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Ano 2002: a virada pós 11 de setembro

2.1 O GOVERNO BUSH

2.1.3 Ano 2002: a virada pós 11 de setembro

Chega um novo ano e a turbulência causada pela densa nuvem de 11 de setembro enfim começa a dissipar-se; com isso, novos sopros de vento indicavam sinais favoráveis para que um céu mais límpido surgisse pela frente.

No início do ano, em 08/01/2002, a rede de televisão CBS divulgou o resultado de uma pesquisa que avaliava os efeitos de 11 de setembro na vida dos cidadãos estadunidenses. Do total de 1.060 adultos entrevistados, 43% alegaram que suas vidas já haviam retomado o curso normal, e o medo de novos ataques, que antes era de 53%, foi reduzido a 18%, o índice mais baixo desde então.229

A resposta sobre possíveis conflitos militares parecia estável: 89% aprovavam a guerra no Afeganistão e 68% apoiavam, caso necessário, a intervenção dos EUA em países que patrocinassem o terrorismo.

Dois dias depois da pesquisa, Bush aprovou o orçamento para a Defesa em 2002 no valor de US$ 318 bilhões230, declarando ser um adiantamento para usar na guerra contra o terrorismo, o que, segundo ele, era um compromisso essencial.231 Outros dois dias findam e mais uma proposta é lançada: desta vez, são US$ 437 milhões de gastos extras para ajudar desempregados e mães necessitadas.232

A economia dos EUA estava em processo de desaceleração e havia um considerável aumento da taxa de desemprego. Bush, no entanto, ao enviar seu orçamento ao Congresso antecipa um desequilíbrio nas contas, o qual atribui à guerra e à recessão. Suas prioridades naquele momento eram gastos militares, segurança interna e um plano de estímulo à economia. Para tanto, declarando como segunda prioridade de seu governo, propõe dobrar o orçamento para a segurança interna, de US$ 19,5 a US$ 37, 7 bilhões.233 A prioridade era ganhar a guerra contra o terrorismo.

229

Cf. MAIORIA dos americanos acha que a vida voltou ao normal. Folha Online, São Paulo, 08 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u35644.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 230

Meses depois o Senado eleva essa cifra, aprovando em US$ 393 bilhões o orçamento para o Departamento de Defesa, no ano fiscal de 2003. Foi o maior orçamento para pasta nos últimos 20 anos. Cf. EMBAIXADA DOS EUA. Congresso envia lei que criará um fundo para esforços antiterror. Disponível em: < http://terrorismo. embaixada-americana.org.br/?action=artigo&idartigo=680>. Acesso em: 10 nov. 2005.

231

Cf. BUSH aprova orçamento de US$ 318 bilhões para Defesa em 2002. Folha Online, São Paulo, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u35755.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 232

Cf. BUSH planeja ajuda para desempregados e mães necessitadas. Folha Online, São Paulo, 12 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u10591.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 233

Cf. BUSH quer dobrar orçamento para segurança interna. Folha Online, São Paulo, 24 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u36290.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005.

Na noite de seu primeiro discurso sobre o estado da nação, outras duas fontes importantes e simpatizantes ao governo, o Washington Post e a rede de TV ABC, ratificam a informação de que Bush mantinha o índice mais alto de aprovação (83%) juntamente ao apoio à guerra contra o terrorismo (88%).234 Por outro lado, de cada dez entrevistados, três demonstravam descontentamento com a economia; porém, paradoxalmente, 62% declararam confiar no manejo de Bush face à economia.

Outro investimento curioso de Bush foi em prol de programas de abstinência sexual, uma de suas propostas eleitorais. Consoante um funcionário do governo, que não quis ser

identificado, a proposta levada ao Congresso tinha como objetivo investir US$ 135 milhões em programas de educação destinados exclusivamente a recomendar a abstinência sexual.235

Ainda naquele ano, Bush também seria o autor da maior proposta orçamentária enviada ao Congresso para fins militares desde a Guerra Fria(1946-1990).O projeto de gastos incluiu US$ 7,8 bilhões para um programa que, entre outras coisas, previa a instalação de um escudo antimíssil rudimentar no Alasca que serviria para defender os EUA de mísseis com cargas químicas, biológicas ou nucleares eventualmente lançados por países como aCoréia do Norte, o Iraque e o Irã, considerados o "eixo do mal". Segundo o Centro de Estratégia Orçamentária − uma entidade privada − a pretensão dos gastos de Bush, descontada a inflação, corresponderia a 10% a mais que a média do dinheiro despendido durante a Guerra Fria ou a 23 vezes mais do montante total gasto pelos sete países apontados por Bush como adversários dos EUA.236

Então, em dois meses, o Pentágono anuncia a criação de um comando militar unificado, batizado de Comando Norte, que visava construir um potencial militar para a defesa interna do país cuja jurisdição abrangia o território continental dos EUA, do Canadá e do México.237

234

Cf. POPULARIDADE de Bush se mantém em níveis altos. Folha Online, São Paulo, 29 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u36475.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 235

Cf. BUSH pretende aumentar gastos em programas... Folha Online, São Paulo, 31 jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u36574.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005.

