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Com a evolução dos estudos sobre recursos, práticas e capacidades, algumas pesquisas utilizam diferentes conceitos e interpretações para estes termos. Isto pode gerar conflitos quando da utilização dos resultados destas pesquisas, diante da possibilidade de mescla de alguns significados ou utilização fora do arcabouço escolhido pelos pesquisadores (GRÖBLER; GRÜBNER, 2006; ZAHRA; SAPIENZA; DAVIDSSON, 2006). Diante da necessidade de se distinguir os conceitos sobre os elementos responsáveis pela diferenciação das empresas, os autores Ray e Ramakrishnan (2006) elaboraram um material com proposta elucidativa. O intuito da pesquisa foi auxiliar o entendimento e a aplicação destes três conceitos que, por vezes, parecem se sombrear. Como base, utilizaram diversos estudos que abordam conceitos de recursos, competências e capacidades. Ao todo, foram elencados e confrontados conceitos trazidos por 12 artigos sobre recursos, 20 artigos sobre competências e 21 sobre capacidades. A partir deles, procuraram apresentar definições que pudessem ser replicadas nas pesquisas futuras, evitando a difusão desordenada dos conceitos.

Apesar do constructo “competência” não fazer parte do escopo desta pesquisa, entende- se que sua conceituação é necessária para melhor compreensão dos demais constructos. Assim, tem-se que competências são as habilidades que são desenvolvidas nas empresas para utilizar os recursos de modo a auxiliarem no alcance dos objetivos organizacionais (SANCHEZ; HEENE, 1997). Este conceito é complementado por Teece et al. (1997), ao afirmarem que estas competências são adquiridas com a rotina. A competência vem da habilidade, conquistada com a rotina, em se utilizar exaustivamente os recursos específicos da firma, da melhor forma, para o alcance dos resultados da empresa (RAY; RAMAKRISHNAN, 2006).

Com relação às capacidades organizacionais, pode-se entender como o estabelecimento dos recursos, práticas, processos e rotinas que, juntos, geram resultados específicos para determinada empresa (WINTER, 2000). As capacidades viabilizam adaptação das empresas às rápidas alterações nas necessidades dos clientes, bem como o alinhamento estratégico institucional (ULRICH; LAKE, 1991). Estes autores chamam atenção para o fato de que a capacidade é entendida como algo inerente às organizações. Porém, ao mesmo tempo, resultante da junção de elementos organizacionais com elementos tácitos individuais, que contribuem para o desenvolvimento dos resultados institucionais (O’REILLY III; TUSHMAN, 2008). Assim, as capacidades são imputadas às empresas, porém, não desassociadas dos seus profissionais, que executam as atividades e operacionalizam os recursos organizacionais. Em relação ao conceito de “competências”, abordado anteriormente, as capacidades seriam consequências do conjunto de competências, atuando em conjunto com os processos, rotinas e outras habilidades para que a empresa alcance seus objetivos institucionais (RAY; RAMAKRISHNAN, 2006).

No que diz respeito à função estratégica das capacidades para as organizações, seu conceito foca-se no resultado que elas podem proporcionar. Assim, as capacidades estratégicas, por exemplo, são reconhecidas como derivadas do conjunto de elementos que compõem as capacidades organizacionais. Porém, com o viés de serem avaliadas conforme suas contribuições para os alcances das metas e desempenho da empresa como um todo, incluindo o lucro. Dentre os campos de sua mensuração, destaca-se o atendimento às demandas dos clientes, bem como o aumento de participação de mercado, quando comparada às outras empresas, entre outros indicadores (STALK; EVANS; SHULMAN, 1992).

Outras pesquisas, ao abordarem as capacidades, direcionam os trabalhos para as características referentes às áreas operacionais das empresas, área que é escopo desta pesquisa. Assim, dá-se o foco para as capacidades operacionais, entendendo-as como estratificação das capacidades organizacionais (WU; MELNYK; SWINK, 2012). Verifica-se que as capacidades operacionais podem ser representadas pelo potencial de agrupamento de recursos, processos e rotinas, no âmbito operacional, de forma única e que foram desenvolvidas especificamente para ações produtivas da empresa (EISENHARDT; MARTIN, 2000). Estas capacidades operacionais apresentam como consequência a resolução de problemas e alcance de bons resultados setoriais, que podem ser reverberados para outras áreas da empresa (RAY; RAMAKRISHNAN, 2006). Tais capacidades ainda permitem, aos gestores, o desenvolvimento de soluções que visem as necessidades e desafios institucionais. Este aprimoramento se dá através do uso dos recursos, práticas e conhecimentos, que podem auxiliar no alcance de melhoria no desempenho da empresa (COLOTLA; SHI; GREGORY, 2003).

Algumas características das capacidades operacionais são levantadas pela literatura, com o intuito de facilitar sua identificação e diferenciação dos demais elementos da empresa. Além disso, as Capacidades Operacionais possuem características que auxiliam na sua identificação, compreensão e mensuração (WU; MELNYK; FLYNN, 2010), a saber:

- Específicas: devido ao fato de serem resultantes da combinação entre recursos, habilidades e práticas, as capacidades acabam assumindo perfis com aplicação e resultados bastante específicos em cada empresa. Mesmo com a replicação das práticas e utilização dos mesmos recursos, as habilidades e o contexto de cada empresa podem alterar os resultados finais dos processos operacionais. Por isso, mesmo que possuam a mesma característica, as capacidades podem ser consideradas como pertencentes à uma mesma classificação, mas com especificidades de aplicação e resultados de acordo com cada empresa (WU; MELNYK; SWINK, 2012).

