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Amor Verdadeiro

No documento Marcados Pelo Amor (páginas 127-130)

Anos atrás

Capítulo 32 Amor Verdadeiro

Capítulo 32 – Amor Verdadeiro

Perto do horário no qual trocaria de posto com outro soldado, Bruno precisou trancafiar o jovem escravo outra vez dentro da sufocante solitária. Sentiu-se mal embora soubesse que não fazia aquilo por vontade própria, com prazer e contentamento, sentiu-se mal por ter noção de que os demais agiam daquela maneira com um sórdido regozijo encobrindo suas almas nefastas. Mas seu coração foi acalmado, recebeu a compreensão do prisioneiro, de um ser humano inexplicavelmente injustiçado.

Algumas horas se passaram.

Até que a noite encobriu por completo o céu antes iluminado.

A passos densos, com sua presença indesejável, Frederico desceu à masmorra, ao lugar onde apenas ele e os seus tinham acesso, o lugar onde seus olhos assistiram complacentes a amarga morte de muitos vulneráveis.

Abriu sem sutileza a porta de metal.

Arrastou do apertado compartimento o pobre escravo.

Lançou-o grosseiramente ao pó da terra.

— Sobreviveu? — disse com zombaria —. Confesso que não acreditava que pudesse aguentar tantas horas sem água e comida — gesticulou com o dedo para que Sebastião se aproximasse —. Dê-lhe o que beber — determinou.

Arrogante, o capanga ergueu Artur pelos cabelos, colocou-o de joelhos diante a sua presença e, sem qualquer cordialidade, virou contra o rosto do rapaz o balde de água.

— Será que aprendeu a lição? — covarde, o barão cerrou os punhos, desferiu o primeiro golpe contra a barriga descoberta do negro exaurido —. Ou será que ao sair daqui repetirá os mesmos atos desobedientes? — cedeu um tapa à face molhada, tamanha força lançou Artur outra vez ao chão —. E, então, o que me diz? — intimou uma resposta.

Sentindo as dores das agressões, controlando-se para não reagir com a raiva que mereciam, Artur se esforçou para se sentar sobre o solo empoeirado, dirigiu os olhos ofuscados ao rosto do sujeito rude, com a fraca luz dos lampiões que irradiavam pôde observar o semblante intimidador.

— Sei o que devo ou não fazer, sei como me comportar, sei o que esperam de mim — respondeu humildemente.

— Sempre soube essas coisas, sempre fomos claros quanto às expectativas que temos sobre vocês, não merecem novas oportunidades, não deveriam nem ser castigados, mereciam a morte! — o prepotente homem se agachou, ficou na altura de seu subalterno, encarou-o fixamente —. Aproveite essa chance e agradeça por me ser útil, caso contrário há muito o extinguiria da minha presença, não imagina o quanto

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o odeio! — aquele era um ódio irracional, contudo mortal —. Levem-no, espero que tenha mesmo aprendido!

Acompanhando com os olhos a partida do rapaz, Sebastião não conteve a curiosidade, tentou alcançar esclarecimentos.

— Não imaginava que o detestasse tanto.

— Nem eu imaginaria que o odiaria mais que todos os outros — Frederico confessou —. Ele é forte, destemido, querido por muitos e traz grandes lucros.

Qualidades demais para um negro desprezível! — era dominado por preconceitos.

Mas ao sair dali o barão não retornou à casa grande, seguiu outro destino acompanhado por seus homens, tinha importante assunto a resolver.

¤ A senzala se agitou com o retorno de Artur.

Graças foram elevadas pela volta do querido rapaz, alguém admirável, que tinham por exemplo, de quem tiravam esperanças de dias gloriosos e vitoriosos.

— Não imagina o quanto senti a sua falta, o quanto chorei por você... — Adelaide, cedendo às emoções, acolheu o amado filho nos braços maternos, acariciou sua face, alisou as regiões arroxeadas, imaginar suas dores doía em seu próprio espírito —. Como se sente?