Laura Bush, esposa de Bush, declarou um dia antes da posse do marido que ratificava a política de Bush de usar a abstinência sexual para reduzir o número de abortos. Cf. LAURA Bush quer que jovens dos EUA... Folha

Online, São Paulo, 19 jan. 2001. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u17839.shl>.

Acesso em: 10 nov. 2005. 236

Cf. BUSH apresenta proposta de aumento de gastos com armamentos. Folha Online, São Paulo, 04 fev. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u11502.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 237

Cf. EUA criam comando militar unificado para defesa interna. Folha Online, São Paulo, 17 abr. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u40161.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005.

Em meio a uma pequena enxurrada de denúncias de agentes dos serviços de inteligência que afirmavam que Bush foi informado sobre os ataques antes de 11 de setembro, o presidente, montando estratégia para atenuar as críticas238, vai à televisão e anuncia a criação do Departamento de Segurança Nacional, a qual teria como missão principal prevenir ataques terroristas.239

Dessa maneira, as ações de Bush caminhavam desde o âmbito internacional, quando, por exemplo, tentou impedir a criação do Tribunal Penal Internacional240, até implicações internas aparentemente de menor importância, como foi o caso do seu apoio à decisão da Suprema Corte dos EUA em permitir que as escolas pudessem exigir exames para detectar o consumo de drogasentre alunos que participam de atividades extracurriculares241.

Em meio a tudo isso, a questão da invasão ao Iraque foi tomando força e repercussão. Pesquisas apontavam que 72% da população era favorável ao ataque ao Iraque.

Oficiais dos EUA afirmavam que os iraquianos possuíam armas biológicas. Donald Rumsfeld, em vôo mais alto, declarou que o Iraque mantinha um laboratório móvel de armas biológicas e seria praticamente impossível destruí-lo por meio de ataque.242 O Iraque, por sua vez, negava todas as acusações.

A Câmara dos EUA deu carta branca para Bush atacar243 o Iraque e, em ampla maioria, aprovou244 o orçamento militar de defesa em US$ 335, 4 bilhões para o ano fiscal de 2003. Uma alta de 12,6% em relação ao ano anterior.

Foi um ano próspero para Bush, haja vista as vitórias conquistadas no 107º Congresso. No Legislativo, conseguiu “autoridade para atacar o Iraque, mais poderes para negociar

238

Cf. NOVOS planos de segurança dos EUA suavizam críticas, diz jornal. Folha Online, São Paulo, 06 jun. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u42141.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 239

Cf. BUSH anuncia novo Departamento de Segurança Nacional. Folha Online, São Paulo, 06 jun. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u42148.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005. 240

Considerado como um dos avanços mais importante do direito internacional desde o tribunal de Nuremberg, o TPI tem função de investigar e julgar indivíduos acusados das mais graves violações de direito internacional humanitário como, por exemplo, crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou de genocídio. Chefes de Estado, inclusive durante seu mandato, podem ser levados ao TPI. Cf. EUA tentam fugir da ação do Tribunal Penal Internacional. Folha Online, São Paulo, 17 jun. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ folha/reuters/ult112u17281.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005.

241

Cf. ESCOLAS dos EUA poderão exigir exame antidoping. Folha Online, São Paulo, 27 jun. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u17834.shl>. Acesso em: 10 nov. 2005.

242

Cf. IRAQUE tem toneladas de armas químicas, dizem... Folha Online, São Paulo, 02 set. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u44896.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005.

243

Cf. CÂMARA dos Deputados dos EUA dá aval para Bush... Folha Online, São Paulo, 01 nov. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u46254.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005. 244

Cf. CÂMARA dos EUA aprova orçamento militar de US$ 355 bi. Folha Online, São Paulo, 01 nov. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u46279.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005.

acordos comerciais e medidas para melhorar escolas, combater o terrorismo e cortar 1,35 trilhão de dólares em impostos”.245

Shirley Anne Warshaw, do Centro de Estudo da Presidência, dá sua opinião sobre tal êxito: “Bush tinha uma agenda doméstica magra quando assumiu e, por causa do 11/09, conseguiu evitar muitos assuntos domésticos. Ele colocou todas as energias na guerra ao terrorismo e derrubou outras vozes.”246

Outra vitória histórica de Bush naquele ano se deu nas chamadas eleições de 5 de novembro, as eleições de meio247 mandato. Com uma campanha imbatível pautada na segurança e na guerra contra o terrorismo os republicanos recuperaram o controle do Senado, aumentaram a maioria que detinham na Câmara dos Representantes e ganharam o governo em Estados onde a disputa era mais acirrada.248