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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2005011069068-

No documento 179rdj090 (páginas 146-153)

Apelante - M. E. S. M.

Apelados - P. C. S. C. rep. por A. C. e outros Relator - Des. Lecir Manoel da Luz

Quinta Turma Cível

EMENTA

CIVIL - CURATELA - ADOLESCENTE PORTADOR DE SÍNDROME DE DOWN - INCAPACIDADE DE REGER OS ATOS DA VIDA CIVIL - INTERDIÇÃO - CURADOR - DIS- PUTA ENTRE A TIA MATERNA E A FAMÍLIA BIOLÓGICA - PREVALÊNCIA DO BEM-ESTAR DO MENOR - RECURSO IMPROVIDO.

I - Confirmada por laudo pericial o comprometimento da ativi- dade intelectual do periciando, que o incapacita para o exercício dos atos da vida civil, limita-se, a controvérsia posta nos autos, ao exame de quem detém melhores condições de reger a vida e administrar os bens do adolescente.

II - E, nesse prisma, não há dúvida de que para o adolescente mostra-se muito mais interessante e enriquecedor estar junto com seus irmãos, cujas idades variam entre 10 e 15 anos, em região administrativa próspera (Recanto das Emas) a estar na casa da tia materna, onde residem apenas pessoas adultas.

III - É de se ver, portanto, que a conclusão do laudo pericial deve prevalecer, não trazendo a Apelante qualquer argumento capaz de infirmar as razões ali expostas ou de demonstrar a incapacidade ou impossibilidade de sua irmã assumir tal mister.

IV - Revela-se, ademais, imprescindível que a harmonia entre os membros dessa família, hoje dividida por conta dessa disputa, volte a existir, até para dissipar a péssima impressão de que o quê está em jogo é a pensão à qual o incapacitando faz jus, e não sua felicidade e bem-estar.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Lecir Manoel da Luz - Relator,

Dácio Vieira - Revisor, Esdras Neves - Vogal, sob a presidência da Senhora Desembargadora Haydevalda Sampaio, em proferir a seguinte decisão: conhe- cer. Negar provimento. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 27 de maio de 2009.

RELATÓRIO

Adoto, em parte, o relatório da r. sentença de fls. 73/76, o qual transcrevo in verbis:

“M. E. DOS S. M. ingressou com a presente ação de interdição de seu sobrinho P. C. DOS S. C., alegando que o(a) interditando(a) é portador(a) de doença mental que o(a) impede de reger sua pessoa.

Juntou à inicial os documentos de fls. 07/35.

O Interditando foi citado (fl. 50) e não ofereceu impugnação no prazo legal.

Foi realizada audiência de interrogatório às fls. 45/46 e o Minis- tério Público oficiou pela realização de exame psiquiátrico do(a) interditando(a).

Decisão deferindo a antecipação dos efeitos da tutela e nome- ando a Requerente curadora provisória do Interditando (fl. 54-verso).

Os autos foram remetidos ao I.M.L. para submissão do(a) Interditando(a) a exame médico-pericial de natureza psiquiátrica, com quesitos do Juízo.

Laudo psiquiátrico às fls. 60/61.

O Ministério Público oficiou nos autos às fls. 70/72, opinando pela suspensão do processo até a realização da audiência de instrução e julgamento na ação de guarda movida pelos pais do Interditando (fls. 64/65).

Em audiência, conforme termo de fls. 68/69, os genitores do In- terditando manifestaram o desejo de serem nomeados curadores do Interditando e os autos foram remetidos ao SERAF para a realização de estudo do caso objetivando a constatação da pessoa mais indicada para exercer a curatela.

O Ministério Público oficiou nos autos às fls. 70/72, opinando pela interdição do Requerido e nomeação da sua genitora como

curadora, revogando a decisão que nomeou a tia materna cura- dora provisória.”

Acrescento que a il. Juíza de Direito Substituta da 4.ª Vara de Família da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília decretou a interdição de P. C. dos S. C., declarando sua absoluta incapacidade para exercer pessoalmente os atos da vida civil, na forma do art. 3.º, inciso II, do Código Civil, e art. 1767, inciso II, do Código de Processo Civil.

Na mesma assentada, foi nomeada como curadora a genitora do incapaz, intimando-a para prestar compromisso e revogando-se a decisão que nomeara a tia materna, conferindo-lhe, porém, o direito de visita.

Irresignada, recorre M. E. dos S. M., requerendo a reforma da r. sentença, alegando que o interesse dos pais em cuidar de P. C. é meramente financeiro, eis que esse passou a receber benefício previdenciário em decorrência do falecimento da avó materna, a qual detinha a guarda do menor desde os cinco anos, período em que nunca se preocuparam em acompanhar o desenvolvimento do filho nem seu estado de saúde.

Assevera que os cuidados que sempre manteve com o incapaz são re- conhecidos por vizinhos e pelos próprios pais e que o problema de sexualidade acentuada ocorreu há mais de dez anos, não autorizando a conclusão de que tenha sido a requerente negligente no trato com o sobrinho.

