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QUANTO AO MÉRITO

No documento 179rdj090 (páginas 51-61)

Insurge-se o Agente Administrativo não tanto contra o pedido do Impetrante, mas contra a forma como vem sendo decidida a matéria. Critica-se em 1º e 2º graus a subjetividade das entrevistas, a falta de cientificidade nos chamados exames psicológicos e o fato de se não admitir recurso contra a decisão ou avaliação de não-recomendação de determinados candidatos. Entendo que a coercitividade se exaure na realização dos exames - o que geralmente não é a matéria em estudo, porquanto o Impetrante não se insurge para não fazer os exames.

O que se questiona é o fato de o candidato ser afastado da concorrência, apenas porque não foi recomendado.

A obrigação de participar desses exames psicológicos não resulta da aferição de aptidões intelectuais ou mesmo da idoneidade moral, de que cuidam expressamente algumas leis, dentre elas a de nº 4.878/65, em seu artigo 9º, inciso VII.

A nosso ver, a aptidão intelectual a ser medida, já o fora qualitativamente antes da realização de exames, consoante a prática de eliminar os menos capazes, para se obter menos candidato em exames individuais. Nenhum candidato com Quociente de Inteligência abaixo de 65, de significação deficiente, ou mesmo aci- ma disto: (marginal de 66 a 79; rude de 80 a 90) lograria aprovação em certame de grande concorrência, maxime com nota mínima de aprovação. Duvido mesmo que alguns de significação normal (de 91 a 110), desde que nos limites inferiores, lograsse algum êxito.

O conceito de idoneidade moral é um termo mais adstrito ao foro íntimo das pessoas e diz respeito a alguns aspectos macro-sociais, que em nada ensejariam verificação comportamental e não poderiam ter o condão de quantificar os indivídu- os para uma classificação em concurso público. Em termos de servidor público o que significaria idoneidade moral, máxime desdobrando os termos quanto à substância (idoneidade) ou na sua qualidade (moral, a-moral e imoral)?

Numa sociedade pluralista, fruto do caldeamento e interação de diversas raças e povos, não há como impor a alguém uma idoneidade moral, a não ser no que ela tange à obrigatoriedade legal, art. 37 da Constituição.

Não nos esqueçamos de que há duas centúrias de anos ter escravos e dispor sobre suas vidas era sinal de prosperidade e firmeza administrativa, qualifi- cando o proprietário. Hoje, constitui crime. A sociedade condenava o divórcio, mas admitia o concubinato com escravas, hoje é direito posto em matéria de família. O suicídio é objeto em cultura ocidental, mas constitui forma de remição de dívida por honra, em algumas regiões orientais.

Faz parte do Código de Ética dos profissionais em psicologia não envol- vimento do psicólogo nos padrões de seu observado.

Advém da má compreensão do Agente Administrativo a interpretação errônea do conceito de não-recomendado para algum cargo ou curso. O que faz o psicólogo, ao recomendar ou não-recomendar um candidato, é apenas assinalar que, após uma bateria de exames e entrevistas, o pretendente ao cargo terá dificuldades ou incompatibilidades ou não com relação ao cargo pleiteado. Alguns psicólogos, dependendo de sua formação, consideram incompatibilidade o fato de o concorrente estar melhor e mais satisfeito em outra função.

Às vezes um não-recomendado, com base nos mesmos exames, época, destino e lugar e até com o mesmo psicólogo, tem mais e melhores condições no exercício do cargo, do que outro recomendado. A recomendação ou não-recomen- dação é feita, tendo como pressuposto a intenção do candidato em permanecer no cargo por muito tempo.

Nestes casos o psicólogo age mais como orientador profissional do que um simples analista. Tudo dependente do que seria o chamado perfil ou padrão do hipotético e perfeito ocupante daquele cargo. Perfilhar este homem impoluto, sem rosto, sem sexo, eficiente e sem defeitos é tarefa de muita pesquisa inútil. O ser humano é fruto milenar de uma congérie de hábitos entitativos, onde quanti- tativamente seria impossível montar uma perfeição.

Os perfis psicológicos são, portanto, retrato de estereótipos intuídos aleatoriamente pelo Administrador, que os fornece aos analistas.

