Fundamentos técnico-táticos individuais no ataque
9.3 Manejo da bola
9.3.1 Definição
É o uso geral do braço executor (o braço que adaptou a bola). Pode-se definir como “o conjun- to de todos os movimentos que o jogador tem que realizar com o braço executor desde o momento de controle da bola até que se desprende dela” (Bárcenas e Román Seco).4
A partir do momento em que se recepciona a bola, todo o manejo se realiza com um só braço. Com a adaptação, evitamos que a bola caia; com manejo, realizamos as ações técnicas posteriores. Dado que, no jogo, se utiliza preponderantemen- te com uma só mão, o manejo da bola é um fator essencial da técnica que permite aumentar a efi- cácia ofensiva e a qualidade das ações do jogador.
9.3.2 Objetivos
Um bom manejo apresenta maior des-
treza e domínio da bola;
Obter facilidade para trocar o tipo de
gesto;
Fazer possíveis mudanças de ritmo no
jogo (rápido-lento/lento-rápido);
Variedade das ações técnicas;
Permitir um movimento natural e
continuado.
9.3.3 Princípios fundamentais
Devem-se realizar os movimentos jus-
tos e necessários;
Realizar os movimentos com destreza
e espontaneidade;
Todas as ações devem ser contínuas
(coordenar ações técnicas).
9.3.4 Descrição do gesto técnico
O manejo da bola permite todas as possibi- lidades de movimento e amplitude do braço; as- sim, depois de executar um controle com o braço, pode-se realizar:
elevação do braço (anterior, posterior,
lateral direita e lateral esquerda);
flexão - extensão do cotovelo; pronação - supinação do antebraço; flexão, extensão, abdução e adução do
pulso;
giro do braço e pulso; circundução completa etc.
Manual de handebol
108
FIgura 9.7 – Manejo da bola alta.
Um bom manejo consegue-se:
sem que o braço esteja rígido ou esten-
dido;
mantendo-se o ângulo no cotovelo e
o braço “armado” para o lançamento;
não deixando o pulso rígido.
No plano frontal, pode-se falar dos estereó- tipos de manejo denominados armação do braço, diferenciando-se quatro posições:
Alto: o braço segue a prolongação da
linha do corpo e mantém um ângu- lo em relação ao cotovelo; braço não estendido (braço com ligeira flexão). Adaptação da mão com os dedos vira- dos para cima.
fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs no ataqueI 109
Clássico: é o mais utilizado tanto em passes
quanto em lançamentos. É o mais fácil de assimilar em crianças. Adaptação com a mão virada para cima e o braço e o antebraço formam um ângulo de 90o.
Altura intermediária: o braço prepara-se como continuação da linha dos ombros. Adap- tação com os dedos virados para fora e ângulo de 180o no cotovelo.
FIgura 9.9 – Posicionamento clássico para o manejo
da bola.
FIgura 9.10 – Posicionamento intermediário para o
Manual de handebol
110
Altura do quadril: é mais baixo que o inter-
mediário. Adaptação com os dedos virados para baixo. Dar o passe caracteriza este tipo pelo fato de ter que ser realizado na altura do quadril.
jogador o máximo de possibilidades de progressão espacial com a bola, que amplia as oportunidades de realizar deslocamentos rápidos e de culminar este tipo de ação. Marca a estreita relação sujeito- -bola, tanto em habilidades e destrezas como em recursos fundamentais, em função das faltas re- gulamentares e dos encadeamentos com outros conteúdos técnicos.
FIgura 9.11 – Posicionamento na altura do quadril
para o manejo da bola.
Quando se falar em coordenação, é importan- te levar em conta a cadeia cinética, já que, no mo- mento de lançar, grande parte da força que damos à bola sai dos impulsos coordenados de todo o corpo.
9.4 O dribling
9.4.1 Definição
O dribling define-se como “a ação de lançar a bola contra o chão sem que exista perda de con- trole sobre ela”.3 É a ação técnica que oferece ao
FIgura 9.12 – Dribling.
