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ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem;”

No documento 179rdj090 (páginas 186-190)

APELAÇÃO CÍVEL Nº 2006011025208-

VII. ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem;”

Consta do Relatório Conclusivo da Comissão Disciplinar as seguintes observações:

“Após ter sido citado o servidor FRANCISCO MOURA apresentou sua defesa e esta Comissão após analisá-la deliberou por acatá-la parcialmente. No que se refere ao elemento volitivo realmente pairam dúvidas. A única certeza que temos é que FRANCISCO MOURA ofendeu a integridade física do vigilante Marconi de Lima, tanto que ele foi a óbito. Agora se houve dolo ou culpa não logramos êxito em descobrir. (fl. 70).

Depreende-se das informações acima, que a Comissão não conseguiu saber se a conduta do autor foi intencional. Por sua vez, o requerente afirma, ter- minantemente, ter sido acidental o disparo da arma, deixando claro que seu intuito era somente descarregá-la para evitar acidentes.

Assim, ante a inexistência de testemunhas presenciais ou qualquer prova capaz de apontar como intencional a conduta do servidor, impõe-se re-

conhecer como válida a versão apresentada pelo acusado, ainda mais quando reforçada pelos seus antecedentes funcionais incensuráveis (art. 128, in fine, da Lei nº 8.112/90). Destaco, a título de esclarecimento, que a ausência de dolo foi ratificada pela instância penal que entendeu por condenar o autor a um ano de detenção, pena essa substituída por uma restritiva de direitos (fls. 207/211).

Destaco que a averiguação da culpa ou dolo do autor, in casu, é de suma importância para a verificação da legalidade da aplicação da pena de demissão, em que pese ter sido indiferente para a Comissão Disciplinar, tanto que salientou, verbis: “...verifica-se que o legislador ao criar esse dispositivo legal ressaltou que só não seria aplicada a pena de demissão se a ofensa física foi em razão de legítima defesa real ou putativa. O citado artigo não faz ressalvas se a ofensa foi dolosa ou culposa.” (fl. 70)

Ora, o citado artigo não fez ressalvas quanto à intenção do servidor, por serem as mesmas desnecessárias, sendo evidente que para a caracterização da infração descrita no inciso VII, do art. 132, necessária a presença da vontade livre e consciente de ocasionar danos à integridade física do particular ou de ou- tro servidor. Do contrário, chegaríamos ao absurdo de aplicar a mesma pena de demissão para aquele servidor que, sem querer, fere um colega de trabalho e outro que intencionalmente agride um particular ou outro servidor.

Exatamente neste ponto equivocou-se a Comissão Disciplinar e a r. sen- tença. Não poderia o autor, ora recorrente ter sido indiciado pela infração descrita no inciso VII, do art. 132, da Lei 8.112/90, uma vez que não ofendeu a integridade física do colega intencionalmente. Nessa linha de raciocínio, tem-se que a pena de demissão é totalmente descabida, já que a conduta de natureza culposa não guarda pertinência com a sanção administrativo-funcional preceituada no art. 132, VII, da Lei 8.112/90.

Nesse sentido, o seguinte julgado deste c. STJ, verbis:

“ADMINISTRATIVO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. PO- LICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. INFRAÇÃO FUNCIO- NAL. CONDUTA CULPOSA. DEMISSÃO (LEI Nº 8.112/90, ART. 132, VII). ILEGALIDADE. DISSENSO ENTRE A PENA SUGERIDA E A PENA IMPOSTA. AUSÊNCIA DE FUNDA- MENTAÇÃO.

- Em sede de processo administrativo instaurado para apurar infração funcional consubstanciada em conduta de natureza culposa, é inaplicável a regra do art. 132, VII, do Estatuto (8.112/90), sendo descabida a pena de demissão.

- Segundo a regra do art. 168, do Estatuto, somente é cabível a dis- crepância entre a penalidade sugerida pela Comissão de Inquérito e a imposta pela autoridade julgadora quando contrária à prova dos autos, demonstrada em decisão fundamentada.

- Segurança concedida..” (MS 6667/DF, Min. Vicente Leal, TER- CEIRA SEÇÃO, DJ 14/04/2003, p. 175).

Destarte, verificado que a conduta do autor não se subsume ao tipo descrito no inciso VII, do art. 132, da Lei 8.112/90, por lhe faltar uma elementar, qual seja, o dolo, como explicado alhures, tenho como ilegal a punição atribuída ao ora recorrente, impondo-se a reintegração do mesmo nos quadros da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.

