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O treinamento esportivo com base em uma concepção cogni-

No documento LIVRO HANDEBOL (páginas 57-61)

Preparação física aplicada aos esportes coletivos: exemplo para o handebol

6.2 O treinamento esportivo com base em uma concepção cogni-

tiva: novas alternativas

Contrapondo-se ao conductismo com base nos princípios estímulo-resposta, que visam so-

mente ao resultado final, aparecem as teorias cognitivas, preocupadas com os processos que de- correm dentro do indivíduo para que este consiga reproduzir o modelo necessário à ação esportiva, um modelo mais situacionalmente pensado.

Nas teorias cognitivas, o sujeito atua depen- dendo, isto é, relacionando com o que se sucede no seu entorno. As teorias cognitivas, portanto, permitem analisar como o indivíduo processa a informação que se reflete do ambiente e da tarefa a realizar.

A isso se agrega e se relaciona o estrutura- lismo, que nos diz que a inteligência humana se constitui de uma estrutura composta por uma sé- rie de fatores, e a modificação de um deles altera todos os outros, fazendo que o efeito que se dese- java não se apresente de forma isolada, mas como outro mais global. O próprio indivíduo pode se autoestruturar para fazer que aquilo que antes possuía determinado significado tenha, agora, um significado diferente.

Por isso, a aprendizagem cognitiva é mais adequada do que a conductista no que se refere à aprendizagem dos diferentes movimentos que compõem a técnica dos esportes de equipe, apre- sentando-se com maior validade.

6.2.1 Características do cognitivismo

 Interessa-se pelo que sucede no interior do

esportista depois de analisar as condições do ambiente em que ele deve realizar sua atividade competitiva: como processa a in-

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formação, o que observa do oponente, do espaço, suas motivações, como se relaciona com o objeto de jogo etc.

 Modificando a organização dos acon-

tecimentos e as situações do ambiente, estimula-se o esportista a elaborar novos comportamentos, que são o produto da interpretação pessoal daqueles aconteci- mentos (não são situações padronizadas nem comportamentos homogêneos).

 O que se tenta melhorar é a interpre-

tação do sujeito, para que isso ocasione a modificação da conduta externa (não se centra no produto, mas no processo, para conseguir uma maior disponibilida- de motora).

 Conseguem-se atitudes motrizes que são

“esquemas motores”, aplicáveis a situa- ções variáveis, não adquirindo modelos estereotipados de conduta. Assim, cria- se uma motricidade mais coerente com a situação interpretada.

 A evolução da aprendizagem está centrada

na capacidade que o esportista tem para analisar sinais do ambiente, saber inter- pretá-las e tomar decisões motrizes varia- das, sendo estas cada vez mais ajustadas à suas necessidades e interesses particulares.

 Deve-se ter em conta muito mais as neces-

sidades do esportista, pois a pessoa é prio- ritária à atividade desportiva.

 É mais válido para os esportes em que as

situações de competição não são estáveis e apresenta-se grande interação.

 Predominam nos atletas as motivações in-

trínsecas: a satisfação pessoal pela tarefa bem realizada, afinco de investigar o que se passa, a autoestima etc. Essas motivações são mais perduráveis do que as extrínsecas e produzem outro tipo de fenômenos na personalidade.

 As relações professor-aluno, treinador-

esportista permitem obter resultados da pessoa que compete e não do modelo de competição em que se joga.

 O esportista vai se autoformando nessa

determinada especialidade segundo seus próprios interesses e não como o treinador entende que deve ser.

Conforme colocado, no handebol é funda- mental procurar por uma forma de preparação física integrada, globalizada, pois não se melhora apenas uma única capacidade condicional, coor- denativa ou cognitiva. Quando a treinamos, deve- se relacioná-la com as outras capacidades, ao invés de treiná-la isoladamente.

6.2.2 Construção do modelo de treina-

mento cognitivista

Apresenta-se a necessidade de otimizar as capacidades de rendimento que o esportista possui, porém considerando a estrutura hu- mana de forma homogênea. Por isso, temos de diferenciar, no modelo cognitivo, os seguintes fatores:

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fIgura 6.1 – Fatores que diferenciam o modelo cogni-

tivo de treinamento.

