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A reorganização política da Direita Religiosa

1.4 TEMPOS MODERNOS: COM A PALAVRA, O EVANGELHO

1.4.2 A reorganização política da Direita Religiosa

Apesar da turbulenta passagem de um período de conflitos segregacionistas, houve, no fim da década de 1960 e começo de 1970, um notável crescimento do movimento carismático nas principais igrejas protestantes e católicas dos EUA. Grupos de executivos carismáticos expandiam-se, aglutinando católicos, episcopais, metodistas e luteranos em cultos realizados em igrejas e espaços públicos. Certa onda de calmaria fundamentalista pairava no ar dos anos 70, como se fosse o presságio de um fim de década mais agitado que também invadiria os anos 80. A Direita Cristã se reorganizava e realizava uma série de eventos políticos pelo país, deixando claro o potencial evangélico e fundamentalista. Nos anos 80 a DC lidera uma campanha para legalizar o ensino do criacionismo nas escolas públicas em contraposição à evolução científica. Tais movimentos tentavam inserir a religião como um meio de solucionar problemas de ordem social, como uso de drogas, crimes, educação e saúde, estabelecendo, desse modo, códigos morais de conduta. Do mesmo modo, opunham-se à Emenda dos Direitos Iguais (ERA - Equal Rights Amendment), − que dispunha sobre eqüidade para as mulheres − e fazia frente à legislação dos direitos homossexuais.144

Poder-se-ia afirmar que Jimmy Carter soube explorar muito bem a necessidade ao retorno dos valores de integridade, honestidade e justiça política em uma fase delicada pela qual a nação dos EUA passava no momento Pós-Guerra do Vietnã (1954-75) e, principalmente, na ressaca do escândalo Watergate145. Quando concorria à presidência da

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Cf. MARTIN,. With God on our side, p. 47. 144

Cf. WILCOX, op. cit., p. 35. 145

Uma série de escândalos que levou o presidente republicano Richard Nixon (1969-74) a renunciar (09/08/1974) enquanto o Congresso encaminhava um processo para o seu impedimento (impeachment). O nome

Watergate é originário de um edifício comercial em Washington, onde em 1972 o Partido Democrata mantinha

seu comitê de campanha presidencial; ali encontraram um sistema de escuta encomendado pela Casa Branca para espionar seus adversários democratas. O caso foi denunciado pelos então repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein que conseguiram as informações por intermédio do ex-agente do FBI Mark Felt, o “garganta profunda”. Cf. REVISITING Watergate. Washingtonpost.com, Washington, 31 May 2005. Disponível em: <http://www.washingtonpost.com/wp-srv/national/longterm/watergate/front.htm>. Acesso em: 20 abr. 2005.

república em 1976, Carter, um sulista e batista devoto, anunciou ser um “renascido” (Born- again) e, abertamente, convocou os evangélicos a interagir na vida pública participando das eleições; para tanto, pediu que deixassem de lado a desconfiança política adquirida no passado. Por essa via, comparado aos antecessores, conseguiu uma expressiva votação de brancos evangélicos e, ao mesmo tempo, soava um alerta aos líderes conservadores fundamentalistas que observaram um renascimento naquela candidatura − mais interessante do que a de Carter −, ou seja, o renascimento do potencial político dos evangélicos e fundamentalistas que poderia ser levado aos candidatos republicanos. Assim, já um tanto desapontados com o governo Carter − e, acima de tudo, no tocante aos assuntos pertinentes aos valores da família como, por exemplo, as medidas mais brandas sobre o aborto − uma parcela de líderes conservadores mobilizou-se para buscar recursos a fim de organizar grupos políticos-religiosos − Moral Majority, Christian Voice e Religious Roundtable – que sustentassem plataformas políticas em torno de alguns dos seus objetivos comuns, visando atrair um leque de eleitores religiosos, inclusive os católicos inclinados, a darem voto aos democratas. Esses grupos ancoravam-se em programas contra o aborto, a proteção aos direitos civis de homossexuais e a Emenda dos Direitos Iguais (ERA), à medida que advogavam em prol de benefícios de impostos para escolas religiosas e da implementação de orações nas escolas.