Realce-se que é não negado valor científico aos exames em si; estes são úteis e válidos para avaliação futura e destinação de atividades dentro do órgão administrativo. O que é trazido à discussão é o caráter reprovatório dado ao conceito emitido pelo psicólogo, que, por sinal, se atém ao perfil traçado pelo Administrador.

A relevância da questão do perfil psicológico é que deve ser conhecida meritoriamente em Mandado de Segurança. Diverge-se de entendimentos outros em que tal matéria deva ser conhecida em via ordinária por meio de provas, in- clusive pericial.

O problema não está no estudo do perfil e sua inadequação ao candidato, mas na sua descrição. O Administrador deverá descrever o servidor perfeito de acordo com a lei ou leis e regulamentos de regência. A discricionariedade de seus atos tem limite na lei, conforme constitucionalmente se vê da obrigatoriedade legal, Constituição, art.5º, II.

A descrição do servidor que extrapolar os princípios do Art.37 da Carta Magna constitui abuso de autoridade.

É, portanto, direito do Impetrante ou do Autor conhecer a descrição do tipo psicológico descrito pelo Administrador e dele divergir, se o caso, quer pre- ventivamente, quer após a realização dos exames psicológicos. É também direito seu reprimir pelo mandamus ou por liminares o afastamento de concurso ou curso, com base em não-recomendação após os exames psicológicos.

Na verdade, segundo ponto de vista do psicólogo, a não-recomendação pode significar que o concorrente esteja perdendo oportunidade de melhorar sua condição de vida ou porque esteja sendo utilizado em atividade inferior à sua capacidade ou porque tem outras aspirações. Por esse motivo, muitos jovens não foram selecionados em concursos para serventes, somente porque tinham o 2º grau completo, pois havia interesse em estabilidade no serviço, o que aconteceria somente com concorrentes habilitados em 1º grau incompleto. Pretendia tal Administrador que os serventes não fossem tão rotativos, nem se preocupassem com os baixos sa- lários. O mesmo aconteceu com alunos de cursos de medicina e direito, recusados (não-recomendados), porque estavam em cursos superiores e não poderiam ser inspetores de alunos na área pública, não porque não preenchiam os requisitos do perfil psicológico do Inspetor de Alunos, mas porque estavam destinados à atividade considerada mais elevada pelo analista.

Em ambos os casos houve visão deturpada da realidade social e distorcida dos direitos fundamentais. O Estado não pode querer tutelar os indivíduos e traçar- lhes um roteiro para a vida. Não há lei impedindo tais brasileiros de concorrerem e ocuparem esses cargos públicos. Esqueceram-se de que a alguém pode interessar ser apenas um servidor público do que exercer uma atividade de nível superior. Não exige nenhuma lei - se o fizesse seria inconstitucional - que a condição principal para ingresso em determinado cargo ou carreira fosse o de caráter duradouro ou permanente.

Já houve casos de exigência de exames psicológicos a serem realizados em qualquer clínica, ou de restringir tais exames a clínicas credenciadas. Os resultados foram divergentes, porque os perfis psicológicos eram divergentes e a técnica empregada apresentava as metodologias de algumas correntes da psicologia aplicada. Como conseqüência, os não-recomendados em uma clínica refaziam os exames em outra.

O caso mais típico, no âmbito do Poder Judiciário, foram os exames psicológicos realizados por convênio entre o Governo de Rondônia e o Hospital das Forças Armadas em Brasília, DF, e pelos psicólogos da penitenciária de Porto Velho, RO, para o primeiro concurso de Juiz de Direito do novo Estado. O número de aprovados em Brasília foi muito grande. O número de recomendados em Brasília foi muito grande. Ao inverso, os não-recomendados em Porto Velho eram a maioria. Para compatibilizar os exames, anularam-se os feitos em Brasília, obrigando-se os

candidatos a outros em Porto Velho. Os recomendados de Brasília passaram a ser não-recomendados. Buscou-se a causa da modificação e constatou-se que o perfil psicológico do Juiz seria de um indivíduo corrupto e venal quanto às pretensões do cidadão contra os interesses do Governo. A pergunta que levava o candidato à não-recomendação era de qual o posicionamento entre ele e o magistrado e uma parte numa ação de grande valor contra o Estado. Se o candidato respondesse que ficaria com o direito, era considerado não recomendado. Afastado tal questiona- mento, os mesmos recomendados de Brasília continuavam a ser recomendados pelos psicólogos de penitenciária.

