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Resolução metodológica: os modos de investigação e de exposição

A DIMENSÃO SUBJETIVA DA REALIDADE: FUNDAMENTAÇÃO ONTOLÓGICA E DECORRÊNCIAS METODOLÓGICAS

1.4 Resolução metodológica: os modos de investigação e de exposição

Para definir com precisão os pontos de partida e de chegada da investigação e o percurso a ser percorrido para isso, é preciso inicialmente considerar a distinção, feita por Marx, entre o modo de investigação e o modo de exposição:

A investigação tem de se apropriar da matéria em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real. Se isso é realizado com sucesso, (...) a vida da matéria é agora refletida idealmente (MARX, 2013, p. 90).

Portanto, determinados procedimentos metodológicos se fazem necessários para que tanto a investigação quanto a posterior exposição (que depende da investigação concluída com sucesso) atinjam o objetivo de realizar a reprodução ideal do concreto como concreto pensado. Para tanto, a investigação deverá ser concreto-ôntica (LUKÁCS, 2012b) e a exposição ser dialética. Abordaremos doravante o significado preciso desses procedimentos, tendo como referência principal para esta discussão a chamada ―Introdução de 1857‖, redigida por Marx na primeira sistematização de sua crítica da economia política e que posteriormente seria publicada como parte dos manuscritos conhecidos como Grundrisse, um raro texto em que a questão do método é abordada de forma direta. Além de outros textos marxianos em que estas questões são abordadas, recorreremos ainda às sistematizações feitas por Lukács (2012b), Kosik (2011) e Chasin (2009).

O ponto de partida da investigação, que permita o objetivo inicial de se apropriar da matéria em seus detalhes, deve ser a própria realidade. Ou como formularam Marx e Engels (2012), ―os pressupostos de que partimos não são pressupostos arbitrários, dogmas, mas pressupostos reais (...). São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida‖ (p. 86). Marx rejeita, assim, a investigação que opera sobre a manipulação abstrata de conceitos, de categorias dadas a priori, em favor de uma investigação que tenha

na realidade concreta ―o ponto de partida da intuição e da representação‖ (Marx, 2011c, p. 54).

Em um conjunto de anotações pessoais nas quais comenta críticas recebidas por O Capital, Marx esclarece de forma precisa esta questão. As críticas rebatidas são as de que haveria um erro lógico na estrutura da obra, a partir da oposição entre valor de uso (que, na leitura do seu crítico, seria um conceito lógico) e valor de troca (que, distinto, seria um conceito histórico). Marx rebate esta argumentação denunciando-a como manipulação abstrata de conceitos e expondo com isso a falsidade de seu caráter logicizante:

Quem é que estabelece aqui uma contraposição lógica? O senhor Rodbertus, para quem o ―valor de uso‖ e o ―valor de troca‖ são por natureza, meros ―conceitos‖. (...) Aqui só existe uma contraposição “lógica” para [aqueles] que partem do “conceito” de valor de uso, e não da “realidade social”, da ―mercadoria‖, e depois desdobram o conceito como se tivesse duas caras, para concluir discutindo qual dos dois fantasmas assombrados pelos seus cérebros é o verdadeiro (MARX, 2011b, p. 177 – 178, grifos nossos).

Ao defender o papel desempenhado pela categoria valor de uso em sua produção sobre economia política, demarca a diferença de seu método:

(...) na minha obra o valor de uso desempenha um papel muito importante, diferentemente do que desempenha em toda a economia anterior, embora, tenha-se em conta, somente onde se parte da análise de um regime econômico dado e não de especulações abstratas acerca dos conceitos e das locuções ―valor de uso‖ e ―valor‖. (...) Meu método analítico, que não parte do homem [em geral], senão de um período social concreto, não tem a menor relação com aquele método de entrelaçamento de conceitos (MARX, 2011b, p. 175 – 176, grifos nossos).

Marx deixa claro, portanto, qual sua perspectiva analítica: seu objetivo é a análise de um período social concreto, e não de uma realidade geral, abstrata, a-histórica. A partir deste objetivo, aponta que uma análise como esta somente pode ser feita se partir do regime econômico conforme está dado e não de especulações abstratas e meramente conceituais.

