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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. ÁREA 1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ENSINO E DA

4.1.2. Realização

4.1.2.5. Feedback

O FB é a reação do professor à resposta motora de um aluno, tendo por objetivo modificar essa resposta, no sentido da aquisição ou realização de uma habilidade (Fishman & Tobey, 1978), é um comportamento que assume extrema importância na condução do processo de ensino, uma vez que se apresenta como uma das variáveis capazes de influenciar o sucesso pedagógico e é um elemento essencial para modificar o comportamento e prestação motora do aluno (Pestana, 2006). A sua emissão promove uma aprendizagem eficiente, assegura o correto desenvolvimento da habilidade e influencia a motivação e persistência do praticante (Williams & Hodges, 2005).

Durante as aulas o professor tem de recorrer muitas vezes ao FB e a frequência com que o faz, bem como a informação que presta, variam em função do objetivo desse FB. Quando os emitimos devemos ter em consideração alguns critérios, para que eles sejam tão rentáveis quanto possível.

É necessário prestar atenção à frequência com que o emitimos. É importante o aluno ser assiduamente corrigido, de forma a melhor a sua performance porém, não podemos cair no erro de criar dependência. Isto é, emitir FB de uma forma tão constante que, de forma inconsciente, o aluno vai procurar a nossa aprovação após qualquer intervenção no jogo. Já tive vários casos destes em contexto de treino. Como temos menos atletas que alunos conseguimos emitir um maior número de FB a cada um deles, o que proporciona um mais fácil surgimento deste problema. Todavia, é algo que devemos levar em consideração nas aulas para impedir que aconteça. Por outro lado, o excesso de FB pode importunar o aluno, que se aborrece de estar a ser constantemente corrigido. Alguns alunos têm dificuldade em compreender que as correções do professor têm como objetivo ajudá-lo a evoluir e por isso aborrecem-se de estarem frequentemente a serem corrigidos.

Nestas situações, em que um aluno precisa de FB constantes, é importante intercalar os FB corretivos com o reforço positivo. Apontar constantemente falhas poderá não ser bem aceite pelo aluno. Às vezes é importante elogiá-lo, congratulá-lo por mais pequena que seja a melhoria, desta forma os alunos aceitarão mais facilmente as correções.

Aliás, este reforço positivo demonstra-se útil noutros momentos que não o anterior. Elogiar um aluno, sobretudo se ele tiver dificuldades, fará aumentar os seus níveis de motivação, especialmente se o elogio for feito perante os colegas. Shigunov (1991) alerta que o elogio é uma ação positiva e que o objetivo de elogiar favorece não só a fixação da aprendizagem como também pode incentivar comportamentos considerados pelo autor como apropriados. O PC era muito atento a estas questões, era frequente vê-lo a atravessar o pavilhão de um lado ao outro só para felicitar com um high five um aluno com dificuldades que tivesse conseguido realizar uma ação minimamente satisfatória, e era notório

não só o aumento da motivação desse aluno como o favorecimento que essa ação tinha na relação professor-aluno.

Outra das situações a que devemos estar atentos quando utilizamos o FB é a sua especificidade. Várias vezes caí no erro de dizer “não faças isso” ou “está mal” sem explicar o porquê do erro nem o que fazer para o melhorar. Esta falta de especificidade não trás qualquer informação pertinente ao aluno, que pode inclusive assumir aquele comentário como depreciativo. Assim, sempre que emitirmos um FB devemos certificar-nos que ele contempla alguma informação útil que ajude o aluno a corrigir o seu erro.

