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Acesso a bens de consumo duráveis

PERFIL DAS FAMÍLIAS, RESULTADOS E IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA

3 PERFIL DA POBREZA

3.7 Acesso a bens de consumo duráveis

O acesso a bens de consumo duráveis é uma dimensão do bem-estar que depende mais da renda das famílias que de políticas públicas. Na tabela 11, são exibidos os percentuais relativos a dois conjuntos de bens que, na ausência de restrições orçamentárias, todas as famílias pre- sumivelmente optariam por ter: o básico engloba fogão com duas bocas ou mais, geladeira, telefone (fixo ou celular), rádio e televisão em cores; o completo acrescenta máquina de lavar roupas e computador com internet ao básico.

No caso do conjunto básico, o avanço foi rápido, com convergência entre estratos. A carência dos mais pobres em 2003 diminuiu sensivelmente, enfraquecendo a até então forte correlação entre renda e acesso. Ainda há evidente espaço para melhora, na medida em que um quarto da população sequer conta com esse conjunto de eletrodomésticos mais importantes.

O acesso ao conjunto completo progrediu mais lentamente. Pobres, extremamente pobres e até os vulneráveis continuam virtualmente excluídos, e apenas pouco mais de 40% das famílias não pobres usufruem desses bens. Tamanha demanda reprimida ilustra bem as dificuldades de aplicar padrões de vida típicos de países desenvolvidos à realidade brasileira.

TABELA 11

Indicadores de acesso das famílias a bens de consumo duráveis por estratos de renda – Brasil (2003 e 2011)

(Em %)

Estratos de renda Conjunto básico de bens Conjunto completo de bens

2003 2011 2003 2011 Extremamente pobres 9,1 38,5 0,1 1,7 Pobres 21,0 51,7 0,2 2,2 Vulneráveis 49,9 69,0 2,0 12,2 Não pobres 84,3 83,7 25,6 42,4 Total 55,1 74,6 9,2 26,1 Fonte: PNAD/IBGE. 5 CONCLUSÕES

Os avanços sociais do Brasil na última década são inegáveis. Os índices de pobreza e extrema pobreza caíram rapidamente e o perfil destes estratos mudou bastante, quase sempre para melhor. Pode-se discutir se o progresso foi tão intenso quanto poderia ter sido, mas não restam dúvidas de que a situação dos mais pobres melhorou. Entre 2003 e 2011, a pobreza e a extrema pobreza somadas caíram de 23,9% para 9,6% da população.

Além de descrever detalhadamente todas essas mudanças, os resultados do perfil da pobreza podem ser resumidos em cinco pontos gerais, de caráter mais ou menos especulativo.

Primeiro, é factível almejar erradicação – isto é, na redução a níveis residuais – tanto da extrema pobreza quanto da pobreza se o bom desempenho dos últimos anos for mantido ou

aprimorado. Para isto, será preciso melhorar as condições de vida dos pequenos municípios das regiões Norte e Nordeste, que concentram percentuais cada vez maiores dos pobres e pobres extremos no Brasil. Em 2011, cerca de dois terços dos extremamente pobres e metade dos pobres viviam nesses municípios, que representavam apenas 19,1% da população do país. Segundo, a estratégia de inclusão via crescimento econômico e expansão do assalaria- mento parece ter entrado em uma fase de retornos marginais decrescentes. Os resultados su- gerem que quem tinha vínculos mais ou menos sólidos – mesmo informais – com o mercado de trabalho conseguiu se beneficiar do bom momento registrado nos últimos anos. Ganhar um salário mínimo virou praticamente um seguro contra a pobreza extrema. Ficaram para trás as famílias com os vínculos mais precários ou inexistentes. Não à toa, a participação do trabalho na renda dos extremamente pobres caiu de 75,6% para 33,2%, e o percentual de inativos, desocupados e não remunerados na PIA deste estrato pulou de 60,3% para 81,9%. Terceiro, dadas essas dificuldades de inserção no mercado de trabalho, pelo menos no curto prazo, as políticas de transferência de renda aparecem como a melhor opção para o com- bate à miséria em função de sua excelente focalização. O Programa Bolsa Família já cumpria este papel pelo menos em parte, tornando-se, em 2011, a principal fonte de rendimentos dos extremamente pobres. Naquele momento, sua efetividade só era limitada pelos baixos valores transferidos e pela existência de um pequeno número de famílias elegíveis fora do programa. O redesenho do programa, desde então, possivelmente sanou ou minimizou estes problemas, mas ainda não há dados disponíveis para avaliar com precisão.

Quarto, os estratos de renda tornaram-se mais homogêneos tanto na escolaridade quanto em outras dimensões socioeconômicas importantes. As diferenças na composição familiar, por exemplo, perderam quase toda sua relevância. O tamanho médio das famílias mais pobres diminuiu fortemente, a ponto de domicílios sem crianças passarem a ser mais comuns entre os extremamente pobres que domicílios com quatro crianças ou mais. A explicação da pobreza pelo suposto excesso de filhos dos mais pobres passou a ser ainda mais implausível. Os estratos também ficaram mais parecidos entre si no que diz respeito à cor da pessoa de referência e ao acesso a serviços públicos e infraestrutura e a bens de consumo duráveis, embora persistam desigualdades significativas nestes casos.

Em alguns desses casos – como na educação, cor e composição familiar –, e também em outros que não apresentaram mudanças relevantes – como a idade e o sexo da pessoa de referência –, os estratos mais baixos passara a ser quase indistinguíveis, o que impõe dois desafios. Por um lado, é preciso entender melhor por que pobres e pobres extremos são tão semelhantes nestas características, mas contrastantes em outras, como inserção no mercado de trabalho e acesso à infraestrutura e bens. É possível que a volatilidade de renda ou a dis- tribuição espacial dos estratos sejam elementos explicativos importantes, mas isto precisa ser mais bem investigado. Por outro lado, há o problema da focalização das políticas públicas nos mais pobres. Dado o custo de coletar informações mais detalhadas e a crescente incapacidade de discriminar entre pobres e pobres extremos com base nos indicadores tradicionais, o trade-off

entre erros de inclusão e erros de exclusão se torna mais agudo. Se a prioridade for o fim da miséria, parece mais razoável aceitar explicitamente supostos erros de inclusão e investir em programas com cobertura ampliada.

Quinto, o acesso à infraestrutura avançou em ritmo abaixo do esperado, pelo menos se comparado a outras dimensões, como o acesso a bens de consumo duráveis. A universalização do acesso à energia elétrica foi uma grande conquista; já a oferta de outros serviços básicos – rede geral de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo – continua aquém do desejado. A falta de acesso aflige os mais pobres com mais intensidade, mas não é uma carência exclusiva deles.

REFERÊNCIAS

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PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA BOLSA

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