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Conforme mencionado, a seleção das cadeias de suprimentos e das tecnologias para esta pesquisa se deu a partir da área de atuação da primeira T-KIBS, previamente definida, a saber a Embrapa Agroindústria Tropical. Assim, primeiramente foi definido o setor agroindustrial como área de atuação das cadeias a serem pesquisadas. Em seguida, definiu-se a Embrapa Agroindústria Tropical como empresa de T-KIBS, atuando no setor

agroindustrial. A partir da área de atuação desta empresa, foram definidas as cadeias de suprimentos, as tecnologias e as empresas a serem pesquisadas.

Para a escolha das cadeias de suprimentos, considerou-se informações estratégicas e a atuação tecnológica da Embrapa Agroindústria Tropical, presentes em seu V Plano Diretor, para o período de 2014 a 2018 (OLIVEIRA et al., 2013). Após a coleta destas informações documentais, foi realizada uma entrevista com um dos gestores da empresa atuante na área de transferência de tecnologias, para obtenção de mais informações sobre as cadeias passíveis de participação na referida pesquisa. Assim, após estas análises as cadeias selecionadas foram: a cadeia de suprimentos do caju e a cadeia de suprimentos do coco. Estas cadeias foram estudadas sob os aspectos operacionais a partir da implementação de tecnologias transferidas pela Embrapa Agroindústria Tropical. Ressalta-se que esta empresa não atua como agente produtivo nos processos das referidas cadeias de suprimentos. As implementações das tecnologias serviram como indutores de possíveis processos de alterações nas atividades operacionais da empresa, que podem desencadear alterações nas práticas, capacidades e desempenhos. Além disso, ao se ampliar o foco da avaliação das empresas para os elos e para as cadeias, tem-se a possibilidade de verificar como estas alterações podem ter reflexos também nas cadeias de suprimentos, conforme proposto nos objetivos desta pesquisa.

Inicialmente, foram escolhidas duas tecnologias para servirem como fio condutor das alterações operacionais. Para a cadeia de suprimentos do caju foi selecionada a tecnologia de clones vegetais de cajueiro anão. De acordo com a empresa (EMBRAPA, 2015a), estes clones possuem características que os diferenciam dos cajueiros comuns, também conhecidos como gigantes. Uma das características mais perceptíveis está no porte, bem menor quando comparado aos outros tipos de cajueiro, como o próprio nome se refere. Os clones de cajueiro anão possuem três metros de altura e copa com seis a sete metros de diâmetro. Já o cajueiro comum possui árvores que vão de 12 a 20 metros de altura, com copa em torno de 10 metros de diâmetro. Tal característica, de porte reduzido, facilita a colheita do caju (pseudofruto), uma vez que esta pode ser realizada diretamente com a mão ou, ainda que caia no solo, devida a baixa altura da queda, pode suportar o impacto, causando baixos danos ao pseudofruto. Isto possibilita seu aproveitamento para a indústria de processamento ou consumo in natura, opções mais remotas ou inviáveis para o cajueiro comum.

Além disso, os clones de cajueiro anão apresentam produtividades de duas a três vezes maior do que os cajueiros comuns. Outra característica é a resistência a ação de pragas e doenças e ampliação do período de safra, além das características organolépticas, tais como cor, textura, aroma e sabor de seus frutos. Estas tornam o produto final (processado ou in natura) mais apropriado ao consumo, diferentemente do pseudofruto proveniente do cajueiro comum (EMBRAPA, 2015a). Outro ponto relevante quanto ao pseudofruto diz respeito à sua produção. Nos anos de 2011 a 2013, a produção nacional atingiu valores recordes de mais de 1,8 milhão de quilos. Desse total, aproximadamente 6% foi destinado ao processamento de suco integral da fruta (FAOSTAT, 2015). A produção concentra-se principalmente nos estados do nordeste brasileiro, onde o estado do Ceará se destaca com a maior média de produção entre os anos de 2003 a 2013, respondendo por, aproximadamente por 48,13% da produção, contra 21,95% do estado do Rio Grande do Norte e 18,04% do estado do Piauí (EMBRAPA, 2015a; IBGE, 2015).

