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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2004011062166-

No documento 179rdj090 (páginas 134-146)

Apelante - SINDELETRO - Sindicato das Indústrias de Reparação e Manutenção de Máquinas Aparelhos e Equipamentos Industriais, Elétricos e Eletrônicos de Uso Doméstico do Distrito Federal e Distrito Federal

Relatora - Desa. Sandra De Santis Sexta Turma Cível

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL - DECLARATÓRIA DE ILEGALIDADE - SINDICATO - PRELIMINAR DE LEGITIMIDADE ATIVA - MODIFICAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR - FATO NOTÓRIO - PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA - TAXA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - PODER DE POLÍCIA - TIPO DE ATIVIDADE PRESTADA PELAS EMPRESAS FILIADAS.

I. O art. 8º, inciso III da Constituição Federal autoriza o sindi- cato a demandar em defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada. II. As atividades da empresas filiadas podem se aferidas mediante simples leitura dos dispositivos legais. Trata-se de fato notório, que não se submete ao princípio da congruência. Cabe ao magistrado verificar a subsunção do fato à norma.

III. A Taxa de Vigilância Sanitária regulada pela Lei Distrital n.º 264/99 decorre do efetivo exercício do poder de polícia ad- ministrativa.

IV. As empresas que prestam serviços de reparação de aparelhos e equipamentos eletroeletrônicos não se encaixam no fato gerador definido na norma legal.

V. Apelo provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da Sexta Turma Cível do Tri- bunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Sandra De Santis - Relatora, Diva Lucy Ibiapina - Revisora e Jair Soares - Vogal, sob a presidência da Senhora Desembargadora Ana Maria Duarte Amarante Brito em conhecer e rejeitar as preliminares. No mérito, dar provimento por maioria, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta pelo SINDELETRO - Sindicato das Indústrias de Reparação e Manutenção de Máquinas, Aparelhos e Equipamentos Industriais, Elétricos e Eletrônicos de Uso Doméstico do Distrito Federal, contra sentença que, em ação de declaratória de ilegalidade da Taxa de Vigilância Sani- tária, o considerou parte ilegítima e extinguiu o feito sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, inciso VI do CPC.

Argumenta que o inciso III, art. 8º da Constituição Federal autoriza o sindicato a representar judicialmente a categoria. Postula o reconhecimento da legitimidade. No mérito, afirma ser ilegal a cobrança da Taxa de Vigilância Sani- tária para os filiados. Ressalta que as empresas substituídas pelo SINDELETRO prestam serviços de reparação de aparelhos e equipamentos eletroeletrônicos. Observa que as atividades não se encaixam no fato gerador definido na Lei n.º 264/99 e no Decreto n.º 22.438/01. Defende que o poder de polícia, requisito essencial à instituição da taxa, “deve ser de fato exercido.” Aduz que não foi con- cedido período de adaptação às regras, nem houve fiscalização in loco. Requer a reforma total da sentença.

Preparo regular.

Contrarrazões às fls. 307/318. O apelado insiste na ilegitimidade ativa ad causam e argúi ofensa ao art. 264 do CPC. Assevera existir inovação na causa de pedir. Requer o não conhecimento do apelo ou, no mérito, o improvimento.

É o relatório.

VOTOS

Desa. Sandra De Santis (Relatora) - Recurso tempestivo, cabível e

regularmente processado. Dele conheço. Da Preliminar de legitimidade ativa

Insurge-se o SINDELETRO contra sentença que, em ação declaratória de ilegalidade, julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, por carência de ação. Insiste ser parte legítima para atuar no feito. Requer a reforma da sentença e o julgamento do mérito do apelo, nos termos do art. 515, §3º do CPC.

Razão lhe assiste. Conquanto não se trate de mandado de segurança co- letivo, o art. 8º, inciso III, da Constituição Federal autoriza o sindicato a demandar em defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Neste sentido os comentários de Nelson e Rosa Maria de Andrade Nery:

“O sindicato pode agir na defesa dos direitos dos membros da categoria, sejam ou não sindicalizados, na esfera administrativa e na judicial, trabalhista ou não (Barbosa Moreira, RP 61/191)” (In Código de

Processo Civil Comentado, RT, 8ª ed., p. 401)

Outrossim, o Estatuto Social acostado às fls. 15/27 define no art. 2º as prerrogativas do Sindicato:

“a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses gerais da categoria econômica representada e os interesses individuais de seus associados.

