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Estar com Quem se Ama

No documento Marcados Pelo Amor (páginas 146-149)

Anos atrás

Capítulo 38 Estar com Quem se Ama

Capítulo 38 – Estar com Quem se Ama

Estar com quem se ama. Para alguns pode ser a mais prazerosa experiência da vida, a mais satisfatória conquista realizada, a realidade mais bem vivida, instantes de liberdade, desfrute e regozijo. No entanto, o que para uns é uma dádiva do curso natural do viver, para outros pode ser razão de insegurança, medo e pavor, estar com quem se ama pode ser um risco perigoso a correr, imã de fatalidades, de finais trágicos e infelizes.

Mas quem resiste ao ímpeto de provar do amor de quem se ama?

Como é possível vencer a desejos intensos que nascem do coração?

Ana e Artur, desde sempre amantes, condenados a se amarem, sim, condenados. Talvez, se tivessem domínio sobre as próprias emoções, se tivessem a liberdade de mandar sobre o amor, não teriam escolhido um ao outro para amar, não optariam por viver perigosamente, experimentar algo que custaria suas vidas, mas foram condenados a esse amor tão intenso, íntimo, que nunca se esvaía de suas almas sedentas por carinhos inesgotáveis e afetos inexprimíveis.

— Hoje é o grande dia... — deitados sobre a relva, envoltos pela mata que os escondia para que o amor resplandecesse, rapaz e moça estavam virados um para o outro, encaravam-se com ternura, acariciavam os rostos cheios de apreço —. A nata dessa sociedade apodrecida se reunirá para exibicionismos enjoativos, muitos lucrarão expondo negros talentosos, repletos de dom às artes, que não receberão a menor das quantias por tornarem a noite dessa gente detestável em algo agradável...

— Ana, sem o menor desejo de no baile estar, reclamou seu pensamento, a forma como julgava aqueles encontros dos quais participava —. Queria ao menos que estivesse ao meu lado...

— Leve-me, leve-me com você... — seus olhos suplicavam junto às palavras —.

Leve-me em seus intentos, aconchegue-me em seu coração, não poderia estar em melhor lugar! — assegurou sua maior verdade, mas no fundo, mesmo conhecendo as tantas e maléficas limitações, também era seu anseio estar ao lado da amada perante toda uma sociedade, expondo seus sentimentos, declarando seus sinceros afetos —.

Felipe sempre sonhou em participar dos saraus que seu pai promovia, sempre quis ser uma das estrelas que tocavam nas festas, de longe admirava os músicos, em especial os violinistas, seus olhos brilhavam, ficava dias treinando os movimentos que observava... Quem dera tal pretensão fosse alcançada.

— Conheço o talento de seu irmão, sua música é capaz de acalmar as tempestades e aliviar o coração, sempre apreciei ouvi-lo, não entendo como alguém como o meu pai, cheio de ganância, não se aproveitou desse ornamento, ao menos ele estaria praticando o que amava...

Marcados Pelo Amor escrito por Amilton Júnior

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147 Capítulo 38 – Estar com Quem se Ama

— Seu pai sempre o desprezou por ser negro, a maior justificativa, e por ser manco, algo que o desqualificou ainda mais aos olhos altivos... Mas não sei se seria realmente feliz tocando por obrigação, tocando a fim de aumentar as riquezas de alguém que transborda tesouros...

— Mas não se abata, lembro-me perfeitamente da promessa que fiz, vou encontrá-lo e lutarei com todas as forças para que seja aplaudido e venerado pelo próprio trabalho! — a promessa que fazia estava reforçada pelos sentimentos que o namorado em seu ser excitava.

— Fico feliz pela certeza de que posso contar com o seu apoio, mais que apenas isso... — aproximou-se da encantadora dama, provou da doçura de seus lábios —, sinto-me afortunado pelo seu amor... — acariciou os cabelos castanhos, fios dançantes e charmosos —. Mesmo que ao seu lado esteja um outro alguém, não se esqueça de mim, do quanto estimaria lhe fazer companhia, procuro acreditar que um dia serei o companheiro que merece...

