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PARTE III ESTUDOS DE CASOS

Anexos 4 e 5 que foram eliminados no projeto do restauro

15.4. AS INTERVENÇÕES DA FUNDAÇÃO ENERGIA NO CASARÃO – O PROJETO DE RESTAURO

A entrevista com a arquiteta Mariana Rolim, hoje superintendente da Fundação e na época do trabalho de restauro era a arquiteta responsável por ele, é bastante elucidativa de todo o processo de intervenção, portanto, anexamos a seguir novos trechos de seu depoimento que contextualizará todo o processo, para maior

257 Foto do acervo da Fundação Energia e Saneamento antes do início das obras, situação do imóvel.

258 Plantas e fotos do acervo da Fundação Energia e Saneamento, fornecidas exclusivamente para uso

compreensão do projeto serão anexados as plantas e fotos dos resultados alcançados:

O primeiro projeto que apresentamos só foi aprovado pelo CONDEPHAAT, de uma forma política, então assim não houve uma análise profunda do projeto inclusive porque na época para o CONDEPHAAT o prédio estava em tão mal estado que a leitura que o CONDEPHAAT fez foi que assim, o que fosse feito já representava um grande ganho para o patrimônio da cidade. A situação era tão crítica que quando inauguramos, montamos uma exposição com as fotos do casarão antes da recuperação, assim, quando os visitantes chegavam no museu pronto e viam como o prédio tinha ficado recuperado, com as fotos anteriores podia-se ver que aquele imóvel tinha chegado a ser quase uma ruína.

- Voltando em 2003, tivemos uma mudança grande na Fundação em termos não só de orçamento, também houve mudança na equipe, e em termos de posicionamento também. A partir dessa mudança de visão se começou a rever o projeto. Acabou-se optando por realizar a configuração que se tem hoje; houve evolução dos estudos estruturais e concluiu-se que teria que ser feito um reforço estrutural muito grande no edifício do anexo 1 pra transformá-lo em biblioteca, então considerou-se que o investimento necessário não valia a pena, assim decidiu-se que a parte administrativa da Fundação iria ocupar o Anexo 1- foram feitas as modificações adequadas a esse uso - e o casarão, passaria a ser ocupado pelo Museu da Energia.

No primeiro projeto, o Casarão seria a sede administrativa da Fundação, o Anexo um seria a Biblioteca, o outro anexo remanescente e o novo edifício abrigariam as instalações do Museu. Nessa época a gente manteve a idéia de ter um edifício novo nos fundos do terreno que abrigaria o nosso arquivo que está no Cambuci/Área Operacional da Eletropaulo, hoje; nessa área foi mantida a biblioteca e parte de arquivo que é o coração da Fundação, o acervo fotográfico e textual.

A partir desse momento, começou-se a estudar a nova ocupação e a revisar o projeto; nessa etapa o tombamento do CONDEPHAAT já estava fechado e o projeto começou a ser conversado também com o CONPRESP. As equipes estavam trabalhando juntas; os dois órgãos tinham visões bastantes diferentes sobre o projeto; o CONDEPHAAT considerava que se tinha pouca informação, portanto, adotar uma postura diferente do projeto inicial não seria um problema, desde que ficasse marcada e documentada a época dos elementos existentes no edifício. As adaptações necessárias no edifício para adequá-lo ao projeto expográfico do Museu da Energia poderia adequar o espaço às necessidades do projeto de exposição, mas poucas adequações foram feitas. Com relação às mudanças que adequavam melhor os espaços à proposta museológica, o CONPRESP manifestava uma postura voltada a deixar o edifício como estava, independente de qualidade de pintura, independente de se tinha vestígio ou não, buscando resgatar as características residenciais do imóvel. O partido adotado na revisão do projeto foi aprovado pelo CONDEPHAAT, mas ainda não tinha a aprovação do CONPRESP. Neste momento foi feita uma reunião com o CONPRESP onde se fez um acordo com eles: ia-se começar a obra sem essa aprovação e eles iriam aprovar o projeto no final após acompanhar a obra toda, essa conduta foi aceita, foi um processo interessante, muito embora tenha sido muito cansativo.

Por uma questão de custo, não se podia fazer tudo o que era desejável, por exemplo, restaurar todas as pinturas de todos os ambientes, e recompor os forros do casarão que haviam sido detectados nas prospecções que encontraram vestígios que indicavam que os forros eram de madeira e que eles tinham uma aplicação de tela pintada, mas não tinha como recriar essa tela e colocar um forro de madeira, iria

passar uma sensação que não existia na época, porque não era o forro de madeira que era percebido, mas sim um forro pintado, sendo assim a proposta desenvolvida optou por um forro neutro de gesso descolado das paredes. Essa solução era a mais neutra e a que menos comprometeria as instalações do museu.

