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Durante a coleta de dados, as gravações foram transcritas em paralelo a ocorrência de novas entrevistas. Estas transcrições foram realizadas utilizando-se programa de editor de textos, com fonte de tamanho 12 e espaçamento simples, a fim de garantir padronização na formatação dos textos. Para a fase internacional, contratou-se serviço especializado para a realização da transcrição e tradução para o português. Esta medida teve como objetivo a unificação do idioma utilizado nos textos a serem analisados, bem como dos respectivos códigos. Porém, ressalta-se que todas transcrições, nacionais e internacionais, foram revisadas, para a realização de correções que por ventura tenham sido necessárias (BINDER; EDWARDS, 2010). Em seguida, foram criados códigos de identificação para

todas as informações referentes aos nomes das empresas, dos entrevistados, dos produtos e de quaisquer outras informações que pudessem ser utilizadas para identificar as pessoas ou empresas. Esta medida teve como objetivo resguardar o sigilo dos participantes da pesquisa, além de garantir análises mais focadas nos fatos do que nas pessoas. Destaca- se que todos os códigos utilizados, bem como seus significados encontram-se disponíveis como apêndice a este material. Somente após a revisão das transcrições e a padronização no formato e no conteúdo, com os códigos de identificação, foi que os arquivos foram inseridos em software especializado para análise qualitativa de dados.

Para a fase de codificação e tratamento qualitativo dos dados, recomenda-se o uso de software específico (MILES, MATTHEW B.; HUBERMAN; SALDAÑA, 2014). Nesta pesquisa utilizou-se o software “Atlas.ti”, na versão 7.5. Para as análises, os documentos foram agrupados em famílias, que representam os elos e suas divisões (quando pertinentes). Esta iniciativa teve como objetivo organizar as empresas e as cadeias de suprimentos, compreendendo a localização de cada uma no fluxo das cadeias. Esta organização auxilia na obtenção de visão mais holística para análise dos dados coletados, de acordo com o grupo estudado, quer seja tomando como referência os elos, a cadeia ou os indicadores (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). Além disso, dentro de cada elo das cadeias, sempre que pertinente, foram realizadas subdivisões. Este procedimento visou separar empresas de portes diferentes, para que sejam analisadas em separado, possibilitado possíveis comparações entre “casos polares”, conforme preconizado para estudos de casos múltiplos (EISENHARDT, 1989; KETOKIVI; CHOI, 2014). Após esta divisão, deu-se início ao processo de codificação analítica dos dados contidos nas entrevistas. Como o protocolo de entrevista semiestruturada foi desenvolvido a partir do estado da arte da literatura técnica, já se possuía, inicialmente, alguns indicadores a respeito das práticas, capacidades e desempenhos operacionais. O uso destes indicadores como parâmetros iniciais auxiliou no trabalho de análise e codificação dos dados de acordo com as características e informações coletadas, funcionando como direcionador deste processo, que também é conhecido como “codificação teórica”. (BINDER; EDWARDS, 2010).

No entanto, como as entrevistas foram semiestruturadas, os respondentes tiveram oportunidades para expor suas ideias e discorrer de forma mais aberta sobre os temas das perguntas (SANTOS; SPRING, 2013). Com isso, à medida em que os dados foram

analisados, novos códigos foram surgindo e foram adicionados aos já existentes, que resultaram da revisão teórica. Como já se possuíam os macros Parâmetros Operacionais desta pesquisa (Práticas, Capacidades e Desempenho), havia base conceitual para embasar as novas codificações que estavam sendo realizadas de forma abstrata, porém, devidamente suportadas pelos conceitos amplos da literatura, bem como da experiência e observações da coleta de dados em campo feitas pelo pesquisador. Assim, estes novos códigos, que não apareceram na revisão teórica foram frutos de codificação aberta, buscando destacar dos dados informações relevantes, mesmo que, a priori, não estivessem ligadas às categorias propostas pela literatura (BINDER; EDWARDS, 2010).

Isto resultou em um total de 138 códigos, que foram marcados em 4846 trechos das entrevistas. Em paralelo às codificações realizadas no Atlas.ti, elaborou-se uma planilha para cada cadeia de suprimentos. Nesta planilha foram marcados os códigos à medida em que eles iam surgindo nos textos. Tais marcações binárias (sim/não) possuem apenas indicativo de existência ou não do código no texto. Não se considerou a quantidade de vezes que o código aparece na entrevista, mas se está presente ou não. Esta estratégia visa reduzir o viés das entrevistas onde o entrevistado discorre muitas vezes sobre determinado tema, o que poderia gerar um alto índice em um determinado código em uma entrevista, colocando-o em situação comparativamente superior a outra entrevista onde se abordasse pouco o mesmo código. Com o uso de tal abordagem não se buscou a quantidade em si, mas um indicativo da existência do código para realização da análise qualitativa de seu conteúdo.