Omissis.

g) ingressar com ação judicial, para defesa dos seus interesses ou dos associados.”

A jurisprudência desta Corte tem entendido que o sindicato possui legi- timidade ativa ad causam para pleitear os direitos dos filiados, quando ameaçados ou lesionados. Confira-se:

“CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. SINDI- CATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL DA CATEGORIA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. DESNECESSI- DADE DE AUTORIZAÇÃO DOS FILIADOS EM ASSEM- BLEIA. LEI 8.073/90, ARTIGO 3º. ESPECIALIDADE QUE DERROGA A INCIDÊNCIA DO ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. PERCEN- TUAL REMUNERATÓRIO DE 11,98%. PROCURADORES DO DF. CONCESSÃO DEVIDA. PRECEDENTES DESTA CORTE.

1 - É pacífico o entendimento de que os sindicatos, quer em ações ordinárias, quer em ações mandamentais coletivas, tem legitimidade para atuar em defesa dos interesses de seus filiados, pois atuam como substituto processual, nos termos do Artigo 3º da Lei 8.073/90, não constituindo pressuposto dessa atuação a prova de autorização prévia dos filiados, em Assembleia, sob pena de minimização do direito funda- mental insculpido no Artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal;

Omissis;

4 - Sentença cassada;

(APC 2004.01.1048121-5, Rel. Des. CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Julg. 26/04/2006, DJ 05/09/2006, p. 156)

Afasto a ilegitimidade ativa. Verifico que a lide encontra-se em condições de imediato julgamento. Nos termos do art. 515, § 3º do CPC, passo à análise das questões ventiladas pelas partes.

Desa. Diva Lucy Ibiapina (Revisora) - Quanto à preliminar de ilegi-

timidade ativa ad causam que justificou, em primeira instância, a extinção, pelo Julgador Monocrático, do feito sem exame de mérito, creio deva ser afastada, tal como postulado em razões de recurso pela entidade Sindical apelante e fundamen- tado pela Eminente Relatora.

O Estatuto Social do SINDELETRO, de conformidade com a norma constitucional posta no Artigo 8º, inciso III, da Carta da República de 1988, confere legitimidade ao Sindicato para representar judicialmente seus filiados, com dispensa de expressa autorização individual de cada de seus integrantes se caracterizada a abrangência dos direitos defendidos perante o Poder Judiciário, tal como ocorre na hipótese sub judice.

Nada há, portanto, que justifique a extinção, sem conhecimento de mérito, da demanda declaratória proposta pela Autora/Apelante em desfavor do Distrito Federal, motivo pelo qual, acompanhando a Douta Relatoria, voto no sentido de que seja dado provimento ao Apelo interposto pelo SINDELETRO e, de consequência, reformada a sentença vergastada. Mas, estando reunidas as condições para julgamento imediato de mérito por esse Egrégio Tribunal, confor- me permissão posta no Artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil, prossigo no exame da pretensão recursal.

Des. Jair Soares (Vogal) - Com a Relatora.

Da Preliminar de não conhecimento

Desa. Sandra De Santis (Relatora) - Em contrarrazões, o Distrito

Federal alega que houve modificação, em fase recursal, da causa de pedir. Afirma que o autor fundamentou o pedido na “ausência de efetiva inspeção referida no art. 15 (...)”, mas no apelo sustenta que as atividades praticadas pelos associados do SINDELETRO não configuram fato gerador da taxa de Vigilância Sanitária. Requer o não conhecimento do apelo.

Os argumentos não merecem acolhida. O Sindicato postula a declaração

de da cobrança em relação às empresas associadas. Aponta os dispositivos que

considera violados e, como fundamentos, alega ausência de exercício do poder de polícia e inadequação das atividades ao fato gerador. Transcrevo excertos da inicial que abordam o tema:

“As empresas representadas pelo SINDELETRO não podem ser cobradas pela taxa de vigilância sanitária, pois, veja Excelência, são empresas que atuam com reparação e manutenção de equipamentos elétricos e eletrônicos.” (fl. 05)

“Pelos documentos em anexo, bem se vê o abuso de direito ou de exercício de atividades de modo arbitrário, pois está sendo cobrada a Taxa de Vigilância Sanitária - TVS, de empresas que sequer estão enquadradas no Anexo Único do Decreto n.º 24.043/2003, que são as que exercem atividade da categoria representada pelo Sindicato autor.” (fls. 07/08)