De todos os grupos gerados, entre a década de 70 até praticamente o fim da de 80, o Moral Majority foi o que mais obteve destaque. Segundo o líder, Jerry Falwell, um pastor da Comunhão Batista Bíblica (BBF - Baptist Bible Fellowship), o trabalho de organização do grupo dividia-se em três categorias: registro (de eleitores), informação e mobilização (ambas políticas) e aquilo que caracterizava como pró-vida, pró-família, pró-moral e pró-americanos (há também referências que incluem pró-Israel na lista).146

A década de 80 sem dúvida foi um ciclo em que a mídia fez diferença e Falwell parecia saber disso, pois era considerado na época a um dos pregadores mais assistidos pela TV e cuja audiência era avaliada entre 6 e 30 milhões de espectadores. A despeito da polêmica da larga e imprecisa diferença entre os números, o fato é que a TV causava um grande impacto na divulgação das idéias de Falwell, tendo, na ocasião, o programa Old Time Gospel Hour como um dos carros-chefes, retransmitido a mais de 300 estações e veiculado até hoje em todos os continentes, exceto na Antártida, através de TV a cabo.

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Em abril de 1980, o mega encontro “Washington for Jesus”147 conseguiu reunir de 200 a 500 mil pessoas em torno de uma oração coletiva que simbolizava, entre outras coisas, a necessidade do retorno da nação a Deus. O evento deu a impressão de que o país começava a dar uma reviravolta, que Pat Robertson148, outro influente televangelista e correligionário da DC, chamou de “o início da revolução espiritual”. Não faltavam, naquele momento, aflições, sentimentos de angústia e motivos para que muitos estadunidenses achassem justificas plausíveis para unirem suas preces: a memória da derrota do poder militar no Vietnã e do fiasco do Watergate; a invasão soviética no Afeganistão (1979); o sentimento de perda de alguns territórios para o regime comunista – Cuba, Angola, Moçambique, Etiópia, Iêmen do Sul e Nicarágua − e o conseqüente medo da expansão comunista e da influência política Soviética em plena Guerra Fria; a derrubada do governo do Xá Mohamed Reza Pahlevi (1979) pela revolução popular liderada por Aiatolá Khomeini e o então recente fracasso da operação Desert One, que tentou libertar 52 estadunidenses, reféns há mais de cinco meses na embaixada em Teerã; uma inflação, que no começo do governo Carter era de 6%, já passava de seu dobro; e os altos índices dos juros e de desemprego. Em decorrência disso tudo, o que sobrava era a sensação generalizada de que o patriotismo esvaía-se e cedia lugar à fragilidade.

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Mega encontro ocorrido em Washington Mall, em 29 de abril de 1980, promovido por vários líderes religiosos midiáticos que resolveram unir as mais variadas denominações protestantes em torno de um momento de oração única. A mobilização foi feita por ocasião da comemoração da data em que os primeiros imigrantes chegaram em Jamestown, em 1607, e lá ergueram uma cruz na costa da Virgínia para simbolizar a dedicação daquela terra a Deus. Cf. HADDEN, J. K.; SWANN, C. E. Prime time preachers: the rising power of televangelism. Reading: Addison-Wesley, 1981. p. 4.