— Apesar de dolorido, cansado pelas horas de angústia, sinto-me ainda mais desejoso por liberdade, com maior sede de vitória! — declarou que o medo não era o bastante para intimidá-lo, somente a morte poderia interromper seu caminhar —. Se pensam que com castigos e torturas podem me adestrar estão iludidos, lutarei pelo meu povo, por mim, custe o preço que custar — apenas a mulher o ouviu, ninguém mais escutou a promessa, palavras que trouxeram aflição à mãe sempre prestativa.

Atento aos movimentos da fazenda, Bruno percebeu a partida de Frederico junto a outros homens, fiel ao que prometera, comunicou à baronesa que Artur estava liberto e o barão se ausentaria. Disposto a ajudar, levou Ana até à senzala, conhecia a história, conhecia que um amor devastador era perigosamente vivido.

Dentro da senzala, lugar que trouxe grande desespero ao seu peito, a jovem mulher se incomodou pela escuridão que vencia os fracos lampiões espalhados pelos cantos, condoeu-se pela desumana disposição de homens e mulheres, idosos e crianças que, reclusos ao chão, repousavam seus corpos para que a noite os envolvesse em completo descanso. Levou os olhos indignados a Bruno, mas este também não possuía explicações para o cenário que de igual modo transtornava o seu ser.

— Artur! — fez soar a voz doce chamando a atenção de todos —. Artur, onde você está?! — os olhos arregalados procuravam pelo amado.

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— Peço que se acalmem! — Bruno gesticulou para que os negros se mantivessem em silêncio, em completa discrição —. Nada acontecerá se não chamarem a atenção — aconselhou.

Vestiram-se de paz.

Estavam surpresos.

— Ana? — espantado, Artur se levantou dentre as dezenas de escravos, pensou que era um sonho, que suas vistas eram confundidas pelo escuro, não acreditava naquilo que os olhos contemplavam.

— Artur! — a mulher progrediu em seus passos, encurtou as distâncias, jogou-se contra os braços daquele que inquestionavelmente conquistara todos os jogou-seus afetos

—. Artur... Como eu me preocupei, como fiquei angustiada, como senti a sua falta! — escondendo o rosto sobre o peito do rapaz, abraçando-o intensamente como se nunca mais fosse soltá-lo, Ana não se preocupou em demonstrar seus sentimentos, nem pôde evitar as lágrimas que de seus olhos caíam, lágrimas de amarga tristeza, mas também de profundo alívio por estar tocando o dono de seu amor.

— Minha querida... Minha amada... — tocado por aquele momento de intensos e invencíveis sentimentos, Artur envolveu sua eterna amante em um abraço afetuoso, repousou a face sobre seus cabelos, permitiu que as tantas emoções se convertessem no choro impossível de esconder —. Mal via a hora do sol raiar para que pudesse ver seu rosto, ouvir sua voz, para que pudesse ter a certeza de que estou vivo!

Os que àquilo assistiam se emocionaram.

O amor existia.

Fazia-se presente.

— O que fizeram com você? — ainda que a pouca claridade não facilitasse, Ana levou os olhos ao semblante que para sempre queria contemplar, encarou os olhos cujos brilhos retornaram junto à sua aparição.

— Nada do que precise se preocupar, não quero que fique pensando nessas coisas, eu estou bem... — amoroso, Artur acariciou a face da namorada, dirigiu-lhe o sorriso apaixonado, beijou-a matando a sede por aquele gesto, tornou a abraçá-la como seu mais precioso bem —. Eu estou bem...

De um lado, Bruno se permitia à comoção, não imaginava que um amor tão poderoso quanto aquele pudesse existir, alimentou-se de vontade por também viver seu próprio amor. Do outro, Adelaide colheu as próprias lágrimas, ainda não havia presenciado um momento de ternura entre os jovens que se diziam amar, teve que admitir, aquele era o mais genuíno e verdadeiro amor que pudera contemplar.

¤

Um homem traidor pouco se importa com suas desonestas ações, em nada se preocupa se causará vergonhas ou sofrimentos, mas quando é traído não suporta

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