— Sei disso, meu querido, e você sabe que não desejo outro alguém além de você para que me faça companhia... — levou os dedos singelos aos cabelos encaracolados, queria para sempre experimentar a sensação de ter os dedos cobertos pelos fios agradáveis ao toque —. Continue nessa crença, eu a alimento todos os dias...

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Examinando o próprio reflexo no espelho enquanto abotoava o paletó que vestia, Felipe se sentiu galante pela primeira vez estar tão bem vestido como um nobre cavalheiro, como os homens de ricas fazendas e grande importância se vestiam. Colocou os óculos que garantiram à sua face um aspecto diferente, sobre a cabeça repousou o chapéu que o deixou ainda mais impecável, um cortês galanteador.

— Estamos indo a um casamento ou a um simples sarau? — Victor, igualmente bem apresentável, elogiou o jovem garoto que auxiliou na arrumação —. Temo que saiamos de lá com um matrimônio selado!

— Fico grato pelo elogio, mas não é para tanto — respondeu um tanto envergonhado —. É minha primeira apresentação para um público tão grande, repleto de pessoas inteligentes, estudiosas, melhores do que eu naquilo que faço — deixava-se dominar pela humildade —. Preciso dar o meu melhor a começar pela aparência! — pensava como um profissional, o que buscava incansavelmente ser.

— Sinto-me enormemente feliz por estar participando desse novo e deleitável capítulo em sua história, vê-lo tão contente e entusiasmado, sem a preocupação de ser tratado com a frieza que os escravos vivem, faz valer a pena toda a luta que promovo, tudo aquilo que defendo!

— Sou eu quem já não encontra palavras para agradecê-lo! Tudo que fizer essa noite será dedicado àqueles que me ajudaram, em especial a você, um amigo que nunca imaginei ter, alguém por quem daria a vida em um gesto de gratidão!

Marcados Pelo Amor escrito por Amilton Júnior

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148 Capítulo 38 – Estar com Quem se Ama

Amistosos, abraçaram. Representavam boas coisas, agregavam mutuamente um ao outro.

Dado o horário, homem e adolescente colocaram-se à porta de suas acompanhantes que, tão logo ouviram o chamado de seus gentis parceiros, foram ao seu encontro.

Felipe, aturdido por tantos pensamentos que não o deixavam, que a cada hora insistiam e o levavam a rememorar o harmonioso semblante de Sara, sentiu o coração acelerar ao vê-la pessoalmente em seu vestido sofisticado, feito para uma dama como ela: meiga, delicada, simpática e de presença aprazível. Estava vislumbrante tanto quanto Rute que também fez seu admirador parecer um sujeito enfeitiçado.

— Está linda... — vencendo os próprios receios, Felipe se arriscou a um elogio enquanto oferecia o braço para que nele a donzela se enganchasse.

— Devo dizer o mesmo, caro cavalheiro... — sorridente, como sempre se apresentava, Sara experimentou a prazerosa ardência que o amor causa no corpo dos apaixonados, aceitou o que lhe era oferecido, enlaçou-se naquele que também não se afastava de sua mente dominada pelo início da paixão.

Contemplando o admirável comportamento de seu amigo, Victor rompeu as próprias barreiras e imitou sua cordialidade.

— Quanta elegância em uma só mulher! — o cortês homem cedeu o braço para que ali se colocasse aquela que tanto admirava, aquela que o conquistara de uma maneira impossível de resistir, impossível de negar.

— Gentileza vindo de um nobre sujeito, é uma noite de sorte! — unindo-se ao companheiro, Rute ofertou o belo sorriso, permitiu-se à brincadeira, decidia arriscar-se à felicidade.

Os rapazes encaminharam as damas à carruagem que alugaram, estavam sorridentes, estupefatos, vislumbrados quanto ao futuro que nunca planejaram, mas que soava anúncios de aproximação aos seus ouvidos.

O que ninguém notou foram os olhares severos a eles dirigidos, olhares de indignação por uma mulher esquisita se dar ao deleite de sair acompanhada e condenação por um negro e uma branca esbanjarem uma convivência inaceitável.

Olhares de reprovação.

Continua...

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