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PARTE II ESTÍMULOS LEGAIS E DE MERCADO ÀS AÇÕES DE PRESERVAÇÃO

PATRIMÔNIO CULTURAL QUE REÚNE AS SEGUINTES SUBÁREAS: ACERVO, ACERVO MUSEOLÓGICO,

9. PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO DE INCENTIVOS FISCAIS EM PROJETOS DE RESTAURO

Um projeto de restauração do patrimônio arquitetônico pode pleitear e obter autorização para captar recursos provenientes de incentivos fiscais quando se tratar de um edifício ou conjunto tombado, mesmo que a edificação não venha a ter um uso cultural, pois o que está sendo incentivado é a preservação e a recuperação do edifício em si, revestido de valores memorialistas ou de representatividade para a sociedade, o que levou este bem a ser protegido pelo instrumento do tombamento, mas o bem precisa ser acessível à visitação pública. Os imóveis privados ou de acesso restrito não se caracterizam como bens passíveis de projetos a serem realizados com recursos incentivados. Quando há a proposição de uma nova edificação ou conjunto a mesma só será incentivada pela Lei Rouanet se ela destinar-se a um uso eminentemente cultural (teatro, cinema, biblioteca, museu.) Em se tratando de bens tombados, o projeto arquitetônico deve já ter sido previamente aprovado pelos órgãos do patrimônio histórico que tutelam o bem patrimonial85. A entidade proponente deve ter efetivo direito sobre o imóvel objeto da intervenção, devidamente documentado com escritura, registro de imóveis e tributos. O proponente de um projeto cultural deverá ser uma organização eminentemente cultural comprovada pelos objetivos de seu estatuto ou de seu contrato social, referendado pelos códigos da inscrição no CNPJ e comprovado por seu currículo. O trâmite normal estabelecido pelo governo federal para obtenção dos incentivos fiscais regulamentados pela Lei Rouanet contempla o seguinte trajeto: o proponente elabora seu projeto que deve estar completo tanto em termos documentais como com relação aos dados técnicos e encaminha esse projeto à Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura que recebe os projetos no Ministério (desde janeiro de 2009 esse procedimento está totalmente informatizado) e todos os dados e documentos enviados em arquivos eletrônicos PDF assinados e autenticados após a verificação completa das informações e documentos o projeto será encaminhado para análise do departamento cultural do Ministério afeto ao assunto, no caso de projetos de restauro de edifícios ou conjuntos caberá ao IPHAN86, o órgão que dará respaldo

85Para serem aprovados, projetos de restauração devem encaminhar como elementos

fundamentais: a) levantamento dos dados históricos (documentais e iconográficos) e registros gráficos e fotográficos do edifício no estado atual; b) diagnóstico, traçando o mapa de danos e estabelecendo-se as diretrizes de intervenção tendo por base a situação do edifício, o seu programa de uso futuro e os parâmetros técnicos balizadores; c) projeto de restauro onde são indicadas as soluções para o tratamento dos danos, especificadas as necessidades de subtrações ou acréscimos sempre muito bem justificadas, tomando por base as orientações técnicas e das cartas patrimoniais. As soluções para as intervenções devem respeitar os critérios de distinguibilidade, de preservação dos elementos existentes e de reversibilidade. O projeto deve contemplar as soluções de infra- estrutura e de integração ao novo uso e incluir memorial descritivo da obra indicando medidas de acessibilidade e de sustentabilidade.

86As sete áreas que recebem incentivos têm os setores afins que analisam os projetos quanto à

pertinência de seus orçamentos face ao projeto apresentado. Neste trabalho, como o tema são projetos de restauração, será indicado o percurso dos projetos quando encaminhados ao Ministério, tramitando junto ao IPHAN, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura que tem entre suas

atribuições a análise dos projetos de restauração e/ou de requalificação do patrimônio histórico brasileiro, de todo o território nacional. Na prática os projetos quando seguem para análise técnica são encaminhados para as Regionais dos Estados onde se situa o bem em análise. O órgão em

técnico à CNIC – Comissão Nacional de Incentivo a Cultura, que tem a última palavra para aprovação dos projetos.

