técnicos do Governo de Portugal e Brasil e com representantes das CIL do Brasil. As Entrevistas decorreram durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que realizou-se em outubro de 2010, e as demais junho e julho de 2012, tendo sido realizada no próprio local de trabalho dos entrevistados.

Durante as entrevistas, o registo foi feito de forma manual, uma vez que estas foram feitas via telefone, e algumas com apoio de um gravador por terem sido entrevistas presenciais.

Foram entrevistados os representantes das seguintes instituições: Ministério do Meio Ambiente do Brasil; Instituto Nacional de Propriedade Industrial do Brasil, Instituto Nacional da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) de Portugal, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) de Portugal, Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) de Portugal, Ministério da Saúde do Brasil, Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI) e Cooperativa de Mulheres Extrativistas da Ilha do Marajó.

De forma informal, durante as reuniões do WGABS foi também realizado trocas de impressões com técnicos da Espanha, México, Holanda, França, Finlândia, Alemanha, Áustria, Canadá, Austrália, Brasil e Portugal, entre outros, sobre as principais questões que estavam em discussão para a elaboração e adoção do texto do Protocolo de Nagoia.

3.4 Inquéritos

Inicialmente foi elaborado um inquérito para se aplicado aos Pontos Focais Nacionais de ABS de todos os países que são Parte da Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica. Este tinha como objetivo verificar a forma: i) como o país preparava nacionalmente a sua posição a ser defendida no seio das reuniões do WGABS e das COP da CDB; ii) como os seus interesses transpareciam no texto do Protocolo de Nagoia adotado durante a 10ª COP da CDB; iii) que procedimentos de ABS já eram utilizados a nível nacional; iv) se pretendiam adotar políticas públicas em ABS. Foi estabelecido um prazo de 3 meses para responderem, tendo sido feito no meio do processo uma recordatória, contudo, somente três países responderam: Jamaica, Guiné-Bissau e Portugal.

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Optou-se então mudar o foco do inquérito para o setor privado português. Assim foi elaborado um novo inquérito com o objetivo de: i) fazer um levantamento das empresas que utilizam RG; ii) se tinham conhecimento da CDB, Linhas Orientadoras de Bona e do Protocolo de Nagoia; iii) se a empresa realizava algum tipo de partilha de benefícios ao utilizar RG de outro país; iv) quais os constrangimentos e vantagens que teriam com a implementação nacional do Protocolo de Nagoia. Novamente não se obteve sucesso, nenhuma empresa do setor privado respondeu.

Uma vez que os dois inquéritos elaborados pelo doutorando não obteve uma margem segura de resposta, foi decidido então utilizar o inquérito e as respostas da consulta Pública aplicado pela Comissão Europeia sobre o Protocolo de Nagoia sobre ABS, anexo II, com o intuito de avaliar quais são as expectativas e constrangimentos que os stakeholders veem ao ser implementado na União Europeia o Protocolo de Nagoia. A Comissão Europeia recebeu 43 inquéritos respondidos de representantes da Alemanha, França, Suíça, Holanda, Bulgária, Croácia, Estados Unidos da América, Itália, Áustria, Bélgica Espanha, Hungria, Noruega Portugal e União Europeia.

A consulta pública aos stakeholders (Indústria, Investigadores Académicos; Organizações, Comunidades Indígenas e Locais, Organizações Não-Governamentais e outros com interesse no campo dos recursos genéticos e associados com os conhecimentos tradicionais) teve como objetivo averiguar a relevância e possíveis efeitos (positivos e negativos) que a UE enfrentará com a implementação e ratificação do Protocolo pela UE e reunir propostas concretas sobre os desafios práticos que enfrentará ao implementá-la. Tal consulta esteve aberta no período de 24 de outubro de 2011 a 30 de dezembro de 2011.

O inquérito era composto de 24 perguntas qualitativas e quantitativas divididas em quatro grupos: i) Ordem geral; ii) Acordos atuais entre fornecedores e utilizadores de RG no âmbito dos recursos genéticos; iii) Implementação do Protocolo de Nagoia; iv) Monitorização e cumprimento do Protocolo de Nagoia.

3.5 Análise de Conteúdo

A análise de conteúdo das entrevistas e dos inquéritos foram realizados tendo por base o modelo de Wolcott (2001) em que distingue três momentos essenciais durante a análise de conteúdo: i) descrição – escrita de textos resultantes dos dados originais registados pelo

investigador; ii) análise – processo de organização de dados, no qual de se deve salientar os

aspetos essenciais e identificar fatores chave; e iii) interpretação – processo de obtenção dos resultados a partir dos dados obtidos.

Neste sentido, a partir do pensamento de Wolcott (2001), as respostas ao inquérito foram agrupados por temas, tendo sido também isolados os textos que não se mostravam utilizáveis para os objetivos do presente estudo.

As respostas do inquérito foram agrupadas em uma tabela Excel tendo sido separadas as respostas segundo os temas abordados. O Tratamento foi rigoroso ao utilizar somente os

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elementos diretos a cada tema correspondente e a frequência com que eram repetidas as principais ideias.

