Fundamentos técnico-táticos individuais no ataque
9.1 A recepção da bola
9.1.1 Definição
Define-se como “a ação de tomada de conta- to com a bola com o objetivo de apoderar-se dela, controlando-a para realizar na continuação outra ação”. (Falkowski e Enríquez).2 É a ação específica
e o efeito de receber a bola, assim como o gesto/ forma empregado para fazê-la.
A recepção supõe um dos elementos técnicos mais importantes, já que possibilita a posse de bola. É, pois, um ponto-chave para desenvolver todo o processo técnico seguinte, posto que seu domínio permite o êxito em intervenções posteriores, no momento oportuno e na velocidade conveniente.
O seu trabalho deve centrar-se no princípio da segurança, relacionado diretamente com a ve- locidade do passe e a de deslocamento do receptor. Este meio técnico está intimamente ligado ao passe, pelo qual se desenvolverão conjunta- mente e, se possível, também com diferentes des- locamentos.
A trajetória, a altura e o tipo de passe, assim como a posição dos jogadores e ações posteriores, determinarão o tipo de recepção.
Manual de handebol 102 Altas. Baixas. Especiais: Rodadas. De bate-pronto.
9.1.4 Descrição do gesto técnico
Recepção frontal alta: os braços elevam-se
estendidos à altura da cabeça, de tal forma que a bola se encontre dentro do campo visual do re- ceptor. Sem interrupção, acompanhando a bola no seu percurso, segue-se elevando os braços até alcançar praticamente a vertical. A colocação das mãos será com os dedos orientados com a face para cima e na posição recomendada para rece-
ber a bola. A tomada de contato com a bola será produzida, aproximadamente, no centro da tra- jetória compreendida entre a primeira elevação dos braços e a posição vertical (movimento de flexão-extensão).
Recepção frontal intermediária: os braços
estendem-se para frente. De forma contínua, o receptor os flexionará, acompanhando o percurso da bola. A colocação das mãos faz-se com os de- dos orientados para cima e na posição recomen- dada para receber a bola. A tomada de contato com a bola será realizada, aproximadamente, no centro da trajetória compreendida entre os movi- mentos de flexão-extensão dos braços.
FIgura 9.1 – Recepção frontal alta.
FIgura 9.2 – Recepção frontal intermediária.
Recepção frontal baixa: os braços estendem-
-se para baixo. De maneira continuada, o recep- tor irá flexioná-los, acompanhando a bola e sua trajetória. A colocação das mãos far-se-á com os
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dedos orientados para baixo e na posição reco- mendada para receber a bola. O contato com a bola realiza-se no centro aproximado da tra- jetória compreendida entre os movimentos de extensão-flexão dos braços.
As posições indicadas nas recepções frontais, seja qual for a sua altura, são aplicadas também para as recepções:
diagonais. laterais. por trás.
Mais que isso, incorpora-se um novo gesto: rotação do tronco para o lado de onde vem a bola, movimento do qual se acentuará progressivamen- te até alcançar o nível máximo das recepções por trás. Dessa forma, não se modifica a força do des- locamento e melhora-se a disposição para intervir na ação posterior.
Sobre as recepções por trás, e concretamente sobre a tomada de contato com a bola, convém ter presente as seguintes considerações:
Alturas altas, intermediárias e baixas:
Lado do braço executor: recebe com
a mão contrária ao braço executor; a outra assegura a posse da bola.
Lado contrário ao braço executor: re-
cebe com a mão do braço executor; a outra assegura a posse da bola.
Nas recepções diagonais, laterais e por trás, o movimento de rotação que tem de ser realizado
pelo jogador para não modificar o gesto normal do deslocamento e a velocidade da corrida fron- tal, com o fim de não perder a força dos objeti- vos sucessivos e alcançá-los o quanto antes, deve considerar-se transcendental, se queremos aplicar o princípio fundamental básico da técnica: o jogador deve estar disposto, em cada momento, para inter- vir de forma imediata na ação posterior mais eficaz.
Recepções com a bola no chão:
Bola e jogador estáticos: devem ser
aplicadas as normas indicadas no capí- tulo de adaptação da bola, assegurando a sua posse com uma ou duas mãos.
FIgura 9.3 – Recepção com a bola no chão.
Bola parada e jogador em deslo-
camento frontal: deve utilizar-se o procedimento chamado de “colher”, impulsionando a bola para frente no momento de adaptá-la com a mão do
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braço executor. A outra mão, situada frontalmente à primeira, deve assegu- rar a posse da bola tomando o contato com ela imediatamente depois da pri- meira ação.
Bola e jogador em movimento, na
mesma direção e sentido: deve uti- lizar-se o procedimento igual ao da “colher”. No entanto, neste caso, para assegurar a posse da bola, a ação do impulso deve ser realizada para trás, adaptando-a com a mão contrária ao braço executor. A outra mão assegu- rará a posse da bola imediatamente depois da primeira ação.
A utilização do procedimento de “co-
lher” leva implícita, ainda mais, a pos- sibilidade de manter a velocidade má- xima do jogador no seu deslocamento. Para colher a bola nas recepções com a bola no chão, tendo em conta a distância até o chão, é melhor fazê-lo com uma flexão de tronco ao invés de flexão de pernas.
Recepção com quique:
Em algumas ocasiões, o jogador vê-se obri- gado a receber bolas quando se encontra no ar e muito próximas do chão, não havendo tempo praticamente de recebê-las nas devidas condições até depois que as quiquem. A este tipo de recep- ção denomina-se de “bote-pronto” e os movimen- tos que se recomendam para efetuá-la são:
Bolas não controladas: a mão do bra-
ço executor acompanha a bola na sua trajetória descendente, logicamente coma a face palmar orientada para baixo. Depois do quique, a bola não retrocederá ligeiramente, tomando contato com a bola imediatamente depois, reduzindo, consequentemen- te, a força da reação do impacto. A ou- tra mão, com a palma orientada para cima, assegurará a posse da bola.
FIgura 9.4 – Recepção com passe quicado/indireto.
Bolas controladas procedentes de pas-
ses indiretos: a mão do braço executor, com a face palmar para a bola, chega praticamente ao local de impacto so-
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bre o chão para acompanhá-la na sua trajetória. A outra mão, com a face palmar para baixo, assegurará a posse da bola.
Nas recepções de quique pronto (rápi-
do), convém flexionar o tronco, como nas recepções com a bola no chão, para poder intervir com prontidão na ação posterior.
Até agora, tratamos das recepções com o jo- gador em apoio. Só faltam, para finalizar as recep- ções, aquelas nas quais o jogador se encontra em suspensão, dada a altura do passe, que denomina- remos de salto.
Finalmente, como normas comuns para re- alizar a recepção, concordamos com Bárcenas e Román Seco:1
Em recepções estáticas, a perna con-
trária ao braço executor deve estar adiantada, posição que favorece a con- tinuidade imediata para intervir na ação posterior.
Nas recepções estáticas e em relação à
posição das pernas e do tronco, é con- veniente cumprir as indicações expos- tas na posição de base ofensiva.
Nas recepções em deslocamento, a
posição de pernas e do tronco está re- lacionada com gestos técnicos de qui- que, passe e lançamento.
A orientação do jogador não está con-
dicionada à trajetória do passe. Quando os passes não são corretos em rela- ção à situação do receptor, o que obriga a realizar uma postura forçada, o jogado deve retificar a sua situação, mesmo perdendo eficácia, em benefício da segurança.