9.4.2 Princípios fundamentais
O uso de ambas as mãos, de forma alterna- da, é imprescindível no quicar da bola, atendendo ao princípio do afastamento da bola com respeito ao defensor.
Basicamente, o jogador não deve olhar
fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs no ataqueI 111
Mantém-se o princípio permanente
do “campo visual”;
Em nenhum caso, o uso do quique
deve provocar a diminuição desneces- sária do ritmo coletivo.
Deve-se proteger a bola ante a um adversário próximo, para o qual o jogador tem que se colocar entre a bola e o adversário. Este recurso técnico só deve ser executado quando estiver plenamen- te justificado, já que seu uso indevido supõe um freio em determinados momentos próprios do es- porte coletivo no qual a velocidade de transição da bola é o nexo mais eficaz entre os atacantes; ou seja, não se pode progredir quicando a bola se existe um companheiro desmarcado e em boa posição para receber a bola.
Não obstante, aparecem situações concretas que requerem a execução e a oportuna utilização do quique usados contextualmente com outros recursos técnicos do jogador para:
saídas de fintas; atrair o adversário; se afastar do oponente;
evitar a perda da bola, uma vez dados
os três passos regulamentares;
evitar a retenção da bola; mudanças (trocas) de ritmo;
cadenciar o jogo em algumas circuns-
tâncias;
desdobrar (superar) o adversário; se aproximar à distância de lançamen-
to (tiro);
dar tempo para que os companheiros
se situem e organizem o ataque;
progredir dentro de uma distância es-
timada maior que a dos três passos.
FIgura 9.13 – .
9.4.3 Classificação
Adotando as propostas de Bárcenas e Ro- mán,4 deverá ser:
Em função da distância que tem de percorrer:
unitário (um só quique ou bote): apli-
ca-se para unir dois ciclos de passos;
continuado (vários quiques).
Em função da altura:
alto; baixo.
Manual de handebol
112
Em função da trajetória da bola:
vertical; oblíqua.
9.4.4 Descrição do gesto técnico
Dribling alto vertical:
Cabeça: erguida, obtendo em todo
momento o campo visual útil;
Tronco: em posição natural ou ligeira-
mente flexionado (se o quique é baixo, a flexão se acentua mais);
Braço executor: antebraço ligeiramen-
te flexionado sobre o braço e separado do corpo;
Pernas: flexionadas, tanto simétrica
como assimetricamente; neste caso, adiantar a perna contrária ao braço executor;
Controle do dribling: o contato da
bola efetua-se com a mão aberta, sendo os dedos e a face média da palma a superfície de contato, com movimento coordenado do braço executor efetuando uma elevação do antebraço e uma flexão-extensão do pulso. É utilizado para deslocamen- tos em forma de marcha ou em caso de botes unitários.
Dribling baixo:
FIgura 9.14 – Dribling baixo.
Cabeça: tentando obter um campo vi-
sual amplo;
Tronco: semiflexionados;
Pernas: em posição assimétrica, adian-
tando a perna contrária ao braço exe- cutor. Em comparação com o bote alto oblíquo, a flexão acentua e am- plia, de forma regulada, a separação das pernas, pois, ao se chegar o tronco no chão colocando o peso do corpo na perna adiantada, produz-se certa descompensação que deve ser corrigi- da abrindo-se o compasso das pernas para manter o equilíbrio;
fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs no ataqueI 113
FIgura 9.15 – .
Controle do dribling: se a ação é con-
tinuada, devemos manter o indica- do para o bote vertical oblíquo, mas com trajetória menos acentuada, ou se efetua o bote com menor altura e mantém-se reduzida a trajetória da bola. A força do golpe deve diminuir consecutivamente.
No bote baixo, em que existe uma
grande inclinação do tronco, deve-se evitar um aumento exagerado da fle- xão das pernas, já que isso atrapalharia a velocidade de deslocamento.
FIgura 9.16 – .