Não consta que algum dos candidatos não-recomendados, tornados recomendados, tivesse cometido algum desatino no exercício da magistratura. Ao contrário, sabe-se de muitos recomendados que hoje estão afastados por decisão coletiva de tribunais.

Como se vê, não se trata de questionar se a Psicologia Experimental é ou não uma ciência, quando modernamente é extensa a biografia que defende sua independência da Filosofia, porque tem objeto e métodos próprios.

Nunca é por demais relembrar que um dos próceres da Psicologia, no começo do século XX, saiu com esta definição nada científica: A Psicologia é aquilo pelo que os psicólogos se interessam “e a única maneira de descobrir sua natureza é anotar o que estão procurando realizar”. Cattel, J. McK - The Conception and method of Psychology. Pop. Sci. Mon, 1904, vol.46 pág.176/186.

Os que estudam a Psicologia Experimental sabem que talvez ela corra o risco de não superar a etapa do empirismo pré-científico.

As denominadas técnicas psicométricas para conhecimento da conduta humana se apoiam em instrumentos científicos ou em afirmações empíricas? Como se vê, nem mesmo a qualidade dos instrumentos cognitivos é detectada.

Mesmo para aqueles que têm a Psicologia como ciência, no rigor técnico, o mesmo não se pode dizer da PSICOMETRIA, que é uma “ciência auxiliar da Psicologia”, porque a possibilidade de se medir psicologicamente alguém reside no fundamento da “unidade psicossomática do homem”. “Todo fenômeno psíquico tem repercussão somática”. Somente se pode aferir o efeito somático do fenômeno psíquico. O que, por si só, restringe o aspecto científico e LEGAL desses exames.

O que está em questão é a própria avaliação subjetiva do exame psicoló- gico que, aliás, não pode ser afastada, sob o risco de perder a sua cientificidade.

Os estudiosos da psicologia divergem quanto à certeza, objeti- vidade e segurança dos testes psicológicos, quando desviados de seu aspecto cognitivo de tendências para desqualificação de candidatos. O professor francês Paul Guillaum, em sua obra

MANUAL DE PSICOLOGIA, assim se expressa: “... os próprios processos cerebrais jamais são observados no ser vivo; não po- dem ser senão reconstituídos idealmente, por meio de hipóteses apoiadas na observação de causas ou conseqüências mais ou menos remotas. No estado atual da ciência, a maioria dos dados concretos precisos, pacientemente acumulados pela histologia cerebral, ainda não pode receber significação fisiológica plau- sível...”... as hipóteses fisiológicas, construídas sobre dados da observação psicológica, não passavam de transposições metafóri- cas destas. Fez-se corresponder a uma associação entre processos cerebrais hipotéticos. Sem dúvida, os fatos psíquicos devem ser o fundamento dessas especulações que, como todas as hipóteses científicas, são legítimas e podem tornar-se fecundas, se delas se verificarem conseqüências. Mas sempre é o caso: a facilidade de tais construções é perigosa, não se deve crer que correspondem a verificações diretas, as quais, hoje em dia, na maioria dos casos, são completamente impossíveis.

Da mesma forma JEAN COBET - in TESTES PARA ADMISSÃO EM EMPRESAS E EMPREGOS PÚBLICOS - tradução de Cecília Tavares de Araújo - Editora Tecnoprint S/A - 1985 - pág.8/9, assim pontifica sobre a ma- téria: “É possível que estes testes permitam aos doentes mentais projetar suas ideias fixas, mas querer aplicá-las às pessoas normais, constitui um grande erro.” No esmo diapasão está a Professora ANNE ANASTASI, da Universidade de Fordham, Graduate School, na sua obra: TESTES PSICOLÓGICOS: TEORIA E APLICAÇÃO:

“...passo importante na padronização de um teste é o estabe- lecimento de normas. Sem estas, os resultados nos testes não podem ser interpretados. Os testes psicológicos não têm padrões predeterminados de “aprovação” e “reprovação”. O resultado do indivíduo pode se avaliado apenas através da comparação com os resultados obtidos por outros.”

Além do problema da legalidade da descrição do perfil psicológico do ocupante do cargo em disputa, outro fato torna inadequado tomar a recomendação ou não-recomendação como fatores de aproveitamento do candidato.

Salientou-se que a formação do analista pode dar enfoque divergente a um mesmo tipo de resposta para a mesma pergunta.

