• Nenhum resultado encontrado

TAXAS DE RENDIMENTO E MOVIMENTO ESCOLAR – ESTUDANTES DO PBF E DEMAIS ALUNOS DA REDE PÚBLICA

Parte II do Contrato Organizativo de Ação Pública Brasília, 2012b Atenção ao pré-natal de baixo risco Brasília, 2012c.

3 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E A EDUCAÇÃO BÁSICA

4 TAXAS DE RENDIMENTO E MOVIMENTO ESCOLAR – ESTUDANTES DO PBF E DEMAIS ALUNOS DA REDE PÚBLICA

O principal objetivo da condicionalidade de educação é apoiar a inclusão, permanência e progressão escolar de crianças de famílias em situação de pobreza ou de extrema pobreza. A condicionalidade de educação representa, portanto, um farol de alerta, um ponto de moni- toramento para a gestão pública, para se equalizar em uma linha positiva as trajetórias escolares de todas as crianças e adolescentes, independentemente de sua condição socioeconômica.

Portanto, a contribuição da condicionalidade de educação do Programa Bolsa Família é chamar a atenção de toda a sociedade brasileira e do poder público sobre a importância de se apoiar a trajetória escolar das crianças e adolescentes acompanhados de famílias em situação

de pobreza. Contribuição esta que se remete ao cerne da questão da desigualdade educacional no Brasil, no seu aspecto básico: o de entrar na escola e não evadir.

Os desafios brasileiros na área da educação são variados, e englobam, por exemplo, ques- tões curriculares, de aprendizagem, o que e como devem ser integradas diversas disciplinas e conteúdos, tecnologias educacionais, infraestrutura escolar, formação do professor, valoriza- ção da carreira docente, entre outros aspectos. Porém, uma questão basilar ainda permanece premente, como um desafio a ser enfrentado no Brasil: o desafio da inclusão, permanência e progressão escolar.

Ao tempo em que, recentemente, quase se conseguiu universalizar o acesso de crianças ao ensino fundamental, ainda se está distante de alcançar a universalização da conclusão do ensino fundamental na idade correta, ou pelo menos próxima a esta idade.

Pela PNAD 2011, observando-se todos os adolescentes de 16 anos de idade com ensi-

no fundamental completo, em uma idade até mesmo um pouco superior à expectativa de

conclusão deste nível de ensino, que é de 14 anos, percebem-se resultados ainda muito preocupantes. O resultado nacional é de 63%, portanto, um índice baixo. Menor ainda é o resultado ao se observar o conjunto de jovens de 16 anos com ensino fundamental com- pleto, do grupo dos 20% mais pobres (perfil do estudante de família PBF), que cai para 43%, metade do alcançado pelo grupo dos 20% mais ricos. Ou seja, menos da metade dos jovens de 16 anos, de famílias em situação de pobreza, conseguem terminar o ensino fun- damental até esta idade. Portanto, o desafio do acesso, permanência e conclusão no ensino fundamental ainda é relevante.

Considerando, contudo, que em 2001 a porcentagem de jovens de 16 anos de idade com

ensino fundamental completo era de 44%, e para o grupo dos 20% mais pobres era ainda pior,

qual seja, 17,4%, é importante destacar que houve uma melhoria significativa nos últimos dez anos. As políticas de inclusão educacional e social foram decisivas para esta melhoria, em cujo contexto deve ser destacado o papel de relevância que desempenhou a gestão de con- dicionalidade de educação do PBF, que, desde o seu início, abarcou mais de 12 milhões de estudantes acompanhados bimestralmente, e atualmente atinge cerca de 17 milhões.

A comparação entre os estudantes de famílias do PBF com os demais da rede pública, quanto ao total de estudantes com até 15 anos concluintes do ensino fundamental regular, aponta resultados em 2012 que sinalizam uma adequação da trajetória escolar. Embora o resultado nacional seja um pouco inferior dos estudantes do PBF frente aos demais estudantes da rede pública (75,6% contra 79,4%), nas regiões mais pobres do Brasil, com maior concentração do Bolsa Família, os resultados são favoráveis aos estudantes do PBF. Destaque para os resultados na região Nordeste, onde 71,3% dos estudantes do Bolsa Família conseguem terminar o ensi- no fundamental até os 15 anos, contra 64% dos demais estudantes da rede pública (tabela 1).

