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RELATÓRIO

No documento 179rdj090 (páginas 40-46)

Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutó- ria proferida em sede de ação de desconstituição do poder familiar que determinou o imediato cadastramento da criança para adoção (decisão - fls. 78/79).

Sustenta a agravante que desde o final da gravidez vem sendo acompa- nhada pelo Juízo e que, “apesar de não haver nenhum indício fundado que a agravante tem problemas psiquiátricos e psicológicos, somente relatos que induzam a tomar tal posicionamento, não houve por parte do Juízo a quo, o esgotamento de todos os meios possíveis para a mantença do menor no seio de sua família de origem”.

Alega que sua ausência na realização de exame psiquiátrico e psicoló- gico não constitui motivo bastante para ensejar o cadastramento do menor para a adoção.

Pugna, assim, pelo provimento do recurso, para que seja reformada a decisão que determinou a inclusão do menor no cadastro de adoção.

O pedido de concessão de efeito suspensivo foi indeferido por decisão proferida por esta Relatoria (fl. 91).

Informações às fls. 101/102.

Acrescento que o Ministério Público, por meio da 4ª Promotoria de Justiça Cível e de Defesa dos Direitos Individuais Indisponíveis, Difusos e Coletivos da Infância e da Juventude, oficiou no sentido da manutenção da suspensão liminar do poder familiar e pela revogação da determinação da criança no cadastramento de adoção.

É o relatório.

VOTOS

Des. Dácio Vieira (Relator) - Conheço do recurso, porquanto presentes

os pressupostos de sua admissibilidade.

Insurge-se a agravante contra decisão interlocutória proferida em sede de ação de desconstituição do poder familiar, cujos fundamentos são os seguintes, verbis:

“Cuida-se de pedido de destituição do poder familiar ajuizado pelo Ministério Público em desfavor de M. Z. P. A., genitora do infante I. O. P. A., nascido aos 30 de julho de 2007.

Apesar dos esforços expendidos pela instituição, não existe possibilidade de reintegração familiar do abrigado, quer junto à genitora, pessoa agressiva e que aparenta, inclusive, ser portadora de distúrbios mentais, quer junto à família extensa, sendo que se encontra institucionalizado desde o seu nascimento.

A genitora visitou apenas uma vez o filho, ameaçando os funcioná- rios da instituição e, intimada por este Juízo e, ainda, pelo próprio IML, não compareceu à perícia psiquiátrica agendada para o dia 11.02.2008, tendo, em consequência, sido cancelada a perícia psicológica designada para o próximo mês de maio.

A medida de abrigamento é excepcional e provisória, já estando a criança abrigada há sete meses, pelo que mostra-se visível a necessidade de se antecipar a tutela pleiteada.

Evidente o abandono material e afetivo perpetrado pela genito- ra, concedo-a, suspendendo, liminarmente, o poder familiar de M. Z. P. A., com relação a seu filho I. O. P. A., com fulcro nos

artigos 1.638, do Código Civil e 157 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Determino o imediato cadastramento da criança para adoção. À secção de Adoção para as providências cabíveis.

Traslade-se para os autos da Pasta Especial, em apenso, cópia desta decisão.

Oficie-se ao abrigo comunicando esta decisão, para que suspenda eventuais visitas e, bem assim, qualquer outra providência no sentido de reintegração familiar do abrigado.

Traslade-se para estes autos cópia de fs. 46, da Pasta Especial. Expeça-se mandado de citação da requerida, devendo o oficial de justiça proceder na forma do art. 218 do CPC”.

Como visto, o presente agravo de instrumento reporta-se a decisão proferida em Pasta Especial, da Vara da Infância e Juventude, tomada com base em requerimento, trazido por cópia às fls. 71/75, do Ministério Público do DF, de destituição do pátrio poder e imediato cadastramento da criança I. O. P. A. para adoção, tendo em vista que “I. já está abrigado desde 13 de agosto de 2007 e até o momento não se vislumbra a mínima perspectiva de a situação da requerida ser modifi- cada ou de os familiares biológicos virem a se organizar para cuidar do bebê ou mesmo da requerida”.

A d. Procuradoria de Justiça, citando a manifestação da Promotoria de Justiça, sustenta que “a decisão de cadastramento para adoção, no caso, embora tenha a clara intenção de abreviar o período que a criança fica institucionalizada, carece de segurança jurídica quando não decorre de sentença que julga ação de destituição do poder familiar. Isto porque provoca uma solução antecipada da lide, usurpando o devido processo legal, que deve se dar com as garantias do contraditório e da ampla defesa. Tratando-se de criança com menos de um ano de idade que é ca- dastrada para adoção, a decisão autoriza imediata entrega da criança para adotante que esteja cadastrado junto à Vara da Infância e da Juventude, gerando situação que dificilmente pode ser transformada sem que haja danos emocionais de toda ordem, quer para a criança, quer para os pretendentes à adoção, caso a ação de destitui- ção do poder familiar não seja ao final procedente. Assim, trata-se de medida com efeitos irreversíveis. Isso se dá porque, havendo dispensa do estágio de convivência no caso de adotandos com menos de um ano de idade (parágrafo 1º, do artigo 46, do Estatuto da Criança e do Adolescente), estes, quando abrigados, costumam ser imediatamente entregues à família adotante. No presente caso, a medida provoca um tumulto processual, pois que o processo de adoção se interpõe no curso do processo de destituição do poder familiar.

