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2.1 O GOVERNO BUSH

2.1.4 Ano 2003: rumo à reeleição

O ano de 2003 foi definitivamente um período de guerra, tanto no sentido estrito da palavra quanto no campo eleitoral. O ano nem bem havia começado quando Bush, dois dias após o discurso sobre o Estado da União, foi ao encontro de seu aliado Tony Blair para juntos discutirem quais medidas deveriam ser tomadas a respeito do Iraque.249

No mês seguinte, à medida que o caminho da guerra era definido, muitos analistas declaravam discordar da provável decisão de Bush em iniciar a guerra contra o Iraque. Até mesmo os analistas conservadores, ligados ao partido Republicano, como Lawrence Korb250, consideraram um grande equívoco251 atacar o Iraque, pois, segundo ele, a Coréia do Norte, por exemplo, representava um risco muito maior para a segurança dos EUA. Havia menos de

245

CONGRESSO dos EUA encerra mandato marcado... Folha Online., São Paulo, 15 nov. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u23027.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005.

246

Id., loc. cit. 247

As eleições de 5 de novembro, chamadas eleições de meio mandato, destinam-se à escolha da totalidade dos 435 deputados da Câmara, de 34 cadeiras do total de 100 do Senado e de 36 dos 50 governadores de Estado. Cf. BUSH inicia última etapa de sua maratona eleitoral. Folha Online, São Paulo, 02 nov. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u47275.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005. (grifo nosso) 248

Cf. AITH, M. Eleição dá a Bush maioria no Congresso. Folha de S. Paulo, São Paulo, 07 nov. 2002. Caderno Mundo, p. A15.

249

Cf. BUSH, Blair: time running out for Saddam. CNN.com., Washington, 31 Jan. 2003. Disponível em: <http:// www.cnn.com /2003/US/01/31/sprj.irq.bush.blair.topics/>. Acesso em: 20 nov. 2005.

250

Diretor de estudos de segurança nacional do Conselho sobre Relações Internacionais e ex-subsecretário de Defesa do governo Reagan (1981-1988).

251

Cf. EX-ASSESSOR de Reagan critica opção de Bush pelo Iraque. BBC Brasil.com, Nova York, 17 fev. 2003. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2003/030217_angelars.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

duas semanas que o governo norte-coreano252 havia informado que reativaria suas usinas nucleares.

Países do Conselho de Segurança da ONU que têm poder de veto, como a França, Alemanha e Rússia declararam-se contrários à guerra. Disso apenas resultaram farpas trocadas entre os oficiais do governo de ambos os lados, além de tolos boicotes da população aos produtos dos países envolvidos na rivalidade.

Em 14 de fevereiro, Bush lança a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo, uma política que dava seqüência à Estratégia de Segurança Nacional, divulgada em 20 de setembro de 2002, fato que consolidou a chamada Doutrina Bush253. O objetivo principal do conjunto dessas medidas, alegado por John Ashcroft, à época secretário de Justiça dos EUA, era “outorgar às autoridades as ferramentas para ‘identificar, desmantelar e castigar as organizações terroristas antes que possam voltar a atacar’ [...].”254 Do outro lado, entidades de defesa dos direitos civis viam com maus olhos a implementação dessas políticas, visto que o direito dado ao Estado incluía escutas telefônicas, investigação do conteúdo de arquivos de computadores, prisão preventiva a possíveis suspeitos, entre outros.

Embora ainda houvesse uma boa parte do mundo aliada a uma minoria de cidadãos dos EUA que eram contrários à guerra, nada, porém, deteve os EUA de anunciarem o ultimato de 48 horas a Saddam Hussein em 18 de março. Ao lado de Bush havia o que mais lhe interessava naquele ano de campanha eleitoral, o apoio de uma maioria da população.

Em 16 de maio, aproveitando a popularidade em alta, em virtude do comando de guerra, Bush oficializa sua pré-candidatura à reeleição255, para a qual obteve, ao final da campanha, US$ 260 milhões de fundos256, um recorde em cima de sua própria marca de US$ 200 milhões em 2001. No final do mesmo mês, em 22 de maio, o Senado, em quase maioria absoluta (98/1), aprova o projeto de orçamento do Pentágono em US$ 400, 5 bilhões para o

252

Cf. SAIBA mais sobre a crise nuclear da Coréia do Norte. Folha Online, São Paulo, 10 fev. 2005. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u80759.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

253

Conjunto de princípios e métodos implementados pelo governo Bush após os atentados de 11 de setembro. Estratégia inspirada por Paul Wolfowitz, funcionário do Departamento de Estado, que visa proteger os EUA contra o terrorismo, promovendo para isso o combate, mesmo sem a aprovação, das instituições internacionais, e consolidar a hegemonia estadunidense no mundo.

254

SAI pacote de medidas de combate ao terrorismo. Agência Estado, São Paulo, 24 set. 2001. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/set/24/259.htm>. Acesso em: 20 nov. 2005.