Outrossim, nos memoriais, o autor requer o deferimento do pedido conforme julgamento proferido em feito análogo. Da cópia da sentença acostada, extrai-se que a cobrança foi declarada ilegal porque, entre outros fundamentos, as empresas autoras não estavam incluídas no rol discriminado no Decreto. Assim decidiu o MM. Juiz Álvaro Luis Ciarlini (Autos n.º 2004.01.1.062162-6):

“Entendo que as empresas representadas pelo autor não se enquadram como sujeitos passivos da taxa em questão, na medida em que os diplo- mas legais que se referem a tal tributo - frise-se a Lei Complementar n.º 264/99 e o Anexo Único do Decreto n.º 24.043/03 - não fazem pressupor, em momento algum, que as tais empresas têm relação com os ramos por eles apontados.

Não identifico relação alguma das empresas com as substâncias citadas por referidos diplomas, quais sejam, alimentos, produtos alimentícios, medica- mentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos de higiene, cosméticos, embalagens saneantes, utensílios ou aparelhos que interessam à saúde. (...) percebe-se que referido anexo nada menciona acerca de indústrias ou comércio de madeira imobiliário, o faz crer, em definitivo, ser ilegal a cobrança a essas empresas.” (fl. 279)

É evidente que a instrução deu ênfase à comprovação da existência ou inexistência de inspeção local, um dos fundamentos do autor, porque o enquadra-

mento da empresa no rol taxativo do decreto pode ser aferido mediante simples leitura dos dispositivos legais, bem como do Estatuto Social do Sindicato. Trata-se de fato notório, que não se submete ao princípio da congruência, nos termos do art. 334, inciso I do CPC. De mais a mais, é tarefa do magistrado verificar se houve subsunção do fato à norma. Segundo a lição de Fredie Didier, a ilegalidade pode ser declarada por outros fundamentos:

“Lembre-se de que os fundamentos jurídicos não se submetem ao princípio da congruência, visto que compõem questões de direito, cuja análise pode ser feita de ofício pelo juiz em razão do princípio iuria novit curia. Assim, nada impede que o magistrado, em reforço aos argumentos jurídicos trazidos pelo demandante ou pelo demandado, acrescente outros fundamentos de direito para, respectivamente, acolher ou rejeitar o pedido formulado. Não haverá aí decisão ultra petita.”

(In Curso de Direito Processual Civil, Atlas, p. 250)

Postulada a ilegalidade da cobrança, a tipificação dos fatos mostra-se irrelevante. O juiz conhece o direito e deve categorizá-los com acerto. A parte não pode se prejudicada por eventual deslize técnico do advogado. Afasto a preliminar de não conhecimento do apelo. Passo ao exame do mérito, com fundamento no §3º do artigo 515 do CPC.

Desa. Diva Lucy Ibiapina (Revisora) - Adoto como relatório a narrativa

apresentada pela Eminente Relatora. Juízo de Admissibilidade

Em exame de admissibilidade, conheço do recurso porque presentes os pressupostos subjetivos e objetivos indispensáveis à sua apreciação, com o que rejeito a preliminar suscitada pela parte Recorrida de não conhecimento

desse Apelo porque estaria a Recorrente a promover indevida inovação quanto à causa de pedir.

Em verdade, diversamente do que afirma o ente federativo ora Apelado, não há que se falar em modificação da causa de pedir.

Simples leitura da peça vestibular, em especial dos itens 11.2 (fl. 05), 14.1 (fls. 07-08) e 18.2 (fl. 09), deixa evidente a insurgência da entidade Sindical quanto ao enquadramento das sociedades comerciais que a integram como contribuintes da chamada TVS - Taxa de Vigilância Sanitária, instituída pela Lei Complemen- tar Distrital nº. 264/94 que foi regulamentada pelos Decretos n.º 22.438/01; n.º 24.043/03; e n.º 24.577/04.

Assim, os fundamentos aduzidos em razões de recurso em nada inovam, apenas buscam dar mais força e solidez a um dos argumentos inicialmente aduzidos para o fim de afastar a incidência daquela exação fiscal.

Afasto de consequência, a preliminar de não conhecimento da Apela- ção.