Destacamos, por fim, outro trecho, em que Marx comenta o caminho metodológico efetivamente percorrido para a análise.

De inicio, eu não começo nunca dos “conceitos”, nem, por isso mesmo, do ―conceito de valor‖, motivo pelo qual não tenho porque ―dividir‖ de modo algum este ―conceito‖. Eu parto da forma social mais simples em que se corporifica o produto do trabalho na sociedade atual, que é a ―mercadoria‖. Analiso esta e o faço fixando-me, antes de tudo, na forma sob a qual se apresenta. Descubro que a ―mercadoria‖ é de uma

parte, em sua forma material, um objeto útil ou, noutros termos, um valor de uso, e de outra parte, encarnação do valor de troca e, deste ponto de vista ―valor de troca‖ ela mesma. Continuo analisando o ―valor de troca‖ e encontro que este não é mais do que uma ―forma de manifestar-se‖, um modo especial de aparecer o valor contido na mercadoria, em vista do que, procedo à análise deste último. (...) eu não divido o valor de uso e valor de troca, como termos antitéticos em que se decompõe o abstrato, o ―valor‖, apenas afirmo que, a forma social concreta do produto do trabalho, da mercadoria, é por uma parte valor de uso e por outra parte ―valor‖, não valor de troca, posto que este é uma simples forma de manifestar-se e não seu próprio conteúdo (MARX, 2011b, p. 174, grifos nossos).

Para Marx, o ponto de partida da análise não está no tratamento de conceitos. Não existem categorias definidas aprioristicamente: estas apenas podem emergir a partir da análise dos objetos pesquisados. Seu ponto de partida é outro: a realidade empírica e nesta a forma mais simples em que se apresenta a totalidade do fenômeno analisado. Deste ponto inicial, são realizadas as abstrações necessárias para a compreensão das complexas determinações do objeto (no exemplo do estudo da mercadoria: da mercadoria empírica se abstrai seu valor de uso e seu valor de troca, de seu valor de troca se abstrai seu valor, etc.) com o objetivo de se aproximar, no pensamento, da concreticidade do fenômeno. Basta-nos, por ora, apenas apontar esta questão, que será retomada adiante.

Portanto, o ponto de partida da investigação devem ser os próprios fenômenos, a forma aparente da realidade. Como aponta Kosik (2011), se o fenômeno oculta a essência, ao mesmo tempo é o único caminho que a indica.

Captar o fenômeno de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa em si se manifesta naquele fenômeno, e como ao mesmo tempo nele se esconde. Compreender o fenômeno é atingir a essência. Sem o fenômeno, sem a sua manifestação e revelação, a essência seria inatingível. (...) A realidade é a unidade do fenômeno e da essência (KOSIK, 2011, p. 16).

Esta posição metodológica coloca imediatamente um problema da maior grandeza. A realidade da qual se afirma ser o ponto de partida da investigação é, desde o princípio, uma totalidade concreta (e neste sentido o ponto de partida é idêntico ao de chegada). Ser a realidade uma totalidade impede sua apreensão imediata enquanto tal. Sem a apreensão exata das diversas determinações do objeto estudado e de suas conexões, a totalidade que se apresenta imediatamente como ponto de partida da investigação é apenas uma ―representação caótica do todo‖. Vejamos como Marx coloca esta questão na

discussão do método da economia política:

Parece ser correto começarmos pelo real e pelo concreto, pelo pressuposto efetivo e, portanto, no caso da economia política, por exemplo, começarmos pela população, que é o fundamento e o sujeito do ato social de produção como um todo. Considerando de maneira mais rigorosa, entretanto, isso se mostra falso. A população é uma abstração quando deixo de fora, por exemplo, as classes das quais é constituída. Essas classes, por sua vez, são uma palavra vazia se desconheço os elementos nos quais se baseiam. P. ex., trabalho assalariado, capital etc. Estes supõem troca, divisão do trabalho, preço etc. O capital, p. ex., não é nada sem o trabalho assalariado, sem o valor, sem o dinheiro, sem o preço etc. Por isso, se eu começasse pela população esta seria uma representação caótica do todo (MARX, 2011c, p. 54).

