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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. ÁREA 1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ENSINO E DA

4.1.2. Realização

4.1.2.4. O arranque dos exercícios

Nos primeiros meses de lecionação uma das minhas principais dificuldades passava pelo arranque dos exercícios. Após a explicação das situações de aprendizagem e da ordem para que as iniciassem, grande parte dos alunos - quando não eram todos - não o faziam. Ficavam estáticos, no mesmo sítio onde tinha decorrido a explicação, a olharem uns para os outros sem saberem muito bem o que fazer. Era sempre necessário dirigir-me a eles, apressá-los, quase que empurrá-los para o sítio onde deveriam exercitar e atirar- lhes a bola para que iniciassem a atividade. No seguinte excerto, retirado da

reflexão de uma das primeiras aulas do ano, fica bem ilustrada esta situação e a frustração que sentia por ela acontecer:

“Após a explicação do exercício, da exemplificação, de ter referido que deveriam formar novos grupos de quatro elementos e de dar ordem para que iniciassem o exercício, praticamente ninguém o fez. As raparigas ficaram paradas, à conversa. Perdidas algures entre não terem percebido o exercício e não terem grande vontade de o realizar, para além de demonstrarem inúmeras dificuldades em refazer os grupos. Enquanto aluno, nas aulas de Educação Física, quando não percebia um exercício não ficava parado à espera que alguém me viesse explicar. Observava os outros, questionava os colegas ou procurava esclarecimento junto do professor. Tinha uma atitude pró-ativa. Não noto isso por parte dos meus alunos. Não perceberam o exercício e não se importaram minimamente com isso, preferem ficar à conversa o que demostra falta de interesse pela aula.

Ao longo dos meus anos como aluno, na escola e na faculdade, tive a oportunidade de assistir a aulas dos mais diversos temas: História, Português, Matemática… Tal como todos os alunos, havia disciplinas que me interessavam mais que outras. Porém, o grande fator de motivação nas aulas não era a matéria, mas sim o professor. Acredito que um mau professor é incapaz de cativar os alunos para as suas aulas, mesmo que a temática até seja do interesse deles. Por sua vez, um bom professor é capaz de prender a atenção e o interesse dos seus alunos mesmo abordando temas com os quais eles não se identificam. A motivação dos alunos está muito mais relacionada com o professor do que com a matéria. Por isso, quando digo que os alunos demonstram falta de interesse pela disciplina, não os estou a culpar, isso seria um ato de cobardia e de descarto de responsabilidades. Eu acredito que a culpa é minha, mas ainda não percebi onde estou a errar.”

- Reflexão da Aula 2 de 19 de setembro

Embora tivesse consciência que a culpa era minha, não percebia de que forma eu era o causador destas situações. Com o passar do tempo, e após várias reflexões e conversas com o PC, fui-me apercebendo dos erros que cometia no

decorrer da lecionação e de que forma estes influenciavam a atitude dos alunos. À minha postura incorreta, já citada anteriormente, juntavam-se as também já referidas dificuldades na instrução. Desta forma as minhas explicações dos exercícios eram pouco apelativas, fruto de uma postura apática durante a instrução, pelo que a motivação dos alunos para os realizarem era reduzida. Por outro lado, consequência das dificuldades de instrução, eles ficavam sem perceberem bem o que fazer, que grupos formar e em que local exercitar. Com o avançar do tempo a minha postura e capacidade de instrução foram melhorando, assegurando uma maior motivação dos alunos para a prática e um devido esclarecimento das situações de aprendizagem

Ainda assim, o problema não ficou totalmente resolvido. Embora o meu comportamento se tenha modificado, a pouca autonomia dos alunos era ainda um fator limitador quando, antes de iniciar os exercícios, tinham de formar grupos. Após uma instrução elucidativa, com uma postura enérgica, os exercícios demoravam muito tempo a iniciar devido à dificuldade que os alunos demonstravam na formação de grupos. Um desses exemplos está bem patente no seguinte excerto, retirado de uma reflexão de aula de andebol:

“Inicialmente disse-lhes que todas as equipas de três elementos que formassem teriam de ter obrigatoriamente alunos de ambos os sexos (…) Habitualmente a formação de grupos já é um processo demorado, mesmo sem restrições acabo sempre por ter de intervir para que não se perca demasiado tempo nessa ação. Com a implantação desta regra os alunos estavam a demorar tanto tempo que tive de ser eu a formar todos os grupos de raiz.”

- Reflexão da Aula 27 de 23 de janeiro

Após a instrução e a deliberação do número de elementos por grupo, a formação destes demorava sempre tanto tempo que era constantemente necessária a minha intervenção.

Para mim, o tradicional método de elaboração de grupos, em que um elemento de cada equipa é escolhido pelo professor e, à vez, escolhem os colegas que pretendem que façam parte da sua equipa, não era uma opção válida. Embora se apresentasse como uma solução mais célere que aquela que

eu utilizava, o facto de os alunos serem escolhidos pela sua qualidade tem um efeito negativo na perceção de auto-competência dos alunos escolhidos mais tardiamente.

Assim, comecei a utilizar outras estratégias que aceleravam este processo. Quando os elementos constituintes do grupo não era um fator limitador, ou seja, quando a situação de aprendizagem exigia somente a criação de um determinado número de grupos, sendo indiferente as características dos alunos que os constituía – p.e. um aquecimento por vagas – recorria a jogos lúdicos, em que os alunos se agrupavam de acordo com o número que eu definia e depois aproveitava esses grupos para os exercícios seguintes. Quando as características dos alunos eram um fator determinante na formação dos grupos – p.e. criação de equipas equilibradas – a seleção das equipas era feita por mim. Sempre que possível, distribuía os coletes, identificativos da equipa a que os alunos pertenceriam, durante a situação de aprendizagem anterior, desta forma o tempo perdido na formação das equipas era nulo.

Assim, depois de resolver os problemas da instrução, de adotar um postura ativa e enérgica e de solucionar a dificuldade na formação dos grupos, o arranque dos exercícios deixou de ser um problema. Após ouvirem a explicação, os alunos encaminhavam-se para o local de exercitação e autonomamente iniciavam a atividade.