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Revisão teórica

No documento LIVRO HANDEBOL (páginas 74-78)

O treinamento da coordenação no handebol

7.1 Revisão teórica

As capacidades coordenativas estão com- postas por um conjunto de processos e subpro- cessos que provoca bastante controvérsia acadê- mica quanto a seus alcances, limites e conteúdos. Conforme o ponto de vista em que é considera- da, toma-se um plano de análise diferente. Os trabalhos de pesquisa mais importantes sobre as capacidades coordenativas são, entre outros, os de Bernstein,33 Hirtz,34,35 Neumaier e Mechling,36,37

Roth,38,40 Schmidt,41,43 Zimmermann,44 entre ou-

tros autores.

Coordenar significa, etimologicamente, ordenar junto. No handebol, essa característica se agrega à função de direcionar, regular e har- monizar os processos parciais do movimento, os quais, tendo em vista o objetivo da ação, permi- tem que este seja alcançado com o menor gasto energético possível. As capacidades coordenati- vas estão em princípio determinadas pelos pro- cessos de regulação e orientação do movimento, oportunizam que o atleta domine, de forma se- gura e econômica, ações motoras em situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adap- tação), sendo fundamentais para aprender movi- mentos esportivos. Do ponto de vista da “Teoria da Ação”,45,46 a coordenação de movimentos é

sempre um complexo rendimento da persona- lidade como um todo, que abrange todos os processos de regulação do comportamento nos níveis de controle do movimento – intelectual, emocional, automático –, que são necessários para a organização e obtenção do objetivo.48

As capacidades coordenativas são propriedades qualitativas do nível de rendimento de um ser humano e pré-requisitos de rendimento que ca- pacitam o atleta para realizar ações. As capacida- des coordenativas são consideradas como equi- valentes ao construto inteligência, isto é, como representantes da inteligência motora.

O treinamento da coordenação, portanto, se relaciona com o desenvolvimento da capa- cidade de realizar movimentos, de adaptá-los à situação, de contribuir no aprimoramento da imagem corporal, de uma percepção sensorial diferenciada, da melhora dos processos de pro- priocepção (necessários à condução ou à adapta- ção de movimentos). Lamentavelmente, obser- va-se, na prática do professor, que o treinamento das capacidades coordenativas e da coordenação é esquecido ou “sacrificado” na errada procura por uma performance ou aperfeiçoamento do ní- vel técnico de forma veloz.

Um processo de ensino-aprendizagem-trei- namento em longo prazo na formação de joga- dores de handebol inteligentes e criativos solicita que a coordenação se relacione com o treinamen- to da percepção geral e, posteriormente, à percep- ção específica, com atividades que possibilitem o desenvolvimento do conhecimento tático e da tomada de decisão, seguindo três princípios:

o treInaMento da coordenação no handebol 75

 Modificar a dificuldade/aumentar a difi-

culdade.

 Modificar a complexidade/aumentar a

complexidade.

 Esses princípios mencionados, simultane-

amente.

Considera-se de fundamental importância que as atividades a serem oferecidas às crianças para aprimorar a coordenação tenham uma es- truturação didática em que seja considerado um processo de aumento gradativo e permanente na exigência de organização interna do movimento. Portanto, recomendamos uma progressão em que se exploram todas as possibilidades que cada ele- mento oferece e desenvolve nas faixas etárias, de acordo com a sequência proposta a seguir:

 6-8 anos: atividades com um elemento

(exemplo corda, bastão ou bola).

 8-10 anos: atividades com dois elementos

(exemplo: corda e bola).

 10-12 anos: atividades com três elementos

(exemplo: corda, bola e bastão).

Na fórmula para se treinar as capacidades co- ordenativas, sugere-se aplicar a proposta apresenta- da por Neumaier e Mechling,36,37 Roth47 e Kröger

e Roth,31,48 já experimentada com sucesso pelos

autores deste aporte no Brasil. As faixas etárias des- critas são sugeridas como elemento de referência.

Assim, para o ensino-aprendizagem-treina- mento das capacidades coordenativas, sugere-se uma alternativa metodológica e didática extrema-

mente fértil, relacionando tais exigências à realiza- ção de movimentos. Os aspectos inerentes aos pro- cessos de recepção da informação nas vias aferentes são caracterizados pela recepção de informação por meio dos diferentes órgãos dos sentidos: visual, acústico, tátil, cinestésico, vestibular ou de equilí- brio, bem como os processos eferentes (parâmetros de pressão da motricidade) por meio da motricida- de ampla e fina (caracterizadas pelo volume e pela quantidade dos agrupamentos musculares necessá- rios à ação), que é submetida a diferentes condicio- nantes de pressão: tempo, precisão, complexidade, organização, variabilidade e carga, que constituem a base teórica para organizar um modelo de treina- mento da coordenação no handebol.