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Pat Robertson é um influente e conhecido televangelista, empresário e ativista político da Direita Religiosa cuja biografia é farta de detalhes curiosos como, por exemplo, quando previu que um furacão assolaria Orlando, na Flórida, por motivo do apoio aos direitos gays; em outra ocasião, concordou com Falwell, em seu programa de entrevistas, que os ataques de 11 de setembro foram consentidos por Deus em decorrência da decadência moral dos EUA, citando como exemplo disso, os gays, a causa pró-aborto, as feministas e outros. Mais recente, declarou que o presidente dos EUA deveria assassinar Hugo Chavez, presidente da Venezuela, por considerá-lo um terrível perigo, referindo-se à propagação do comunismo. Tido como emblemático conservador extremista, utiliza politicamente seu famoso programa de TV The 700 Club. Também fundou grandes organizações, como a CBN (1961): a primeira rede de TV evangélica dos EUA, com alcance internacional por meio da divulgação de programas religiosos em mais de 70 línguas; a Regent University (1977): conforme sua própria denominação, é um centro acadêmico para o pensamento e ação cristãos; a OBI − Operation Blessing International (1978): uma empresa humanitária sem fins lucrativos que já esteve envolvida em escândalos como o desvio da rota de aviões de trabalhos humanitários no Zaire para um empreendimento de mineração de diamantes particular de Robertson, além do recente favorecimento do nome da OBI na lista do Website da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA − Federal Emergency Management Agency) como uma das instituições aptas a receber doações em dinheiro para o desastre provocado pelo furacão Katrina; a Christian Coalition (1989): a organização mais visível da Direita Religiosa; e a ACLJ − American Center for Law and Justice (1990): uma empresa sem fins lucrativos, especializada em lei constitucional, que defende basicamente casos ligados a valores religiosos. Cf. GOODSTEIN, L. Robertson suggests U.S. kill Venezuela's leader. The New

York Times, New York, 24 Aug. 2005. Section A, p. 10. Cf. PROFILE: Pat Robertson. BBC News. London, 25

Aug. 2005. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/ americas/4182962.stm>. Acesso em: 26 ago. 2005. Cf. GONZALEZ, J. Disaster used as political payoff. Daily News, [S.I]., 06 Sept. 2005. Disponível em: <http://www.nydailynews.com/news/wn_report/story/343712p-293471c.html>. Acesso em: 07 set. 2005.

Enquanto isso, líderes da DC “batiam na tecla” da urgência em construir uma América fundada nos princípios cristãos, usando-os como fundamentos de conduta moral cujo tema mais importante voltava-se ao controle corporal, mormente, o sexual. Dessa forma, aborto, homossexualismo e pornografia eram, obviamente, os assuntos mais combatidos. Para eles, a religião e Deus determinavam o uso apropriado do corpo e do sexo, e uma “educação adequada” nesse sentido seria, portanto, de suma relevância para que uma “atitude decente” chegasse às gerações futuras, sendo a família a instituição central eleita como a mais importante para que tal educação obtivesse êxito. O domínio mundial só seria restabelecido caso a família estadunidense retomasse sua estrutura tradicional, a qual teria de considerar não somente a educação, mas também o bem-estar social dos indivíduos, inclusive a preocupação na área da saúde.149

Foi nesse clima, muito por rejeição à política de Jimmy Carter e por desejo de mudança, que Ronald Reagan (1981-89) conseguiu se eleger. Porém, não há como desconsiderar o grande apoio, influência e votos da Direita Cristã, principalmente da Moral Majority, no processo eleitoral. A vitória de Reagan e a maioria republicana conquistada no Senado, pela primeira vez, após 26 anos, foram assaz comemorada pela DC que, embora não fosse bem o caso, sentia-se responsável pela conquista do republicano “hollywoodiano”.

A mobilização dos votos democratas levou o prato da balança pender aos republicanos, fato que, provavelmente, adveio da incredibilidade e descontentamento político generalizados, misturados ao pedido, às claras, de apoio aos evangélicos conservadores e de algumas medidas felizes de Reagan tomadas no tempo certo como, por exemplo, o lançamento de uma plataforma política pró-família e pró-vida (pro-family e pro-life), favorecida inclusive, pela promessa velada de correligionários, que somente juízes pró-vida seriam indicados à Suprema Corte. Ao que parece, ações como essas fizeram com que muitos relevassem eleger pela primeira vez na história dos EUA um homem divorciado que raramente freqüentava a igreja, mas que não deixava dúvidas quanto sua fé e compromisso com os interesses da DC. Os sinais de retorno foram imediatos, vieram já no discurso de posse, como é possível notar no exemplo que se segue:

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Disseram-me que dezenas de milhares de reuniões de orações estão sendo realizadas neste dia, e sou profundamente grato por isso. Somos uma nação abençoada por Deus, e acredito que Deus desejava que fôssemos livres. Seria apropriado e bom, eu creio, se a cada discurso de posse, nos anos futuros, fosse declarado um dia de oração.150

Entretanto, a gratidão do presidente não ficou restrita ao discurso: Reagan prontamente indicou ativistas da DC para ocupar postos, escolhidos a dedo, em seu governo.151 Entre alguns dos eleitos, o líder da Moral Majority, Robert Billings, tornou-se assistente especial da pasta do Ministério da Educação; o ativista antiaborto e membro da Assembléia de Deus, C. Everett Koop, ganhou o Ministério da Saúde; Jerry Regier, um conservador cristão favorável à subserviência das esposas no lar e à educação infantil na base do chicote152, foi nomeado diretor do Departamento de Família; e a chefia do Ministério do Interior ficou para o curioso, para não dizer insólito, James Watt, que declarou irrelevante dar proteção aos recursos naturais, em face da consideração do iminente retorno de Cristo, conforme a frase a ele atribuída: “Deus nos deu essas coisas [a natureza] para explorarmos. Após a queda da última árvore, Cristo retornará.”153

O governo Reagan inaugurava uma nova fase de namoro com a DC, um romance com direito a ordens dadas ao executivo para que as leis fossem interpretadas ao agrado dos novos parceiros pré-nupciais, o que gerou o nascimento da norma antiaborto conhecida como gag rule154 (norma da mordaça). Ainda assim, mostrando-se insatisfeitos com essas e outras regalias, muitos ativistas conservadores reclamaram que aquela administração dava mais ênfase aos setores conservadores ligados a economia em geral do que às políticas sociais

150

YALE UNIVERSITY. First inaugural address of Ronald Reagan. Disponível em: <http://www.yale. edu/lawweb/avalon/presiden/inaug/reagan1.htm>. Acesso em: 07 set. 2005.

151 Cf. WILCOX, op. cit., p. 88. 152

Atribui-se a Jerry Regier um suposto documento, no qual havia sua aprovação a tais condutas, mas ele as nega. Vale ressaltar que a polêmica foi novamente trazida à baila após Regier ter sido indicado (2002) para o cargo de chefe do Departamento das Crianças e Famílias pelo então governador da Flórida Jeb Bush, irmão do presidente Bush Jr. Cf. POTENTIAL child welfare... . CNN.com, Washington, 23 Aug. 2002. Disponível em: <http://transcripts.cnn.com/TRANSCRIPTS/0208/23/asb.00.html>. Acesso em: 07 set. 2005.

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Essa frase causou uma grande polêmica por ocasião da ampla divulgação nos EUA após o jornalista Bill Moyers tê-la citado ao receber um prêmio ligado à causa ambiental (Global Environment Citzen Award) na

Havard Medical School, em 2004. Moyers, baseado na informação de um artigo do jornalista Glenn Scherer, da

revista eletrônica ambientalista Grist, alegou que Watt havia proferido tal afirmação diante do Congresso em 1981; entretanto, Scherer mais tarde corrigiu que a fonte da citação estava no livro de Austin Miles. Ver: MILES, A. Setting the captives: victims of the church tell their stories. Buffalo: Prometheus Books, 1990. p. 229. 154

A origem do termo gag rule remonta o período de 1836 a 1844, em que uma série de resoluções impediam as petições abolicionistas. No governo Reagan, a norma conhecida por gag rule impedia que verbas públicas chegassem a organizações envolvidas com programas de planejamento e aconselhamento familiar. Ver: LAPHAM, L. H. Gag Rule: on the suppression of dissent and stifling of democracy. New York: The Penguim Press, 2004.

relacionadas a uma ética religiosa como, por exemplo, a luta pela inclusão da oração nas escolas públicas.