Acrescenta, ainda, que, após ciência do laudo produzido nos autos da Ação de Guarda e Responsabilidade (Processo n,º 2005.01.1.058165-5), os pais biológicos retiraram P. C. da companhia da Apelante, a qual desde então não teve mais contato com o sobrinho, sendo desrespeitado inclusive o seu direito de visita, havendo grande indiferença às recomendações dadas pela equipe da área psicossocial.

Junta os documentos de fls. 84/93.

Recurso isento de preparo, porque a apelante é patrocinada pela d. Defensoria Pública.

Em contrarrazões de fls. 106/112, M. G. dos S. C. requer o improvimento do apelo.

Em parecer de fls. 131/135, a d. Procuradoria de Justiça manifesta-se pelo conhecimento e improvimento do recurso.

É o relatório.

VOTOS

Des. Lecir Manoel da Luz (Relator) - Cabível e tempestivo, conheço

M. E. dos S. M. ajuizou ação de interdição de P. C. dos S. C., portador de doença mental (síndrome de Down) que o impede de reger sua pessoa.

Relata ser tia materna do sobrinho, o qual vive em sua companhia desde os cinco anos de idade, época em que sua mãe, avó do interditando, passou a ter sua guarda judicial em virtude da impossibilidade dos pais em criá-lo.

Após o falecimento de sua mãe, seu sobrinho passou a fazer jus à pensão mensal, o que levou a autora a propor também ação de guarda e responsabilidade a fim de possibilitar o trâmite burocrático do direito do sobrinho junto ao órgão previdenciário.

Juntou à inicial os documentos de fls. 07/35.

Apesar de citado, o Interditando não ofereceu impugnação no prazo legal.

Realizada audiência de interrogatório às fls. 45/46, sobreveio a manifes- tação ministerial pela realização de exame psiquiátrico no interditando.

À fl. 54, verso, foi deferida a antecipação dos efeitos da tutela para nomear a Requerente curadora provisória do Interditando.

Laudo psiquiátrico às fls. 60/61.

O Ministério Público oficiou nos autos às fls. 70/72, opinando pela suspensão do processo até a realização da audiência de instrução e julgamento na ação de guarda movida pelos pais do Interditando (fls. 64/65).

Em audiência (fls. 68/69), os genitores do Interditando manifestaram o desejo de serem nomeados curadores do Interditando, o que ensejou a remessa dos autos ao SERAF para a realização de estudo do caso, objetivando a constatação da pessoa mais indicada para exercer a curatela.

O Ministério Público oficiou às fls. 70/72, opinando pela interdição do Requerido e pela nomeação de sua genitora como curadora, revogando a decisão que nomeou a tia materna curadora provisória.

Em sentença de fls. 73/76, a il. Juíza de Direito Substituta da 4.ª Vara de Família da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília decretou a interdição de P. C. dos S. C., declarando sua absoluta incapacidade para exercer pessoalmente os atos da vida civil, na forma do art. 3.º, inciso II, do Código Civil, e art. 1767, inciso II, do Código de Processo Civil.

Na mesma assentada, foi nomeada como curadora a genitora do inter- ditando, intimando-a para prestar compromisso e revogando-se a decisão que nomeara a tia materna, conferindo-lhe, porém, o direito de visita.

Irresignada, recorre a tia materna, M. E. dos S. M., requerendo a reforma da r. sentença, alegando que o interesse dos pais em cuidar de P. C. é meramente financeiro, eis que esse passou a receber benefício previdenciário em decorrência do falecimento da avó materna, a qual detinha a guarda do menor desde os cinco

anos, período em que nunca se preocuparam em acompanhar o desenvolvimento do filho nem seu estado de saúde.

Assevera que os cuidados que sempre manteve com o incapaz são re- conhecidos por vizinhos e pelos próprios pais e que o problema de sexualidade acentuada ocorreu há mais de dez anos, não autorizando a conclusão de que tenha sido a requerente negligente no trato com o sobrinho.

Acrescenta, ainda, que, após ciência do laudo produzido nos autos da Ação de Guarda e Responsabilidade (Processo n.º 2005.01.1.058165-5), os pais biológicos retiraram P. C. da companhia da Apelante, a qual desde então não teve mais contato com o sobrinho, sendo desrespeitado inclusive o seu direito de visita, havendo grande indiferença às recomendações dadas pela equipe da área psicossocial.

Junta os documentos de fls. 84/93.

Em contrarrazões de fls. 106/112, M. G. dos S. C. requer o improvimento do apelo.

Em parecer de fls. 131/135, a d. Procuradoria de Justiça manifesta-se pelo conhecimento e improvimento do recurso.

Apelação isenta de preparo porque a recorrente é patrocinada pela il. Defensoria Pública.

Eis a suma dos fatos.

A controvérsia posta nos autos limita-se ao exame de quem detém me- lhores condições de reger a vida e administrar os bens de P. C. dos S. C., portador de Síndrome de Down.