Uma outra questão de projeto que foi bastante discutida foi por conta do programa proposto para a casa, pois a instalação do museu não adequava-se aos ambientes dos salões que originalmente tinham todos os ambientes com pinturas internas. Vestígios haviam em todos os espaços, assim optou-se por resgatar as pinturas do Hall de entrada e abrir janelas nas paredes demonstrando o tipo de pintura decorativa que havia em cada ambiente, mas o restante foi pintado de branco, criando melhores condições para expor o acervo.

O museu da energia tem como proposta básica ser uma referência histórica da evolução da energia e cientifico, enquanto local para compreensão da evolução dessa tecnologia, podendo também ser lúdico e interativo para melhor dialogar com crianças e jovens estudantes. Com essa proposta educativa, ambientes todos decorados com temas bucólicos ou mesmo afrescos floridos não têm nada a ver com o Museu. Nos Anexos foram recuperadas todas as pinturas integralmente, essas pinturas foram feitas em momentos diferentes mas foram “copiadas” do casarão inclusive realizadas com mais cuidado o que resultou em melhor qualidade inclusive, essas pinturas de épocas diferentes foram realizadas em nível de rebuscamento igual.

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Janelas mostrando as técnicas construtivas encontradas no imóvel.

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Fotos do Hall de entrada, onde as pinturas foram inteiramente restauradas

259 Fotos da autora da pesquisa em 20/07/10.

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Primeiro salão expositivo com dados históricos do casarão. Pode-se ver a opção por pintura branca neutra das paredes.

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Na parede do fundo vê-se a janela mostrando a pintura decorativa original da parede. Quando procura-se recompor as condicionantes históricas de um imóvel tombado, espera-se que o público passe a ser um observador desses elementos e que isso possa compor o seu repertório, completando a sua base referencial. Sendo assim, para aqueles que atuam na área é fundamental perceber se todos os cuidados em resgatar os elementos históricos do casarão serviram para elucidar o seu público. Pelas próximas informações que a arquiteta Mariana colocou em seu depoimento, essa decisão, embora pouco adequada ao programa de uso do Museu, foi fundamental para o resgate das referências históricas do edifício, recompondo a memória viva da cidade e sua valorização pelo cidadão da região e mesmo para o visitante do museu.

- Bom primeiro uma parte, 80% dos nossos visitantes espontâneos vêm aqui por causa da casa, se você pegar um táxi aqui e falar que quer ir no Museu da Energia eles não vão saber onde é, mas se você falar que quer ir no Casarão de Santos Dumont eles sabem te trazer até aqui, mesmo sem você ter o endereço. Tem uma história que foi muito legal, a gente estava terminando a obra, foram retirados os tapumes e, eu estava aqui no sábado fazendo uma visita com patrocinadores. Estávamos passando aqui por fora e tinham três senhores na calçada que começaram a aplaudir, olhamos espantados, o presidente do conselho estava junto, chegou perto dos senhores, que começaram a falar “nossa ficou lindo, puxa que bom ver isso sem

tapumes parabéns”.

Assim que o Museu foi aberto, as pessoas que freqüentam ou moram na região, queriam ver o local, principalmente na hora do almoço, pra conhecer: “ai nossa que

curiosidade eu tinha pra conhecer como era o prédio aqui por dentro e como ficou bonito!”, e ainda hoje, (o museu foi aberto em janeiro de 2005) as pessoas vêm por

causa da casa e pra saber onde é que o Santos Dumont dormia.

Por isso, a exposição inaugural que mostrava a história da casa e o processo de restauro que havia sido pensada como uma exposição temporária, acabou se convertendo em uma exposição permanente. Para corresponder às expectativas dos visitantes e, só depois, é que se entra no tema da energia, temática principal do Museu. “A nossa idéia é que se começaria com uma exposição falando sobre a casa, mas que logo depois já seria Energia, pois criamos um Museu da Energia, mas tivemos que voltar atrás porque vimos que era preciso ter uma área no museu que fale da casa.... porque é uma demanda dos visitantes e da população como um todo e não tem como fugir disso.

Fotos do hall, vários detalhes 263

O projeto de restauro do Casarão e sua adaptação para que abrigasse o programa do Museu da Energia acabou por adotar soluções conservadoras, ou seja, buscou resgatar os espaços originais da casa, que permitiam uma visão documental do palacete, e não a adaptação de seu espaço a um programa expográfico voltado ao tema proposto. Essa decisão, estimulada principalmente pelas solicitações e orientações do CONPRESP/DPH, resgatou o imóvel nos moldes do palacete original, sem lhe dar condições adequadas para cumprir a função temática definida pela instituição gestora.