255

Cf BUSH oficializa pré-candidatura à reeleição nos EUA. Folha Online, São Paulo, 16 maio 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u56946.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005. 256

Cf. BUSH has cash edge for stretch run. CBS News, Washington, 21 Sept. 2004. Disponível em: <http:// www.cbsnews.com/stories/2004/07/08/politics/main628153.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

próximo ano fiscal257. No dia seguinte, o Congresso aprova o polêmico pacote de redução de impostos de Bush, estimado em US$ 350 bilhões.258 A polêmica ficava por conta de que muitos economistas julgavam que o corte aumentaria muito o déficit público, o que poderia enfraquecer o dólar estadunidense. Outro fato foi que 12 milhões de filhos de famílias carentes − cuja renda anual familiar estivesse entre US$ 10,5 mil e US$ 26,625 mil − perderem o benefício de um crédito de US$ 400 suplementar, dado aos pais por cada criança. Em contrapartida, quase 200 mil empresas que ganhavam mais de um milhão de dólares seriam favorecidas com 90 bilhões em reduções de impostos.259

Em junho, uma das maiores vilãs do governo, a economia, bate à porta trazendo resultados de pesquisas não tão bons. A popularidade que estava em 73% em abril cai para 57%. A maneira que o presidente conduzia a economia foi reprovada por 50% dos entrevistados. Entre a maior preocupação revelada, a economia ganhou do terrorismo e chegou a 61% contra 32%. Mesmo assim, Bush era o favorito para a reeleição com 53% dos votos.260

Sofrendo pequenos protestos apenas em grandes capitais como Los Angeles e New York, Bush seguia sua campanha política e continuava a arrecadar fundos. Porém, há pouco mais de 15 meses de se reeleger, o andamento econômico, as baixas de guerra e a falta de resultados mais expressivos como, por exemplo, a promessa de encontrar Saddam Hussein, estavam surtindo efeitos no declínio da popularidade do presidente.261

O Senado no meio do ano aprova outro grande orçamento por unanimidade. Foram concedidos US$ 368 bilhões para modernizar as instalações militares e aumentar a folha de pagamento do setor em 4,1%.262

Em agosto a popularidade de Bush cai um pouco mais e chega a 56%.263 E os protestos contra o presidente começam a se espalhar pelo território nacional. Em meio a uma

257

Cf. SENADO dos EUA aprova orçamento anual da Defesa de US$ 400 bi. Folha Online, São Paulo, 22 maio 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u57307.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

258

Cf. CONGRESSO aprova corte de impostos de Bush nos EUA. BBC Brasil.com., [S.I], 23 maio 2003. Disponível em: <http://www0.bbc.co.uk/portuguese/economia/030523_bush1dtl.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

259

Cf. REDUÇÕES de impostos nos EUA excluem 12 milhões de crianças. Folha Online, São Paulo, 30 maio 2003. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u57721.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

260

Cf. BUSH perde popularidade e metade dos americanos reprovam... Folha Online, São Paulo, 11 jun. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u68570.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005. 261

Cf. COELHO, L. Baixas no Iraque ameaçam reeleição de Bush, dizem... Folha Online, São Paulo, 11 jul. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u59811.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

262

Cf. SENADO dos EUA aprova US$ 368 bi para Forças Armadas. Folha Online, São Paulo, 18 jul. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u60212.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005.

pesquisa publicada pela revista Newsweek, relatando que 51% da população se opunha à solicitação de fundos feita por Bush para financiar as operações militares no Afeganistão, o governo começa a enviar seus porta-vozes a programas não muito convencionais, mas de grande audiência e simpatia popular. Colin Powell foi ao programa de entrevistas de David Letterman, na CBS, e Condoleezza Rice foi ao programa vespertino de Oprah Winfrey.264

Ainda com fôlego, em novembro, Bush consegue da Câmara a aprovação de seu pedido de US$ 87, 5 bilhões destinados, principalmente, para a reconstrução e ocupação do Iraque. Outra grande conquista foi a sanção da lei, assinada por Bush, que proibia o aborto por ECI265, conhecido como aborto com nascimento parcial.

Foi então que em 15 de dezembro um presente de natal antecipado cai nas mãos de Bush: a captura de Saddam Hussein. Ao povo iraquiano o recado foi o seguinte: “Todos os iraquianos que escolheram o lado da liberdade, escolheram o lado certo.”266 Ao povo dos EUA:

A captura de Saddam Hussein não significa o fim da violência no Iraque. Ainda enfrentamos terroristas que preferem continuar matando pessoas inocentes a aceitar o surgimento da liberdade no coração do Oriente Médio. Estes homens são uma ameaça direta ao povo dos EUA e serão derrotados.267

A resposta ao recado demorou apenas um dia. Uma pesquisa no dia seguinte à prisão de Saddam Hussein revelou um aumento da aprovação de Bush do patamar de 52% a 58%. O resto da história foi contado pelos resultados das urnas que o reelegeram como chefe de Estado estadunidense mais votado da história do país, com 59,1 milhões de votos, quase 3,5 milhões a mais que seu rival, John Kerry, na corrida à Presidência.

263

Cf. POPULARIDADE de Bush cai seis pontos e vai a 56%. Folha Online, São Paulo, 01 ago. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u60937.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005. 264

Cf. CERCA de 2.000 manifestantes recebem Bush com vaias em Oregon. Folha Online, São Paulo, 22 ago. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62057.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005. Cf. PROTESTO contra Bush reúne centenas de pessoas... Folha Online, São Paulo, 21 ago. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u32235.shtml>. Acesso em: 20 nov. 2005. 265

Um procedimento médico chamado aborto por dilatação e extração, ou aborto por ECI (esvaziamento craniano intra-uterino). Bill Clinton havia vetado duas iniciativas similares por entender que tal prática não abria exceções que protegessem a saúde da mãe.

266

EMBAIXADA DOS EUA. Bush diz “período de escuridão e dor” do Iraque terminou. Disponível em: <http://www.embaixadaamericana.org.br/iraq/? action=artigo&idartigo=1166>. Acesso em: 22 nov. 2005. 267