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VOTOS Des José Divino de Oliveira (Relator)

No documento 179rdj090 (páginas 81-85)

PRELIMINAR - NÃO CONHECIMENTO DO AGRAVO - REJEI- ÇÃO

O agravado sustenta que o agravante não providenciou a juntada aos autos de origem do comprovante de interposição do recurso, daí porque o agravo deve ser considerado inadmissível, conforme preconiza o art. 526, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

De fato, constitui requisito de admissibilidade do agravo de instrumento, dentre outros, a juntada no processo originário de cópia da petição recursal, cuja providência é necessária para possibilitar ao magistrado o juízo de retratação.

Entretanto, embora tenha sido arguido, não cuidou o agravado de pro- var o descumprimento da norma mediante certidão expedida pela secretaria do Juízo. Depois, a ausência do comprovante de interposição não constitui circuns- tância capaz de dificultar ou impossibilitar o exercício da ampla defesa por parte do recorrido, daí porque tal alegação não possui fomento jurídico para impedir o conhecimento do recurso.

Assim sendo, afasto a preliminar.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. A pretensão do agravante de ser cadastrado como leiloeiro oficial do Banco do Brasil S/A esbarrou na exigência editalícia de inexistência de ações cíveis e criminais contra si em andamento, conforme previsão contida no art. 2º, ‘d’, do Decreto n° 21.891, de 19.10.32, cujo diploma regulamenta o exercício da profissão de leiloeiro.

O item 2.11, ‘b’, do Edital de Cadastramento de Leiloeiro Oficial está assim redigido:

“(...)

2.1.1. DOCUMENTAÇÃO PARA AUTÔNOMO E PESSOA JURÍDICA

(...)

b) certidões negativas dos distribuidores, no Distrito Federal, da Justiça Federal e das Varas Criminais da Justiça local, ou de folhas corridas, passadas pelos cartórios dessas mesmas justiças, e, nos Estados, pelos

Cartórios da Justiça Federal e Local do distrito em que o candidato tiver seu domicílio, na forma determinada pelo artigo 20, item “d” do Decreto n° 21.981, de 19.10.1932)” (fl. 27).

Por seu turno, o art. 2º, ‘d’, do Decreto n° 21.981/32, assim dispõe: “Art. 2º Para ser leiloeiro, é necessário provar:

(...)

d) ter idoneidade, comprovada com apresentação de caderneta de identidade e de certidões negativas dos distribuidores, no Distrito Federal, da Justiça Federal e das Varas Criminais da Justiça local, ou de folhas corridas, passadas pelos cartórios dessas mesmas Justiças, e, nos Estados e no Território do Acre, pelos Cartórios da Justiça Federal e Local do distrito em que o candidato tiver o seu domicílio.

Apresentará, também, o candidato, certidão negativa de ações ou exe- cuções movidas contra ele no foro civil federal e local, correspondente ao seu domicílio e relativo ao último quinquênio.

Como visto, o ato de indeferimento do pedido deduzido pelo agravante está amparado em regra editalícia, cuja exigência, em tese, possui respaldo em norma legal.

Conforme se extrai dos autos, há pelo menos três ações em andamento, nas quais o recorrente figura no pólo passivo (fl. 53).

Por isso, em princípio, não vislumbrei ilegalidade alguma na decisão agravada.

Todavia, após realizar uma profunda análise dos fatos da causa, observo que a simples existência de ações cíveis propostas em face do impetrante não pode resultar em empecilho ao almejado cadastramento, salvo condenação definitiva, transitada em julgado.

Com efeito, de acordo com o art. 5º, LVII, da Constituição Federal, verbis:

“Art. 5º (...)

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.”

Conforme se extrai da referida norma, a pessoa jamais será presumida culpada até que sobrevenha sentença condenatória irrecorrível. Assim, somente a condenação penal transitada em julgado descaracteriza a presunção juris tantum de não culpabilidade.

Portanto, a exclusão do interessado em participar do procedimento de seleção, por considerá-lo inidôneo moralmente com base apenas em sua condição de parte passiva de ações em curso, não se revela compatível com o princípio da presunção de inocência, cuja aplicabilidade alcança também a esfera administra- tiva, máxime porque a norma constitucional não o restringe ao âmbito penal.

Ademais, o agravante encontra-se regularmente inscrito no seu órgão de classe, estando exercendo regularmente a profissão de leiloeiro.

Quanto às ações em curso, a situação é a seguinte: - não responde à ação penal;

- há duas ações cíveis na Justiça Federal, nas quais o agravante figura no pólo passivo (n° 2001 34 00018351-5 - ordinária - e 90.0005076-6 - ação popular). A primeira foi julgada improcedente, estando pendente de recurso. A outra ainda está tramitando;

- Na Justiça local constam quatro ações nas quais o recorrente ocupa o pólo passivo; a de n° 2002 01 1 060687-5 - indenização - foi julgada procedente em primeira instância, cuja sentença foi reformada, por maioria, na segunda instância, para julgar improcedentes os pedidos, tendo sido negado provimento aos embargos infringentes; a de n° 2007 01 1 080995-2 - obrigação de fazer - encontra-se arqui- vada; as de nº 2007 01 1 105612-5 - obrigação de fazer - e 2008 01 1 103257-8 - indenização - estão em andamento.

Como visto, o recorrente não responde a nenhuma ação penal, mas apenas figura no pólo passivo de ações cíveis, ainda sem solução definitiva.

Nesse contexto, não é razoável que o Poder Judiciário chancele o ato que o excluiu do certame, em virtude das referidas ações, que pela natureza não tem o condão de conspurcar a honra do agravante.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso para, reformando a r. decisão impugnada, deferir a liminar vindicada para assegurar ao agravante o cadastramento como leiloeiro oficial do Banco do Brasil S/A.

É como voto.

Desa. Ana Maria Duarte Amarante (Vogal) - Acompanho o eminente

Relator, pois o fato de ser acionado evidencia, muitas vezes, ânimo de discutir de- terminadas dívidas ou obrigações a si supostamente atribuídas, não podendo, por si só, caracterizar um desdouro à honorabilidade de uma pessoa.

Des. Jair Soares (Vogal) - Senhora Presidente, com a devida vênia,

nego provimento.

Exige o edital, para se cadastrar como leiloeiro, que o candidato não ostente contra ele qualquer ação. O agravante ostenta. Inclusive, uma das

ações é ação popular. Bastante grave a conduta que leva ao ajuizamento dessa ação.

E a exigência não é apenas com relação a ele, mas a todos os candidatos que participaram da seleção que está sendo realizada pelo agravado. Permitir que ele participe, quando é exigência para todos, quebra o princípio da isonomia.

Com relação ao princípio constitucional de presunção de inocência, a aplicação é na ação penal. Não se estende a exigências feitas em edital para isentar pessoas que respondem ações de natureza cível ou qualquer outra.

Desa. Ana Maria Duarte Amarante (Vogal) - Mantenho o meu voto,

com a devida vênia do eminente 2º Vogal, considerando que a ação popular em comento, que impressiona à primeira vista, quanto à suposta nódoa na folha corrida do agravante, já conta com decisão favorável em 1º Grau de jurisdição, havendo maior reforço à presunção que milita, ou deve militar em seu favor.

DECISÃO

Conhecido. Deu-se provimento. Maioria. ——— • ———

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº

No documento 179rdj090 (páginas 81-85)