Outra das situações que devemos tomar em atenção durante a emissão do FB a um aluno é não perder o contacto visual com os restantes alunos da turma. Esta era uma estratégia que não utilizava no início do ano letivo e na qual o PC insistiu muito até ver empregue. Para que isto aconteça é necessário levarmos em consideração o nosso posicionamento no momento da emissão do FB. Porém, como o FB deve ser emitido o menor tempo possível após a ação visada, ou se possível durante esta, não há tempo de nos preocuparmos com isso após observarmos o erro do aluno. Para que consigamos ver os restantes alunos da turma durante a emissão de um FB a um aluno ou conjunto de alunos, devemos preocupar-nos com o posicionamento durante todo o tempo da aula. As nossas movimentações devem permitir que vejamos todos os alunos da turma durante todo o tempo, desta forma, quando emitirmos um FB não temos de nos preocupar se aquele é o posicionamento correto para o emitir. Esta supervisão constante permite, de acordo com Oliveira (2002) que, por um lado, os alunos se empenhem mais na realização das tarefas e, por outro lado, haja uma diminuição dos comportamentos fora da tarefa.

No que concerne à direção do FB, podemos optar por dois tipos: individual ou para um conjunto de alunos ou turma. Aquele que utilizei mais frequentemente foi o individual, diferentes alunos apresentam diferentes dificuldades, pelo que urge a necessidade de lhes proporcionar um FB individual que vá de encontro às suas necessidades porém, em alguns momentos também me fiz valer de um FB coletivo. Quando a turma ou um conjunto grande de alunos

apresentavam dificuldades idênticas, optava por parar o exercício, reunir os alunos, e explicar-lhes qual o erro comum e qual a melhor forma de o resolver. Esta estratégia possibilita-nos poupar tempo, quando comparado com o FB individual idêntico que teríamos de dar a todos estes alunos, conforme atesta o seguinte excerto, retirado de uma reflexão de uma aula de voleibol:

“Após o fim do aquecimento reuni os alunos e exemplifiquei detalhadamente quais os corretos gestos técnicos do passe e da machete. Falei- lhes nos erros mais comuns e de que forma os poderiam corrigir.”

-Reflexão da Aula 36 de 10 de abril

Além de ser útil quando a turma ou um grupo grande de alunos partilham os mesmos erros, esta emissão de FB a um conjunto de alunos também é útil no inicio e/ou final das situações se aprendizagem. Neste caso o exercício seguinte exercitaria o passe e a manchete, pelo que aproveitei para explicar a todos quais as componentes críticas a que deveriam estar a tentos de forma a executarem corretamente estes gestos técnicos.

Para que seja facilmente compreendido pelo aluno o FB deve ser emitido de forma breve e concisa, utilizando somente palavras-chave facilmente reconhecidas pelo aluno porém, em algumas situações as correções obrigam a uma explicação mais expansiva e demorada por parte do professor. Nestes casos, importa codificar a informação a transmitir em palavras simples, que o aluno associe ao comportamento desejado. Segundo Abernethy & Russel (cit. por Rosado & Mesquita, 2009, p. 99) as habilidades de “natureza aberta

reclamam de palavras-chave capazes de levar à identificação de estímulos relevantes, de forma a permitir o desencadeamento da resposta motora pretendida”. Não há tempo para grandes explicações durante a emissão de um

FB, as palavras-chave devem ser o suficiente para o aluno compreender a movimentação ou correção técnica pretendida. Uma palavra ou frase deve remeter o aluno para uma explicação detalhada fornecida à priori, uma sequência de acontecimentos que o leve a realizar a ação pretendida de forma correta. Essa explicação detalhada deve ser feita no decorrer da exemplificação, deve haver uma congruência entre a apresentação da tarefa e o FB

posteriormente emitido, o segundo deve complementar o primeiro e servir-lhe de reforço (Mesquita, 1998). Durante a demonstração devemos ser minuciosos na explicação dos comportamentos visados enquanto aproveitamos para evidenciar as palavras-chave que definem esse comportamento. Estamos a codificar um comportamento ou sequência de ações numa só palavra ou frase que o aluno associará quando a ouvir num FB. Todavia, temos de ter em atenção o conhecimento dos alunos quando determinamos o conteúdo a codificar. O

“conteúdo informativo associado às palavras-chave tem de ser adequado à capacidade de compreensão e execução do praticante” Rink (cit. por Rosado &

Mesquita, 2009, p. 100).