5 O CONTEXTO DA CRECHE PESQUISADA
5.2 Os profissionais da instituição
A creche “Cuidando e Pensando no Futuro” dispõe de 43 profissionais, como pode ser observado no quadro a seguir.
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Quadro 3 - Número, escolaridade, carga horária mensal e média salarial dos profissionais da creche no ano de 2013
Função Número Escolaridade horária Carga Média Salarial
Diretora 1 Superior (Pedagogia) 200 R$ 1.000,00 a 1.500,00 Coordenadora 1 Superior (Pedagogia) 200 R$ 500,00 a 1.000,00
Secretária Escolar
1 Superior em andamento (Pedagogia)
200 R$ 501,00 a 1.000,00 Professoras 22 Superior (Pedagogia) 200 ou 100 R$ 1.000,00 a 2.500,0080 Estagiárias 8 Ensino Médio e Superior em
andamento (Pedagogia) 100 R$ 200,00 a 300,000
Merendeiras 2 Ensino Médio 150 R$ 700,00
Lactaristas 2 Ensino Médio 150 R$ 700,00
Serviços Gerais 3 Ensino Médio 200 R$ 700,00
Porteiros 2 Ensino Médio 200 R$ 600,00
Vigia 1 Ensino Médio 200 R$ 700,00
Fonte: Quadro de lotação dos profissionais da instituição/2013.
Deste quadro, a diretora, a coordenadora pedagógica e a secretária escolar estão na função porque foram nomeadas para assumir estes cargos comissionados. Segundo o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos profissionais da Educação Pública Básica do Município onde foi realizada a pesquisa, nas escolas do Município, essas cargos são sempre comissionados. Ainda que o PCCR assinale que o provimento dos mencionados cargos comissionados ocorra por meio de seleção pública e indicação do prefeito municipal, segundo as profissionais, o ingresso no cargo deu-se, unicamente, por indicação política.
Diversas pesquisas (CAMPOS et al., 2010; CUNHA, 2006; PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011) revelam que são várias as formas de ingresso na função de coordenadora pedagógica, variando entre concurso público para professora e posterior indicação para assumir a coordenação, seleção técnica e indicações de varias naturezas (de técnicos, de diretores, de políticos etc.).
É importante registrar que a entrada na função meramente por indicação política, sem a presença de requisitos mínimos para admissão à rede e sem processos democráticos, como a realização de concurso específico para Educação Infantil, torna difícil o reconhecimento da especificidade e a continuidade do trabalho desenvolvido nessa etapa da educação (KRAMER, 2001).
A análise dos dados do Quadro 3 revela que os salários da diretora e da coordenadora são inferiores aos das professoras. Convém apontar que, no País existe uma legislação específica (Lei nº 11.738/2008) que define o piso salarial nacional para os professores (BRASIL, 2008a), e, além disso, diretrizes nacionais para elaboração de planos de
80A diferença salarial das professoras entre si decorre da diferença na carga horária de trabalho e da titulação de algumas docentes, que são especialistas.
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carreira e remuneração dos profissionais do magistério da Educação Básica pública. (BRASIL, 2009c). Em conformidade com os referidos instrumentos legais, é inaceitável que os profissionais responsáveis pela gestão pedagógica e administrativa (coordenadora pedagógica e diretora) da Educação Infantil recebam salários abaixo do piso nacional de professores. Também chama a atenção que os demais profissionais não docentes da instituição recebam salários inferiores ao salário mínimo.
Importa assinalar, ainda, que os baixos salários, aliados a uma extensa jornada de trabalho, de 30 a 40 horas semanais, parecem tornar a coordenação pedagógica na Educação Infantil uma função menos atraente para profissionais mais qualificadas. Os dados de varias pesquisas que abordam a coordenação pedagógica (CAMPOS et al., 2010, 2012; PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011) revelam que é muito pequeno o percentual de coordenadores pedagógicos com mestrado, e que nenhum desses profissionais, participantes das referidas pesquisas, tinham cursado doutorado.
Das 20 professoras da creche pesquisada, 11 são concursadas. Destas 11, dez professoras trabalham seis horas corridas na instituição, de sete às 13 horas, cumprindo carga horária mensal de 200 horas; oito professoras atuam na regência de sala e duas são professoras classificadas como “readaptadas81”, que trabalham na brinquedoteca. Vale pontuar que, para fecharem a carga horária mensal de 200 horas, as professoras concursadas planejam todas as segundas-feiras, à tarde, de 13 às 17 horas. Apenas uma professora concursada tem carga horária mensal de 100 horas e, por isso, trabalha no turno da tarde, de 13 às 17 horas.