Dribling oblíquo:
Cabeça: ligeiramente flexionada; Braço executor: produz-se uma maior
extensão do antebraço e a bola proje- ta-se para frente;
Pernas: de acordo com a corrida; Controle do dribling: o impulso da
bola deve ser elevado para assegurar uma trajetória suficientemente oblí- qua e regulada, na direção em que se desloca o jogador e que melhor permi- ta a progressão;
Este tipo de dribling pode regularizar-
-se em benefício da velocidade, com intervalos amplos que permitam in- tercalar vários passos entre cada con- tato com a bola.
Manual de handebol
114
Mudança de direção no dribling:
Jogador destro que modifica sua dire-
ção para o lado direito: toma impul- so com a perna esquerda, muda de orientação, dirige a bola para a nova direção, mantendo o dribling. Segui- damente, volta a utilizar a mão do princípio;
Jogador destro que modifica sua di-
reção para o lado esquerdo: impulso dado com a perna direita, mudando de orientação e dirigindo a bola para a nova direção sem trocar de mão.
Mudança de sentido no dribling:
Giro para o lado direito: impulso com
a mão esquerda mudando de orien- tação, dirigindo a bola para a nova trajetória, ajudando-se com a mão esquerda e golpeando em ação de dri-
bling contínuo. Seguidamente, volta a
utilizar a mão do início;
Giro para o lado esquerdo: impul-
so sobre a perna direita trocando de orientação e dirigindo a bola para a nova trajetória sem trocar de mão;
As indicações específicas anteriores
são válidas para os jogadores canho- tos, tendo em conta que o bote se rea- liza com a mão esquerda.
9.5 O desmarque (jogar sem bola)
9.5.1 Definição
O desmarque define-se como a “ação suces- siva que persegue a ocupação de um espaço eficaz antes que o defensor eluda sua marcação” (Trosse).8
Desmarcar-se é “escapar” das possibilidades de intervenção dos defensores, com o fim de se encontrar livre para atuar, mas, também, deve resultar acessível a outro colega para participar na conservação e na pro- gressão da bola ou na realização de um gol. Esta ação está intimamente ligada à recepção, já que o desmar- que é fundamental para poder receber a bola. Para se desmarcar, o jogador realiza duas ações: oferecer-se no espaço e se orientar em relação à situação de jogo, gol adversário, companheiros de time.
9.5.2 Objetivos
Esquivar-se da marcação ou, em seu
efeito, reduzi-la para eficácia pela ob- tenção de uma ligeira vantagem den- tro dos espaços de manobra mais vari- áveis em função da distância.
Superar a vigilância de um ou vários
adversários para provocar, coletiva- mente, uma situação de superiorieda- de numérica que facilite a conclusão do ataque e crie as condições favorá- veis para a ação final.
fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs no ataqueI 115
Buscar espaços livres no jogo de ata-
que, bem como para receber a bola ou facilitar a ação dos companheiros.
Oferecer-se como opção de passe ao
colega com bola.
9.5.3 Princípios fundamentais
O desmarque terá êxito se conseguirmos certa vantagem sobre o defensor para poder re- ceber a bola, para o qual devemos nos afastar da zona de atuação deste.
O campo visual deve concentrar-se em um lugar alheio ao objetivo previsto, com o fim de conseguir maior informação global do jogo e não dar pistas ao oponente.
Realizá-lo no momento oportuno e à velo- cidade conveniente; recomenda-se a realização de troca de direção e de velocidade da ação.
A chave do desmarque reside em observar a distância adequada, evitando o contato físico com o defensor.
9.5.4 Classificação
Em função da situação do defensor:
desmarque direto, buscando-se a pene-
tração ante ao desequilíbrio do defensor.
desmarque com mudança de direção,
quando o desequilíbrio inicial do defensor não é tão grande e, portanto, insuficiente.
Em função da trajetória empregada:
desmarque em profundidade: deslo-
car-se para o objetivo, o gol, ou espa- ços vários próximos a este, utilizando-se trajetórias retilíneas e curvilíneas;
FIgura 9.17 – Desmarque em profundidade com tra-
jetória retilínea.
desmarque em apoio: deslocando-se
para assegurar a conservação da bola e criar espaços para os companheiros, utilizando-se trajetórias retilíneas e cur- vilíneas, mas com mudanças de direção.