Forte nessas razões, conheço e dou provimento ao recurso para reformar a r. sentença, declarando a nulidade do ato de demissão do autor, com a consequente rein- tegração do servidor ao seu cargo de origem, com o ressarcimento de todas as vantagens do período em que esteve afastado, observado o disposto no art. 28 da Lei nº 8.112/90. Condeno, ainda, o Distrito Federal a arcar com o pagamento dos honorários advocatícios que fixo em R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do § 4º, do art. 20, do CPC.

É como voto.

Des. João Mariosi (Revisor) - Com o Relator.

Des. Mário-Zam Belmiro (Vogal) - Resolvi pedir vista dos autos para

examinar com maior acuidade a matéria trazida a debate, sobretudo em face da relevância do tema.

Após detida análise da questão, cheguei à mesma conclusão externada pelos eminentes Pares, conforme passo a demonstrar.

A controvérsia consiste em saber se o apelante - ex-servidor público condenado à pena de demissão pela morte de um colega de trabalho - tem direito à reintegração no cargo de origem.

De início, não há que se falar em nulidade do processo administrativo disci- plinar, eis que assegurados o contraditório e a ampla defesa ao acusado, não havendo, também, nenhuma irregularidade nos aspectos formais de sua instauração.

Após conclusão do processo administrativo, o servidor foi demitido com base no art. 132, inciso VII, da Lei nº 8.112/90, cuja redação é a seguinte: “Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: (...) VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem”.

Entretanto, apesar de configuradas a materialidade e a autoria do delito, não foi possível determinar o elemento volitivo em questão, tanto assim que no relatório conclusivo da Comissão Disciplinar consta o seguinte: “No que se refere ao elemento volitivo realmente pairam dúvidas. A única certeza que temos é que FRAN- CISCO MOURA ofendeu a integridade física do vigilante Marconi de Lima, tanto que ele foi a óbito. Agora se houve dolo ou culpa não logramos êxito em descobrir”. (fl. 70)

A r. sentença proferida na esfera criminal concluiu no mesmo sentido: “Importa frisar que o laudo pericial não restou conclusivo se o delito restou doloso ou culposo conforme fls. 32/51”. Assim, em face da ausência de dolo, a pena de detenção, fixada em 1 (um) ano, foi substituída por outra restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços à comunidade.

Feita essa breve incursão, oportuno observar que o citado artigo 132 do Regime Jurídico Único não faz ressalvas se a ofensa perpetrada ao servidor ou ao particular é dolosa ou culposa, como restou apurado pelo eminente Relator, pois tal diferenciação é desnecessária.

Com efeito, é manifesto que a infração praticada por servidor capaz de atrair a pena de demissão deve ser conjugada com a vontade livre e consciente de causar danos à integridade física de outrem, ou seja, o dolo está implícito. E, na hipótese sub examine, os elementos constantes dos autos não permitem de modo algum concluir que o apelante agiu com dolo, antes se depreende que tudo não passou de um trágico acidente.

Merece consideração, ainda, o fato de que o servidor em questão possui bons antecedentes funcionais, com elogios em sua ficha funcional, não havendo, à exceção do fatídico acidente narrado, nenhuma outra conduta a macular sua trajetória profissional.

Ademais, nos termos do art. 128 do RJU, na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais.

Ora, é sabido que toda pena guarda em si o caráter pedagógico, de modo que, a meu ver, a tese adotada pela Comissão Disciplinar, chancelada pela sentença, de que a única pena possível na hipótese seria a demissão inviabiliza o alcance da teleologia da sanção disciplinar, engessando a aplicação da pena à medida que con- fere idêntico tratamento a fatos distintos em gravidade, repercussão e prejuízo.

Nesse contexto, revela-se ilegal a punição atribuída ao apelante, ense- jando sua reintegração nos quadros da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, com os consectários financeiros daí advindos, ex vi do art. 28 da Lei nº 8.112/90, parte final.

Com essas breves considerações, DouproviMEnto ao recurso, nos termos

do voto do eminente Relator. É o meu voto.

DECISÃO

Conhecer. Dar provimento ao recurso. Unânime. ——— • ———

No documento 179rdj090 (páginas 186-190)