• Nenhum resultado encontrado

Tudo é Passageiro

No documento Marcados Pelo Amor (páginas 155-158)

Anos atrás

Capítulo 41 Tudo é Passageiro

Capítulo 41 – Tudo é Passageiro

A felicidade nos anestesia aos sofrimentos do mundo, quando estamos felizes entregamo-nos à paz e ao sossego, nada nos constrange, aflige ou exalta, enquanto provamos do sublime contentamento nada mais importa.

Mas tudo é passageiro. Inclusive os momentos de alegria.

E, então, passados os instantes de tranquilidade, a realidade retorna com todas as suas angústias, trás até mesmo alguma tristeza, algum percalço, inteligente é aquele que em seu ser confessa que tudo não passa de mais uma momentânea fase.

Porém, amargurados por tantas experiências, machucados pelo árduo caminhar, muitos não conseguem vislumbrar o horizonte de harmonia que os aguarda, experimentam o refrigério na ansiedade de seu esgotamento, confrontam a tristeza com algo que as assolará eternamente.

Estavam radiantes.

As estrelas disputavam contra o brilho em seus olhos.

Voltando para casa, o grupo de amigos comemorava a noite de reviravoltas, uma noite agradável a todos, uma noite que jamais esqueceriam.

— Estava nervosa por você, apresentar-se perante tantos olhos é um desafio imenso, mas ao notar seu domínio sobre o palco fiquei calma, transmitiu a todos a leveza de seu talento! — Rute, provando do contentamento que é estar entre pessoas queridas, livre de quaisquer julgamentos, permitiu-se à fala entusiasmada, há muito não esbanjava tanto desfastio.

— Não havia motivos para me apavorar, pessoas especiais dirigiam boas energias a mim, amigos insubstituíveis! Imaginei que tocava a vocês, esqueci de todo o resto, dediquei-me a oferecer o meu melhor! — Felipe sempre reconheceria a importância de seus incentivadores, nunca deixaria de exaltá-los pela contribuição que cederam.

— Como se precisasse focar apenas em nós... — Sara, a adolescente apaixonada, a inexperiente que aos poucos era apresentada ao amor, teceu seus elogios —. Estava tão seguro, tão focado, sabia exatamente o que fazer... Quem me dera ser uma violinista tão admirável!

— E você será! — lançando uma piscadela à garota que o conquistara de uma maneira singular, Felipe reforçou seu compromisso: transformá-la-ia em uma artista.

— Para encerrar tudo com perfeição recebemos os cumprimentos da filha do barão, descobri que temos uma forte aliada na batalha que precisamos vencer! — Victor, orgulhoso por ter confrontado Frederico, também se sentia motivado à luta, gente poderosa compartilhava dos chamados pensamentos rebeldes —. Merecemos uma celebração! — anunciou —. A festa continua lá em casa.

Sentiam-se livres para demonstrar a forte amizade que os envolvera, estavam protegidos na carruagem, o cavalheiro que conduzia o veículo era alguém de

Marcados Pelo Amor escrito por Amilton Júnior

@Amilton.Jnior

@LivroWeb

156 Capítulo 41 – Tudo é Passageiro

confiança, alguém que se sentiu premiado por carregar um artista como o jovem garoto.

Mas tudo passa.

A serenidade também passa.

Aguardavam Victor encontrar as chaves de casa quando foram importunados por gente cruel e desagradável, gente infeliz quanto à própria existência, gente que se incomoda por questões que não as suas.

— Olha quem saiu de casa! — uma mulher jovem, de semblante debochado e aparência chamativa, agarrou Rute pelo braço, trouxe sua atenção para si —. Não é a viúva-negra? — as amigas que a acompanhavam riram maldosamente, não eram moças de respeito, vagueavam pelas ruas arrumando encrencas.

Aqueles que estimavam a mascarada se aproximaram fechando o círculo, temeram não ter compreendido com exatidão o que ouviram, estavam prontos a defendê-la.

— Acalmem-se! — a mulher zombeteira se afastou levando as mãos aos céus —.

Mas não se anime tanto e nos poupe de sua aparência pelas ruas — era intolerante, vivia uma vida desprezível, queria contaminar os outros com a mesma mediocridade

—. As crianças podem se assustar... — partiu com ar sarcástico, deixando uma atmosfera densamente obscura.

Victor avançou, dispôs-se a tirar satisfações.

Mas a mão de Rute pousou em seu braço, interrompeu-o.