3.6 Validação das Hipóteses

Após a validação com base nas respostas dadas nas entrevistas, inquérito e levantamento teórico, procedeu-se a validação das hipóteses que norteiam a elaboração do presente estudo. As hipóteses foram confrontadas com os resultados obtidos da análise das respostas dadas nas entrevistas, inquérito e levantamento teórico para responderem à pergunta de partida da tese.

3.7 Limitações da Aplicação dos Inquéritos

Salientam-se como limitação a reduzida taxa de resposta inicial aos dois inquéritos aplicados, uma vez que foi difícil obter a colaboração dos Pontos Focais nacionais de ABS dos países que fazem parte da Convenção sobre Diversidade Biológica. É de referir que os Pontos Focais possuem como principal objetivo informar sobre os principais procedimentos ABS existente a nível nacional.

A segunda limitação foi a tentativa de se aplicar um inquérito voltado para a participação, vantagens e constrangimentos do setor privado com a implementação do Protocolo de Nagoia. Ao ser contatadas algumas empresas, estas concordaram em responder ao inquérito, contudo nenhuma empresa das que receberam o inquérito responderam nem deram uma justificação por não ter enviado uma resposta.

Ao utilizar o inquérito e as respostas da consulta Pública aplicado pela Comissão Europeia sobre o Protocolo de Nagoia sobre ABS com o intuito de avaliar quais são as expectativas e constrangimentos que os stakeholders vêm ao ser implementado na União Europeia o Protocolo de Nagoia sobre ABS, esta decisão terminou por limitar as respostas, pois nem sempre foi de encontro com as questões pré-estabelecidas que se queria aplicar, no âmbito desta tese.

3.8 Ideias e Valores Presentes no Processo de Elaboração da Política Nacional

de Implementação do Protocolo de Nagoia Sobre ABS

Ideias representam informações que os formuladores de políticas utilizam para reconhecer um problema, como por exemplo o acesso aos recursos genéticos e partilha dos benefícios que advêm da sua utilização, e decidir a melhor maneira de agir. Os valores pessoais constituem-se em uma importante fonte de informação para os políticos na formulação de políticas públicas.

As ideias e valores perpassam a elaboração de políticas públicas. Isso porque as políticas públicas definem não só o discurso governamental, mas, principalmente, a sua própria ação. Uma política pública pode ser definida pelo conjunto de decisões tomadas para responder a um determinado problema da sociedade. Afinal, como seres políticos, as pessoas estão sempre a tomar decisões no seu cotidiano sobre a melhor forma de solucionar os seus

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problemas, e portanto as decisões são elaboradas pelo público para lidar com as questões que afetam a vida em comunidade (Dye, 1992).

Aqui, interessa analisar os processos cognitivos de formulação de políticas públicas, segundo a conceção de Etizioni (2009), tendo a possibilidade de poder combinar vários níveis de rastreio e ao mesmo tempo ter disponível um conjunto de critérios para situações em que se deve chamar atenção de um outro nível, neste caso o do “Governo” sobre a necessidade de se amadurecer a ideia de elaborar políticas públicas participadas em ABS. Trata-se, portanto, de uma abordagem que estabelece a interligação entre o que os outros países, e organizações multilaterais estão a fazer em matéria de ABS e adapta-la a realidade portuguesa, caso seja visto ser necessário a criação de políticas públicas em ABS para o país.

Assim, como as ideias e valores de diversos atores do Estado, da sociedade e do mercado poderão ser incorporados no texto da política nacional de ABS? Como se deu o processo nos demais países? Como os atores negociaram, concertaram, persuadiram, argumentaram no campo das ideias e valores?

A construção da política baseou-se em evidências científicas, no que havia de indicativo de questões importantes sobre o perfil da diversidade biológica, político na Costa Rica, no Brasil e em Portugal.

3.9 Interesses e Conflitos Presentes no Processo de Formulação da Política

Nacional de ABS

Os formuladores de políticas recebem informações de diversas fontes, apesar de algumas dessas fontes serem indivíduos que expressam suas opiniões pessoais, conhecidos como ativistas, outras representam a opinião coletiva comum de grupos de indivíduos. Por exemplo, grupos de interesse representam associações profissionais (advogados, biólogos, professores), cidadãos ou setores industriais. Junto com agências governamentais, essas várias partes interessadas formam comunidades de interesse próximas a campos específicos de políticas (ambiente, agricultura, mar, defesa).

Dentro desses setores de interesse são formados grupos menores que possuem interesses e interagem para lidar com questões específicas de políticas como, por exemplo, promover a conservação da natureza e o seu uso sustentável. Os interesses específicos e a maneira como interagem podem variar conforme a questão. Pode-se denominar esses grupos de interesse centrados em questões específicas e a maneira como interagem, redes de políticas ou comunidades de políticas.

Os grupos de interesses tentam sempre apresentar as suas visões sobre determinada questão a um formulador de políticas relevantes. Alguns desses grupos possuem uma estrutura bastante organizada e têm uma boa base de recursos, como por exemplo a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Essa capacidade geralmente permite que tenham o poder de influenciar o processo de formulação de políticas mais do que outros grupos com menos recursos.

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