Des. Jair Soares (Vogal) - Com a Relatora. MÉRITO

Desa. Sandra De Santis (Relatora) - No mérito, litigam as partes acerca

da possibilidade de cobrança de taxa de vigilância sanitária, cujo fato gerador é a fiscalização administrativa, sem a comprovação do efetivo exercício do poder de polícia, e a legalidade da exigência sobre a atividade industrial de reparação ou manutenção de equipamentos elétricos e eletrônicos.

No que tange à prévia inspeção, a jurisprudência deste Tribunal mostra- se controvertida. Deve-se distinguir entre as taxas resultantes do poder de polícia e as taxas decorrentes da prestação de serviços públicos. As primeiras exigem a efetiva atuação do poder de polícia, nos termos da conceituação clássica do artigo 78 do CTN. Não basta apenas a potencialidade da atuação administrativa. Neste sentido os artigos 145, inciso II, da Constituição Federal e 77 do CTN, que dispõem, respectivamente:

“Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

Omissis.

Inciso II. Taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utili- zação, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição.

Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a uti- lização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição.”

A TVS regulada pela Lei Distrital nº 264/99 decorre do poder de polícia. Na esteira desse raciocínio, não basta a potencialidade, mas o efetivo exercício do poder de polícia administrativa. O fato restou demonstrado através dos Termos de

Vistoria acostados às fls. 173/200, referentes ao ano de 2003. E, conforme ofício de fls. 171/172, o apelado reconhece o equívoco no lançamento anterior, ao informar que as atividades das filiadas ao SINDELETRO são classificadas de “baixo risco”.

Entretanto, assiste razão ao apelante ao afirmar que as empresas substitu-

ídas pelo Sindicato prestam serviços de reparação de aparelhos e equipamentos eletroeletrônicos e, por conseguinte, não se encaixam no fato gerador definido na norma legal. O art. 15 da Lei Complementar Distrital 264/99 e o art. 2º do

Decreto Distrital nº 22.438/01, assim dispõem:

“Art. 15. A Taxa de Vigilância Sanitária tem como fato gerador a inspeção dos locais onde se fabricam, produzem, transformam, preparam, manipulam, purificam, fracionam, embalam ou reem- balam, importam, exportam, armazenam, distribuem, expedem, transportam, vendem e compram alimentos, produtos alimentí- cios, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos de higiene, cosméticos, correlatos, embalagens saneantes, utensílios e aparelhos que interessem à saúde e de todos os estabelecimentos direta e indiretamente ligados a saúde.

Art. 2º. A Taxa de Vigilância tem como fato gerador o poder de polícia exercido por meio da execução das atividades de Vigilância Sanitária ao fazer a inspeção dos locais onde se fabricar, produzir, transformar, preparar, manipular, purificar, fracionar, embalar ou reembalar, importar, exportar, armazenar, distribuir, expedir, transportar, vender, comprar alimentos, produtos alimentícios, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos de hi- giene, cosméticos, correlatos, embalagens saneantes, utensílios e aparelhos que interessam à saúde e todos os estabelecimentos direta e indiretamente ligados à saúde.”

O Estatuto Social acostado às fls. 15/27 esclarece que as empresas fi- liadas ao SINDELETRO limitam-se à reparação ou manutenção de máquinas e congêneres elétricos e eletrônicos de uso doméstico. Não vislumbro relação entre a atividade empresarial das substituídas e a hipótese de incidência das normas locais que regulamentam a taxa de vigilância sanitária.

É de conhecimento do homem mediano que as atividades de reparação ou manutenção de máquinas, aparelhos e equipamentos industriais elétricos e eletrônicos de uso doméstico não se relacionam direta ou indiretamente à saúde pública ou privada, pois não compreendem fornecimento de produtos ou serviços que envolvam fabricação, produção, transformação, preparo, manipulação, purifi-

cação, fracionamento, embalamento ou reembalamento, importação, exportação, armazenamento, distribuição, expedição, transporte, venda e compra de alimentos,

produtos alimentícios, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos de higiene, cosméticos, correlatos, embalagens saneantes, utensílios e apare- lhos que interessem à saúde. E, ainda que levada em consideração a saúde do

trabalhador, inconteste que a legislação não pode receber a interpretação almejada pelo Distrito Federal.