Tantas experiências ruins, tantos ferimentos impiedosos, uma vida repleta de raízes amargas, tudo aquilo retornou pela fala de um sujeito sem escrúpulos, dissipou as recentes alegrias, motivou o choro abatido da mulher que correu para sua própria casa, ignorou os pedidos para que ficasse, para que esperasse, para que estivesse junto àqueles que a aceitavam como era. Buscou seu abrigo. O refrigério de tantos anos. O esconderijo de onde julgou ter sido um grave erro sair.

Sara se apressou em fazer companhia à querida ama, mas Victor suplicou para que fosse ele quem ouvisse os desabafos da entristecida mulher. Foi atendido. Não hesitou em se fazer presente àquela que, acreditava, cercava-se por objeções. No jardim ficaram os adolescentes revoltados pela maldade que reinava em tantos espíritos.

Sentou-se na poltrona da sala de estar, encarava a janela como se contemplasse magníficas visões, mas não, era oprimida por inúmeras razões para se convencer de que nunca deveria ter se permitido à uma vida normal, ela não era comum, como poderia ansiar pela realidade que tantos outros viviam? Culpou-se. Era merecedora do castigo.

— Rute... — encontrando aquela que ainda não sabia os sentimentos que despertara em seu peito, Victor diminuiu a euforia dos passos, aproximou-se lentamente, pronunciou com sutileza o nome que considerava o mais belo de todos.

Marcados Pelo Amor escrito por Amilton Júnior

@Amilton.Jnior

@LivroWeb

157 Capítulo 41 – Tudo é Passageiro

A mulher abaixou os olhos, passou os dedos com discrição sobre o rosto, colheu a própria lágrima em vã tentativa de disfarçar o choro.

— Não acho que seja o momento para conversar, posso não ser muito agradável... — disse com frieza, voltando a contemplar a janela por onde encarava o céu estrelado.

— Até mesmo o seu silêncio me agradaria... — o nobre homem insistiu, agachou-se diante a abatida alma, encostou em seu rosto com cuidado, trouxe os olhos marejados aos seus. A luz do luar os iluminava.

— É exatamente isso o que deveria fazer, silenciar-me, omitir-me, não sou digna de viver, onde estava com a cabeça ao acreditar que posso ter uma vida comum? Não passo de uma figura intrigante carregando essa anomalia — hostilizou-se, como sempre fez.

— Jamais se considere anormal, não é alguém intrigante, para mim é uma mulher interessante, interessei-me por conhecê-la, interessei-me por descobrir a beleza de seu sorriso... — fitava-a nos olhos, falava com sinceridade, doava voz aos mais íntimos sentimentos.

— Beleza... — riu incrédula —. Em mim não há beleza, não queira ser levado por miragens, nem seja gentil apenas para me contentar, não compensa, seus olhos podem se iludir, mas os do mundo sempre verão a verdade, ela é essa, sou desinteressante, motivo histórias, sou a causa de piadas...

— Acredita que a tenho como piada? Não percebe que quero me dispor a lhe garantir a vida que foram incapazes de oferecer? — vestiu-se de seriedade, assumiria o que sentia, arriscar-se-ia —. Nunca me apaixonei, nunca despertaram em mim o que você desperta, nunca acreditei que me entregaria completamente a uma mulher até você aparecer — acariciou a face delicada, viu os olhos de Rute se fecharem, uma lágrima correu pelo rosto feminino —. Sim, eu estou apaixonado por você e anseio por uma chance de fazê-la feliz!

— Victor... — a mulher voltou a encará-lo, tentou um discurso defensivo, mas quais palavras poderia usar?

O cavalheiro não permitiu que sua dama articulasse a fala.

Beijou-a com simplicidade romântica.

Os corações se aqueceram e as almas titubearam perante o poder do amor.

Mas Rute não estava preparada para aquilo.

Foi forte.

Rompeu a ligação entre os lábios.

— Saia daqui! — levantou-se rispidamente.

— Rute... — tentou acolher suas mãos.

— Vá embora! — em gestos rudes, evitou o toque —. Esqueça o que aconteceu, esqueça o que sente, não sinto o mesmo e não me preocuparei em fazer existir algo que não quero! — encarou seu ouvinte com agressividade, combatia uma guerra invisível, lutava contra sentimentos que, ao contrário de suas ácidas palavras, existiam e persistiam.

Marcados Pelo Amor escrito por Amilton Júnior

@Amilton.Jnior

@LivroWeb

158

No documento Marcados Pelo Amor (páginas 155-158)