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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. ÁREA 1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ENSINO E DA

4.1.2. Realização

4.1.2.2. Professor/Aula vs Treinador/Treino

4.1.2.2.3. Exercitação analítica

Enquanto treinadores interessa-nos trabalhar o pormenor, uma movimentação ou ação que acontece poucas vezes em jogo formal e que, para ser exercitada volumosamente, obriga a uma “divisão” do jogo formal em ações mais simples. Quanto mais simples forem essas ações mais analítica se torna a exercitação.

No treino utilizo diariamente situações analíticas, muitas delas com o objetivo de trabalhar gestos técnicos tão especializadas que apenas as jogadoras de determinadas posições os utilizam, relegando as restantes colegas para uma função de ajuda durante essa exercitação. Por compreenderam a importância da ação exercitada e por entenderem que a melhoria das suas colegas nessa ação resultará numa melhoria da equipa, as atletas aceitam essa função de ajudante e desempenham-na com empenho e motivação.

Por sua vez, também existem exercitações em que, embora a ação visada seja utilizada por todas as atletas, o grupo é dividido para que se consiga uma dinâmica maior, remetendo metade das atletas para a exercitação e a outra metade para tarefas de ajuda. As situações de aprendizagem deste tipo permitem que uma atleta faça várias vezes seguidas a mesma ação, sem se preocupar em apanhar bolas – as colegas com tarefas de ajuda têm essa função - em rodar ou ir para uma fila de espera, uma vez que o número de atletas em ação é reduzido, possibilitando uma exercitação constante das atletas em ação. Após um erro a atleta tem logo a oportunidade de o corrigir, uma vez que não existe um tempo de paragem entre a ação errada e a ação seguinte, como aconteceria, por exemplo, numa fila de espera ou numa situação em que, após jogar, teria de rodar com uma colega. Esta situação torna-se particularmente vantajosa quando é completada pelo FB do treinador. Após um erro, a atleta ouve o FB de correção e de imediato volta a executar o mesmo gesto, seguido de novo FB e assim consecutivamente. Há a oportunidade imediata de se fechar o ciclo de FB o que, na minha opinião, acelera o processo de aprendizagem da atleta quando comparando com situações de aprendizagem que permitam a exercitação de todas as atletas ao mesmo tempo ou o jogo formal.

O pouco tempo de que dispomos na escola para lecionar cada UD obriga à escolha de situações de aprendizagem que possibilitem um rápido desenvolvimento dos alunos. Incentivado por esta ideia, aliada ao hábito que tenho de utilizar este tipo de exercitação em treino, optei pela utilização deste tipo de situações nas aulas. Contudo, apercebi-me que este tipo de exercitação dificilmente pode ser utilizado em contexto escolar. Prova disso é o excerto de uma reflexão relativa a um exercício de side-out numa situação de 3x3 na modalidade de voleibol, em que três alunos exercitavam e outros três tinham funções de ajuda, nomeadamente apanhar bolas e lançá-las para os colegas em exercitação receberem e construírem a jogada:

“O exercício previa a existência de uma equipa em side-out e outra apenas a servir, trocando de funções ao fim de cinco lançamentos. Para que o exercício tivesse um ritmo elevado entreguei uma bola a cada um dos alunos que

terminasse podia dar-se início a uma nova sem que fosse necessário esperar pela bola utilizada na jogada anterior. Esta é uma estratégia que utilizo muitas vezes em treino e que permite que não existam tempos-mortos ou de espera entre jogadas, o que resulta num ritmo de treino mais elevado, permitidor de uma maior concentração, empenho e contactos com a bola por parte das atletas. Porém, após a aula de hoje percebi que dificilmente esta estratégia poderá ser replicada num contexto de aula. Durante o tempo em que assumem as funções de servidores os alunos não têm mais nenhuma função a desempenhar. Os atletas federados compreendem a importância desta função e estão dispostos a cumpri-la com eficácia objetivando uma melhor exercitação aos colegas em side- out. Nas aulas de Educação Física os alunos não estão dispostos a cumprir essa tarefa, para eles o importante é estarem sempre em atividade, a mexerem-se, a exercitarem. Assim, enquanto assumiam a função de servidores os alunos não estavam concentrados nem empenhados em realizar eficazmente essa tarefa.”

- Reflexão da Aula 40 de 24 de abril

Esta diferença de postura dos atletas/alunos do desporto federado para a aula de EF acontece, no meu entender, porque nas aulas não existe um sentido de coletivo nem a mesma motivação a que assistimos no desporto federado. No treino as atletas aceitam este tipo de exercitação porque compreendem a importância dele para a equipa. Ao providenciarem uma melhor exercitação às colegas estão a permitir-lhes evoluir, o que se repercutirá na qualidade da equipa. Nas aulas de EF não existe esse sentido de coletivo, quando os alunos abdicam de praticar para que os seus colegas possam ter uma exercitação mais fluída, quem está parado não tem nada a ganhar com esta situação, não existe um bem comum que albergue os interesses dos executantes e dos ajudantes, levando a uma desmotivação dos alunos com funções de ajuda. Por outro lado, no treino os atletas aparecem por motivação própria, na escola não se pode afirmar o mesmo, uma vez que a EF faz parte do currículo escolar do aluno, sendo portanto de cariz obrigatório (O'Connor & MacDonald, 2002). Assim sendo, não é espectável que alunos e atletas tenham a mesma motivação para a prática e consequentemente assumam funções de ajuda com o mesmo comprometimento.

Embora esta diferença de comportamento entre alunos e atletas se faça sentir sobretudo nos exercícios analíticos em que recorremos a alunos para ajudar, ela é evidenciada na utilização de qualquer exercício analítico, sobretudo se os alunos não compreenderem a utilidade do exercício e não conseguirem fazer o tranfer para o jogo, algo que acontecia frequentemente nos primeiros tempos de lecionação.