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4 METODOLOGIA

4.5 Os instrumentos de pesquisa

4.5.2 As entrevistas

Mesmo as observações constituindo-se em um instrumento com potencial para fornecer diversas informações para o alcance dos objetivos desta pesquisa, foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas com a coordenadora pedagógica e com as professoras, a fim de apreender-se o fenômeno investigado com maior profundidade.

Especificamente, visando a atender o segundo e terceiro objetivos específicos (identificar a percepção da coordenadora pedagógica sobre o seu trabalho na instituição e sua relação com as práticas pedagógicas das professoras e identificar a percepção das professoras sobre o trabalho da coordenação pedagógica e a relação deste com suas práticas pedagógicas desenvolvidas na creche), foi realizada uma entrevista individual com a coordenadora pedagógica e com cada uma das professoras sujeitos dessa pesquisa.

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Os roteiros de entrevistas, da coordenadora pedagógica e das professoras68, foram orientados pelos instrumentos utilizados na pesquisa “A Gestão da Educação Infantil no Brasil” (CAMPOS et al., 2012), especificamente, pelos questionários utilizados com os coordenadores pedagógicos e com os professores. É importante pontuar que, embora a referida pesquisa não trate especificamente da coordenação pedagógica, conforme mencionado na seção 2.3 do segundo capítulo desta dissertação, teve como instrumento de coleta de dados questionários bastante abrangentes, com questões fechadas e abertas sobre o perfil e cotidiano de trabalho dos diretores, coordenadores pedagógicos e professores.

É importante ressaltar que a entrevista semiestruturada parte de certos questionamentos basilares, sustentados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que, em seguida, apresentam amplo campo de interrogações, decorrentes de novas hipóteses que vão aparecendo à medida em que se obtém as respostas do entrevistado (TRIVIÑOS, 1987).

Para Spink (2004, p. 100), a entrevista possibilita “[...] dar voz ao entrevistado, evitando impor as preconcepções e categorias do pesquisador, permite eliciar um rico material, especialmente quando este é referido às práticas sociais relevantes ao objeto da investigação.”

A escolha desse tipo de entrevista se deu porque ela valoriza a presença do investigador e oferece várias perspectivas para que o entrevistado tenha a liberdade e a espontaneidade necessárias para expressar seus pensamentos, enriquecendo a investigação. Assim, a entrevista semiestruturada sustenta a consciência constante e atuante do pesquisador e deixa evidente a importância do ponto de vista do entrevistado, o que favorece, além da descrição dos fenômenos sociais, a explicação e a compreensão do seu conjunto, tanto dentro de uma situação peculiar como de situações de maiores dimensões (TRIVIÑOS, 1987).

É necessário ressaltar que nesta pesquisa a entrevista é compreendida, conforme lembra Silveira (2002), como um momento discursivo complexo, formado não só pela dupla entrevistador/entrevistado, mas também pelas imagens, concepções e expectativas que circulam de ambas as partes durante a sua realização. Neste sentido, as vozes dos entrevistados não trazem “verdades” absolutas, mas são influenciadas pelos discursos do seu tempo, pelas experiências vividas e pelas “verdades” instituídas para os grupos sociais a que pertencem.

68Ver, respectivamente, os apêndices E e F.

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A realização das entrevistas foi combinada com a coordenadora e com as professoras para acontecer próximo do final das observações. Assim, na 10º sessão de observação, especificamente, no mês de outubro, iniciaram-se as entrevistas, que haviam sido pré-agendadas considerando a disponibilidade de cada um dos sujeitos. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio, uma vez que, na totalidade, as entrevistadas autorizaram a gravação. A utilização deste recurso possibilitou o acesso às vozes das entrevistadas e às interações verbais ocorridas com elas e a pesquisadora, durante sua realização, permitindo, inclusive, sua revisão, quando necessário.

A escolha do local e horário de realização das entrevistas foi feita pelos sujeitos. As professoras optaram pela própria instituição, justificando que não teriam tempo de ir para outro lugar. Quanto ao horário, a maioria delas considerou que o melhor horário seria no momento do descanso das crianças, de 11 horas e 40 minutos ou 12 horas até às 13 horas. Apenas uma professora não indicou o mencionado horário, notadamente porque ela trabalhava no turno da tarde. Assim, sugeriu que sua entrevista fosse realizada à tarde, à partir das 13 horas, no dia do seu planejamento. Para a realização das entrevistas, foi escolhido um ambiente tranquilo (a brinquedoteca) e um horário em que houvesse poucas interferências internas e externas, especialmente o trânsito de pessoal e o barulho. As entrevistas com as professoras duraram, em média, uma hora.

A tranquilidade durante a realização das entrevistas só foi possível em relação ao trânsito de pessoal, isto porque, no decurso das entrevistas, a porta da sala da brinquedoteca ficava fechada, uma vez que haviam sido acertados com a professora que trabalhava na referida sala o horário e os dias em que ela seria utilizada para as entrevistas. Em relação ao barulho, porém, embora tenha sido escolhido o horário de descanso das crianças, o barulho advindo da rua, principalmente do trânsito de carros e ônibus69, era intenso.

Foi concordado entre os sujeitos que as entrevistas iniciariam com as professoras e a última entrevista seria com a coordenadora pedagógica. Após a terceira entrevista, no entanto, que aconteceu numa sexta-feira, a coordenadora pedagógica sugeriu que sua entrevista acontecesse na segunda-feira, na casa da pesquisadora, já que nesse dia não haveria atendimento na creche, pois era feriado em razão do dia do Servidor Público70. Assim, a

69O barulho da rua, aliado ao tom de voz das professoras, que falavam muito baixo, talvez pelo medo de alguém da instituição ouvi-las, tornou o processo de transcrição das entrevistas muito lento, em razão da necessidade de retomar a escuta várias vezes.

70É importante expressar que, assim como se fez com as professoras, apresentou-se à coordenadora a possibilidade de a entrevista ser realizada em sua residência ou na casa da pesquisadora, porque assim haveria mais tranquilidade, pois ela não ficaria preocupada com o tempo e com o trabalho e se evitariam interrupções.

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entrevista com a coordenadora foi realizada nesse local, no período da tarde, e durou cerca de duas horas. Um dia após a entrevista da coordenadora, foi realizada a última entrevista com a professora que trabalhava no período da tarde.

É relevante destacar o fato de que, embora a entrevista constitua valioso instrumento de construção de dados, assim como outros instrumentos, apresenta limitações. Nesse sentido, Bogdan e Biklen (1994) ponderam que a entrevista formal abrange a relação entre duas pessoas. Assim sendo, a raça, o sexo, a idade e tantas outras características do entrevistador e do entrevistado podem influenciar o tipo de relação que se estabelece entre ambos.

Com a intenção de equilibrar possíveis limitações, como, por exemplo, o frágil entendimento acerca da linguagem das entrevistadas, a possível omissão, pelas entrevistadas, de detalhes importantes etc., houve empenho em pôr em prática o que sugere Gaskell (2003,

apud ANDRADE, 2007, p. 78):

[...] não aceitar nenhuma informação como ponto pacífico; sondar cuidadosamente mais detalhes que os oferecidos pelo sujeito entrevistado em uma primeira resposta às perguntas formuladas; levar em consideração o conjunto de informações acumulado em outros momentos.

Vale ainda destacar que, durante uma entrevista, as diversas informações, relatos e opiniões anunciados pelos entrevistados também podem trazer dados importantes a respeito do fenômeno pesquisado.