Apenas a decisão por eliminação de muitos dos detalhes decorativos (pinturas dos ambientes e forros de madeira com pinturas incrustadas cujo registro e documentação era incipiente), adotando-se a pintura branca nas paredes e forros de gesso também brancos, foi que permitiu um ambiente mais limpo para a contextualização temática do museu. Mas a manutenção de todos os ambientes divididos em pequenas salas não facilitou e não estabeleceu as condições ideais para um projeto expositivo dinâmico dentro do tema da instituição.

O Museu da Energia precisará do novo edifício para se ambientar como tal, criando- se condições para exploração das novas tecnologias e dos efeitos especiais passíveis de um projeto pedagógico e dinâmico que o tema exige.

A seguir serão anexadas as plantas do projeto de restauro do Casarão que hoje abriga o Museu da Energia. Alguns detalhes das intervenções já foram mostrados nas fotos que ilustram os comentários sobre as decisões tomadas. Esta restauração foi muito bem conduzida frente às necessidades da edificação para a sua reinserção na paisagem urbana do bairro, mas arriscaria dizer que deixou a desejar do ponto de

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vista de uma solução mais adequada ao seu uso. Algumas decisões projetuais mais críticas precisariam ter sido tomadas, como por exemplo, a ampliação das salas internas com a eliminação de algumas paredes, criando-se ambientes mais amplos que permitissem instalações adequadas ao tema e a reunião de um público maior. A atitude de manter todos os elementos históricos rigidamente, como já foi interpretado pelo Professor Benedito Lima de Toledo, como uma “atitude monumento histórico” refletindo possivelmente uma falta de ato crítico na condução do projeto de restauro. “Ampliar espaços implica em destruir paredes, Construir paredes implica em destruir espacialidade,”264 e essa atitude deveria ter levado à reflexão de como o espaço do casarão poderia ter sido adaptado às necessidades do programa de uso definido para o projeto de requalificação proposto para o Museu da Energia.

O depoimento da arquiteta Mariana com relação à limitação de público que o Museu recebe é contundente neste quesito:

- No ano passado tivemos 8 mil visitantes neste museu. Foi um aumento de quase 200% em relação a 2008. Acreditamos que vamos conseguir chegar a 20 ou 30 mil visitantes por ano. Para este ano estimamos que vamos chegar a ter pelo menos 15 mil visitantes. Temos dois problemas: um é a questão do tema, então a gente tem uma limitação por conta disso, e o outro problema é a casa em si, que não é o melhor dos lugares pra se ter um museu. Porque você tem salas muito pequenas, tanto que quando você olha a exposição sozinha, tem até a sensação de que o espaço está um pouco vazio, como são salinhas recortadas, você tem que pensar que vai ter um grupo de 30 ou 20 pessoas andando pela casa com dificuldades para serem reunidos em um mesmo espaço, tornando a visita técnica muito complicado, o que nos mostra que a casa é um limitador grande.

Teve uma época, assim que abrimos que o Casarão Santos Dumont foi solicitado para um exposição para o aniversário do 14 Bis, houve uma série de eventos e depois tivemos o lançamento de alguns livros. O pessoal do Mauricio de Souza entrou em contato, porque eles fizeram uma exposição para a data e eles queriam montar a exposição aqui, mas acabou ficando inviável por causa do porte do casarão, eles estavam pensando numa exposição que você fosse receber 10.000 visitantes por semana “até para atender ao patrocínio desse projeto, era fundamental ter-se essa meta de público para viabilizar o empreendimento”. O nosso público principal ainda é o público escolar então vem muita gente quarta e quinta-feira, a gente abre de segunda a sexta e aos sábados de forma alternada, no ano que vem vamos abrir todos os sábados.

15.5 O PROJETO DO MUSEU DA ENERGIA

A proposta a seguir foi apresentada como parte do projeto de restauração para servir de programa para o planejamento dos espaços internos ao edifício, todavia ao visitar-se as instalações do Museu, em 2010 vê-se que o que foi realizado ainda está aquém da proposta inicial, nota-se simplificações, a não instalação dos elementos necessários ao funcionamento das instalações previstas. Exposições temporárias têm sido montadas com temas oportunos à energia, mas fora do roteiro planejado inicialmente, o que também se mostra adequado pela evolução

264 TOLEDO, Benedito. Parecer sobre a reconversão do Edifico da Eletropaulo. 1992. in: MORI, Victor