Contudo, os democratas Walter F. Mondale e seu vice Geraldine Ferraro não pareciam ser oponentes páreos a enfrentarem a dupla republicana Ronald Reagan e George H. W. Bush; e, seguramente, mesmo que uma parte da DC julgasse que a administração Reagan tivesse deixado a desejar, ainda era a melhor opção conservadora que possuíam nas urnas, até porque era inegável que tinham dado uma boa guinada política durante aquele primeiro mandato republicano. De certo modo, os líderes conservadores aprenderam como a máquina política funcionava e sabiam que ambos, democratas ou republicanos, tentariam seduzi-los com pequenos regalos políticos e, entre os lados dispostos, os republicanos representavam a escolha natural que passava mais segurança, confiança e cujo discurso dirimia qualquer dúvida ao ouvinte atento, pelas convicções morais, religiosas e políticas escolhidas por seus candidatos, conforme Reagan, citado por Martin, deixava bem claro em suas palavras, na Convenção Nacional Republicana, em 23 de agosto de 1984, pouco antes da sua inevitável reeleição:

A verdade é que política e moralidade são inseparáveis. E, como a religião é a fundação da moralidade, a religião e a política estão necessariamente relacionadas. Precisamos da religião como guia. Precisamos dela porque somos imperfeitos. E nosso governo necessita da igreja porque somente aqueles que são humildes o suficiente pra admitir que são pecadores podem levar a democracia à tolerância que ela necessita para sobreviver. Sem Deus, a democracia não consegue e não resistirá por muito tempo.155

E, logo, a ratificação dada em seu segundo discurso de posse:

É a voz da América. É esperançosa, corajosa, idealista, audaciosa, decente e justa. Essa é nossa herança; essa é nossa canção. Cantemo-la com serenidade. Por todos os nossos problemas, nossas diferenças, estamos juntos há tempos, assim elevamos nossa voz até Deus que é o Autor dessa música deveras melódica. E que Ele continue a nos manter próximos à medida que suprimos o mundo com nosso tom de voz pleno em unidade, afeto e no amor único de um povo subjugado a Deus, dedicado ao sonho da liberdade que Ele plantou no coração humano, qual agora nos invoca a passá-lo adiante para um mundo à expectativa e à esperança. Deus abençoe vocês e Deus abençoe a América.156

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MARTIN, op. cit., p. 235-6. 156

RONALD Reagan: second inaugural address. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica Online. Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1993. Disponível em: <http://www.britannica.com/presidents/article-9116952>. Acesso em: 07 set. 2005.

Junto com a reeleição de Reagan, um novo inimigo completamente inusitado surge para alimentar a fantasia homófoba da DC e para ser incluído na lista das maldições a serem combatidas: a AIDS. À medida que as descobertas eram reveladas em doses graduais157, os conservadores, de modo geral, mais notadamente membros da DC, atribuíam à doença os mais diferentes e criativos diagnósticos: o autodenominado “conservador tradicional”, Pat Buchanan158 encarava a AIDS como uma espécie de vingança da natureza contra os gays, enquanto, por exemplo, Falwell dizia que “[...] era a ira de Deus sobre os homossexuais [...]”159. Apesar de Falwell negar tal afirmativa e, pelo contrário, repórteres confirmarem, o que importa é que, com certeza, a frase representava a opinião de muitos fundamentalistas.160

Porém, isso não era tudo, outras decepções estavam por vir. Diante da crescente expansão da AIDS, o tão aclamado e louvado, pelas preces fundamentalistas, ministro da Saúde, Everett Kopp, embora sem perder sua visão de fé doutrinária, mas também sem outra saída, incentivava políticas públicas de combate à AIDS (1986) como a utilização da camisinha e educação sexual em escolas públicas. Desta vez, tanto os conservadores da direita quanto muitos católicos não pareciam acreditar no que ouviam.