As dez docentes que atuam no período da tarde, com exceção de uma professora referida anteriormente, são professoras temporárias que ingressaram na função após aprovação em seleção pública simplificada para professores de Educação Infantil. Essas profissionais trabalham na instituição de 13 às 17 horas, cumprindo carga horária mensal de 100 horas. Destas professoras, oito atuam na regência de sala e duas assumem a função de Professora de Atividades Interdisciplinares (PAI)82. As professoras PAI substituem as professoras regentes do turno da tarde, no dia do seu planejamento semanal. Assim, de segunda a quinta-feira, estas docentes atuam em todas as turmas da instituição e realizam o seu planejamento na sexta-feira.
81São professoras que, por motivo de saúde, já não atuam na regência de sala.
82No Município onde foi realizada a pesquisa, são consideradas atividades interdisciplinares: Arte, Religião e Recreação.
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Nesse contexto, é importante mencionar que as professoras do turno da manhã alternam a regência das turmas com as quais trabalham com as professoras do turno da tarde. Assim sendo, embora a creche funcione em tempo integral, cada agrupamento tem duas professoras regentes responsáveis pelo atendimento às crianças, uma que trabalha pela manhã e outra que trabalha à tarde,
O vínculo empregatício das professoras da creche divide-se em estatuário (concursadas) e contrato temporário. O significativo número de professoras com contrato temporário permite analisar que a Educação Infantil no Município pesquisado funciona com professores com contrato provisório, o que expressa o pouco investimento na realização de concurso para professores de Educação Infantil, processo tão importante para continuidade do trabalho pedagógico e de ações políticas na área (KRAMER, 2001).
As estagiárias são estudantes que estão cursando o Ensino Médio ou curso de graduação em Pedagogia e assumem a função de auxiliar de sala. O vinculo funcional e a remuneração apresentou-se diferenciados pela escolaridade. As estagiárias com Ensino Médio são contratadas pela Prefeitura Municipal e recebem uma bolsa no valor de R$ 200,00. Já as que estão cursando Pedagogia são contratadas pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e recebem uma bolsa no valor de R$ 300,00. Independentemente da escolaridade e da remuneração, as estagiárias cumprem carga horária mensal de 100 horas. Segundo a coordenadora pedagógica, a SME informou que, a partir de 2014, as estagiárias estudantes do Ensino Médio não seriam mais admitidas pelo Município.
Vale registrar que o contato com instituições de Educação Infantil diversas, da rede pública e privada, evidencia que a admissão de profissionais (professora e auxiliar) com formações distintas e que atuam junto às crianças é cada vez mais comum. Nesses contextos, equivocadamente, considera-se que é possível separar as ações de cuidado e educação, de modo que a professora seria responsável por atividades mais intelectuais e a auxiliar por ações relacionadas à higiene pessoal, por exemplo.
Nesse sentido, Cerisara (2002) lembra que a separação dos atos de cuidar e educar inclui uma conotação hierárquica estabelecida entre professora e auxiliar, sendo a primeira responsável pela educação da criança, enquanto a segunda responde pelos cuidados físicos. Esta hierarquização é confirmada mediante indicadores concretos, como carga horária semanal de trabalho, salário, formação etc.
Nunes, Corsino e Kramer (2013) destacam que a docência na Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, exige a presença de professor junto às turmas de crianças.
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Ressaltam que a contratação de auxiliares com função docente é uma ilegalidade e avaliam que o cargo e as atribuições de auxiliar nas creches e pré-escolas necessitam ser discutidos.
As merendeiras e lactarias da creche “Cuidando e Pensando no Futuro” também são concursadas. Duas trabalham pela manhã, de sete às 13 horas, e duas à tarde, de 12 às 18 horas. Das três profissionais de serviços gerais, duas são contratadas temporariamente pelo Município e uma é concursada. Duas trabalham no período da manhã, das seis horas e 30 minutos às 14 horas, e uma trabalha à tarde, de 11 às 17 horas. Os dois porteiros são contratados temporariamente pelo Município. Um trabalha durante o dia, de sete às 17 horas e outro trabalha à noite, em dias alternados com o vigia, que é concursado.
Assim, o vínculo de trabalho dos profissionais da creche varia entre cargo comissionado, estatuário e contrato temporário.