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2 DEFINIÇÕES 2.1 Bancos de dados

PERFIL DAS FAMÍLIAS, RESULTADOS E IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA

2 DEFINIÇÕES 2.1 Bancos de dados

Todos os dados citados neste texto são provenientes das edições de 2003 e 2011 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram excluídos os pensionistas, empregados domésticos residentes e afins; mora- dores de domicílios particulares improvisados ou domicílios coletivos; moradores das áreas rurais da região Norte (exceto Tocantins), que só foram incorporados à PNAD a partir de 2004; e moradores de domicílios com renda ignorada, isto é, domicílios em que pelo menos um morador não soube ou não quis informar seus rendimentos.

Os três primeiros filtros implicam na eliminação de um pequeno número de famílias. O último é mais significativo: em 2003, cerca de 2,0% da população vivia em domicílios com renda ignorada; em 2011, já eram 5,0%. Felizmente, como mostra Souza (2013), este aumento não introduz viés na série histórica da PNAD quando se compara apenas os domi- cílios com rendimentos válidos. De todo modo, as análises deste perfil se restringem aos números relativos, evitando sempre os valores absolutos obtidos nas PNADs.

Ao longo do texto, “domicílios” e “famílias” são utilizados de modo intercambiável para caracterizar os grupos domésticos.

2.2 Tratamento dos domicílios com renda domiciliar per capita igual a zero

As PNADs ‒ bem como os censos demográficos ‒ superestimam o número de famílias com renda igual a zero, provavelmente em função do curto período de referência para captação da renda. Com isto, parte das famílias nesta situação apresenta perfil incompatível com a ausência de renda, com a presença de bens de consumo e características individuais que sugerem rendas permanentes muito mais elevadas (Osorio, Soares e Souza, 2011; Souza, Osorio e Soares, 2011).

Para contornar esse problema, seguiu-se uma estratégia em duas partes: i) identificação, via análise de conglomerados, dos domicílios com renda zero e perfil incompatível com a extrema pobreza; ii) imputação, usando-se o método hot deck, de rendimentos para estes domicílios.

A análise de conglomerados deu-se a partir de seis variáveis: quatro binárias (Norte/ Nordeste; e famílias cuja pessoa de referência era da cor branca, do sexo masculino e possuía pelo menos o ensino médio completo); e duas sintéticas (os índices de infraestrutura do domicílio e de acesso a bens de consumo). Os dois índices foram construídos a partir de aná- lises de componentes principais e foram calibrados para ter, em cada ano, média igual a zero e desvio-padrão igual a um. O índice de infraestrutura usa informações sobre características físicas do domicílio, densidade e acesso a serviços públicos (água, esgoto, coleta de lixo, eletri- cidade). O índice de acesso a bens de consumo foi construído a partir da presença ou não de fogão, geladeira, rádio, televisão, telefone, máquina de lavar, computador e internet.

A tabela 1 apresenta as estatísticas de cada um dos dois grupos de famílias com renda igual a zero: o grupo com perfil compatível com renda zero e o com perfil incompatível. Ambos são muito distintos: o segundo está sempre próximo das médias nacionais, enquanto o primeiro grupo apresenta características muito mais associadas com a extrema pobreza. Tanto em 2003 quanto em 2011, os domicílios com perfil incompatível com a ausência de renda equivalem a cerca de 80,0% do total de domicílios com renda zero.

TABELA 1

Resultados da análise de conglomerados para famílias com renda zero – Brasil (2003 e 2011)

Ano Grupos População (%)

Famílias Norte ou

Nordeste (%)

Pessoa de referência (%) Índices

Cor branca Homem Ensino médio Infraestrutura Acesso a bens

2003

Perfil renda zero 0,2 61,8 23,3 74,2 1,3 -1,8 -1,8

Perfil incompatível 0,9 21,1 46,6 69,1 18,1 0,3 -0,3

Média Nacional 100,0 31,2 53,8 74,0 24,8 0,0 0,0

2011

Perfil renda zero 0,2 68,3 24,0 72,8 6,9 -1,3 -2,1

Perfil incompatível 0,8 30,5 51,2 48,8 41,8 0,5 -0,1

Média Nacional 100,0 32,4 48,7 63,5 35,5 0,0 0,0

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para evitar que esses domicílios com perfil incompatível distorçam os resultados para os extremamente pobres, foi preciso realizar a imputação de rendimentos via hot deck: todos os domicílios brasileiros foram classificados em estratos mutuamente excludentes e, para cada domicílio com renda zero e perfil incompatível, foi sorteada a renda per capita de um domicílio aleatório do mesmo estrato que tivesse renda maior que zero. A renda imputada foi atribuída à fonte “outros rendimentos”.

Os estratos para o hot deck foram construídos a partir da combinação de quatro variáveis: Unidade da Federação, educação da pessoa de referência (sem educação; 4a série comple-

ta; fundamental completo; médio completo; superior completo), índice de infraestrutura (quintos) e índice de acesso a bens (quintos).

2.3 Renda domiciliar per capita: estratos e composição

A renda domiciliar per capita é a soma de todos os rendimentos dos moradores de um domicílio dividida pelo número de moradores. Para comparar as duas PNADs, os rendimentos em 2003 foram deflacionados para 2011 seguindo a sugestão de Corseuil e Foguel (2002).

Foram definidos quatro estratos de renda: extremamente pobres, pobres, vulneráveis e não pobres. Os dois primeiros estratos replicam as linhas utilizadas pelo Plano Brasil Sem Miséria (BSM) e pelo Programa Bolsa Família (PBF) em 2011: os extremamente pobres são aqueles com renda domiciliar per capita inferior a R$ 70,00 e os pobres são aqueles com renda maior ou igual a R$ 70,00 e inferior a R$ 140,00. A vulnerabilidade foi definida com relação à linha de pobreza, englobando famílias com renda per capita maior ou igual a R$ 140,00 e menor que R$ 560,00, valor igual a quatro vezes a linha de pobreza e apenas um pouco superior ao salário mínimo em vigor em 2011 (R$ 545,00). Os não pobres têm renda per capita maior ou igual a R$ 560,00.

Os rendimentos foram agregados em cinco fontes principais: trabalho; Previdência Social; Benefício de Prestação Continuada (BPC); Programa Bolsa Família (PBF); e outras rendas. Os rendimentos do trabalho e da Previdência foram posteriormente desagregados por faixas de salários mínimos correntes. O BPC e o PBF foram identificados a partir da variação do método dos valores típicos usada por Souza, Osorio e Soares (2011). Nenhum ajuste foi feito para compatibilizar o número de famílias beneficiárias com os registros administrativos.

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