Desta forma, ainda que seja correto começar pelo real e pelo concreto, há que se considerar que cada momento real que seja tomado como ponto de partida sempre pressuporá todos os outros momentos, sem os quais não passa de abstração vazia. Neste sentido, há uma realidade que se apresenta como totalidade concreta imediatamente ininteligível, o que determina a necessidade, enquanto procedimento estritamente intelectivo, de que a realidade seja decomposta em elementos isolados. Não há conhecimento possível ―a não ser arrancando os fatos do contexto, isolando-os e tornando-os relativamente independentes‖ (KOSIK, 2011, p. 57).

Tal decomposição da realidade em elementos, para que não se torne manipulação abstrata de conceitos, pressupõe obrigatoriamente alguma forma de constatação empírica (cf. MARX; ENGELS, 2012, p. 87) e observações empíricas são, assim, um procedimento metodológico importante (LUKÁCS, 2012b). Contudo, tais observações não bastam para o necessário tratamento metodológico de elementos isolados e o procedimento por excelência para a divisão da realidade social em suas ―células‖ é a abstração (MARX, 2013).

É assim não por uma definição lógico-gnosiológica arbitrária, mas porque a abstração é o caminho que se torna possível para o conhecimento, em termos estritamente ontológicos, a partir de sua gênese na práxis social. A tendência à abstração não é imanente ao pensamento, mas emana de sua função prática na medida em que o direcionamento a um fim determinado, presente no caráter teleológico da atividade humana, põe a necessidade de isolar alguns momentos da realidade como essenciais à ação e temporariamente desprezar outros (KOSIK, 2011).

Não se trata, porém, de qualquer abstração e para melhor delimitá-la podemos acrescentar duas qualificações: ser ontológica e ser razoável.

Dizer de uma abstração que esta é ontológica significa que

O tipo e o sentido das abstrações, dos experimentos ideais, são determinados não a partir de pontos de vista gnosiológicos ou metodológicos (e menos ainda lógicos), mas a partir da própria coisa, ou seja, da essência ontológica da matéria tratada (LUKÁCS, 2012b, p. 322).

Já discutimos anteriormente uma abstração assim entendida na maneira pela qual Marx aborda o trabalho em geral. Trata-se indubitavelmente de uma abstração (afinal concretamente aquilo que chamamos de trabalho é sempre uma atividade determinada e somente no pensamento um traço comum pode ser extraído de um conjunto de tais atividades para assim abstraí-las como apenas ―trabalho‖), mas uma abstração tornada historicamente possível pelo desenvolvimento categorial do próprio objeto, que capta deste uma determinação ontológica fundamental. Neste sentido, a abstração ontológica ―é uma realidade, um momento da ontologia do ser social, uma abstração real de objetos reais, que se dá de modo inteiramente independente da circunstância de que seja ou não realizada também pela consciência‖ (LUKÁCS, 2012b, p. 315). As abstrações ontológicas representam, assim, determinações ou categorias simples, que expressam aspectos isolados do complexo a que se referem (CHASIN, 2009).

A questão da razoabilidade da abstração, por sua vez, é abordada por Marx quando discute a categoria ―produção‖ na economia política. Inicialmente, Marx considera que a produção é sempre uma produção determinada, historicamente delimitada, permitindo entrever, da mesma forma, que falar de ―produção‖ é uma abstração de distintos processos particulares e singulares.

Por isso, quando se fala de produção, sempre se está falando de produção em um determinado estágio de desenvolvimento social – da produção de indivíduos sociais. Desse modo, poderia parecer que, para poder falar em produção em geral, deveríamos seguir o processo histórico de desenvolvimento em suas distintas fases, seja declarar por antecipação que consideramos uma determinada época histórica, por exemplo, a moderna produção burguesa (MARX, 2011c, p. 41). Contudo, é possível abstrair um elemento universal nestes distintos processos produtivos, historicamente determinados, e falar de uma produção em geral. Desta forma, para ser razoável uma abstração precisa necessariamente

ser ontológica. Mas, o específico de sua qualificação como razoável é expressar uma determinação universal. Prossegue Marx:

No entanto, todas as épocas da produção têm certas características em comum, determinações em comum. A produção em geral é uma abstração, mas uma abstração razoável, na medida em que efetivamente destaca e fixa o elemento comum, poupando-nos da repetição (idem, grifos nossos).

