• Nenhum resultado encontrado

3 SUAS, CADÚNICO E PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

O modelo de proteção social adotado no Brasil tem buscado, ao longo da última década, integrar acesso à transferência de renda e benefícios com a inclusão em serviços. O acesso à renda é reconhecido como um direito socioassistencial destinado a afiançar condições básicas de sobrevivência, indissociável do trabalho social voltado ao atendimento das vulnerabilida- des e riscos sociais. Para além da renda, este modelo tem buscado identificar e atuar na inte- gralidade das demandas das famílias beneficiárias do PBF e de benefícios socioassistenciais como uma estratégia para a superação da situação de pobreza e melhoria de suas condições de vida. Evidencia, portanto, a adoção de uma concepção que considera o risco pobreza no campo da Seguridade Social, em relação à qual o Estado deve prover a proteção social e consi- derar a integralidade das demandas e necessidades das famílias, disponibilizando uma rede de atendimento com o objetivo de fortalecer seus vínculos e relações familiares e comunitárias e ampliar o acesso a serviços, direitos e oportunidades.

Apesar de recente, a implantação do Suas atingiu, em poucos anos, resultados e uma ca- pilaridade que supera o observado em outras políticas sociais, sendo que, em junho de 2013, 99,7% dos municípios brasileiros já estavam habilitados na gestão do sistema. A estruturação do Suas tem sido fundamental para assegurar a gestão descentralizada do CadÚnico e do PBF e o atendimento das famílias nos serviços e programas socioassistenciais. A rede socioassisten- cial tem desempenhado, ainda, um papel central na busca ativa das famílias, quer seja daque- las ainda não inseridas no CadÚnico, quer seja daquelas que já acessam o PBF e demandam atendimento prioritário em razão da situação de vulnerabilidade vivenciada.

Em uma relação indissociável e de complementariedade, deve-se reconhecer, igualmen- te, o papel desempenhado pelo PBF para o trabalho no Suas, garantindo a segurança de renda às famílias atendidas. Além disso, com a gestão do CadÚnico operacionalizada pelas secreta- rias de Assistência Social, os recursos do IGD-Bolsa têm também contribuído para o fortale- cimento da gestão descentralizada do Suas. Finalmente, o CadÚnico tem sido um importante instrumento de gestão, subsidiando o processo de implantação do Suas, considerando dois pilares centrais de estruturação da política: a centralidade na família e o território.

O CadÚnico reúne um conjunto de informações essenciais ao planejamento da política de Assistência Social, pois permite mapear a realidade das famílias e identificar as vulnera- bilidades sociais e riscos pessoais e sociais. Com base nestas informações, por intermédio da

vigilância socioassistencial, é possível realizar diagnósticos que subsidiem a territorialização do Suas, o aprimoramento da relação entre demandas e ofertas e a equalização do financia- mento. Deste modo, tem orientado desde a expansão do cofinanciamento federal, conside- rando as demandas identificadas e a análise quanto às ofertas existentes, até a disponibilização de informações sobre as famílias que devem ser priorizadas na busca ativa e na inclusão em serviços e programas do Suas.

O cadastro permite, inclusive, a identificação de famílias com perfis específicos, como famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, com crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil, de comunidades tradicionais, com beneficiários do BPC, e pessoas em situação de rua. A inclusão destas famílias no CadÚnico, com a marcação de campo próprio, tem sido importante tanto para que acessem direitos, serviços e benefícios quanto para que a Assistência Social planeje e dimensione as ofertas para este público, considerando suas parti- cularidades e onde vivem.

Frente a esta perspectiva, no contexto mais recente, para a integração entre acesso à transferência de renda, benefícios e serviços, tem se fortalecido ações essenciais ao cumpri- mento de funções do Suas:

1) Busca ativa: voltada à identificação, seguida da inclusão no CadÚnico deve também viabilizar o acesso a benefícios, programas e serviços socioassistenciais e das demais políticas públicas, considerando perfil e demanda. Constituem público prioritário para a busca ativa:

a) famílias inseridas no CadÚnico: em situação de descumprimento das condi- cionalidades do PBF; com criança/adolescente beneficiário do BPC ainda não incluídos na escola; e

b) famílias não inseridas no CadÚnico: em situação de pobreza ou extrema pobre- za; com criança/adolescente em situação de trabalho infantil; de comunidades tradicionais; com beneficiários do BPC; de pessoas com perfil, mas sem acesso ao BPC; e pessoas em situação de rua.