A razão das normas de tributação especial é a preservação da saúde pública, e as hipóteses do anexo são taxativas. Não há como estender a co- brança da taxa a toda e qualquer atividade comercial, não relacionada com o manuseio e comércio de alimentos ou produtos ligados à saúde, sob pena de conferir interpretação excessivamente elástica à hipótese de incidência do tri- buto. Conforme determina o §1º do Artigo 108 do Código Tributário Nacional, o emprego da analogia não pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei. Outrossim, o art. 110 do mesmo diploma assevera que “a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias”. Sobre o tema, trans- crevo aresto deste Tribunal:

“DIREITO TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRELIMINARES DE INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA POR AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA E JULGAMEN- TO EXTRA PETITA REJEITADAS. TAXA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. LEI COMPLEMENTAR DISTRITAL Nº 264/1999 E DECRETOS DISTRITAIS NºS 22.438/2001 e 24.043/2003. AUSÊNCIA DE PREVISÃO QUANTO ÀS INDÚSTRIAS GRÁFICAS.

Omissis.

3. Incabível a cobrança de Taxa de Vigilância Sanitária, com base no artigo 15, da Lei Complementar Distrital n° 264/1999, e Decretos Distritais nºs 22.438/2001 e 24.043/2003, se o sujeito passivo indicado pelo Distrito Federal exerce atividade que não se en- contra entre as hipóteses taxativamente previstas nas referidas normas legais.

4. Preliminares rejeitadas. Recurso do Distrito Federal conhecido e não provido. Recurso voluntário e remessa oficial conhecidos e providos.”

LIMA, 3ª T. Cível, Julg 12/07/2006, DJ 14/09/2006, p. 113). Grifos nossos.

Por outro giro, à vista de tratar-se de fato decorrente de presunção ad hominis prevista nos arts. 334 e 335 do CPC, opera-se a inversão do onus probandi em desfavor do Distrito Federal. Cabia-lhe a prova de que a gama de atividades desenvolvidas pelas filiadas relaciona-se, ao menos indiretamente, com a saúde pública.

O bem elaborado parecer do Ministério Público, da lavra do Procurador José Firmo dos Reis Soub, chega a idêntica conclusão, amparado em fortes prece- dentes.

Ante o exposto, dou provimento ao apelo. Honorários arbitrados em R$ 1.000,00 (mil reais) a favor dos apelantes. O Distrito Federal está isento do pagamento das custas, à exceção daquelas adiantadas pelo autor.

É o voto.

MÉRITO

Desa. Diva Lucy Ibiapina (Revisora) - Vejamos.

Não há como divergir das razões aduzidas pela Eminente Relatora e pelo Ilustre Procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Dr. José Firmo Reis Soub, em Parecer de fls. 322-333. Pelos fundamentos brilhante- mente aduzidos, aos quais integralmente adiro, é de ser dado provimento ao Apelo interposto pelo SINDELETRO para afastar a cobrança da Taxa de Vigilância Sanitária - TVS das empresas integrantes daquela entidade sindical.

Os ônus da sucumbência, com relação a verba honorária, que fixo em R$ 1.000,00, haverão de ser suportados pelo Distrito Federal. Sem custas por força de isenção prevista no Decreto-Lei n.º 500, de 17/03/1969 que isenta do pagamento de custas o Distrito Federal perante a Justiça do Distrito Federal.

Acompanho, portanto, na íntegra, o voto da Eminente Relatora. Conheço e dou provimento ao recurso de Apelação.

É como voto.

Des. Jair Soares (Vogal) - Senhora Presidente, peço vênia às eminentes

Relatora e Revisora para divergir.

Por um lado, os documentos de fls. 173/230 comprovam efetiva inspeção em diversos estabelecimentos filiados ao sindicato autor da ação, o que justifica, sim, a atuação da fiscalização e, por conseguinte, a imposição da exação. Por outro, ofício do Diretor de Vigilância Sanitária do DF informa que as atividades exercidas pelas

“indústrias de reparação ou manutenção de máquinas, aparelhos e equipamentos industriais, eletros e eletrônicos de uso doméstico” (fls. 171/172) são classificadas como sendo de baixo risco. Devem, por conseguinte, pagar a taxa pelo valor definido na norma de regência, nos termos do art. 17, parágrafo único, da Lei Complementar n.º 264/99, regulamentada pelo art. 1.º do Decreto n.º 24.043/2003.

Desa. Sandra De Santis (Relatora) - V. Ex.ª me permite um aparte? Des. Jair Soares (Vogal) - Com todo prazer.

Desa. Sandra De Santis (Relatora) - O problema é que o ofício desse

No documento 179rdj090 (páginas 134-146)