Assim, a razoabilidade da abstração se define por reter e destacar ―aspectos reais, comuns às formas temporais de entificação dos complexos fenomênicos considerados‖, por registrar aquilo que ―pertence a todos ou a muito sob diversos modos de existência‖, por extrair um traço universal das formas concretas, o que só se torna possível na medida em que ―operar subsumida à comparação dos objetos que investiga‖ (CHASIN, 2009, p. 124).

Através destas abstrações – ontológicas e razoáveis – é possível identificar diversos complexos parciais que compõem a totalidade analisada, o que equivale a dizer que é possível chegar a um conjunto de categorias simples, de determinações simples dos objetos estudados. No exemplo da economia política, como já citado, tais abstrações permitem isolar categorias como ―população‖, ―classes‖, ―trabalho assalariado‖, ―capital‖, ―valor‖ etc. A apreensão concreta depende, portanto, do isolamento abstrativo de quantas categorias simples forem possíveis. Neste sentido, não importa exatamente, para o procedimento de abstrações razoáveis, qual o exato ponto de partida da investigação, que será sempre arbitrário (KOSIK, 2011), o que não invalida o argumento anterior de que deva iniciar pelo concreto (que no momento inicial ainda não pode ser apreendido idealmente enquanto tal) e não da manipulação de conceitos. Torna-se indiferente o exato ponto de início da abstração na medida em que a investigação necessariamente terá de se remeter à totalidade, isolando tantos elementos parciais quantos forem necessários.

Contudo, mesmo um conjunto muito bem elaborado de abstrações razoáveis que revelem aspectos categoriais parciais dos fenômenos não permite, por si só, a apreensão concreta da realidade. Afinal, ainda que não seja possível conceber nenhuma formação concreta sem a expressão das ―relações gerais ou as mais simples das categorias‖, estas não determinam efetivamente, contudo, qualquer objeto real. Esta questão é colocada por Marx, na análise do método da economia política, nos seguintes termos:

Para todos os estágios da produção há determinações comuns que são fixadas pelo pensamento como determinações universais; mas as assim chamadas condições universais de toda produção nada mais são do que esses momentos abstratos, com os quais nenhum estágio histórico efetivo da produção pode ser compreendido (MARX, 2011c, p. 44).

O universal é apenas uma síntese possível a partir de um conjunto de casos singulares; não são os casos singulares expressão de uma determinação universal. Ou como Marx formulou ironicamente: é possível a representação geral ―fruta‖ a partir da abstração de maçãs e peras concretas; não é que ―a fruta‖ adquira uma existência ―maçãnica‖ na maçã ou uma existência ―pêrica‖ na pêra (MARX; ENGELS, 2011). A universalidade não é concreta, ainda que diversas formações concretas possuam determinações comuns, universais; é apenas uma abstração, ainda que capture um traço real.

Se não há produção em geral, também não há igualmente produção universal. A produção é sempre um ramo particular da produção – por exemplo, agricultura, pecuária, manufatura etc.- ou uma totalidade. (...) Finalmente, a produção também não é somente uma produção particular. Ao contrário, é sempre um certo corpo social, um sujeito social em atividade em uma totalidade maior ou menor de ramos de produção (MARX, 2011c, p. 41).

É exatamente a desconsideração da particularidade da produção (e também da produção como totalidade) o que permitiu a formulação ideológica dos economistas políticos clássicos da produção ―como enquadrada em leis naturais eternas, independente da história, oportunidade em que as relações burguesas são furtivamente contrabandeadas como irrevogáveis leis naturais da sociedade in abstracto‖ (MARX, 2011c, p. 42). Isto se torna possível por ―destacar as determinações em comum, e da mesma forma, confundir ou extinguir todas as diferenças históricas em leis humanas gerais‖ (idem, grifos no original). Neste sentido, alertando para o "fetichismo das necessidades universais abstratas", afirma Lukács:

Para a teoria e para a práxis, o conhecimento da legalidade particular deste ser-precisamente-assim é tão importante quanto o das determinações e legalidades universais. Além do mais, para a práxis, que só pode se realizar precisamente no hic et nunc concreto de uma situação histórico-social, a compreensão adequada do ser-precisamente-assim possui até mesmo uma ineludível prioridade (LUKÁCS, 2008, p. 84)

Desta forma, ao caminho do empírico ao abstrato (caminho de ida da investigação), que permite isolar e abstrair categorias simples/parciais, deve se

seguir o percurso de um caminho de retorno, do abstrato ao concreto. O abstrato é, assim, mediação necessária ao pensamento para a apreensão do concreto, que no início era representado como todo caótico e no final pode ser entendido como síntese de múltiplas determinações.