A respeito da precisão das provas projetivas e psicométricas, GODE- ARDO BAQUERO MIGUEL, psicólogo e professor de TESTES E MEDIDAS PSICO-EDUCACIONAIS, assim se manifesta:

“Alguns psicólogos dirão que a personalidade está mudando continuamente e que, portanto, não tem sentido falar da preci- são, a qual por si indica constância. Esta dificuldade certamente tem peso, mas, mesmo assim, cremos que se os testes projetivos querem classificar-se dentro de um marco científico, devem ser submetidos às provas de precisão.

Quanto à validade dos testes ensina o mesmo especialista que esta pode referir ao conteúdo ou ao conceito. A “validade do conteúdo” depende de uma correlação entre o conteúdo de um teste e as qualidades que o psicotécnico quer medir e conclui: “O tipo de validade de conteúdo não nos serve para validar testes projetivos.”

No que diz respeito à “validade de conceito” continua ensinando que este coeficiente se refere à existência de determinados traços psicológicos numa determinada prova:

“Nos testes projetivos não existe correlação entre as perguntas e as conclusões que se querem deduzir das respostas dadas. ISTO IMPEDE UMA ANÁLISE OBJETIVA.

Alguém poderia racionalizar, até certo ponto, uma determinada conduta: percepção de borrões de tinta, a descrição de histórias fotográficas, e achar uma correspondência com a personalidade do indivíduo. Mas em realidade, esta análise é antes pura ana- logia, e as analogias não nos dão base para uma demonstração “científico-estatística.”

Continua ainda o analisador e criador de alguns testes psicométricos: “Se o que nos interessa é uma valorização de tipo qualitativo- descritivo, que norma seguiremos? Psicólogos com formação escolar diferente darão interpretação diferente: suponhamos que uma pessoa vê ou desenha em um teste projetivo uma torre de uma igreja. Para o freudiano é um símbolo fálico. Para o junguiano talvez um arquétipo. Para o adleriano um sintoma

de complexo de inferioridade. Para outro talvez uma simples ideia religiosa.”

In TESTES PSICOMÉTRICOS E PROJETIVOS, Godeardo Baquero, Edições Loyola, 5ª Edição, São Paulo, SP. 1983.

Dois autores clássicos da Psicologia como ciência, Robert WOO- DWORTH e Donald MARQUIS, demonstram que as medidas de personalidade buscam na verdade um “INDIVÍDUO MÉDIO”. Esta busca do “MÉDIO” padece de dois vícios: 1º) o do “erro generoso”, quando o analista tende a colocar seus conhecidos acima da média normal;

2º) o do “efeito auréola” (hallo effect), que advém da empatia ou im- pressão favorável do analista considerando-o excelente em determinado traço e ampliando esta excelência em todos os demais traços. Para eles se houver má impressão inicial, torna-se difícil ao analista afastar-se dessa impressão ao classificá-lo em relação a outros traços psicológicos.

Para evitar o primeiro tipo de vício, garante o Administrador que nenhum dos seus examinadores tiveram qualquer relacionamento com qualquer dos can- didatos. Para afastar a pretensa influência da impressão primeira, afirma o mesmo Administrador que o resultado se deveu por conclusão de equipe.

A equipe, contudo, pode padecer do mesmo “EFEITO AURÉOLA”, conforme ensinam os citados professores de Colúmbia, USA:

“Em primeiro lugar, pode ser que diversos julgadores (analistas) tenham os mesmos preconceitos e que, portanto, a avaliação final conserve a distorção causada por eles...”

A Segunda restrição é que não adianta combinar avaliações, se os julgamentos em separado forem apenas conjeturas. Se três julgadores avaliarem o indivíduo “X”, que lhes é inteiramente desconhecido, a simples combinação desses julgamentos não poderá sequer aproximar-se duma avaliação justa. Por outro lado, um juiz (analista) influenciado por preconceitos pode persuadir seus colegas a influenciar indevidamente no julgamento final. E existem formas sutis de preconceito. A própria personalidade do observador influencia suas impressões sobre outra pessoa, fazendo que o juiz sinta simpatia ou antipatia especial em relação aos traços pessoais do observado. (Robert Woodworth e Donald Marquis,

Psicologia, Tradução de Lavínia Costa Raymond, Companhia Editora Nacional, São Paulo, SP 4ª edição, 1964.)