Ao se elaborar determinado modelo com determinada estrutura, ou seja, quando se modi- ficam aspectos condicionais, deve-se considerar que também se modificam os componentes co- ordenativos e cognitivos. É necessário conhecer os diferentes parâmetros que constituem cada elemento condicional, coordenativo e cognitivo. O preparador físico de uma equipe tem de saber como potencializar os fenômenos condicionais, porém nunca se esquecer dos outros dois (coor- denativos e cognitivos). O treinamento terá uma estrutura conforme a Figura 6.3:

fIgura 6.2 – Interação das estruturas que compõem o

modelo cognitivo de treinamento.

Portanto, sempre que se tenha intenção de enfatizar um aspecto qualquer – seja condicional, coordenativo ou cognitivo –, não se pode se es- quecer de trabalhar de forma homogênea com os outros dois aspectos.

Fundamental, e mais importante no pro- cesso dessa concepção, para estruturar o treina- mento, consiste na necessidade de coerência entre os três elementos anteriormente citados. Nesse aspecto é que reside, na realidade, o grande pro- blema da transferência que existia nos modelos conductistas, pois não se consideravam as inte- rações dos três elementos fundamentais do jogo: condicional, coordenativo, cognitivo.

fIgura 6.3 – Estrutura do treinamento no modelo

cognitivo.

Isso significa que metade ou mais da metade da necessidade de treinamento tem de estar cen- trada no aspecto condicional, porém sem se es- quecer da parte coordenativa e da cognitiva.

Nas fases iniciais de uma atividade de aper- feiçoamento da condição física, teria de ser algo como na Figura 6.4:

fIgura 6.4 – Sequência inicial de treinamento para o

aperfeiçoamento da condição física.

Cognitivas Capacidades psicológicas Coordenativas Condicionais Tarefa Gesto Movimento Trabalho

Diferente orientação espacial Coordenação Resistência Flexibilidade Força Velocidade Condicional Coordenativo Cognitivo Condicional Coordenativo/Cognitivo Condicional/Cognitivo Coordenativo

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Ao longo do processo de treinamento, mo- dificar-se-ão em distintas proporcionalidades de acordo com cada caso, mas sempre combinando os três componentes, já que são o fundamento dessa estrutura, que é a estrutura complexa dos sistemas de treinamento. Por isso, é muito im- portante que o preparador físico e o treinador, ao tratar de terminologia conductista, sintonizem com essa mesma forma de entender a preparação física dos esportes de equipe, porque, do contrá- rio, o treinador estará, continuamente, alegando que o preparador físico se intromete em assuntos que não são exclusivamente do campo físico, e isto é totalmente negativo. Portanto, a filosofia do treinador e do preparador físico tem de coincidir com a Teoria Cognitivista.

6.2.2.1 Elementos a ter em conta para a) Melhorar as capacidades condicionais:

Tabela 6.1 – Elementos que compõem a melhora das capacidades condicionais na abordagem cognitivista

Recursos do am- biente Naturais Instrumentais Próprio corpo Lugar Grupo de treinamento Caracte- rísticas da atividade muscular Tipo de contração Número de grupos musculares

Ângulo e localização Velocidade de contração

Aspectos de sobrecarga

Quantidade de quilos deslocados Situação em relação à carga geral

Forma de contato Condições quantita- tivas de tempo de prática Número de tentativas Repetições Séries Pausa Micropausa (-2 s) Macropausa (+2 s) Sem pausa

b) Melhorar as capacidades coordenativas: Tabela 6.2 – Como melhorar as capacidades co- ordenativas, segundo abordagem cognitivista do treinamento

Variações na execução do movimento

Nuances (mais forte, mais fraco, mais rápido, mais devagar etc.) Amplitude (encadeados, não en- cadeados etc.)

Simetrização (localização quanto ao eixo corporal) Combinação de movimentos Sucessivos Alternados Simétricos Variações espaciais na execução Orientação Direcionados Móveis Variações temporais na execução Antecipação Adaptação Variações de ritmo Tarefas em estado de fadiga

Por excesso de informação Cansaço fisiológico Acúmulo de tarefas continuação

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