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4 METODOLOGIA

4.1 O paradigma qualitativo

A abordagem qualitativa se evidencia como a que melhor pode contribuir para responder às questões dessa pesquisa, tendo em vista que tem como objeto de pesquisa o trabalho da coordenação em uma creche da rede pública que funciona em tempo integral, com o propósito de investigar a relação entre esse trabalho e as práticas pedagógicas das professoras, bem como os diferentes significados que a coordenação pedagógica e as professoras atribuem a esse ofício.

Assim, a opção por esta abordagem se justifica em decorrência de o interesse da pesquisa centrar-se mais no processo e nos significados do que nos resultados. Esse processo é representado pelas indagações em torno do trabalho da coordenação pedagógica na Educação Infantil: O que ela faz? Como faz? Como o que a coordenação pedagógica faz afeta o trabalho das professoras? Que significados a coordenadora pedagógica e as professoras atribuem ao que a coordenação pedagógica faz?

Além disso, este estudo não intenciona homogeneizar os dados pesquisados, pelo contrário, busca conhecer diferenças e particularidades entre os significados que os sujeitos atribuem à realidade por eles vivenciada.

É importante enfatizar a idéia de que no campo das ciências humanas, a abordagem qualitativa possui trajetória extensa, complexa e atribulada, marcada por significados distintos em diferentes momentos históricos (BOGDAN; BIKLEN, 1994; DENZIN; LINCOLN, 2006). Nesse sentido, Anadón (2005, p. 2) destaca que o termo investigação qualitativa faz referência a

[...] uma panóplia de correntes teóricas (sociologia interpretativa, filosofia pragmática, fenomenologia, sociologia pós-moderna); de maneiras de fazer a pesquisa (estudo de campo, pesquisa naturalista, etnográfica, fenomenológica, hermenêutica, grounded theory, etc.) e à uma diversidade de técnicas de coleta e

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análise de dados (entrevistas, observações, análise documental, indução analítica, etc.) [construídos historicamente].

Nesse contexto, tentar definir esse paradigma investigativo pode ser uma tarefa complexa e desafiadora, pois, dependendo das referências do leitor, tal definição, por vezes, é sempre contestável.

No entanto, há autores, muito referidos nesse campo, que apresentam definições para essa abordagem. Bogdan e Biklen (1994), por exemplo, destacam que a pesquisa qualitativa tem como principal instrumento o investigador. Além disso, é naturalista, descritiva, processual e indutiva. Ajustados a essa proposição, estes pesquisadores apontam cinco características como sendo específicas das investigações qualitativas.

A primeira característica destaca que a fonte de dados é o ambiente onde se encontram o fenômeno e os sujeitos a serem pesquisados (neste caso, uma creche da rede municipal de um município do Estado do Ceará) e o instrumento principal é o investigador, pois os dados colhidos, seja por meio de observações, gravações e entrevistas, serão revistos por ele a partir das características do contexto onde ocorrem e dos conhecimentos que possui sobre o tema. Nesse sentido, é o investigador que constrói o conhecimento.

A segunda característica enfatiza o caráter descritivo das pesquisas qualitativas, já que os dados apreendidos são expressos em forma de narrativa textual abrangente, onde predominam palavras em vez de números. A tentativa fundamental é caracterizar o objeto de estudo (nesta investigação – o trabalho da coordenação pedagógica), a fim de compreendê-lo profundamente, realizando uma análise fiel aos registros e transcrições dos dados, buscando apreendê-los em sua totalidade.

A terceira característica considera que o interesse do pesquisador centra-se mais no processo do que nos produtos. Assim, a busca está em compreender os processos, como ocorrem e por que ocorrem. Neste estudo, procurou-se apreender os processos envolvidos no trabalho cotidiano da coordenação pedagógica na creche investigada.

A quarta característica trata da preponderância da forma indutiva na análise dos dados, sobretudo, porque o pesquisador não conhece os resultados nem os busca para confirmar hipóteses previamente construídas. No lugar disso, “[...] estar-se a construir um quadro que vai ganhando forma a medida que se recolhem e examinam as partes.” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50).

Por fim, a quinta característica considera que, na investigação qualitativa, se valorizam os significados que os sujeitos (nesse caso, a coordenadora pedagógica e as professoras) atribuem ao fenômeno enfocado (o trabalho da coordenação pedagógica e sua

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relação com as práticas pedagógicas das professoras, na perspectiva da coordenadora e das professoras).

Denzin e Lincoln (2006) também entendem que a investigação qualitativa dá ênfase aos processos e aos significados. Destacam a íntima relação entre o pesquisador e o objeto de estudo. Ademais, compreendem que esta abordagem se insere em uma perspectiva multimetódica, que inclui um enfoque interpretativo e naturalista em face do objeto de pesquisa.

Dentre as distintas abordagens de pesquisa qualitativa, optou-se pelo estudo de caso, sobretudo, pelo interesse de investigar e entender, em profundidade, o fenômeno enfocado, com vista a ampliar o conhecimento sobre o trabalho da coordenação pedagógica e sua relação com as práticas pedagógicas das professoras de creches e acerca dos significados atribuídos ao ofício da coordenação pedagógica, tanto na perspectiva dessa profissional, quando das docentes.

Ludke e André (1986, p. 19) ressaltam que os estudos de caso

Buscam retratar a realidade de forma completa e profunda. O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação problema, focalizando-o como um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexidade natural das situações, evidenciando a interelação natural dos seus componentes.

Yin (2010, p. 39) considera que o estudo de caso

[...] É uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade (neste caso, o trabalho da coordenação pedagógica) e em seu contexto de vida real (neste estudo, em uma creche), especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes.

Stake (1999, p. 11, tradução minha), por sua vez, define o estudo de caso como “[...] o estudo da particularidade e complexidade de um caso singular para chegar a compreender a sua atividade em circunstâncias importantes.”