Após a análise de todos os documentos, os códigos novos foram reavaliados e reagrupados por afinidades temáticas. Parte destes códigos foi inserida nos subgrupos dos parâmetros operacionais de Práticas, Capacidades e Desempenho, de acordo com os conceitos e divisões estabelecidos pela revisão teórica. Estes subgrupos são representados pelas dimensões de Práticas, Capacidades e Desempenhos Operacionais. Este movimento resultou em expansão interna nos referidos constructos, sem altear os conceitos definidos pela revisão de literatura. No entanto, outra parte destes códigos apresentou afinidades entre si, porém, não se adequando a nenhum dos subgrupos previamente definidos. Com isso, verificou-se a necessidade de criação de novos subgrupos que contemplassem as informações fornecidas pelo campo empírico, respeitando as definições teóricas

apresentadas pela revisão de literatura e suas possíveis ligações com o grupo dos parâmetros operacionais (KAUFMANN; DENK, 2011).

Este processo de agrupamento dos códigos nos chamados subgrupos operacionais e, posteriormente, em grupos dos parâmetros operacionais também é conhecido como abstração dos códigos. Parte-se de informações concretas das entrevistas, para agrupá-las em subgrupos abstratos (não presentes no texto), sendo o primeiro nível de abstração. Em seguida, se fez nova análise abstrata, sendo o segundo nível de abstração, ao serem conectados aos grupos amplos dos parâmetros operacionais (BINDER; EDWARDS, 2010). Além disso, este movimento de abstração, saindo do caso concreto para a teoria, com ampliação dos limites desta (KETOKIVI; CHOI, 2014), gera dois resultados principais. O primeiro deles está ligado à redução dos 138 códigos para 21 subgrupos (dos quais 04 foram criados a partir dos dados coletados no campo de pesquisa) e três grandes grupos de parâmetros operacionais (Práticas, Capacidades e Desempenhos Operacionais, das empresas e das cadeias de suprimentos). Ressalta-se que dos 138 códigos, 19 ficaram sem qualquer associação com os subgrupos, por conterem informações de ordem geral ou não condizentes com o foco desta pesquisa. Todos os subgrupos e grupos serão melhor apresentados em item específico no tópico sobre “Resultados e Discussões”, deste trabalho.

A relação entre códigos e subgrupos ou grupos não foi realizada de forma exclusivista. Alguns códigos foram relacionados com mais de um subgrupo, devido aos conceitos apresentados na revisão teórica, que demonstra claramente a possibilidade de participação dos códigos em subgrupos de forma não excludente (WU; MELNYK; FLYNN, 2010; WU; MELNYK; SWINK, 2012; ZACHARIA; NIX; LUSCH, 2011). Com isso, consegue-se obter maior parcimônia para análise dos dados, uma vez que estarão agrupados, reduzindo a quantidade de itens a serem avaliados. O segundo resultado obtido com a abstração dos códigos diz respeito às possibilidades de generalizações que os resultados de contribuição à teoria podem ter, saindo do caso concreto (escopo de coleta de dados), podendo ser aplicáveis a outras situações, tendo como base a teoria ampliada resultante desta pesquisa. Parte-se dos casos concretos para contribuições indutivas à teoria existente, aumentando seus limites (CORBIN; STRAUSS, 2007; KETOKIVI; CHOI, 2014). Estes reagrupamentos, bem como os novos subgrupos criados, serão detalhados no tópico referente aos resultados e discussões.

Figura 7 – Processo de agrupamento de códigos para análise e generalização teórica. Fonte: Elaboração própria.

Para fins de auxílio na análise dos dados e identificação de como os códigos estavam presentes em cada empresa entrevistada, estabeleceu-se um fator indicador da existência destes códigos. Este fator foi calculado a partir do somatório da quantidade de códigos existentes em cada entrevista, em uma determinada dimensão, dividido pela quantidade total de códigos que formam a referida dimensão. Após isso, separou-se as empresas por elos das Cadeias de Suprimentos e gerou-se um fator para cada elo em cada dimensão, formado pela mediana dos fatores de cada empresa naquela dimensão. Esta medida teve como objetivo verificar como cada dimensão está representada na maioria das empresas em cada elo. Com isso, obteve-se um indicador auxiliar no processo de identificação e análise dos dados, principalmente quando se visualizavam os elos das cadeias pesquisadas. O quadro a seguir traz um modelo sobre este processo. Nele apresentam-se informações genéricas sobre a formação de fatores para uma determinada dimensão, de um Parâmetro Operacional, em uma Cadeia de Suprimentos, todos fictícios.

Cadeia de Suprimentos “CS1” Parâmetro Operacional “P1” Empresa “E1” Empresa “E2” Empresa

“En" Elo “Elo1” Dimensão “D” = Fator “F1” = Fator “F2” = Fator “Fn” = Mediana dos Fatores de “F”

Código “C1” X X - \

Código “C2” - X X \

Código “Cn” X - X \

Quadro 14 – Formação de Fatores das Dimensões Operacionais. Fonte: Elaboração própria.