Se eu começasse pela população, esta seria uma representação caótica do todo e, por meio de uma determinação mais precisa, chegaria analiticamente a conceitos cada vez mais simples; do concreto representado [chegaria] a conceitos abstratos (...) cada vez mais finos, até que tivesse chegado às determinações mais simples. Daí teria de dar início à viagem de retorno até que finalmente chegasse de novo à população, mas desta vez não como a representação caótica de um todo, mas como uma rica totalidade de muitas determinações e relações. (...) O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade na diversidade (MARX, 2011c, p. 54).

É, portanto, o procedimento que vai do abstrato ao concreto o que permite a reprodução ideal do concreto como concreto pensado. Esse caminho é o que buscaremos delimitar com mais precisão agora.

Para tanto, é preciso, uma vez concluída a tarefa de captar detalhadamente a matéria, analisar suas formas de evolução (MARX, 2013), o que se torna possível se as abstrações forem submetidas a uma intensificação ontológica de sua razoabilidade de modo a que percam generalidade e adquiram particularidade e singularização (CHASIN, 2009). Isso significa que a análise das abstrações deve se voltar, uma vez identificadas aquelas determinações gerais e comuns, para a identificação das diferenças essenciais. Marx coloca assim esta questão:

A produção em geral é uma abstração, mas uma abstração razoável (...). Entretanto, esse Universal, ou o comum isolado por comparação, é ele próprio algo multiplamente articulado, cindido em diferentes determinações. Algumas determinações pertencem a todas as épocas; outras são comuns a apenas algumas. [Certas] determinações serão comuns à época mais moderna e à mais antiga. Nenhuma produção seria concebível sem elas; todavia, se as línguas mais desenvolvidas têm leis e determinações em comum com as menos desenvolvidas, as diferenças desse universal e comum é precisamente o que constitui seu desenvolvimento. As determinações que valem para a produção em geral têm de ser corretamente isoladas de maneira que, além da unidade (...) não seja esquecida a diferença essencial (MARX, 2011c, p. 41, grifos nossos).

A intensificação da razoabilidade das abstrações, pela delimitação das diferenças essenciais, se dá

portanto, determinados e delimitados dos objetos, de modo que sejam medidas por eles e, consequentemente, ajustadas aos mesmos, de forma que sua capacidade de os reproduzir se torne mais precisa e, por isso mesmo, maior (CHASIN, 2009, p. 129).

Somente pela delimitação simultânea tanto das determinações gerais (universais) quanto das determinações específicas (particulares e singulares) é possível a reprodução ideal dos objetos reais. O caso concreto nunca é inteiramente determinado por alguma legalidade, que possui sempre caráter tendencial e validade historicamente determinada, podendo objetivar-se de formas distintas e até mesmo opostas (LUKÁCS, 2012b). A apreensão ontológica da realidade deve, portanto, se fundamentar na unidade dialética entre lei e fato, na qual ―a lei só se realiza no fato; o fato recebe determinação e especificidade concreta do tipo de lei que se afirma na intersecção das interações‖ (ibid., p. 338). Remetemo-nos assim à primeira questão ontológica colocada por Lukács, de que a análise de um determinado complexo ontológico depende da apreensão de sua generalidade e de sua especificidade, que se desdobram ao longo de um desenvolvimento histórico objetivo, com todas as mediações que determinam suas formas efetivamente existentes.

Por sua vez, não basta, contudo, delimitar as categorias por identidade e diferenciação. Concluídos os procedimentos de captação detalhada da matéria e de análise de suas diferentes formas de desenvolvimento, é preciso ainda rastrear seu nexo interno (MARX, 2013), em um processo de articulação de categorias que é o processo de totalização que permite sua efetiva concretização. Na articulação e conexão de categorias é que aparecem