TABELA 1

Número de concluintes do ensino fundamental regular na rede pública de ensino, por idade – Brasil e regiões (2012)

Regiões geográficas

Alunos do Programa Bolsa Família Demais alunos

Total Até 15 anos % 16 anos ou mais % Total Até 15 anos % 16 anos ou mais % Brasil 798.187 603.118 75,6 195.069 24,4 1.351.166 1.073.319 79,4 277.847 20,6 Norte 91.552 61.859 67,6 29.693 32,4 108.352 70.863 65,4 37.489 34,6 Nordeste 329.007 234.646 71,3 94.361 28,7 247.785 158.542 64,0 89.243 36,0 Sudeste 250.020 205.972 82,4 44.048 17,6 632.275 544.065 86,0 88.210 14,0 Sul 74.397 58.666 78,9 15.731 21,1 254.255 214.631 84,4 39.624 15,6 Centro-Oeste 53.211 41.975 78,9 11.236 21,1 108.499 85.218 78,5 23.281 21,5 Fonte: Censo Escolar 2012 (INEP, 2012) e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Por outro lado, também é preciso verificar o resultado quanto à conclusão do ensino mé- dio, etapa final da educação básica. Ao observar todos os jovens de 19 anos de idade com ensino

médio completo na PNAD 2011, acentuamos o problema e o desafio. O resultado nacional é

da ordem de 49%. Para o grupo dos 20% mais pobres, o resultado é de 29%, bem menos que para os 20% mais ricos, que é de 78%.

Destaca-se, então, que o desafio da conclusão da educação básica (ensino fundamental e médio) na idade correta, ou próximo, a toda essa geração de crianças, adolescentes e jovens ainda é relevante no Brasil.

Observando-se especificamente o grupo de estudantes de famílias do PBF, acompanha- dos pelas condicionalidades, percebe-se, conforme os resultados apresentados a seguir, que existe um ajuste na trajetória escolar no decorrer do tempo, à medida que estes estudantes abandonam menos a escola e conseguem melhores taxas de aprovação. Como consequência, os resultados são bem destacados no nível do ensino médio para o conjunto dos estudantes do PBF, comparados com os demais da rede pública.

Para melhor entender os resultados de comparação no ensino médio, é necessário con- siderar os resultados no ensino fundamental, tanto nos anos iniciais (do primeiro ao quinto ano), como nos anos finais (do quinto ao nono ano). Aqui são analisadas as taxas de abandono e taxas de aprovação escolar.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, a taxa de abandono escolar é menor para os estudantes do PBF, em comparação com os demais da rede pública (1,5% contra 1,8%), com grande diferença positiva para os estudantes do PBF nas regiões Norte e Nordeste (tabela 2).

TABELA 2

Comparação das taxas de abandono escolar entre os alunos do PBF e demais alunos no ensino fundamental da rede pública de ensino – Brasil e regiões (2012)

(Em %)

Taxa de abandono

Ensino fundamental – anos iniciais Ensino fundamental – anos finais Alunos do PBF Demais alunos Alunos do PBF Demais alunos

Brasil 1,5 1,8 4,4 4,8 Norte 2,2 4,6 5,3 8,3 Nordeste 2,2 4,5 5,9 10,4 Sudeste 0,5 0,6 2,7 2,5 Sul 0,4 0,3 3,2 2,6 Centro-Oeste 0,7 0,9 3,5 4,6

Fonte: Censo escolar 2012 (INEP, 2012) e MDS.

Nos anos finais do ensino fundamental, a taxa de abandono escolar continua sendo menor para os estudantes do PBF, em comparação com os demais da rede pública (4,4% contra 4,8%), com grande diferença também positiva para os estudantes do PBF nas regiões Norte e Nordeste, conforme mostra a tabela 2.