A posição final da CNIC leva em consideração: o parecer técnico quanto à adequação do orçamento face à intervenção que está proposta no projeto, emitido pelo técnico do IPHAN; a disponibilidade de recursos do montante assumido para renúncia fiscal pelo Governo Federal; e a pertinência do projeto dentro da política cultural estabelecida, considerando inclusive as prioridades do setor entre os todos os projetos apresentados para aprovação.

Com a aprovação pela CNIC, o projeto volta para a Secretaria de Fomento que solicita, aos proponentes, as certidões de quitação com os órgãos tributários, a abertura de conta vinculada no Banco do Brasil e a assinatura do compromisso com o Ministério de que todas as regras serão seguidas.

Só depois de cumpridas todas as formalidades o parecer segue para sansão do Ministro e posterior publicação no Diário Oficial. A partir da publicação no Diário Oficial da União da aprovação do projeto os proponentes estão liberados para abordar o mercado e apresentar seu projeto para captação.

Durante o processo de análise algumas diligências podem ser feitas pelos técnicos pedindo esclarecimentos sobre o projeto ou sobre o orçamento, mas o parecer final é soberano. O proponente pode apresentar solicitações complementares ou mesmo questionar o parecer, mas essas interrupções atrasam a aprovação final, o que leva, muitas vezes, os proponentes a não questionarem as decisões dos pareceristas. Em alguns casos, são feitas solicitações complementares para solucionar os cortes feitos no início do processo.

A situação de interdependência aparente entre os órgãos do Ministério de Fomento e os órgãos técnicos voltados a preservação, o IPHAN, induz para o mercado cultural que há uma grande interação entre eles, mas na prática essa interação tem sido muito mais formal e documental do que propriamente interativa. Os projetos tramitam de departamentos para departamentos de forma automática, sem estarem previstos nem debates nem discussões técnicas. Mesmo o encaminhamento à Comissão, no final do processo, é conduzido sem nenhum posicionamento interpretativo, mas sim se restringindo às análises formais exigidas.

Por um lado essa abordagem torna o processo bastante impessoal e mais objetivo, de certa maneira privilegiando a imparcialidade do processo, que é sem duvida fundamental. Por outro lado, essa tramitação formal e impessoal pode deixar de fora, ou não contemplar, possíveis considerações mais analíticas, questões de princípios técnicos e de prioridades, que um debate pertinente certamente poderia agregar.

Entretanto, o mecanismo descrito atende bastante bem às exigências formais de análise e avaliação dos projetos, tendo em vista que as questões técnicas da proposta de restauração já terão sido consideradas quando da aprovação do projeto junto aos órgãos federais, estaduais e municipais de preservação (conforme o caso

Brasília apenas redireciona os projetos encaminhados pela Secretaria de Fomento à Cultura e depois recebe o projeto com o parecer para reencaminhá-lo para aprovação da CNIC.

e os níveis de tombamento afetando esse) os quais, certamente, já se manifestaram, já tiveram suas críticas, ressalvas, recomendações e correções absorvidas e inseridas no projeto, tanto que decidiram por sua aprovação. A qual, como foi dito acima, é requisito prévio para se iniciar uma solicitação de acesso ao mercado de incentivos.

Abordar o mercado requer um novo esforço: o projeto elaborado de acordo com as exigências técnicas construtivas, e de acordo com as exigências formais de aprovação junto ao Ministério da Cultura difere grandemente do documento que chegará às mãos dos empresários. Esses necessitam apenas de um resumo dos dados técnicos do projeto, mas exigirão muito mais informações explícitas e organizadas sobre as qualidades e as contribuições daquela realização para a sociedade; sobre as possibilidades de associação da sua marca a esse empreendimento; desejarão saber detalhes do investimento, detalhes das vantagens dos incentivos, cronogramas, agentes envolvidos, canais de comunicação de possível associação, público a ser atingido e como o será, mecanismos de avaliação e de retorno do investimento.

Preparar esse documento de apresentação do projeto incentivado para o mercado é frequentemente uma nova dificuldade para o proponente. Este é em geral uma entidade cujo interesse é voltado aos assuntos culturais e raramente dispõe de especialistas em questões mercadológicas, o que pode dificultar - ou pelo menos, não facilitar - o diálogo com o empresário investidor.