Em alguns casos, até se justifica a medida liminar de cadastramento para adoção, mas esses são os casos em que, por outros meios, normalmente pelo trâmite de pasta especial, a situação de abandono da criança já está suficientemente demons- trada”.

O que se verifica do caso trazido nesta sede recursal é que, a pasta es- pecial decorreu de encaminhamento do caso pelo Hospital Regional da Asa Sul, relatando que M. Z. encontrava-se em tratamento psiquiátrico, com nove meses de gestação.

Verifica-se que após o nascimento (decisão de fl. 31), foram mãe e filho encaminhados à entidade Auta de Souza, e após ao Lar da Criança Padre Cícero, sendo certo que ambas as instituições informaram da impossibilidade desta per- manência naqueles abrigos, tendo em vista a agressividade da mãe, “baixo nível de compreensão”, “mudança de humor constante” (fls. 32/33 e 49/50).

Importa considerar, in casu, as informações prestadas pelo Juízo, em face deste recurso, verbis:

“A agravante passou a ser acompanhada por este Juízo desde o final da gravidez, sendo que a criança encontra-se abrigada dede 13 de agosto de 2007, posto que frustradas as tentativas de mantença de mãe e filho em abrigo e do desinteresse da família extensa em responsabilizar-se por ambos.

Não se logrou êxito, inclusive, em realizar uma avaliação psicoló- gica e psiquiátrica da agravante, que demonstra, por suas atitudes, ser portadora de distúrbios de comportamento, em razão do seu não comparecimento, apesar de regularmente intimada”. Com esta moldura fática a situação do menor, hoje com quase dois anos de idade mostrou-se irreversível, prorrogando-se ao longo do tempo, institucio- nalizada desde o seu nascimento em 30 de julho de 2007, sendo certo que, foram levadas a efeito todas as possibilidades de manutenção da criança em companhia da mãe, a demonstrar o acerto da decisão aqui desafiada.

Consabidamente, a destituição do poder familiar e a consequente inclusão do menor no cadastro de adoção constituem medidas extremas que somente deverão ser levadas a efeito após exauridas todas as possibilidades de sua permanência com a família biológica. Como visto linhas volvidas, não há interesse da família extensa em acolher mãe e filho; a mãe não se submete a tratamento e o menor encontra-se em abrigo desde o seu nascimento.

Em casos como o presente, o norte a ser seguido é aquele que direciona para a proteção do menor, sendo esta a orientação hodierna dominante:

“ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ADO- ÇÃO - PRESERVAÇÃO DOS INTERESSES DO MENOR. Se restou demonstrado que a genitora do menor não se desincumbiu dos deveres inerentes ao exercício do poder familiar, deve ser mantida a r. sentença que julgou procedente o pedido de adoção em favor do casal que, desde os primeiros meses de vida da criança, vem lhe proporcionando carinho e condições para o seu pleno desenvolvimento” (APE 20050130056782, Quarta Turma Cível, Rel. Des. Sérgio Bittencourt, DJ 13-11-2007, pág. 125).

ADOÇÃO - PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR - SITUAÇÃO CONSOLIDADA NO TEMPO - DESINTERESSE DA MÃE BIOLÓGICA.1 - No processo de adoção, o interesse do menor deve prevalecer, principalmente quando a situação da adotanda perdura no tempo, não possuindo ela vínculo afetivo com a mãe biológica, reconhecendo os adotantes como seus pais.2 - A falta de interesse da mãe biológica é patente, mormente por ter se desinteressado pelo processo, tanto que se encontra em local ignorado e nada fez para reatar os laços com a criança, sendo evidente o abandono material e afetivo. 3 - Recurso conhecido e não provido. Decisão unânime. (20030130048740APE, Re- lator HAYDEVALDA SAMPAIO, 5ª Turma Cível, julgado em 05/12/2007, DJ 21/02/2008 p. 1500)

“CIVIL. ADOÇÃO. PÁTRIO PODER. ABANDONO. LIMI- TAÇÕES. PROBLEMAS EMOCIONAIS E DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA. BEM-ESTAR DA ADOTANDA.I. A adoção de menor abandonada pelos genitores quando recém-nascida é medi- da apta a garantir a sua criação afetiva e moral, promovendo-lhe o necessário bem-estar familiar, mormente quando se comprova que os pais biológicos possuem limitações de ordem psiquiátrica e dependência alcoólica. II. Negou-se provimento ao recurso. (20060130005306APE, Relator JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, 6ª Turma Cível, julgado em 12/03/2008, DJ 02/04/2008 p. 95) Ora, evidente, ainda, a situação de risco vivenciada pelo infante, uma vez que, sem tratamento psiquiátrico adequado, a genitora comporta-se de forma agressiva e juntando-se à avaliação psicológica e psiquiátrica, o que pode ser cons- tatado pelo reconhecimento em Juízo desde o final da gravidez.

Assim, atento aos comandos do estatuto menorista, há de se deferir ao infante a proteção máxima representada pelo instituto da adoção, já que seus in-

teresses devem prevalecer sobre quaisquer outros, não se justificando seja mantido continuamente institucionalizado.

Todo o conjunto probatório labora no sentido do acerto da decisão agravada.

Diante do exposto, nego provimento ao recurso. É como voto.

Des. Esdras Neves (Vogal) - Com o Relator.

Desa. Haydevalda Sampaio (Vogal) - Com o Relator. DECISÃO

Conhecer. Negar provimento. Unânime.

No documento 179rdj090 (páginas 40-46)