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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. ÁREA 1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ENSINO E DA

4.1.2. Realização

4.1.2.11. Ensino de pares

Uma das dificuldades que senti na UD em que trabalhei por níveis foi conseguir chegar a todos os alunos. Os alunos de nível elementar tinham tantas dificuldades – numa fase inicial até agarrar a bola era difícil para eles – que necessitavam de ajuda constante. Sem as minhas correções, em vez de exercitarem convenientemente, os alunos trabalhavam o erro e as exercitações eram infrutíferas. Era necessário um acompanhamento constante contudo, apenas seis alunos compunham o nível elementar, a grande maioria dos alunos estava inserido no nível avançado que, obviamente, também necessitava da minha ajuda e FB. Tornava-se complicado chegar a todos os alunos e oferecer a todos a atenção que eles necessitavam.

Na minha turma havia uma aluna que era atleta de DE na mesma modalidade que estávamos a abordar nas aulas. Por ter um nível muito superior aos colegas e por já dominar os conteúdos abordados, as aulas de EF não lhe proporcionavam grandes aprendizagens. Assim, surgiu a ideia de colocar essa aluna a ajudar os colegas inseridos no nível inferior, garantindo-lhes um melhor acompanhamento e deixando-me mais liberto para outras funções. Esta estratégia acaba por ser mais motivadora para a aluna em questão, que vê as suas capacidades serem reconhecidas perante os colegas e que adota um papel semelhante ao de professor/treinador e mais motivadora para os alunos do nível elementar, que desta forma recebem ajuda constante. Todavia, colocar uma aluna a ajudar os colegas implica não só que o grupo continue a ser acompanhado pelo professor, como a própria aluna necessita de concelhos e orientação. Não basta colocá-la a ajudar os colegas, é necessário prestar-lhe apoio, explicar-lhe a que detalhes deve estar atenta e de que forma pode ajudar os colegas. O seguinte excerto, retirado da reflexão da aula em que, pela primeira vez, coloquei a aluna a ajudar os colegas inseridos no nível inferior ilustra bem essa experiência:

“Pela primeira vez experienciei a utilização de uma aluna para ajudar estes alunos [inseridos no nível elementar]. Conversei com ela na fase inicial da aula e expliquei-lhe que, para uma atleta de desporto escolar, as aulas de Educação Física não se afiguravam como uma grande fonte de aprendizagem.

O mais indicado a fazer era ela utilizar o conhecimento que tem da modalidade para ajudar os colegas com mais dificuldades. A aluna em questão tem um bom domínio do passe e manchete e como tal tem capacidade suficiente para corrigir e dar feedbacks sobre esses gestos técnicos, conteúdos visados na exercitação do nível elementar. Contudo, o facto de não poder exercitar com os colegas podia ser mal aceite pela aluna que, obviamente, gosta de jogar voleibol e colocá-la num papel de ajudante retira-lhe a possibilidade de praticar junto dos colegas. Para que aceitasse melhor a tarefa disse-lhe logo que as suas funções de ajudante decorreriam somente durante a exercitação, na parte final da aula, quando as duplas fossem jogar, ela voltaria a ser integrada no seu nível e poderia jogar com os colegas. Enquanto falava com ela percebi que a tarefa estava a ser bem aceite, que a aluna estava motivada e expliquei-lhe a que detalhes deveria estar atenta e quais os principais feedbacks a dar aos colegas. No decorrer da aula, sempre que me aproximei da exercitação do nível elementar ela estava ativa, ora a explicar a colocação das mãos no passe, ora a exemplificar a correte execução técnica da manchete. Por outro lado, os alunos ajudados demostraram uma grande abertura e interesse pelas explicações e correções, o que significa que a colocação dela naquela tarefa foi bem aceite por eles e poderá ser repetida no futuro.”

- Reflexão da Aula 39 de 20 de abril

A aluna gostou que lhe tivesse reconhecido competência perante os pares e aplicou-se na sua tarefa. Quando nos propomos a ajudar alguém somos obrigados a pensar nas componentes críticas da técnica, entramos no campo da metacognição e provavelmente vamos tirar ilações importantes sobre a execução técnica que, inclusive, nos pode ajudar a melhorar a nossa própria execução. Assim, além de ter uma tarefa motivante a aluna teve oportunidade de desenvolver a sua técnica. Por sua vez, o à-vontade que sentem com a colega, a facilidade de comunicação que existe entre eles e o facto de reconhecerem nela competência, fez com que os alunos de nível inferior também gostassem de ser ajudados pela aluna. Além disso, colocá-la a ajudar os alunos de nível elementar assegurou que estes teriam um acompanhamento constante

e de qualidade o que me permitiu debruçar um pouco mais da minha atenção nos alunos inseridos no nível superior. Todos ficaram a ganhar.

Maheady, Sacca & Harper (1988) definem o ensino de pares como sendo uma variante do ensino de cooperação, que aumenta o tempo e a qualidade de instrução, eleva o tempo na tarefa e reduz o tempo que o professor tem de dispensar a cada aluno. Nesta estratégia, os alunos ajudam-se mutuamente durante a aula para completarem tarefas ou cumprirem outras responsabilidades. Com esta prática ambos os alunos (tutor e tutorado) beneficiam, sendo que todos recebem mais tempo de atenção e mais tempo de prática, ficando o professor disponível para trabalhar com os outros alunos (Hoover & Patton, 2005).

Contudo, quando utilizamos esta estratégia não podemos cair no erro de colocar a aluna expert a ajudar os alunos de nível elementar e focarmo-nos só nos restantes alunos. É preciso capacitar a aluna para essa função, explicar-lhe ao que deve estar atenta, ensiná-la a corrigir os colegas, quais os critérios de êxito, quais as palavras-chave a focar durante a exemplificação e é necessário ir acompanhando a sua ação, ver se a está a desempenhar eficazmente, se está com a atitude correta e se a sua ajuda está a ser bem aceite pelos colegas. É uma estratégia que em alguns momentos pode ajudar muito a ação do professor contudo, é necessário tomar algumas precauções com a sua utilização.