Os resultados elencados quanto às taxas de abandono no ensino fundamental sinalizam um esforço de inclusão e permanência na escola dos estudantes do PBF. Quanto aos resulta- dos relacionados às taxas de aprovação, percebe-se uma maior dificuldade dos estudantes de famílias em situação de pobreza, em especial nos anos iniciais, que se atenua à medida que se progride no percurso da educação básica (anos finais e ensino médio).

Nos anos iniciais do ensino fundamental, a taxa de aprovação dos estudantes do PBF é 7,1 pontos percentuais (p.p.) menor que a média nacional dos demais estudantes da rede pública. Ao avançar na frequência à escola, no percurso escolar do estudante em direção aos

anos finais do ensino fundamental, esta diferença cai para menos da metade, ou seja, 3 p.p.

Cotejando as taxas de aprovação dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, enquanto marcos temporais da trajetória escolar, nota-se a importância do acompanhamento e indução da permanência na escola para efeitos de aprendizagem (considerando-se taxas de aprovação) de estudantes de famílias em situação de pobreza, tradicionalmente, no Brasil, os mais exclu- ídos do processo de escolarização.

Embora, na média nacional dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, os resulta- dos das taxas de aprovação sejam piores para os estudantes do PBF, verifica-se que, nos anos finais, o resultado se inverte a favor dos estudantes do PBF nas regiões Norte e Nordeste, inclusive com pouco mais de 3 p.p. de diferença na região Nordeste. Nos anos finais do ensino

fundamental, os estudantes do PBF das regiões Norte e Nordeste conseguem melhores taxas

de aprovação que os demais estudantes da rede pública (tabela 3). A partir dos anos finais do ensino fundamental, há uma tendência positiva de aprovação dos estudantes do PBF, que se consolida no ensino médio.

TABELA 3

Comparação das taxas de aprovação escolar entre os alunos do PBF e demais alunos no ensino fundamental da rede pública de ensino – Brasil e regiões (2012)

(Em %)

Taxa de aprovação

Ensino fundamental – anos iniciais Ensino fundamental – anos finais Alunos do PBF Demais alunos Alunos do PBF Demais alunos

Brasil 88,7 95,8 80,8 83,8 Norte 86,3 92,0 81,1 79,2 Nordeste 86,4 91,4 77,7 74,5 Sudeste 92,6 97,8 85,3 88,6 Sul 90,5 98,4 76,9 84,3 Centro-Oeste 90,8 95,7 84,3 85,2

Fonte: Censo escolar 2012 (INEP, 2012) e MDS.

No ensino médio, os resultados são significativamente melhores para os estudantes do PBF tanto nas taxas de abandono quanto nas taxas de aprovação escolar, não somente nas regiões brasileiras mais pobres, Norte e Nordeste, mas também nos resultados nacionais.

Quanto aos resultados nacionais no ensino médio, a taxa de abandono escolar é 3,9 p.p. menor para os estudantes do PBF contra os demais da rede pública (7,4% contra 11,3%). No que se refere às taxas de aprovação, o resultado é 4,2 p.p. melhor para os estudantes do PBF contra os demais da rede pública (79,7% contra 75,5%). Aproximadamente 2 milhões de estudantes de famílias pertencentes ao PBF, até 18 anos de idade (idade limite acompanhada pela condicionalidade de educação), cursam o ensino médio.1

Em todas as regiões brasileiras, a taxa de abandono no ensino médio é menor para os es- tudantes do PBF, em comparação com os demais da rede pública. Particularmente nas regiões

Nordeste e Norte os resultados são bem melhores. Observa-se que a taxa de abandono escolar é

menos que a metade para os estudantes do PBF em comparação com os demais estudantes da rede pública (7,7% contra 17,5%) na região Nordeste, e muito próxima à metade na região Norte (8,7% contra 17,1%), conforme a tabela 4.