Para isso, o proponente pode recorrer aos serviços de profissionais especializados em estabelecer essa ponte de maneira mais objetiva e pragmática, otimizando o processo com vistas a atrair investidores para projetos de restauração. Tampouco se trata de uma tarefa fácil: o montante de recursos exigidos para a concretização de uma obra dentro dos parâmetros necessários a um projeto de intervenção em edifícios históricos termina determinando, em alguns casos, uma relação custo- benefício com baixos índices de rendimento, agregando poucas vantagens ao investidor, possivelmente adiando ou mesmo inviabilizando a aprovação desses projetos pelo empresariado médio.

O mercado cultural brasileiro voltado para projetos de restauração tem tradicionalmente atraído empresas de grande porte como a Petrobras, Vale, BNDES e grandes bancos. As primeiras talvez por sua vinculação a setores do Governo e por isso um maior comprometimento com o patrimônio nacional; os bancos por se tratar de atividade de alto retorno lucrativo, resultando no recolhimento de valores expressivos de impostos, o que lhes permite cobrir os investimentos exigidos pelos projetos de restauração.

De qualquer maneira, é tarefa dos promotores culturais buscar atrair o interesse do patrocinador fazendo-o perceber que o projeto que ele irá apoiar vai agregar qualidade à sua imagem institucional. Nesse contexto os órgãos de patrimônio podem ser fundamentais no sentido de referendarem e estimularem a realização de um projeto de qualidade, o que pode ser mais uma vantagem institucional para o patrocinador.

O fluxograma que segue ilustra o processo até a fase da publicação no Diário Oficial.

Após a publicação no Diário Oficial da União, o proponente já pode providenciar as próximas etapas para iniciar o processo de captação: abrir a conta vinculada no Banco do Brasil, elaborar um documento de apresentação do projeto com dados mais relevantes para os empresários incluindo dados sobre o público que será beneficiado pelo projeto, quais os retornos de mídia esperados e porque, os prazos de execução, o cronograma de desembolso, as vantagens que o patrocinador terá acesso e como essas vantagens serão disponibilizadas, as datas importantes vinculadas ao projeto e as datas que o patrocinador poderá realizar algum evento relacionado com o projeto, enfim uma série de informações complementares que até então não haviam sido colocadas.

A análise do perfil das empresas também deve ser considerada nessa etapa, tais como o tipo de projeto que vem sendo apoiado regularmente, quais seus objetivos institucionais e mercadológicos, em que medida o assunto que o projeto cultural aborda está correlacionado com os interesses da empresa, enfim buscar conhecer a linguagem da empresa para estabelecer um diálogo profícuo.

Após envolver o patrocinador de tal forma que ele venha a apoiar a iniciativa, providenciar o depósito do patrocínio na conta vinculada, emitindo o recibo do incentivo e iniciar a terceira etapa desse processo, ou seja, viabilizar a realização da intervenção: contratando os projetos executivos, as empresas que realizarão a obra; detalhar o programa de uso; elaborar as planilhas de custo seguindo o planejamento apresentado ao Ministério, mas considerando as atualizações do mercado, incluindo as eventuais modificações que os projetos executivos impõem; montar os sistemas de controle de qualidade e orçamentárias; organizar a prestação de contas que será obrigatória no final do projeto. Elaborar o plano de comunicação que dará visibilidade à realização, incluindo as logomarcas de todos os envolvidos. Por último, elaborar o “as built” do projeto para enviá-lo aos órgãos de preservação que

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aprovaram o projeto e organizar a prestação de contas com o relatório final exigido pelo Ministério para submeter a realização à avaliação final.

Todo o processo descrito envolve uma série de atividades que, em muitos casos, as entidades que gerenciam esses espaços históricos da cidade não têm condições técnicas de realizar, o que leva muitas edificações significativas da cidade a não lançarem mão desses recursos, apresentando um estado de deterioração acentuado. Essa realidade é mais flagrante junto aos edifícios religiosos que por sua antiguidade e pouca manutenção estão a exigir uma atenção especial dos órgãos de preservação e da sociedade em geral.

Na relação que foi elaborada para identificar quais os edifícios que deveriam ser analisados, apresentada mais adiante, percebe-se que muitos dos projetos que foram apresentados para o Ministério e obtiveram aprovação para suas intervenções não conseguiram captar os recursos necessários. Muitos são os fatores que concorreram para esse resultado, e alguns deles serão citados no decorrer do trabalho.

10. AS LEIS DE INCENTIVO E O CRESCIMENTO DO MERCADO CULTURAL