Para a cadeia de suprimentos do coco foi selecionada a tecnologia de envase e conservação da água de coco. Esta tecnologia é representada por um pacote tecnológico, formado por máquinas e processos ajustáveis e alteráveis de acordo com o volume de processamento, bem como o tipo de produto a ser gerado, o tipo de envase e acondicionamento do produto final, obedecendo as regras normativas vigentes em âmbito nacional e internacional. Diferentemente da tecnologia de clones de cajueiro anão, esta tecnologia se insere na cadeia de suprimentos no elo de processamento. Neste caso, a inserção da tecnologia ocorre no sentido inverso ao fluxo de suprimentos da cadeia, de jusante para montante. Já na tecnologia de clones de cajueiro anão, a inserção ocorre nos elos agrícolas, tendo seus possíveis efeitos nos demais elos, no decorrer do fluxo da cadeia de suprimentos, de montante para jusante.

Tradicionalmente, o mercado de coco é voltado para o coco seco (fruto maduro), para obtenção de produtos a partir da polpa deste material. Deste fruto são processados produtos para a indústria alimentícia, tais como o coco ralado e o leite de coco. Estes ingredientes são utilizados como matéria-prima para indústrias alimentícias, na fabricação de produtos como biscoitos, chocolates, produtos de panificação, sorvetes, iogurtes, entre outros. No entanto, existe outro mercado que utiliza o coco verde (fruto colhido ainda em processo de maturação) para a obtenção da água do coco verde, visando

o consumo da bebida in natura ou processada e envasada. Esta última opção apresenta- se em crescimento, não só no mercado nacional, como internacionalmente. Um dos fatores que contribuem para este aumento de consumo são as propriedades nutricionais deste produto isoladamente ou associado a outras bebidas (MARTINS; JESUS JÚNIOR, 2014).

Em termos de mercado, nos Estados Unidos por exemplo, estima-se que as três maiores marcas (com datas de lançamento em 2004, 2005 e 2009) faturaram juntas, aproximadamente, US$ 400 milhões em 2013. Vale destacar que, entre os anos de 2008 e 2012, os Estados Unidos alcançaram aumento de 540% no número de marcas de água de coco verde envasada. No entanto, mesmo com os números expressivos da economia americana, o mercado de lançamentos internacionais chegou a ser dominado pelo Brasil. Estima-se que, no Brasil, a produção anual de frutos, com finalidade para extração de água, chegue próximo a 1,5 bilhão de unidades. Esta quantidade proporciona a expectativa de produção de 450 milhões de litros de água de coco verde de forma isolada. Isto sem considerar o volume após a adição de sucos de frutas, ou outros mixes, prática muito comum para o mercado internacional (CAVALCANTI, 2014). No mercado brasileiro, o consumo de água de coco verde evoluiu de 22 milhões de litros em 2004, para 116,4 milhões de litros em 2012, com tendência de crescimento ainda constante (MARTINS; JESUS JÚNIOR, 2014).

Conforme mencionado anteriormente, além das duas cadeias selecionadas a partir de tecnologias desenvolvidas e transferidas pela T-KIBS nacional (Embrapa), buscou-se trabalhar também com outra T-KIBS (Corpoica), que pertencesse a outro país (Colômbia), a fim de ampliar a validade externa e a confiabilidade desta pesquisa. Além disso, procurou-se trabalhar com um produto que fosse base de uma das cadeias já selecionadas na fase nacional. Com isso, seria possível a realização de contrapontos entre as cadeias, já que haveriam alguns parâmetros em comum. Assim, após contatos com pesquisadores da Corpoica, verificou-se a possibilidade de se trabalhar com a cadeia de suprimentos do caju, na Colômbia. No entanto, para fins de diferenciação nesta pesquisa, esta será denominada de “Cadeia de Suprimentos do Marañón”, nome como é conhecido o caju na Colômbia. Para esta cadeia, não foi considerada uma tecnologia em si, porém, um pacote tecnológico, compreendido por clones e por práticas de manejo agrícola para o cajueiro, que fossem desenvolvidas ou adaptadas pela Corpoica para o setor produtivo.