Quanto às taxas nacionais de aprovação no ensino médio, vimos que são superiores em 4,2 p.p. entre os estudantes do PBF frente aos demais da rede pública. Os resultados são melhores para os estudantes do PBF em três regiões – Nordeste, Norte e Centro-Oeste –, praticamente empatado na região Sudeste, e inferior aos estudantes do PBF na região Sul. Na região Nordeste a taxa de aprovação no ensino médio é superior a 10 p.p. a favor dos estudantes do PBF contra os demais da rede pública.

TABELA 4

Comparação das taxas de abandono escolar entre os alunos do PBF e demais alunos do ensino médio da rede pública de ensino – Brasil e regiões (2012)

(Em %)

Ensino médio

Taxa de abandono Taxa de aprovação

Alunos do PBF Demais alunos Alunos do PBF Demais alunos

Brasil 7,4 11,3 79,7 75,5 Norte 8,7 17,1 79,8 71,1 Nordeste 7,7 17,5 82,6 72,0 Sudeste 6,3 7,5 78,4 78,5 Sul 8,4 9,0 73,2 76,9 Centro-Oeste 7,9 11,4 75,0 72,8

Fonte: Censo escolar 2012 (INEP, 2012) e MDS.

O efeito da condicionalidade de educação do Bolsa Família contribui de forma relevante naquilo que é sua característica fundamental, qual seja, apoiar a permanência na escola dos estudantes de famílias em situação de pobreza. Tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do ensino fundamental, bem como no ensino médio, os resultados são melhores para os estu- dantes do PBF frente aos demais da rede pública quanto ao abandono escolar.

As regras da condicionalidade de educação do PBF exigem frequência escolar de 85% para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, e de 75% de jovens de 16 e 17 anos. Ao contribuir para a redução do abandono escolar, associado a exigências elevadas de frequência à escola (no caso do grupo de 6 a 15 anos, superior às regras estabelecidas pela LDB),2 o monitoramento

da condicionalidade de educação favorece um maior tempo de exposição à aprendizagem dos estudantes acompanhados. A permanência na escola (formação de um “hábito escolar”) e a regularidade elevada de frequência às aulas contribuem para reduzir a diferença nas taxas de

aprovação dos estudantes do PBF contra os demais da rede pública no ensino fundamental.

Viu-se que, nos anos iniciais do ensino fundamental, a diferença contra os estudantes do PBF é de 7,1 p.p., e cai para 3 p.p. nos anos finais. Já no ensino médio, a taxa de aprovação se inverte a favor dos estudantes do PBF em 4,2 p.p.

Concluindo, as taxas de abandono escolar são menores para os estudantes do PBF contra os demais da rede pública nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, bem como (e especialmente) no ensino médio. Quanto às taxas de aprovação, os resultados melhoram progressivamente para os estudantes do PBF ao se considerar a passagem dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental e, especialmente no ensino médio, acontece a virada do resultado a favor dos estudantes do PBF contra os demais da rede pública.

2. Lei no 9.394/1996, Art. 24, inciso VI: A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras

comuns: VI – o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação.

Esses resultados se sustentam em uma grande operação de gestão de condicionalidades em todos os municípios brasileiros, bimestralmente. A cada bimestre, cerca de 170 mil esco- las, e o conjunto geral de diretores, professores das escolas, como também gestores e técni- cos municipais, são orientados para a devolutiva de informações sobre frequência escolar no Sistema Presença de aproximadamente 17 milhões de estudantes de famílias em situação de pobreza, pertencentes ao Bolsa Família.

Além disso, para as famílias que descumprem as condicionalidades de educação, estabe- lece-se um canal de diálogo e de apoio do poder público via mecanismos de efeitos no benefí- cio (advertência, bloqueio, suspensão e, em casos extremos, cancelamento). Assim, as famílias são constantemente alertadas e orientadas, por mensagens no extrato e envio de cartas, para a importância do acompanhamento da frequência à escola de suas crianças e adolescentes. Para as famílias que apresentam casos reiterados de descumprimento de condicionalidades, a rede de assistência social é acionada para apoiá-las no enfrentamento de situações de vulnerabili- dade e risco social.

Outline

Documentos relacionados