- Construídas: as capacidades operacionais são construídas ao longo do tempo nas empresas. De acordo com a utilização dos recursos e das práticas, são criadas rotinas para a execução de processos que conferem a eles determinadas características e resultados específicos daquela empresa. O conjunto destes usos e resultados, aliados ao contexto e

habilidades intrínsecos a cada empresa formam as capacidades (LIU; ROTH; RABINOVICH, 2011). Assim, elas passam por um período de desenvolvimento e ajustes de acordo com a realidade de cada empresa (LEONARD-BARTON, D., 1992).

- Tácitas: No que diz respeito ao tipo de conhecimento das capacidades operacionais, elas podem ser classificadas como de conhecimento tácito. Este conhecimento está mais ligado ao indivíduo e suas atividades. Com isso, sua transferência é ocasionada principalmente pela interação e trabalho em conjunto entre equipes durante os processos de prestação de serviços (KILLEN; HUNT; KLEINSCHMIDT, 2008). Isto se deve ao fato de que as capacidades são aprendidas e formadas a partir da troca de conhecimentos e práticas diárias. Devido a esta execução abstrata, não registrada, muitas vezes pode não ser detectada por aqueles que as executam. Tal fato torna difícil não só sua percepção, como sua imitação, mensuração e até mesmo a pesquisa acadêmica em torno do tema (GREWAL; SLOTEGRAAF, 2007; SCHOENHERR; NARASIMHAN, 2012). Este ponto traz divergências quanto às práticas operacionais, que utilizam o conhecimento explícito, são transferíveis e de mensuração rápida, a partir de seus protocolos (RICHTNÉR; ÅHLSTRÖM, 2010; WU; MELNYK; FLYNN, 2010).

- Dependente de Caminho: As capacidades são derivadas de aspectos peculiares de cada empresa, que influenciam nas estratégias de atuação. Estas variáveis são repercutidas nas capacidades, afetando sua execução e resultados. Dentre os fatores que podem influenciar tem-se a forma como se dão os processos de aprendizagem, de tomadas de decisões e bem como aspectos culturais da organização (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Assim, o processo de desenvolvimento das capacidades é influenciado pelo ambiente e seus aspectos tácitos, gerando caminhos de construção diferentes em cada empresa.

- Avaliação Empírica: apesar de sua identificação sutil (SCHOENHERR; NARASIMHAN, 2012), as capacidades podem ser validadas empiricamente, através da constatação de situações reais encontradas nas ações diárias das empresas. De acordo com a estratégia e o público alvo, a empresa, ou a pesquisa científica, define parâmetros específicos para aferir se suas capacidades estão contribuindo com resultados benéficos ao alcance das metas, bem como atendendo aos anseios dos clientes (WU; MELNYK; FLYNN, 2010).

Estas características das capacidades operacionais proporcionam singularidade a cada empresa, servindo como diferencial competitivo, ao proporcionar diminuto grau de imitação. Além disso, ao se caracterizar tende-se a auxiliar na identificação destas capacidades. Por serem resultado advindos da interação entre os recursos, as práticas operacionais e as rotinas, sua diferenciação torna-se sutil passando, em alguns casos, desapercebidas ou atribuídas a estes outros elementos. Devido a esta peculiaridade, Wu et al. (2010) denominam as capacidades operacionais como “ingrediente secreto” dos processos e resultados operacionais. Estes autores apresentam o seguinte conceito, que será utilizado como parâmetro para esta pesquisa:

Capacidades operacionais são conjuntos específicos de cada empresa, relativos a habilidades, processos e rotinas, desenvolvidas no âmbito do sistema de gestão de operações, que são regularmente utilizados na resolução dos seus problemas através da configuração dos seus recursos operacionais.(WU; MELNYK; FLYNN, 2010, p. 6, tradução nossa)

Dada a necessidade de constantes adaptações frente às alterações dos mercados, as capacidades também apresentam alterações, como reflexo dos ajustes executados pelas empresas (HALLGREN; OLHAGER; SCHROEDER, 2011). Para esta readaptação, as empresas adquirem novas tecnologias, aprimoram processos, alteram suas práticas ou buscam desenvolver novas habilidades em seus funcionários, com o intuito de se alcançar um novo patamar nos processos produtivos. Esta nova configuração operacional traz consigo o desenvolvimento de novas capacidades operacionais, ou o aperfeiçoamento das já existentes, que sejam mais apropriadas à nova realidade da empresa (LIU; ROTH; RABINOVICH, 2011). Nesta perspectiva, sugere-se inclusive que as empresas estejam em constante avaliação de suas capacidades, verificando a pertinência de suas readequações, mediante o ambiente externo e dentro de suas especificidades. Com isso, poderão apresentar resultados positivos aos clientes, com a obtenção de vantagens competitivas, diante do novo quadro de capacidades desenvolvidas pelas empresas (DEFEE; FUGATE, 2010).