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Para a viabilização da inovação tecnológica no setor agroindustrial, faz-se necessário investimento constante em ações de P&D. Porém, a diversidade de empresas de pequeno e médio porte neste setor (YANES-ESTÉVEZ; OREJA-RODRÍGUEZ; GARCÍA- PÉREZ, 2010), aliadas aos riscos inerentes a este tipo de pesquisa, faz com que poucas empresas invistam em P&D (MAZZUCATO, 2011). Assim, devido à importância deste

setor para as economias dos países em desenvolvimento, os governos atuam como incentivadores e fomentadores de ações de P&D em atividades agroindustriais. Esta inciativa, além de promover o setor, também contribui com o aumento de receita dos governos. Isto se dá de forma indireta, com a ampliação do setor e os ganhos derivados das comercializações nacionais e internacionais (BEINTEMA, NIENKE M.; STADS, 2010).

Analisando-se o contexto internacional, China, Índia e Brasil (nesta ordem) perfazem 41% do total de investimento em P&D para o setor agropecuário. No entanto, quando se faz a proporção do valor investido para o número de empreendimentos agroindustriais, o Brasil investe até 20 vezes mais do que os outros dois citados. No contexto brasileiro, dentre as instituições de P&D para a agroindústria, destaca-se a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que, em 2006 por exemplo, recebeu 57% de todo o investimento público em instituições de P&D voltadas para agricultura (BEINTEMA, NIENKE; AVILA; FACHINI, 2010).

A Embrapa, que tem sua criação datada em 26 de abril de 1973 (EMBRAPA, 2015b), é uma empresa vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e que atua sob sua ingerência (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2015). De acordo com o seu atual Plano Diretor (EMBRAPA, 2008), a missão desta empresa é “Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira”. Esta viabilização se dá nos processos de inovação ao realizar a transferência de tecnologias, advindas de ações de P&D, aos setores produtivos ou sociais. Estes utilizam as tecnologias na obtenção de novo produtos, processos ou serviços. Vale destacar que o termo “agricultura” utilizado na missão, refere-se ao sentido amplo, contemplando as várias atividades referentes a este setor, tais como (EMBRAPA, 2008):

“Produção, o beneficiamento e/ou a transformação de produtos agrossilvipastoris, aquícolas e extrativistas, pois compreende desde processos mais simples até os mais complexos, inclusive o artesanato no meio rural e a agroindústria em seu conceito ampliado, que abrange insumos, máquinas, agropecuária, indústria e distribuição”.

Quando de sua criação, a Embrapa possuía como desafio a transformação do Brasil de um país importador de alimentos básicos para a condição de produtor efetivo de seus

alimentos, bem como auxiliar na segurança alimentar do país. Com a sua atuação, juntamente com os demais parceiros institucionais do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), foi possível o desenvolvimento de soluções propícias às condições nacionais, não só de demandas, quanto das diversas condições climáticas. Este conjunto de ações auxiliou o Brasil no alcance de resultados expressivos para a agricultura nacional e internacional. Dentre eles, pode-se citar a ampliação do leque de oferta de produtos exportados para o mercado internacional, despontando entre os líderes de comercialização de itens como aves, cana de açúcar, etanol, soja, carne bovina, entre outras culturas, competindo com países como Austrália, Estados Unidos, Canadá e membros da União Europeia (BELL; KINDRED, 2011).

A atuação da Embrapa, para alcançar os objetivos propostos, se dá através de Unidades de Pesquisas e Serviços e Unidades Administrativas. Estas estão distribuídas em todo o território brasileiro, atuando com os mais diferentes biomas existentes no país. As Unidades de Pesquisa e Serviços (ou Unidades Descentralizadas) estão subdivididas em 17 Unidades Eco Regionais, 14 Unidades de Produtos, 10 Unidades de Temas Básicos e cinco Unidades de Serviço, perfazendo o total de 46 Unidades Descentralizadas, distribuídas pelo território brasileiro (EMBRAPA, 2015b). A Embrapa também dispõe

de 17 Unidades Administrativas (ou Unidades Centrais). Elas estão localizadas na sede administrativa da instituição (Brasília-DF). Além da atuação em território nacional, a Embrapa também possui ações em ambiente internacional. Esta presença internacional tem o intuito de ampliar sua participação no avanço do conhecimento da agricultura em âmbito mundial. Esta atuação ocorre tanto com acordos bilaterais de pesquisas, como o envio e recebimento de pesquisadores para intercâmbios científicos, além de cooperação técnica com países em desenvolvimento, na capacitação e transferência de tecnologias (BEINTEMA, NIENKE; AVILA; FACHINI, 2010).

Dada a estrutura apresentada, destaca-se que esta pesquisa adotou uma das Unidades como agente de transferência de tecnologias (T-KIBS), com possíveis induções de desenvolvimento de capacidades em empresas das cadeias de suprimentos. Assim, a Unidade escolhida foi a Embrapa Agroindústria Tropical, situada em Fortaleza-CE, que é uma das Unidades de Pesquisa de Temas Básicos da Embrapa. Atualmente, sua missão é “viabilizar soluções que aumentem a competitividade e sustentabilidade de cadeias produtivas da agroindústria tropical em benefício da sociedade brasileira” (OLIVEIRA et

al., 2013). Como estratégia de atuação, a Embrapa Agroindústria Tropical possui ações e projetos de cunho multidisciplinares focados em demandas e pontos críticos dos sistemas agroindustriais. Tais ações vão desde as fases de melhoramento genético e biologia molecular, passando por todas as fases de plantio e cultivo agrícola, colheita, pós-colheita, processamento agroindustrial para fins alimentares e não alimentares, indo até a análise de resíduos e estudos de impactos ambientais, sociais e econômicos (EMBRAPA, 2015a).

Esta Unidade da Embrapa possui características de atuação frente aos diversos elos das cadeias de suprimentos. Isto fornece condições para o atendimento de demandas mais amplas das cadeias, bem como atuação junto aos diferentes públicos. Verificou-se também que a atuação junto aos setores produtivos se dá por meio de vários processos estruturados, que ocorrem tanto prévios quanto após aos atos de transferências de tecnologias em si. Esta atuação estruturada faz com que as ações de transferência sejam elaboradas de forma efetiva, podendo ser utilizadas, inclusive, como fonte de informações para outros projetos de P&D e ações de transferência (EMBRAPA, 2015a).

Diante do cenário exposto, esta pesquisa utilizou a Unidade Descentralizada da Embrapa Agroindústria Tropical como T-KIBS externa às cadeias de suprimentos. Este cenário propicia verificar se estas interferências externas podem influenciar a adoção de novas práticas operacionais induzidas pelas implementações de tais tecnologias agroindustriais. Além disso, esta verificação será ampliada ao possível desenvolvimento de capacidades operacionais (WU; MELNYK; SWINK, 2012). Devido ao contexto de cadeias de suprimentos e suas atuações nos diversos elos, pretende-se verificar se tais impactos podem repercutir, também, no desenvolvimento de capacidades das cadeias e possíveis impactos em seus desempenhos (MORASH, 2001), conforme os objetivos propostos para esta pesquisa.