O CadÚnico e a vigilância socioassistencial têm papel fundamental na busca ativa, disponibilizando informações aos serviços que realizam estas ações e à gestão do Suas, a fim de subsidiar seu planejamento, que deve considerar a realidade do território, das famílias e da rede de serviços disponível. A busca ativa é realizada no Suas, princi- palmente, pelos serviços e ações executados pelas equipes volantes da Proteção Social Básica e pelo Serviço Especializado em Abordagem Social da Proteção Social Especial. Enquanto as equipes volantes destinam-se à identificação das famílias em situação de vulnerabilidade social que vivem em contextos mais isolados, de mais difícil acesso, com dispersão populacional e de grande extensão territorial, as equipes de abordagem social buscam identificar, nos espaços públicos, pessoas e famílias em situações de risco pessoal e social.

Um resultado importante já atingido diz respeito à identificação das famílias em situação de extrema pobreza no Brasil. Desde seu lançamento, em junho de 2011, o Plano Brasil Sem Miséria já localizou e incluiu no CadÚnico para programas sociais, por meio do busca ativa, 887 famílias extremamente pobres. Até 2014, a meta é localizar e inserir no CadÚnico outras 600 mil famílias em situação de extrema pobreza. A despeito dos avanços já observados, ain- da constitui desafio, particularmente, a busca ativa e identificação de famílias com crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, de pessoas em situação de rua e beneficiários do BPC, o que as pactuações mais recentes do Suas têm, inclusive, buscado fortalecer.

2) Acompanhamento familiar: o acompanhamento familiar corresponde ao conjunto de intervenções desenvolvidas de forma continuada pelos serviços do Suas com esta competência.19 Visa proporcionar às famílias um espaço de escuta e reflexão sobre

sua realidade, a construção de novos projetos de vida, a transformação das relações – sejam elas familiares ou comunitárias – e a ampliação do acesso a direitos, serviços, programas e benefícios das diversas políticas públicas, assegurando-se, sempre que necessário, encaminhamentos para a inclusão no CadÚnico e acesso ao BPC. Deve partir da compreensão contextualizada das situações de vulnerabilidade social e risco pessoal e/ou social vivenciadas pelas famílias, de suas demandas e potencialidades e ser orientado por princípios éticos, de respeito à dignidade e não discriminação. Conduzido por profissionais de nível superior, deve ser norteado por um Plano de Acompanhamento Familiar – construído de forma participativa com as famílias – que considere os objetivos a serem alcançados e a periodicidade dos encontros. Requer o estabelecimento de vínculos e compromissos entre as famílias usuárias e o serviço, bem como a construção de processos de planejamento e avaliação conjunta do percurso trilhado e dos resultados atingidos.

O acompanhamento familiar representa um pilar fundamental de sustentação do modelo de proteção social brasileiro, contribuindo para a consolidação da perspectiva de enfrentamento à pobreza em sua multidimensionalidade, por meio da proteção social afiançada, para além da segurança de renda, com o acesso a serviços, bens e direitos. Em 2012, com fulcro no Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda, e, considerando os avanços no processo de implantação do Suas no Brasil e os aprimoramentos realizados ao longo dos anos no CadÚnico e no Bolsa Família, o MDS20 atualizou as orientações aos estados e municípios so-

bre o acompanhamento familiar das famílias em descumprimento das condicionalidades do PBF. Com estas mudanças, o descumprimento de condicionalidades passa a ser reconhecido como um indicador de vulnerabilidade social ou risco pessoal e social que permite identificar as famílias que necessariamente requerem inserção no serviço, conforme avaliação das equipes de referência do PAIF e Paefi.21 O acompanhamento pelo PAIF das famílias beneficiárias do PBF em situação

19. O acompanhamento familiar no Suas é desenvolvido pelo PAIF, ofertado pelos Cras, pelo Paefi, ofertado pelo Creas e pelo Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, no Centro POP.

