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4 METODOLOGIA

4.3 O locus do trabalho de campo

No período de 20 de setembro de 2013 a 25 de novembro do mesmo ano, foi realizado o trabalho de campo em uma instituição de Educação Infantil pública patrimonial, de jornada integral, que atende creche e pré-escola, localizada em um município do Ceará55.

A realização da pesquisa estava prevista para acontecer em uma instituição que funcionasse em tempo integral e que atendesse somente creche, mas, em virtude da inexistência de um equipamento dentro desses dois critérios em municípios de fácil acesso à pesquisadora56, a investigação foi realizada em uma instituição de tempo integral que atendeu parcialmente aos critérios mencionados (funcionar em tempo integral e atender somente creche). Parcialmente, porque, na instituição pesquisada, das oito turmas, havia uma turma de pré-escola (Infantil IV). Além disso, na tentativa de realizar a pesquisa apenas no contexto da creche, optou-se por entrevistar professoras que trabalhavam em turmas da creche.

Esses fatos justificam a escolha por manter o termo creche no título desta dissertação, nas justificativas para a escolha do locus de pesquisa, dos sujeitos e ao longo da discussão sobre esta pesquisa, bem como a opção por manter o termo creche no nome fictício da instituição, qual seja: Creche “Cuidando e Pensando no Futuro57.

55Inicialmente, o locus da pesquisa seria uma instituição pública vinculada ao Município de Fortaleza. Em razão da mudança do Governo Municipal, estava em curso uma série de alterações na gestão das instituições de Educação Infantil que inviabilizaram a realização desta pesquisa no referido Município.

56Considerar a facilidade de acesso é importante, tendo em vista a presença prolongada em campo e os vários deslocamentos que serão feitos até o local.

57Ao se perguntar à coordenadora sobre a sugestão de um nome fictício que ela considerava mais adequado para a instituição ser identificada na pesquisa, ela sugeriu que se realizasse a escolha. Assim, a escolha pelo nome

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A preferência por uma instituição de educação e cuidado de crianças pequenas (creche) decorre do envolvimento pessoal, acadêmico, profissional e político da pesquisadora com a Educação Infantil, referido na seção 2.1 do segundo capítulo desta dissertação. Deste envolvimento e, sobretudo, em razão da experiência como professora em creches, descrita na introdução, resultou o desejo de se conhecer melhor a atuação profissional da coordenação pedagógica nessa instituição e sua relação com as práticas pedagógicas das professoras, entre outros aspectos. Os motivos que justificam a opção pela creche em tempo integral deve-se ao fato de se considerar que este fator facilita a observação ao trabalho da coordenação pedagógica nos dois turnos e à intenção de se aprofundar o conhecimento sobre essa temática, especificamente, nesse segmento da Educação Infantil, bem como a necessidade de pesquisas nesse campo.

Diversos autores (ROSEMBERG, 2011; ROSSETI-FERREIRA; AMORIM; VITÓRIA, 2008) denunciam o fato de que é escasso o número de pesquisas em instituições que atendem crianças de zero até três anos. Rosseti-Ferreira, Amorim e Vitória (2008, p. 4), ao refletirem sobre a necessidade urgente de pesquisas em creches, assinalam que

O desafio a ser enfrentado pelos profissionais da área envolve o desenvolvimento de pesquisas, programações e soluções que permitam promover um atendimento de qualidade, o qual deve contemplar a função social em relação à população que atende, além dos objetivos e princípios norteadores do trabalho educativo junto às crianças.

A dificuldade de encontrar uma instituição que atendesse apenas creche para realizar esta investigação, parece indicar que, além do desafio de realização de pesquisas nesse contexto, há igualmente o desafio da oferta desse atendimento.

Ao discorrer sobre a criança pequena e o direito à creche, Rosemberg (2011) destaca a realidade de que, no Brasil, a creche é uma instituição discriminada, pois o silenciamento em relação às especificidades dessa instituição e ao atendimento a bebês denota discriminação. A pesquisadora assume-se vigilante das produções científicas, procurando sempre, verificar:

[...] quando textos acadêmicos, políticos, militantes, governamentais se referem à educação ou à educação infantil, se estão, de fato, incluindo as creches e as pré- escolas ou se estão se referindo apenas às escolas ou às pré-escolas. Se, quando falamos, genericamente, em crianças ou infância ou pré-escolares, no Brasil, estamos incluindo os bebês, as crianças de até 3 anos de idade, a primeiríssima infância. Na maioria das vezes, escola se refere ao sistema de ensino a partir do

“Cuidando e Pensando no Futuro” se deu por considerar que ele parece exprimir a limitação da função pedagógica que era assumida pela creche pesquisada, qual seja, “a de cuidar das crianças visando a garantia de sua integridade física e preparação para que, no futuro, possam viver sua “cidadania.”

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ensino fundamental, e educação infantil se refere à pré-escola. Infância, no Brasil, via de regra, começa entre 5 e 7 anos, e exclui os bebês. (ROSEMBERG,2011, p. 17, grifos meus).

O fato de ser uma creche da rede pública se justifica, especialmente, pelo compromisso ético e político com a Educação Pública, uma vez que, toda formação escolar e acadêmica da pesquisadora ocorreu em instituições públicas. Assim, sente-se no dever de dar uma contribuição à sociedade em retribuição à educação recebida. Com efeito, esta pesquisa poderá contribuir para o fortalecimento da identidade da Educação Infantil, particularmente, das creches; para a demarcação das especificidades de organização do trabalho da coordenação pedagógica nessa instituição, que deve ter como referência as particularidades da faixa etária atendida e não o modelo do Ensino Fundamental, o que também poderá resultar em melhoria da qualidade do atendimento oferecido às crianças pequenas e suas famílias.

Além dos dois critérios mencionados aqui (funcionar em tempo integral e atender somente creche) para escolha do locus da pesquisa, igualmente, foi considerado o fato de que ele fosse indicado pela equipe técnica de Educação Infantil da SME e que não fosse considerado, pela SME, nem o melhor e nem o pior do Município, não se diferenciando substancialmente das suas demais creches. Para essa escolha, também outros critérios foram levados em consideração, quais sejam: formação da coordenadora pedagógica e das professoras em Pedagogia ou com especialização em Educação Infantil; vínculo efetivo dessas profissionais com o Magistério público no Município, tempo mínimo na função58 e, sobretudo, aceitar participar da pesquisa.