O objetivo deste pacote tecnológico é fazer com que os produtores possuam pomares mais tecnológicos, com melhor material genético, com maior produtividade e menores níveis de perdas, agrícolas, industriais, ou financeiras, por exemplo.

De acordo com as informações obtidas em campo, junto aos pesquisadores colombianos, a cultura do cajueiro está passando por processos de expansão, tanto devido aos projetos de P&D, como devido a investimentos nacionais em plantio e processamento do fruto. Estas ações por parte do setor produtivo, se devem à grande quantidade de terra disponíveis para cultivo, bem como pelo aumento de demanda pelo consumo nacional de castanha de caju. Durante os anos de 2005 a 2015, a importação de castanha de caju pela Colômbia aumentou quase 10 vezes, apresentando ainda sinais de crescimento a longo prazo (LEGISCOMEX, 2016). Atualmente, devido a estes projetos de expansão, tanto agrícola, quanto de processamento, existem atividades de pesquisa e transferência de tecnologias junto aos produtores de caju, daquele país. Este movimento possui como objetivo tanto o aumento da produção e processamento nacional de castanha de caju, quanto do pedúnculo de caju, que ainda não apresenta produtos nacionais consolidados. Assim, a coleta de dados focou nas duas regiões produtoras que são focos dessas ações de expansão da cajucultura naquele país.

Percebe-se que as três tecnologias apresentam características desejáveis para esta pesquisa. Isto, no que diz respeito a serem, possivelmente, indutoras de alterações nas práticas e de desenvolvimento de capacidades operacionais. Assim, diante dos cenários apresentados, estas tecnologias foram utilizadas para se pesquisar como a introdução destas tecnologias agroindustriais alterou os aspectos operacionais das cadeias de suprimentos apresentadas. Para isto, foram analisadas empresas representantes dos seus diversos elos, que variam de acordo com cada cadeia. Mas, de forma ampla, pode-se afirmar que eles estão divididos entre “Produtores de Mudas”, “Produtores Agrícolas”, “Processadores Primários” e “Processadores Secundários”. Vale destacar que, de acordo com o tipo de produto a ser processado podem haver subdivisões destes elos.

Conforme relatado, as tecnologias possuem diferentes elos de inserção na cadeia. Assim, tem-se que a tecnologia de clones de cajueiro anão (desenvolvida pela Embrapa), quanto o pacote tecnológico para caju cultura (desenvolvida pela Corpoica), possuem inserção nos primeiros elos das cadeias, que podem ser chamados de elos agrícolas. Já a tecnologia

de processos para envase de água de coco verde (desenvolvida pela Embrapa) possui inserção nos elos finais da cadeia, que podem ser chamados de elos industriais ou de processamento. A figura a seguir apresenta, de forma consolidada, como ocorrem estas inserções tecnológicas nas cadeias de suprimentos agroindustriais. Em seguida, apresenta-se um quadro resumo com a formatação da coleta de dados. Definidas as tecnologias, a etapa seguinte foi a coleta e análise de dados, que serão discutidas no tópico a seguir.

Figura 6 – Inserção das Tecnologias nas Cadeias de Suprimentos. Fonte: Elaboração própria.

Parâmetros Cadeia de Suprimentos do Caju Cadeia de Suprimentos da Água de Coco Cadeia de Suprimentos do Marañón

País Brasil Brasil Colômbia

T-KIBS Embrapa Embrapa Corpoica

Cadeia de Suprimentos Caju Cultura Água de Coco Verde Marañón (Caju) Cultura

Produto Base da Cadeia Caju Coco Marañón (Caju)

Elo de Inserção da Tecnologia Agrícolas Industriais Agrícolas Quadro 11 – Resumo da Formatação da Coleta de Dados.