De um lado, a Apelante argumenta que sempre esteve presente na vida e na educação do sobrinho, alegando que os pais sempre foram ausentes.

A seu turno, a mãe narra sua dificuldade à época em cuidar do filho, porque morava em uma região de chácaras, distante de médicos e escolas, mas que hoje vivencia outra realidade. Assevera, ainda, que, após o falecimento da avó, o filho passou a faltar aulas e seu tratamento foi negligenciado pela tia.

O fato é que, independentemente do comprometimento intelectual, o portador de Síndrome de Down necessita de atenção especial por toda a vida para um desenvolvimento pleno de suas potencialidades, dentro de suas limitações, a fim de tornar-se um adulto capaz de desenvolver atividades cotidianas básicas, tais como: cuidados com sua higiene e escolha da roupa a vestir, e quiçá outras mais complexas, como a capacidade de fazer suas próprias escolhas, externar sua opinião e gerir seu dinheiro.

Sob esse prisma, concluíram os expertos que o periciando, ora interdi- tando, apresenta comprometimento da atividade intelectual que o incapacita para o exercício dos atos da vida civil (fl. 61).

Em relação aos aspectos emocionais, a área técnica deste eg. Tribunal de Justiça concluiu que o momento vivenciado pelo interditando está a indicar a residência materna como o melhor lugar para seu pleno desenvolvimento, tendo em vista a possibilidade de voltar a conviver com crianças, de retornar à escola, praticar atividades físicas e controlar melhor seu estado de saúde.

Nesse particular, não há dúvida de que para o adolescente mostra-se muito mais interessante e enriquecedor estar junto com seus irmãos, cujas idades variam entre 10 e 15 anos, em região administrativa próspera (Recanto das Emas) a estar na casa da tia materna, onde residem apenas pessoas adultas.

Lá, certamente, não terá uma vida isolada e terá muitas oportunidades de interagir, senão grande parte de seu tempo é gasto com atividades solitárias, tais como: assistir televisão e jogar vídeo games.

Do mesmo modo, revela-se imprescindível que a harmonia entre os membros dessa família, hoje dividida por conta dessa disputa, volte a existir, até para dissipar a péssima impressão de que o quê está em jogo é a pensão à qual o incapacitando faz jus, e não sua felicidade e bem-estar.

É de se ver, portanto, que a conclusão do laudo pericial deve prevale- cer, não trazendo a Apelante qualquer argumento capaz de infirmar as razões ali expostas ou de demonstrar a incapacidade ou impossibilidade de sua irmã assumir tal mister.

Frente às razões supra, nego provimento ao recurso. É como voto.

Des. Dácio Vieira (Revisor) - Conheço do recurso, porquanto presentes

os pressupostos de sua admissibilidade.

Insurge-se a apelante contra sentença que decretou a interdição de P. C. S. C, nomeando como curadora, a sua genitora e, via de conseqüência, revogou a decisão que nomeou a ora apelante curadora do menor.

Assim, pretende a recorrente a reforma da sentença, para que tenha o sobrinho em sua companhia ao argumento de que sempre cuidou de sua educação, em face da ausência dos pais na sua educação e guarda.

Neste diapasão, assim se manifestou a Procuradoria de Justiça:

“Consoante documentos carreados aos autos, o interditado é portador de Síndrome de Down, “que apresenta um retardo mental de nível moderado a grave, incurável. Consideramos que o periciando seja inteiramente incapaz para reger sua pessoa e administrar seus bens” (fl. 61).

No que concerne à nomeação do curador, o Código Civil dispõe que:

“art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmen- te ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. §1º. Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstra mais apto.

§2º. Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.

§ 3º- Na falta das pessoas mencionadas nesse artigo, compete ao Juiz a escolha do curador”.

O Parecer técnico nº 196/97, elaborado nos autos e Guarda e Responsabilidade, nº 2005.01.1.058165-5, em apenso, conclui que o interditado, neste momento, estaria melhor assistido em sua necessidade básica de moradia, saúde, educação, afeto e proteção na companhia de seus genitores”.

Conforme consta do laudo pericial (fl. 61), há incapacidade do interdi- tando para o exercício dos atos da vida civil havendo decreto de sua interdição pelo Juízo de Direito da 4ª Vara de Família com a nomeação de sua genitora como curadora do menor.

De outro lado, a área Psicossocial de igual conclui que a companhia materna é a que melhor atende aos interesses do interditando, para o seu melhor desenvolvimento, junto com os seus irmãos, inclusive, no convívio com outras crianças, voltando a participar de atividades escolares, uma situação, em suma, ideal para quem é portador de uma doença mental - síndrome de Down.

Diante desses fundamentos, não estando a merecer censura a sentença recorrida, nego provimento ao recurso.

É como voto.

Des. Esdras Neves (Vogal) - Com o Relator. DECISÃO

Conhecer. Negar provimento. Unânime. ——— • ———

No documento 179rdj090 (páginas 146-153)