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Parte II do Contrato Organizativo de Ação Pública Brasília, 2012b Atenção ao pré-natal de baixo risco Brasília, 2012c.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Programa de Acompanhamento da Frequência Escolar de Crianças e Jovens em Vulnerabi- lidade, condicionalidade do Programa Bolsa Família, realizado pela área de educação, tem um grande potencial de contribuição para as agendas prioritárias das políticas educacionais bra- sileiras. Mesmo que as desigualdades educacionais estejam em processo de diminuição e que a inclusão educacional esteja se ampliando, os dados apresentados neste trabalho evidenciam uma grande diferença na trajetória escolar e educacional dos mais ricos e dos mais pobres.

Essa discussão remete a algumas indagações: que escola temos e que escola queremos? Que escola esses outros sujeitos, em situação de vulnerabilidade social, exigem? De que pe- dagogias esses outros sujeitos precisam para se tornarem emancipados e serem sujeitos da transformação social? Neste sentido, pode-se fazer as considerações a seguir.

1) Na educação básica, a proposta curricular deve ser construída em função das carac- terísticas próprias de seus estudantes, das peculiaridades de seu meio, não se restrin- gindo às aulas das várias disciplinas. O percurso formativo deve, neste sentido, ser aberto e contextualizado, incluindo não apenas os componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, mas, também, con- forme cada projeto escolar estabelecer, outros componentes flexíveis e variáveis que possibilitem percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses, necessida- des e características dos educandos. Quanto à concepção e à organização do espaço curricular e físico, se imbricam e se alargam, por incluírem no desenvolvimento curricular os ambientes físicos, didático-pedagógicos e equipamentos que não se re- duzem às salas de aula, abrangendo outros espaços da escola e de outras instituições escolares, bem como os socioculturais e esportivo-recreativos do entorno da cidade e mesmo da região. Esta ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares

pressupõem profissionais da educação dispostos a reinventar e construir esta escola, numa responsabilidade compartilhada com as demais autoridades encarregadas da gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da sociedade.

2) É preciso avançar na articulação das políticas públicas em educação, nas três esferas de governo, no sentido de criar condições mais favoráveis à educação nos territórios e escolas em que se concentram os/as estudantes beneficiários/as. Esta ação articulada deve considerar as dimensões de gestão (incluindo gestão financeira), formação de gestores, professores e todos os profissionais da educação e infraestrutura. A ideia é cercar estas escolas e territórios com atenção e incentivos para que possam superar as condições de vulnerabilidade, adotando os princípios da educação básica: cuidar e educar. É preciso formar os gestores inclusive para o uso correto dos recursos que serão investidos. É preciso formar os professores e outros profissionais para que juntos busquem a melhoria da qualidade do processo educacional e das relações escola-família e escola-comunidade. É preciso, ainda, dotar estas escolas de uma infraestrutura que seja capaz de acolher, despertar, indagar os estudantes sobre os estudos, a vida, o planeta.

3) O fortalecimento da educação desses sujeitos de direitos passa, necessariamente, pelo reconhecimento dos/as gestores/as e educadores/as de que as pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza necessitam de uma atenção diferenciada, que considere o seu contexto e sua trajetória. Os/as estudantes beneficiários/as do Programa Bolsa Família pertencem a famílias em que os pais não são alfabetizados ou são analfabetos funcionais. Trazem consigo uma trajetória de vida em que a educação escolar não se constituiu em prioridade. Portanto, em grande parte não têm o hábito, ou condições, de acompanhar a vida escolar dos filhos. Diante de uma realidade muitas vezes incom- preendida pela escola, esperar que os pais destes estudantes acompanhem as tarefas de casa e trabalhos escolares de seus filhos ou que, por iniciativa própria, monitorem a frequência escolar das crianças, pode gerar incompreensões, cobranças e frustrações.  4) A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes manifestações culturais e dife- rentes óticas, empenhar-se para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em movimento, no processo tornado possível por meio de relações intersubjetivas, fundamentada no princípio emancipador. Neste sentido, cabe às escolas desempenhar o papel socioeducativo, artístico, cultural e ambiental, fundamentadas no pressuposto do respeito e da valo- rização das diferenças – entre outras, de condição física, sensorial e socioemocional, e de origem, etnia, gênero, classe social, contexto sociocultural – que dão sentido às ações educativas, enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de natu- reza sociocultural e socioeconômica. Contemplar estas dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores, adotando-se medidas proativas e ações preventivas.

5) Cada vez mais, é necessário aprofundar ações articuladas integradamente, a exemplo do Programa Mais Educação (PME) e Saúde na Escola (PSE), do Pacto da Alfabeti- zação na Idade Certa, do PRONATEC, do Projovem, do Brasil Alfabetizado. Enfim, continuar aprimorando a gestão de condicionalidades de educação, que é uma complexa operação intersetorial e intergovernamental de políticas públicas. Esta grande ope- ração é responsável pela mobilização regular das famílias e do poder público para o acompa- nhamento da frequência à escola, sendo este um dos fatores essenciais a se considerar para o alcance de resultados positivos quanto às taxas de abandono e de aprovação nos ensinos fundamental e médio dos estudantes de famílias em situação de pobreza, acompanhados pelas condicionalidades do Programa Bolsa Família.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel. Outros sujeitos, outras pedagogias. São Paulo: Vozes, 2012.

CAVALCANTE, Pedro Luiz. Programa Bolsa Família: descentralização, centralização ou gestão em Redes? In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 2., Brasília, 6 a 8 de maio de 2009.

CURY, Carlos Roberto Jamil. A educação básica no Brasil. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, set./2002, p. 168-200. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12929.pdf>. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2011. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2011/>. INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Programa Bolsa Família sobre a frequência escolar: uma análise de dife- renças, a partir da PNAD. Na Medida, ano 3, n. 6, Brasília, jan. 2011. (Boletim de Estudos Educacionais do INEP). Disponível em: <http://<download.inep.gov.br/download/na_medi da/BNMedida-ano3-N6-Jan2011.pdf>.

______. Censo Escolar 2012. Brasília: INEP, 2012. Disponível em: <http://portal.inep.gov. br/basica-censo>.

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