No modelo apresentado, os Fatores são gerados a partir da divisão da soma de códigos que aparecem para determinada empresa (marcados com o “x”, no modelo), pelo total de códigos que formam aquela dimensão. Em seguida, gera-se o fator daquela dimensão para determinado Elo, que é representado pela mediana dos fatores das empresas na referida dimensão. Neste caso, pôde-se realizar leituras comparativas entre as empresas dos mesmos elos em cada uma das dimensões dos Parâmetros Operacionais de Práticas, Capacidades e Desempenho, tendo como referência a mediana dos valores dos fatores das empresas que formam aquele elo. Além disso, tem-se a possibilidade de realizar comparações entre os elos, levando em consideração as dimensões e como elas se apresentam em cada elo das Cadeias pesquisadas (YIN, 2009). Vale destacar que a unidade de análise desta pesquisa são os elos, fazendo uma análise das empresas em grupos, possibilitando obter compreensão dos fatos dentro do elo, por meio dos dados das empresas que os formam.

Estas ferramentas permitem quatro níveis de avaliação: a empresa em si, entre empresas do mesmo elo, entre elos da mesma cadeia e entre elos de cadeias diferentes. Com isso, tem-se flexibilidade para executar análises desde o nível micro ao nível macro, de acordo com o interesse da pesquisa. Por se tratar de uma pesquisa de casos múltiplos e integrados, tem-se a possibilidade de realizar algumas combinações para análise dos dados (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002; YIN, 2009). No entanto, vale destacar que a criação dos indicadores e de geração de números a partir de dados qualitativos não significa um processo de quantificar estes dados. Estes indicadores são utilizados apenas como indutores de análise, auxiliando o pesquisador na visualização e indicação sobre quais códigos contém informações para a análise. Esta só ocorre, efetivamente, com o conteúdo dos trechos de cada entrevista, destacando o conteúdo do que foi realmente expressado pelo interlocutor, características estas que são intrínsecas à pesquisa qualitativa (KETOKIVI; CHOI, 2014; MILES, MATTHEW B.; HUBERMAN; SALDAÑA, 2014).

Destaca-se a pesquisa de Binder e Edwards (2010) que utilizou e justificou procedimento muito semelhante a este para análise qualitativa de dados, gerando frequências para identificação de ocorrência de códigos. A partir destes indicadores foi possível a criação de tabelas comparativas para cada um dos elos pesquisados, viabilizando a interpretação dos dados entre cada um dos casos, bem como similaridades, divergências e tendências. Isto foi possível através da classificação dos indicadores em três níveis de intensidade: “Fraco”, “Moderado” e “Forte”. Nesta classificação o grau “Fraco” representa os fatores que ficaram abaixo da mediana da dimensão para determinado elo, o grau “Moderado” representa os fatores que apresentaram valores iguais aos da mediana e o grau “Forte” representa os fatores que ficaram acima dos valores da mediana.

Seguindo este mesmo princípio, para análise dos Parâmetros Operacionais das Cadeias de Suprimentos, foram utilizados os índices gerados a partir das análises dos códigos detectados em cada empresa. Assim, utilizou-se o indicador de incidência para cada dimensão e para cada empresa para geração de um indicador do elo, considerado como a mediana dos indicadores das empresas do elo para cada uma das dimensões. De posse desse indicador por elo foi gerado um indicador geral da Cadeia de Suprimentos para cada dimensão, sendo considerado como a mediana dos indicadores por elo. Com esta informação, gerou-se a classificação em três níveis de intensidade (“Fraco”, “Moderado”, “Forte”), da mesma forma que foi realizado na análise dos elos das cadeias. A utilização de ferramentas de análise como estas é indicado quando se possui grande quantidade de volume de dados de múltiplos casos e se deseja realizar análises entre eles. Com isso, facilita-se a compreensão mais holística dos casos, permitindo verificar pontos em comum ou polares (DONE; VOSS; RYTTER, 2011; MILES, MATTHEW B.; HUBERMAN; SALDAÑA, 2014; PAGELL, 2004; PEDRAZA MARTINEZ; STAPLETON; VAN WASSENHOVE, 2011; VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados oriundos da pesquisa de campo realizada conforme os aspectos metodológicos já apresentados. Assim, nas seções seguintes, primeiramente são apresentados os resultados quanto às estruturas das Cadeias de Suprimentos Agrícolas pesquisadas, bem como o perfil das empresas e dos elos que as compõem, além da forma como os elos acessam, diretamente ou indiretamente, as tecnologias selecionadas. Em seguida, traz-se a discussão para os Parâmetros Operacionais de Práticas, Capacidades e Desempenho, mostrando o confronto entre as dimensões teóricas e os dados encontrados no campo, bem como as alterações realizas nas dimensões. Após isto, apresentam-se os resultados e discussões sobre como os Parâmetros Operacionais foram impactados em cada uma das Cadeias de Suprimentos pesquisadas, de acordo com a adoção das tecnologias fornecidas pelas T-KIBS selecionadas. Por fim, é realizada uma análise comparativa entre as três Cadeias, com relação aos referidos parâmetros, para se verificar possíveis congruências e divergências de resultados, comparativamente.