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Discurso de Posse em 20 de janeiro de 2001

2.2 APRESENTAÇÃO DE EXCERTOS DE DISCURSOS DE GEORGE W BUSH

2.2.3 Um ciclo, o mesmo discurso

2.2.3.1 Discurso de Posse em 20 de janeiro de 2001

“Presidente Clinton, ilustres convidados e meus concidadãos, a transferência pacífica de autoridade é rara na história, porém comum em nosso país. Com um simples juramento, nós ratificamos antigas tradições e estabelecemos novos começos.”293

Bush, nesse inaugural address, fazendo jus à denotação latina da palavra inaugural, trata de inaugurar um ciclo de uma série de discursos políticos que trariam um eco religioso ao seu fundo.294

A escolha dos adjetivos spirit e grace utilizados para agradecer a conduta de seu oponente, Al Gore, durante a campanha eleitoral já esboçava indícios de um devir retórico peculiar: “E agradeço ao Vice-Presidente Gore pela competição conduzida com vigor e finalizada com elegância.”295

Em seguida Bush resgata a história dos EUA e fala de uma promessa e um chamado:

[...] uma história de uma sociedade escravocrata que se tornou serva da liberdade, a história de uma força que veio ao mundo para proteger, mas não para possuir, para defender, mas não para conquistar.

É a história da América − uma história de pessoas imperfeitas e falíveis, unidas por gerações por meio de ideais grandiosos e resistentes.

A maior grandiosidade desses ideais é uma promessa americana reveladora

293

Todas as citações desta seção pertencem à mesma fonte. Cf. THE WHITE HOUSE. President George W. Bush’s inaugural address. Disponível em:<http://www.whitehouse.gov/news/inaugural-address.html >. Acesso em: 02 dez. 2005. (As traduções desta seção são nossas.)

294

Discurso de posse. 295

Por uma questão de fluência contextual, preferimos traduzir, respectivamente, as palavras spirit e grace por “vigor” e “elegância”; porém, a denotação e origem religiosas de ambas são explícitas.

de que todos têm seu lugar, que todos merecem uma chance, que jamais nasceu uma pessoa insignificante.

Os americanos foram chamados para decretar essa promessa em nossas vidas e em nossas leis. E, embora nossa nação tenha hesitado e, às vezes, tardado, não devemos seguir outro, senão esse curso.

Em tom poético, a fé dos EUA é disseminada:

Por muito tempo no século passado, a fé americana na liberdade e na democracia era uma rocha em meio a um mar revolto. Agora é uma semente ao vento, fincando raízes em muitas nações.

A democracia ganha conotações de fé, tornando-se um credo que ultrapassa as fronteiras do país:

Nossa fé democrática é mais do que o credo de nosso país, é a esperança nata de nossa humanidade, um ideal que carregamos, mas não somos donos, uma responsabilidade que assumimos e passamos adiante. E, mesmo após quase 225 anos, ainda temos um longo caminho a percorrer.

Faz outra promessa, mas agora conta com uma força maior: “E esse é meu compromisso solene: trabalharei para construir uma única nação de justiça e oportunidade. Sei que isso está ao nosso alcance porque somos guiados por uma força maior do que nós próprios que nos criou a Sua imagem.” Dando continuidade ao assunto, salienta os laços que unem seu povo: “A América nunca se uniu pelo sangue, pelo nascimento ou pelo solo. Estamos atados por ideais que nos movem para além das nossas origens, colocam-nos acima de nossos interesses e nos ensinam o que significa ser cidadãos.”

Bush ratifica um compromisso em relação à promessa de seu país: “Hoje, ratificamos um novo compromisso de levar a promessa de nossa nação até o fim de nossas vidas por meio da civilidade, da compaixão e do caráter. [...] Uma sociedade civil exige boa vontade e respeito, conduta justa e perdão.” Por extensão ao assunto, mostra que não há saída: “Se nosso país não liderar a causa da liberdade, ela não será liderada.” Reforçando, lembra: “Devemos viver de acordo com o chamado que nos envolve.”

Aos inimigos, um alerta: “Os inimigos da liberdade e de nosso país não devem se equivocar: A América continua comprometida no mundo pela história e por escolha, dando forma a um equilíbrio de poder que favorece a liberdade.” Os atributos da nação também são lembrados: “A América, no seu melhor, é compassiva.”296 E Deus é mencionado novamente:

296

“E a despeito de nossas opiniões sobre a causa, conseguimos concordar que crianças expostas ao risco não têm culpa. Abandono e abuso não são atos de Deus, são falta de amor.”

Um prenúncio sobre as entidades religiosas:

E algumas necessidades e danos são tão profundos que só encontrarão resposta no contato com o mentor ou na oração do pastor. A Igreja e as instituições de caridade, as sinagogas e as mesquitas emprestam humanidade a nossa comunidade, e elas terão um lugar honrado em nossos planos e em nossas leis.

Em seguida, deixa uma mensagem: “E posso prometer a nossa nação uma meta: ‘Quando virmos aquele viajante ferido no caminho para Jericó, não desviaremos para o outro lado’.”297 Com isso, chama a atenção da responsabilidade individual de cada cidadão para com a nação e fala de compromissos, apelos298 à consciência, sacrifício, completude de vida, laços familiares e atos de decência.

A questão do chamado volta e, omitindo o nome, um santo é citado: “Às vezes somos chamados para fazer grandes feitos na vida. Porém, como um santo de nossos dias disse, somos chamados todos os dias para fazer coisas pequenas com grande amor. As incumbências mais importantes de uma democracia são feitas por todos.”

Alegando defender o interesse público com coragem, justiça e compaixão, convoca os cidadãos a servir a nação começando pela pessoa ao lado, pois “os americanos são generosos, fortes e decentes, não somente porque acreditamos em nós próprios, mas porque defendemos crenças além de nós próprios”.

Para finalizar, relembra os antepassados:

Após a assinatura da Declaração da Independência, o estadista John Page escreveu a Thomas Jefferson: ‘Sabe-se que a contenda não é dos céleres, nem a luta dos fortes. Achais que um anjo cavalga o redemoinho e comanda essa tempestade?’299

Esse trabalho continua. Essa história continua. E um anjo ainda anda no furacão e direciona a tempestade.

Deus abençoe vocês todos, e Deus abençoe a América.

297

Essa referência a Jericó está na parábola do Bom Samaritano, em Lucas 10:30-37 298

Call no inglês, o que dá a denotação de um chamado. 299