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9.5.5 Descrição do gesto técnico
A realização do desmarque depende, fun- damentalmente, dos deslocamentos sem bola do possível atacante receptor; para isso, deve situar-se oportunamente sobre o campo de jogo, fazer pos- síveis transmissões e facilitar, assim, a circulação da bola e sair das zonas possíveis de interceptação e de oposição ocorridas pela vigilância dos adver- sários. Não se deve adotar a imobilidade, mas, com seus deslocamentos, tem de se situar em uma zona favorável para a transmissão da bola. Deve consegui-lo descentrando-se, momentaneamente, da bola para se informar sobre as zonas nas quais ele poderá desenvolver a sua ação (espaços livres). A esse conjunto de ações prévias ao recebimento da bola denomina-se corrida de desmarcação. Es- tas dependerão de uma trajetória específica que o atacante sem bola empregue para ocupar as possí- veis zonas de recepção e ajustar-se aos princípios dos deslocamentos.
9.6 O passe
9.6.1 Definição
O passe é “a ação de transladar ou enviar a bola de um jogador a outro” (Trosse),8 assim
como “o gesto/forma apropriado que se pode empregar” para transportar a bola de um local a outro da quadra.
É considerado uma das habilidades funda- mentais para o jogo, já que permite a comunicação entre jogadores que estão realizando ações coleti- vas. Este elemento é fundamental ou se concreti- za no vínculo de relação entre os jogadores. Deve realizar-se sempre com as máximas garantias de se- gurança para alcançar a continuidade no jogo.
9.6.2 Princípios fundamentais
Deve ser realizado sobre o jogador situado nas condições mais favoráveis para que a ação pos- terior adquira a maior eficácia.
Deve-se dominar o maior número de tipos de passe, selecionando o mais adequado a cada situação de jogo.
Tem de ser realizado com suficientes garan- tias de posse. Recomenda-se ao jogador com posse de bola que comprove previamente e com rapidez a situação dos oponentes mais próximos ao recep- tor e suas possibilidades de cortar a trajetória do passe. Antes de se realizar um passe deficiente ou inútil, em que a bola não chegará ao seu destino, é preferível trocar sua direção, ainda que esta nova ação não tenha maior transcendência.
Durante a sua execução, não se fixa o olhar para o possível receptor, ainda que previamente tenha de se estabelecer contato visual com ele.
Deve realizar-se com tensão adequada. A força deve regular-se em função da distância exis- tente entre o passador e o receptor. Não devemos nos esquecer de que a bola no ar não prejudica o defensor e é totalmente necessário que, além do
fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs no ataqueI 117
seu translado, chegue ao seu destino no tempo mais breve possível.
Deve fazer-se com precisão. Um passe mal- dirigido obriga a modificar posições adotadas, atrasando a intervenção do jogador e, como con- sequência, a da equipe. Geralmente, se o receptor é marcado próximo, a direção é ao ombro do bra- ço executor. Se for marcado à distância, o passe será feito ao espaço livre de marcação. Se o recep- tor está em deslocamento, a direção será sempre ligeiramente por diante do receptor.
Com oponente próximo, deve-se proteger a bola colocando-se entre ela e o adversário.
A utilização de um tipo de passe ou outro está determinado pelo(a):
altura da recepção; situação do adversário; tipo de ação posterior;
velocidade de execução coletiva; posição do corpo em relação ao braço
dominante.
9.6.3 Classificação
Em contato com chão (com uma mão):
clássico (frontal e lateral).
altura intermediária ombro-quadril
(frontal e dorsal).
altura baixa (frontal e lateral).
em pronação (frontais, laterais, e para
trás).
por trás do corpo (frontais e laterais).
por cima do ombro do braço executor. deixada.
retificado. entre as pernas.
Em contato com o chão (com as duas mãos):
de peito;
por cima da cabeça.
Em suspensão (com uma mão):
frontal; lateral.
9.6.4 Descrição do gesto técnico
Suporemos que o jogador executante seja destro.