20. Instrução Operacional Conjunta SENARC/SNAS no 19/2013.

21. Com a inclusão no acompanhamento das famílias que se encontram nessa situação e a avaliação dos profissionais do PAIF e Paefi, pode-se interromper os efeitos do descumprimento de condicionalidades, garantindo a continuidade e regularidade da transferência de renda (Instrução Operacional Conjunta SENARC/SNAS no 19/2013).

de vulnerabilidade social, incluindo aquelas em fase de suspensão por descumprimento das con- dicionalidades do programa foi, inclusive, inserido entre as prioridades para o aprimoramento da gestão municipal do Suas no período de 2014 a 2017.

A garantia de renda mensal articulada com a inclusão das famílias em atividades de acompanhamento familiar no Suas, bem como em serviços de outras políticas setoriais é a estratégia mais adequada para a superação das vulnerabilidades sociais que impedem ou dificultam que a família cumpra as condi- cionalidades previstas nos Programas (Brasil, 2009, p. 5).

De acordo com os dados do Relatório Mensal de Atendimento (RMA), entre as famílias inseri- das em acompanhamento familiar no PAIF e Paefi no ano de 2012, as famílias beneficiárias do PBF corresponderam ao perfil predominante, o que pode ser evidenciado nos gráficos 3 e 4. Em 2012, a média mensal de acompanhamento familiar no PAIF por unidade Cras correspondeu a 234,5 famí- lias, sendo que, ao longo de 2012, foram inseridas no acompanhamento familiar do PAIF um total de 1.894.417 novas famílias. Outra informação importante que pode ser observada no gráfico 4, e que se relaciona com a busca ativa e a gestão integrada, diz respeito ao quantitativo de famílias em situação de extrema pobreza inseridas no acompanhamento familiar no PAIF em 2012.

GRÁFICO 3

Perfil de famílias inseridas em acompanhamento no PAIF (2012)1

625.992 1.132.018 243.539 233.744 202.275 258.137 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 Q u an ti d ad e d e fa m íli as

Perfil das famílias

Extrema pobreza PBF Desc. de

condicionalidades (PBF) BPC Peti Projovem Adolescente

Fonte: Sistema de Registro Mensal de Atendimentos do Suas – MDS/SNAS/CGSVS. Elaboração: Assessoria do Gabinete da SNAS/MDS.

Nota: 1 Considerando que as famílias podem apresentar mais de uma situação, os quantitativos não devem ser somados.

Os gráficos 3 e 4 apresentam o perfil das novas famílias inseridas em acompanhamento fami- liar no PAIF e Paefi em 2012. Destaca-se que uma mesma família pode apresentar mais de uma das situações apresentadas nos gráficos. Por esta razão, o total das famílias que entraram em acom- panhamento familiar em 2012 não corresponde ao somatório de situações apresentadas no gráfico. O gráfico 4, por sua vez, demonstra que, em 2012, um total de 271.306 novas famílias foram inseridas no acompanhamento familiar no Paefi e a média mensal de acompanhamento familiar no Paefi por unidade Creas foi de 88,8 famílias.

GRÁFICO 4

Perfil de famílias ou indivíduos inseridos no acompanhamento familiar do Paefi (2012)1

100.627 28.080 31.019 20.046 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000

Beneficiárias do PBF Beneficiários do BPC Com crianças ou

adolescentes no Peti adolescentes nos Com crianças ou

serviços de acolhimento Q u an ti d ad e

Perfil das famílias

Fonte: Sistema de Registro Mensal de Atendimentos do Suas – MDS/SNAS/CGSVS. Elaboração: Assessoria do Gabinete da SNAS/MDS.

Nota: 1 Considerando que as famílias podem apresentar mais de uma situação, os quantitativos não devem ser somados.

Finalmente, no gráfico 5, é possível verificar que foram realizados pelos Cras, em 2012, mais de 14 milhões de atendimentos individualizados e, ainda, que, entre os encaminhamentos realizados a partir destes atendimentos, predominou a atualização cadastral no CadÚnico.

GRÁFICO 5

Volume de atendimentos individualizados e principais encaminhamentos realizados pelo Cras (2012)1 14.337.305 1.415.418 2.378.214 266.908 72.906 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 Atendimentos individualizados realizados em 2012 Inclusão no CadÚnico Atualização cadastral no CadÚnico Acesso ao BPC Creas Quantidade de atendimentos

Atendimentos individualizados e principais encaminhamentos

Fonte: Sistema de Registro Mensal de Atendimentos do Suas – MDS/SNAS/CGSVS. Elaboração: Assessoria do Gabinete da SNAS/MDS.

Outline

Documentos relacionados