Na parte inferior do modelo (vide Figura 7.1), os condicionantes da ação, isto é, as restrições típicas da ação esportiva, permitem estabelecer os parâmetros perante os quais o desempenho coorde- nativo deve ser treinado. Os parâmetros de pressão das capacidades coordenativas são variáveis confor- me a situação específica que se pretende resolver na prática esportiva. Esses parâmetros foram determi- nados a partir da comparação de mais de 20 for- mas de abstrações de utilização do conceito de ca- pacidade coordenativa (Neumaier e Mechling).36,37

Os seis parâmetros de pressão – tempo, precisão, organização, complexidade, carga e variabilidade – constituem as dimensões das capacidades co- ordenativas relacionadas a motricidade, execução motora, elementos característicos da motricidade no momento da realização do movimento coorde- nado, isto é a execução de uma técnica especifica (lançamento em suspensão, passe, “rosca” etc.)

Manual de handebol

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fIgura 7.1 – Exigências coordenativas.31

Exigências Coordenativas nas Tarefas de Movimentos

Elaboração de Informação Eferente

Motricidade grossa e fina

Aferente Ótico, acústico, tátil, cinéstesico, vestibular Baixa Alta Pressão do Tempo Pressão da Precisão Pressão da complexidade Pressão da organização Pressão da variabilidade Pressão da carga

O Quadro 7.1 esclarece quais são os parâ- metros de pressão conforme colocados por Kröger

e Roth,32 o que representa o ponto de vista da exi-

gência motora e um exemplo prático.

Quadro 7.1 – Elementos de pressão da motricidade31,36

Parâmetros de pressão Tarefas coordenativas nas quais é

necessário Exemplos

Tempo Minimizar o tempo ou maximizar a

velocidade de execução.

No contra-ataque, receber e fazer o passe ao colega que corre no espaço livre.

Precisão A maior exatidão possível. Lançamento a gol fora do alcance do goleiro. Complexidade Resolver sequências de exigências su-

cessivas, uma depois de outra.

Realizar uma finta dupla, com câmbio de direção e posterior salto em suspensão, fingir lançamento e pas- sar ao pivô.

Organização Superar exigências simultâneas, ao mes- mo tempo.

Receber a bola fintando a linha de corrida e, paralela- mente, saltar.

Variabilidade Superar exigências ambientais variá- veis e situações diferentes.

Realizar diferente tipo de fintas caindo com dois pés, com um pé, giro.

Carga Superar exigências de tipo físico-con-

o treInaMento da coordenação no handebol 77

7.2 O treinamento da coordenação

no handebol

A fórmula para treinar a coordenação in- clusive no handebol parte das habilidades básicas correr, saltar, empurrar, tracionar etc., que podem ser agrupadas em manuais: lançar (arremessar), driblar, receber, rebater etc.; pedais: chutar, con- duzir, receber com os pés; e com elementos (raque- te ou bastão). Na realização das habilidades, suge- re-se combiná-las com elementos diversos, como, por exemplo, a bola junto das habilidades pedáli- cas e manuais, a bola e um bambolê, um manual (girar o bambolê no braço) e, simultaneamente, um pedálico (condução da bola). A fórmula para o treinamento da coordenação no handebol deve priorizar as atividades com bola e sua combina- ções com outros elementos, ou seja:

Portanto, deve-se observar, ao se oferecer exercícios (que depois são integrados em jogos e formas jogadas de aplicação do aprendido), que a recepção de informação por meio dos analisadores (tátil, acústico, visual, cinestési- co, vestibular ou de equilíbrio) seja colocada em situação de pressão motora (tempo, preci- são, organização, complexidade, variabilidade e carga).

A proposta expressa na fórmula de trei- namento da coordenação na qual se combi- na a recepção de informação com a pressão na motricidade nas atividades, nos exercícios propostos, leva a criança à execução de tare- fas que, sistematizadas pelo professor, visam oportunizar a melhora do seu desempenho motor, otimizando o desenvolvimento das ca- pacidades de coordenação. Treinamento da coordenação com bola Habilidade básica com bola Variabilidade

(exigências aferentes e eferentes)

Situação de pressão

(do tempo, da precisão, da complexidade, da organização,

da variabilidade, da carga)

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7.3 Atividades sugeridas para o de-

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