Outros julgamentos pretendem emprestar validade aos exames psicológi- cos, admitindo o desconhecimento do conteúdo por parte dos examinadores. Esse enfoque judicial trescala injustiça por dois motivos:

a) nem todos os concorrentes estão ou são jejunos em exames psicológicos;

b) nem todos os examinandos confiam em seus examinadores, a ponto de se “abrir” e revelar o seu interior.

O fato de querer quantificar os candidatos pela “RECOMENDAÇÃO” e “NÃO-RECOMENDAÇÃO” mascara os resultados.

Isto já aconteceu no passado, quando os exames psicológicos foram aplicados em bateria aos jovens americanos, recrutados para a guerra.

Tivemos dois fatos curiosos. O Exército precisava de jovens para combate, mas queria colocá-los em atividades, onde eles fossem realmente mais aptos. Ao mesmo tempo necessitava treiná-los no menor espaço de tempo possível. Resulta- do. Os jovens universitários não eram “francos” em suas respostas, ou “errando” as respostas dos questionários, ou “respondendo” de maneira a serem aproveitados em outras atividades menos perigosas.

O mesmo não acontecia com o grande número de recrutados que pre- tendia pertencer à Força Aérea. Os jovens eram ansiosos por atividades aéreas. Novamente os universitários falseavam a verdade, a fim de conseguir permanecer naquela arma, afirmando desejos, tendências e vontades que não tinham.

Para suprir esses incidentes, armaram-se engodos, para superar o pro- blema. O engodo é sempre plausível em termos de análise infantil, mas desonesto no que diz respeito a adultos. É ilegal em se tratando de resultado classificatório, muito embora a não-recomendação não tenha esse objetivo.

A propósito os mestres de Colúmbia, assim se posicionam:

“TESTE SITUACIONAL DE PERSONALIDADE. É fácil submeter a teste o conhecimento que o indivíduo tem sobre regras de boa conduta, boas maneiras ou tato; mas, às vezes, as regras são conhecidas e não obedecidas. Desejamos, portanto, dispor de testes que nos apresentem amostras de comportamento real. Testes desta natureza têm de ser disfarçados de alguma maneira, pois não se pode dizer ao sujeito:

- Este teste tem por finalidade verificar se você tem bom humor. Ou então: - Este teste tem por fim avaliar sua boa vontade em cooperar. Se fizéssemos essas declarações, provavelmente não obteríamos amostras eis do comportamento da pessoa submetida ao teste. Em teste de capacidade pode-se verificar o que o sujeito é capaz de fazer, mas num teste de personalidade desejamos verificar o que ele realmente fará em certas situações de vida. Op. cit., pág.119. Como têm salientado alguns membros do Ministério Público, os testes psicológicos se tornaram arcana imperii. De fato. Como poderia o Poder Judiciário admitir terem os examinadores procedido com retidão, quando os mestres da Psicologia Aplicada empregam ardis para obterem resultados corretos, segundo seu ponto de vista? Como se pode falar em objetividade, quando a subjetividade é não só a tônica, mas também o corolário?

Pior que tudo isto é tornar os meios e fórmulas inacessíveis a todos quan- tos objetivam conhecer as técnicas empregadas, como realça o Desembargador Romeu Jobim:

“O próprio Administrador não conhece os motivos pelos quais os psicólogos não recomendaram o candidato, sendo, pois, lícito con- cluir que trata-se de um “segredo de Estado” tão absoluto, que é ocultado do próprio Estado (Estado-Administração e Estado-Juiz). Apud Elvan Loureiro - Procurador de Justiça do DFT. O segredo de justiça objetivado pelo Administrador, quando o magistrado tomaria conhecimento da bateria dos exames e dos resultados, fere outro direito da parte, indisponível, que é o de conhecer as provas contra si feitas, Constituição art. 5º, XV.”

O mesmo Desembargador Romeu Jobim, nos Embargos de declaração na ap. Cível 25.605, coloca com objetividade direito constitucional do concorrente:

“Vai daí a meu enfoque, não poder uma pessoa, em consonância com o art.5º da Constituição, sofrer discriminação pelo fato de, em sua personalidade, haver este ou aquele traço predominante, isso, repita-se, em sendo tal contestação possível. Vai daí ... não poder alguém ser impedido do livre exercício de trabalho, ofício

No documento 179rdj090 (páginas 51-61)